“A Uber te recompensa mandando corridas melhores se a sua taxa de aceitação for boa; antes ganhava até R$ 350/dia e hoje ganho até R$ 750”, diz motorista de app

Motorista de app que fatura R$ 13 mil por mês opina: “o valor que aparece na tela não importa. O que importa é onde a corrida vai me deixar e qual será a próxima corrida. Corridas de valor alto muitas vezes são ilusórias.”

ponto de exclamacao .png
Entrevista
Conversas com especialistas, gestores e profissionais do setor, com perguntas conduzidas pela equipe do 55content.
Foto Thiago Abbas para 55content
Foto: Thiago Abbas para 55content

Thiago Abbas, motorista de aplicativo há sete anos, compartilha uma visão estratégica sobre o mercado atual: segundo ele, a Uber recompensa motoristas com melhores corridas quando suas taxas de aceitação e avaliação são elevadas. Com uma média de faturamento mensal de R$ 13 mil, Thiago alerta que o valor exibido na tela é muitas vezes ilusório e defende que o foco deve estar no local de destino e nas próximas oportunidades de corrida. Ele também aponta a importância de entender o algoritmo das plataformas para maximizar ganhos por hora e revela que altos faturamentos são possíveis sem a necessidade de jornadas exaustivas, desde que se tenha método e conhecimento.

Então, Thiago, a minha primeira pergunta é: há quanto tempo você é motorista de aplicativo e o que te levou a realizar esse tipo de atividade?

Thiago: Sou motorista de aplicativo há 7 anos. Antes dessa profissão, eu era motoboy aqui na cidade de São Paulo. Trabalhei 16 anos como motoboy, o que me fez conhecer muito bem a cidade. Essa experiência me ajudou bastante quando migrei para o Uber, mesmo sendo um meio de transporte diferente, porque já conhecia bem a cidade.

Entendi. E a minha próxima pergunta, Thiago, é sobre a sua rotina atual como motorista de aplicativo. De que horas a que horas você trabalha? Você folga algum dia da semana? Prefere algum horário específico? Você se guia por alguma meta, como só voltar para casa depois de faturar um valor X?

Thiago: Olha, eu já testei várias formas de trabalho em relação a horários. A que melhor me adaptei é a que sigo hoje: trabalho do meio-dia até as 2 horas da manhã. Minha jornada é de aproximadamente 14 horas, mas a minha meta não é de ganhos, e sim de horas.

Sinto que a maior dificuldade hoje é cumprir essa carga horária por conta da rotina pessoal: casar, cuidar dos filhos, resolver assuntos diversos e ainda conciliar com outros aplicativos. Também preciso cuidar da saúde.

Optei por esse horário porque moro longe do centro expandido. Pela manhã, todo mundo está vindo para o centro e o trânsito é muito pesado, o que afeta o faturamento. A partir do meio-dia, o trânsito fica mais tranquilo, tanto para quem vai quanto para quem volta, e consigo aproveitar melhor. Trabalho até as 2h porque São Paulo é uma cidade que praticamente funciona 24 horas, então sempre há corridas.

Sim. E, trabalhando dessa maneira, você tem alguma média de faturamento diário, semanal ou mensal?

Thiago: Eu costumo dividir meu trabalho em “antes” e “depois”. Antes de conhecer o Júnior — que, aliás, é o rapaz que você entrevistou, de BH — eu já tinha um faturamento excelente. Tanto que criei o canal “Incrível Uber” no Instagram, onde acredito que você me segue.

Naquela época, eu conseguia faturar R$ 600 por dia em alguns dias. Só que o sistema da Uber mudou: antes o dinâmico era por multiplicador, agora é por preço fixo.

Com essa mudança, inicialmente parecia que não haveria impacto, mas no dia a dia fez bastante diferença e precisei reaprender a trabalhar. Foi aí que conheci o método do Júnior e do Motorista Diamante.

Eles estudaram a fundo o algoritmo dos aplicativos. O Júnior, principalmente, foi a fundo como ninguém no Brasil — eu tiro o chapéu para ele.

Depois de implementar o método deles, mesmo sem mudar minha carga horária, consegui otimizar bastante meus resultados. Estou conseguindo altos ganhos novamente aqui em São Paulo.

Entendi. E você se considera um motorista seletivo nas corridas que aceita? Aceita apenas corridas que pagam determinado valor por KM?

Thiago:Hoje eu sigo a seguinte filosofia: o valor que aparece na tela não importa. O que importa é onde a corrida vai me deixar e qual será a próxima corrida. Corridas de valor alto muitas vezes são ilusórias.

Hoje, eu trabalho focado no ganho por hora. Minha hora, atualmente, gira em torno de R$ 50 — podendo oscilar. Assim, tenho muito mais controle sobre meus ganhos. Se a hora estiver baixa, ajusto a estratégia; se estiver alta, mantenho. É muito mais eficiente do que esperar 30 a 40 minutos por uma corrida de R$ 100. Prefiro fazer várias corridas de R$ 20 dentro dessa 1 hora. Com isso, percorro menos quilômetros, reduzo custos e otimizo ganhos. Não me prendo tanto ao tempo e à distância de cada corrida individualmente.

Entendi. E para você, qual é o melhor tipo de corrida? Quais corridas você mais gosta e quais considera as piores?

Thiago: A melhor corrida é a que toca na minha tela. As ruins nem chegam a tocar porque trabalho utilizando filtros no aplicativo.

Usamos todas as ferramentas que o app disponibiliza: filtros de corrida, preferência de região, destino definido, entre outros. Por exemplo, em horários de pico no centro de São Paulo, tocam muitas corridas longas com valor alto, mas que levam muito tempo e te tiram da melhor área de atuação. Essas eu filtro para não receber.

Se suas taxas de aceitação e avaliação forem boas, o aplicativo te recompensa mandando corridas melhores. Assim, nós forçamos o aplicativo a mandar as corridas que queremos, não aceitamos qualquer corrida. Trabalhamos de forma estratégica para que a corrida ideal seja a que aparece para nós.

Eu não sei se você chegou a falar, mas qual é a sua média de faturamento diário e mensal?

Thiago: Minha média de faturamento diário varia entre R$ 500 e R$ 750. Semana passada, por exemplo, o faturamento total foi de R$ 4.100 brutos, e olha que trabalhei muito pouco. Domingo passado, por exemplo, trabalhei apenas 5 horas.

Nem todos os dias eu consigo bater a meta de horas trabalhadas, então acaba variando.  Mensalmente, esse ritmo representa um faturamento de cerca de R$ 13.000. Se eu conseguir manter o padrão de R$ 4.000 semanais, o faturamento bruto pode chegar a R$ 16.000. A ideia é chegar nos R$ 5.000 semanais, sem precisar aumentar a carga horária de trabalho.

Agora, falando um pouco sobre custos: a gente sabe que o trabalho de motorista de aplicativo não é só faturamento, envolve muitos custos. Gostaria de saber quanto você gasta com combustível por dia e quanto realmente sobra de lucro no final do mês. Você tem esse cálculo?

Thiago: Meu gasto diário com combustível fica entre R$ 100 e R$ 150. Como moro longe do centro expandido de São Paulo, meu percurso diário é mais extenso e o meu KM rodado sobe bastante.

Por exemplo, agora, no meio do expediente, já rodei quase 100 km, e ainda preciso voltar para casa. Minha área de atuação fica, em média, a 35 km de distância da minha casa. Dependendo da região onde trabalho, esse percurso pode ser ainda maior.

Trabalho 6 dias por semana — folgo às terças-feiras por conta do rodízio de placa aqui em São Paulo. Mas, às vezes, como nesta semana que preciso correr atrás para pagar umas dívidas, acabo trabalhando também na terça. Então, gasto em torno de R$ 1.000 por semana apenas com combustível. Com alimentação, não tenho custo. Sempre preparo minhas refeições em casa e levo comigo.

No geral, meus principais gastos são com combustível e eventuais manutenções no carro. Chutando alto, coloco aí uns R$ 5.000 de custos totais.

Quantos quilômetros você roda por dia quando trabalha? Você tem essa média?

Thiago: Rodo entre 200 e 350 km por dia. Por exemplo, aos sábados — que é o dia que deixo dedicado totalmente para trabalhar — consigo atingir faturamento de R$ 1.000, justamente para compensar os dias mais fracos da semana. Nesses dias de trabalho mais intenso, chego a rodar até 350 km.

E você trabalha em quais categorias? UberX, Comfort, Black…?

Thiago: Tenho todas as categorias: Uber Black, Uber Comfort e Uber X. Também trabalho pela 99 nas categorias Pop, Plus, Negocia e Pop Express.

Entendi. E seu carro é qual?

Thiago: É um Citroën C4K.

Gostaria agora de saber: na sua opinião, qual é a maior dificuldade para o motorista de aplicativo hoje?

Thiago: A maior dificuldade é entender que sempre existe uma nova forma de se fazer as coisas. Isso não é só para motorista de aplicativo, mas para qualquer área da vida. Sempre existe algum conhecimento que você ainda não tem. O sábio deixa de ser sábio quando acha que já sabe tudo. Se o copo está cheio, não cabe mais nada — nem conhecimento novo.

Então, o motorista precisa entender que o faturamento pode ser melhorado e que sempre há formas novas e melhores de trabalhar. O problema é que a mudança dói. As pessoas preferem o conforto do que enfrentar o novo, que inicialmente é confuso, mas depois é libertador.

Eu mesmo vivi isso há duas semanas. O Júnior me acompanhou durante uma semana inteira, mesmo estando em BH e eu em São Paulo. Meu faturamento passou por uma verdadeira revolução.

Hoje, eu e o Júnior estamos organizando um curso completo, junto com uma dinâmica prática e acompanhamento, para motoristas de aplicativo. Nosso objetivo é ajudar os motoristas a entenderem o que o algoritmo pode oferecer: uma média de ganhos de R$ 50 por hora para motoristas UberX, R$ 60 por hora para Comfort e R$ 70 por hora para motoristas Black e elétricos PRO.

Queremos mostrar que é possível ter faturamento alto sem precisar rodar 20 ou 24 horas por dia, como acontece hoje. Sabemos que muitos motoristas têm disposição, mas falta o método correto. É isso que queremos levar a eles com o Método Diamante: melhoria no faturamento e na qualidade de vida.

Gostaria de saber se você conseguiria fazer uma comparação para mim: como era ser motorista na época em que você começou e como é ser motorista agora? Muitos motoristas dizem que os custos aumentaram e que o lucro, o dinheiro no bolso, diminuiu, já que o repasse das plataformas não mudou muito. Qual é a sua opinião?

Thiago: No começo, para mim, foi muito difícil, porque eu não tinha conhecimento. Precisei aprender na prática. Depois, entendi que sim, é possível atuar bem nessa área através do conhecimento, e que isso vem, principalmente, da prática na rua. É claro que é muito melhor quando você tem alguém para te orientar, para te mostrar o caminho já percorrido — exatamente o que estamos tentando fazer hoje.

No começo, meu faturamento era em média de R$ 300 a R$ 350 por dia, mas eu gastava cerca de R$ 150 de combustível. Então, sobrava muito pouco. Quando eu trabalhava como motoboy, me sobrava bem mais, pois os custos eram menores.

Cheguei a ficar em dúvida se continuava como motorista de aplicativo ou se voltava a ser motoboy. Mas fui buscando conhecimento e hoje percebo que o que falta para muitos motoristas que reclamam de custo e de pagamento das plataformas é justamente o conhecimento. Comprovamos, através de estudos, que quando você tem uma taxa de aceitação baixa e uma taxa de cancelamento alta, o valor que o aplicativo repassa é muito menor.

Quando você aumenta a taxa de aceitação e diminui a de cancelamento, a mesma corrida paga muito mais. Essa é uma das técnicas para otimizar ganhos por hora e reduzir custos.

Há motoristas que rodam 300, 400 km, buscando apenas corridas de valor alto, gastando muito tempo no trânsito. Quando colocam na ponta do lápis, percebem que não vale a pena. Mas muitos não fazem essa análise e continuam nesse ciclo. Então, sim, dá para ganhar dinheiro como motorista de aplicativo. Os valores das corridas continuam praticamente os mesmos, mas é sobre esses valores que é possível fazer grandes resultados.

Minha próxima pergunta: você ainda recomenda essa atividade para quem está buscando uma nova renda ou novos ares? E quais dicas você daria para quem está começando?

Thiago: É uma pergunta bastante difícil. Quando alguém inicia como motorista de aplicativo, é atraído por uma proposta bastante irresistível: faturamentos altos.

Muitos vêm para o aplicativo pensando em complementar a renda ou porque viram amigos faturando bem num dia e acreditam que será sempre assim. Mas acabam se decepcionando.

No entanto, sim, é possível ganhar dinheiro. Minha dica é trabalhar nos horários em que a demanda é maior na sua cidade e sempre buscar trabalhar no contrafluxo do trânsito.

Por exemplo, São Paulo é muito grande, com várias vias que saem do centro para diversas regiões. Com uma boa estratégia, é possível se deslocar com menos trânsito e aproveitar melhor as oportunidades.

É importante também conhecer a cidade e entender o fluxo dos horários. Apesar de São Paulo ter muito trânsito, há momentos em que o volume de corridas é excelente. Além disso, é essencial estar nas regiões corretas, dependendo da categoria que você trabalha:

  • Se for Black, esteja nas regiões nobres.
  • Se for Comfort, também nas regiões nobres e centrais.
  • Se for UberX, esteja nas extremidades onde há mais corridas físicas.
    Assim, é possível otimizar melhor os ganhos.
Foto de Giulia Lang
Giulia Lang

Giulia Lang é líder de conteúdo do 55content e graduada em jornalismo pela Fundação Cásper Líbero.

Pesquisar