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Cooperativa de motoristas fixa taxa de 12%: “Precisamos fazer 5 corridas para ganhar o mesmo do que em 10 nos grandes apps”

Dirigente da Liga Coop diz que cooperativa não trabalha com lucro: "Se sobra dinheiro, ele é devolvido aos motoristas. É como um décimo terceiro coletivo".

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Entrevista
Conversas com especialistas, gestores e profissionais do setor, com perguntas conduzidas pela equipe do 55content.
Carro prateado com um adesivo laranja grande no vidro traseiro, divulgando a cooperativa Liga Coop. O adesivo contém o logotipo da Liga Coop, QR codes, o texto “Se liga! A Liga Coop está chegando à nossa cidade” e um convite para motoristas entrarem no grupo.
Foto: Divulgação/Liga Coop

A Liga Coop nasceu de uma ideia simples: unir motoristas em torno de um modelo justo, transparente e cooperativo. O projeto surgiu quando grupos regionais de motoristas de app decidiram se organizar em cooperativas e, mais tarde, fundar uma federação nacional para fortalecer o transporte por aplicativo fora do eixo das grandes plataformas.

“A Liga Coop é formada exclusivamente por motoristas, sem empresários por trás. Toda a gestão é democrática e feita pelos próprios cooperados”, contou Marcelo Santos, dirigente da federação. Segundo ele, o movimento começou com cooperativas em São Paulo, Rio Grande do Sul e Maranhão, que já operavam com seus próprios aplicativos locais, e perceberam a necessidade de se unirem. “Hoje, a gente está em 12 estados e crescendo muito”, completou.

Nesta entrevista, a equipe do 55content conversou com Marcelo Santos sobre a origem, o modelo de negócios e os planos de expansão da Liga Coop — que agora se prepara para lançar um aplicativo 100% nacional com tecnologia própria, desenvolvido em parceria com uma universidade pública.

Autonomia e modelo de cooperativismo

A Liga Coop se diferencia das grandes plataformas por operar dentro de um modelo cooperado. “Cada cidade tem autonomia. As tarifas são discutidas em assembleia pelos cooperados de cada município, buscando o equilíbrio entre o que é justo para o motorista e o que é acessível para o passageiro”, explicou Santos.

Segundo ele, não há fins lucrativos nem proprietários ocultos. “A cooperativa trabalha no limite, cobrindo apenas os custos de operação. Se sobra dinheiro, ele é devolvido aos cooperados. É como um décimo terceiro coletivo”, afirmou.

A taxa cobrada por corrida é de 12%, destinada a cobrir custos de cartão de crédito, servidores e manutenção do aplicativo. “Quando o passageiro paga no cartão, o valor entra na conta da cooperativa e o motorista saca via Pix. Se a corrida é paga em dinheiro, ele faz o acerto direto com a cooperativa”, explicou.

Em relação à renda dos motoristas, Santos disse que o retorno é maior do que nas grandes plataformas. “Em média, vai depender da demanda, mas o motorista da Liga Coop precisa fazer 5 corridas para ter o mesmo ganho que teria em 10 nas big techs”, comparou.

Expansão e presença nacional

A Liga Coop já atua em 12 estados, incluindo Minas Gerais, São Paulo, Paraná, Santa Catarina, Rio Grande do Sul, Distrito Federal, Pernambuco, Ceará e Maranhão. Em várias regiões, a operação já está consolidada — como Porto Alegre, Fortaleza, Curitiba e São Luís —, enquanto outras ainda estão em fase de estruturação, como Guarulhos, Osasco, São Bernardo do Campo e São Caetano do Sul.

“Na capital paulista, já temos cerca de 300 motoristas cadastrados, mas para atender bem precisaríamos de pelo menos 10 mil”, disse Santos. Hoje, a federação reúne mais de 70 mil passageiros e cerca de 10 mil motoristas cadastrados.

A meta, segundo ele, é chegar a 20 estados até setembro do próximo ano e, no longo prazo, atingir 10% do mercado nacional de aplicativos de transporte. “Para isso, seriam necessários mais de 150 mil motoristas cooperados”, afirmou o dirigente.

Qualidade e segurança no centro da operação

O ingresso de motoristas na cooperativa é rigoroso. “O motorista precisa fazer um curso de cooperativismo, contribuir com a cota da cooperativa e passar por vistoria do carro”, explicou Santos. Do lado dos passageiros, há também verificação de dados e selfie obrigatória. “A gente checa CPF, nome dos pais e exige selfie no cadastro. Isso garante segurança para os dois lados.”

Segundo o dirigente, o modelo de trabalho valoriza o atendimento e o vínculo com a comunidade. “A Liga Coop prioriza qualidade e sustentação econômica local. Não vamos competir por preço com big techs. O passageiro paga valores na média do mercado, mas o motorista fica com um valor maior da corrida”, afirmou.

Ele citou que a operação varia conforme o mercado local e mencionou o caso de São Carlos. “Chegamos a 400 viagens por dia e caímos ao trocar de tecnologia; estamos reconstruindo a base”, contou.

Tecnologia própria e independência das big techs

Um dos marcos recentes da federação é o financiamento público conquistado para o desenvolvimento de um aplicativo próprio, feito em parceria com a Universidade Federal de Santa Maria (RS).

O projeto prevê um protótipo em seis a sete meses e finalização completa em até dois anos. Segundo o dirigente, o sistema será desenhado com base na experiência prática dos motoristas. “Queremos um aplicativo feito por motoristas e para motoristas, com segurança e funcionalidades que reflitam o dia a dia do trabalho”, afirmou.

Divulgação e engajamento local

A Liga Coop aposta em divulgação comunitária e participação direta dos cooperados. “O boca a boca dentro dos carros funciona melhor que qualquer publicidade. Em São Carlos, chegamos a 15 mil passageiros só com divulgação feita pelos motoristas”, contou Santos.

Quando há recursos disponíveis, a cooperativa investe em material gráfico e digital. “Às vezes fazemos vaquinhas entre nós para campanhas regionais que utilizam adesivos, ímãs e panfletagem. Cada motorista contribui com um valor simbólico. Não temos donos — todos somos donos”, explicou.

Regulamentação e perspectivas para o setor

Marcelo Santos também acompanha de perto as discussões sobre a nova regulamentação dos aplicativos de transporte. Ele esteve recentemente em uma audiência pública em Brasília e acredita que o modelo cooperativo será mais resiliente. “Por seguirmos as leis do cooperativismo e adotarmos autogestão, conseguimos nos adaptar sem repassar prejuízos aos motoristas”, disse.

Para ele, o maior diferencial da Liga Coop está em manter o dinheiro circulando nas cidades onde atua. “O que ganhamos aqui, fica aqui. O dinheiro das corridas circula dentro da comunidade, fortalecendo a economia local e o trabalhador. Isso é economia solidária”, afirmou.

Encerrando a entrevista, o dirigente resumiu o espírito da iniciativa: “O negócio é nosso. Somos uma comunidade de motoristas e passageiros que acredita no cooperativismo como alternativa justa ao modelo das big techs.”

Foto de Giulia Lang
Giulia Lang

Giulia Lang é líder de conteúdo do 55content e graduada em jornalismo pela Fundação Cásper Líbero.

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