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Com investimento de R$ 30 mil, ex-funcionário de indústria cria app de mobilidade e movimenta R$ 1 milhão por mês

Paracar realiza 45 mil corridas mensais e possui 125 motoristas ativos, em uma cidade onde Uber e 99 não operam.

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Entrevista
Conversas com especialistas, gestores e profissionais do setor, com perguntas conduzidas pela equipe do 55content.
Homem de cabelos curtos e barba rala, usando óculos e camiseta preta com o logotipo da empresa “PARACAR”. Ele está olhando ligeiramente para o lado direito, com expressão séria, sobre um fundo neutro em tom cinza.
Foto: Reprodução/Paracar

Em Pará de Minas (MG), cidade de pouco mais de 100 mil habitantes, o nome Paracar virou sinônimo de transporte por aplicativo. O serviço, que nasceu no final de 2019, é hoje o mais utilizado da região e movimenta cerca de R$ 1 milhão por mês em corridas, com uma média de 38 mil a 45 mil viagens mensais. 

A empresa foi criada por um grupo de empreendedores locais e se destaca por operar de forma independente das grandes plataformas como Uber e 99, que inclusive não conseguiram se firmar na cidade.

O fundador Lucas Daniel Ferreira começou a vida profissional na indústria. “Eu trabalhava na Itambé, uma empresa grande e conhecida, e na época queria uma renda extra. Peguei o carro do meu pai e comecei a rodar.” Foi nesse período que surgiu a ideia de criar um aplicativo próprio. “Pensei: e se a gente montasse um aplicativo da nossa cidade, com a nossa identidade?”

Ele e um grupo de motoristas se uniram e foram atrás de informações sobre o mercado. “Pesquisamos empresas que faziam aplicativos até encontrar a que passou mais confiança e credibilidade, mas também com o melhor custo-benefício”, relembra Lucas.

O investimento inicial foi de R$ 30 mil, feito por um dos atuais sócios, Flávio, responsável hoje pela comunicação e imagem da marca. Além de Flávio e Lucas, a sociedade inclui Cristiano, que cuida do relacionamento com os motoristas. No início, a operação contava com sete condutores e o foco era mostrar que a plataforma era local. “A gente precisava convencer o pessoal de que o aplicativo era daqui, que tinha suporte local e donos conhecidos. Isso fez diferença, porque ainda existia muito preconceito com motorista de aplicativo”, afirma Lucas.

Crescimento acelerado durante a pandemia

O lançamento ocorreu pouco antes da pandemia e o isolamento social, de acordo com Lucas, acabou impulsionando o negócio. “A pandemia foi o divisor de águas aqui. Achamos que o movimento ia cair, mas foi o contrário. As pessoas começaram a evitar o transporte coletivo e o aplicativo cresceu mais de 70% em um ano”, afirma Lucas. A quantidade de motoristas parceiros passou de 20 para 57 em 12 meses.

Hoje, a Paracar mantém 125 motoristas ativos, sendo que 80% deles têm na plataforma sua principal fonte de renda. “Tem motorista que tira de R$ 6 mil a R$ 7 mil por mês, líquido perto de R$ 4 mil. Dá para viver bem só com o aplicativo aqui”, ressalta.

Modelo de negócio e faturamento

A Paracar utiliza um sistema diferente das grandes plataformas: em vez de cobrar porcentagem sobre cada corrida, o motorista paga uma mensalidade fixa de R$ 800. “O que ele faz é dele. O Pix é dele, o dinheiro é dele e a maquininha é dele. A gente não retém e não intermedia nada”, afirma o gestor.

Segundo Lucas, o faturamento bruto da empresa é de cerca de R$ 90 mil por mês, enquanto o volume total de corridas na cidade ultrapassa R$ 1 milhão mensal. 

Lucas cuida do marketing e tecnologia, Cristiano da parte operacional com os motoristas e Flávio é a figura pública da marca. Segundo ele: “Flávio é quem aparece nas rádios, nos vídeos, quem fala com a imprensa. Eu fico no marketing e na configuração do aplicativo e o Cristiano lida com os motoristas no dia a dia.”

O fundador considera a presença dos sócios um dos diferenciais da empresa: “Às vezes o passageiro pega uma corrida e percebe que está com um dos donos. A gente conversa, ouve, resolve problema na hora. Isso cria confiança.”

Fiscalização e selo de vistoria

Um dos principais fatores de credibilidade da Paracar é o sistema de fiscalização. Em Pará de Minas, todos os carros de aplicativo precisam de alvará e vistoria da prefeitura, que emite um selo colado no para-brisa. “Esse selo é obrigatório e garante a segurança do passageiro. A vistoria é feita a cada seis meses. Se o carro chega sem o selo, o cliente é orientado a não embarcar”, afirma Lucas.

A empresa chegou a promover uma campanha: “Fizemos uma promoção em que o cliente que pegasse um carro sem selo não pagava a corrida. Foi uma forma de mostrar que só trabalhamos com motoristas regularizados.”

A fiscalização é integrada entre prefeitura e empresas. “A prefeitura tem acesso à nossa base de motoristas. Quando o selo vence e o motorista não renova, eles nos notificam e a gente bloqueia o cadastro até ele regularizar.” O custo anual do alvará e do selo gira em torno de R$ 1.500, valor que pode cair pela metade para quem é MEI. “Isso dá segurança tanto para o motorista quanto para o passageiro. Se alguém perde algo no carro, sabe com quem falar”, pontua.

Tarifas, categorias e serviços

A Paracar opera com duas bandeiras: bandeira 1, entre 5h e 23h e bandeira 2, entre 23h e 5h. Segundo o gestor, “a tarifa mínima é de R$ 12 durante o dia e R$ 15 à noite. O quilômetro é R$ 3,10 de dia e R$ 3,50 à noite, com bandeirada de R$ 7,80.”

O aplicativo oferece as categorias Comum, Black, Executiva, Rural e Faturada, além do ParacarZap, que permite pedir corridas pelo WhatsApp. “Na Rural, cobramos um pouco mais por causa das estradas de chão. A Executiva é só para SUV. Na Faturada, as empresas cadastram os funcionários e pagam no fim do mês.”

A Paracar mantém uma rede de parcerias com comércios da cidade, como postos de gasolina, lojas de pneus, oficinas e restaurantes. “O motorista chega dizendo que é da Paracar e ganha desconto. Às vezes o almoço custa menos. Isso ajuda a valorizar o profissional”, afirma Lucas.

Planos de expansão

Hoje, a Paracar atua apenas em Pará de Minas, mas o plano é expandir para outras cidades. “Já mapeamos novas praças e queremos, até meados de 2026, entrar em duas cidades. Até o fim de 2027, queremos estar em cinco.”

O foco inclui cidades turísticas e de alto poder aquisitivo, como Nova Lima (MG), Cabo Frio (RJ) e Praia Grande (SP). “Em lugares assim, queremos lançar o Paracar Executivo, um serviço mais exclusivo para empresas e clientes corporativos.”

Lucas acredita que o futuro dos aplicativos regionais depende de estrutura e fiscalização: “Se os regionais trabalharem com qualidade, segurança e preço justo, eles crescem.” Ele avalia que competir nas capitais é inviável financeiramente, mas que no interior tem espaço. “Em cidades pequenas, o cliente valoriza o que é local. Quando confia, não troca por preço. Aqui em Pará de Minas, o povo confia na Paracar”, declara.

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