Marcos Gurgel diz que a inteligência artificial pode ser uma grande aliada para restaurantes.
Em uma recente palestra, Marcos Gurgel, Diretor de Corporate Ventures e Open Innovation & JetSki no iFood, revelou os segredos que, para ele, impulsionam a empresa.
Com mais de 20 anos de experiência em inovação, Gurgel apresentou os pilares que sustentam o sucesso do iFood, destacando a cultura de inovação, a metodologia dos Jet Skis e o uso estratégico da inteligência artificial.
Cultura da empresa
Gurgel enfatizou que simplesmente replicar modelos de inovação de outras empresas não garante o mesmo sucesso. Segundo ele, o iFood desenvolveu ao longo dos últimos cinco anos um “tempero especial”, composto por fatores fundamentais que sustentam sua cultura de inovação. Ele destacou que o primeiro fator é a “atitude exponencial”, onde os funcionários são incentivados a pensar grande, visando não apenas a empresa, mas também gerar impacto significativo no mundo.
O segundo fator envolve a geração contínua de ideias. No iFood, todos os funcionários têm acesso a um canal chamado “Tive Uma Ideia”, que permite a submissão de novas sugestões. Em conjunto com as ideias de parceiros, entregadores, restaurantes e clientes, o volume é significativo: “Mês passado chegamos a ter 182 ideias”, revelou.
No entanto, ele frisou que uma das maiores fortalezas da empresa é a capacidade de focar nas ideias que realmente geram valor, distinguindo o que é interessante do que faz sentido implementar no momento. Ele conta que esse processo reflete a ambidestria da organização, equilibrando a exploração de novas ideias com a necessidade de resultados concretos.
O terceiro fator é o “apetite constante”: “Você como líder ou como gestor de uma área de inovação, você está dando segurança para o time de falar o seguinte: vai lá, experimenta, não fica só olhando o que está acontecendo lá fora, experimenta, tenta”.
Outro ponto destacado por Marcos Gurgel é o programa de inovação aberta que o iFood iniciou há cerca de três anos. O slogan deste programa é “a gente não quer fazer tudo sozinho”, refletindo a humildade da empresa em reconhecer que há talentos e competências fora de seus limites.
Metodologia do Jet Ski
O executivo também detalhou a analogia do jet ski, utilizada no iFood para representar projetos ágeis e pequenos times focados em inovação: “Hoje, o iFood é como um grande transatlântico, um navio que é super difícil de você reformar ou de você mudar de direção”, explicou Gurgel. “Jet ski, no final das contas, como eu uso a expressão de eu vou colocar um jet ski na água, falando que eu estou pegando uma pequena ideia, um time super enxuto”. Segundo ele, esses times, que podem estar em qualquer área da empresa, exploram novos caminhos e direções, diferentes do curso seguido pelo “transatlântico”.
Gurgel também afirma que o processo de decisão no iFood não é baseado em suposições, e o foco total no cliente é um ponto crucial. Ele compara a inovação ao empreendedorismo: “Quando eu olho para o meu piloto de jet ski ou para a pessoa que está pilotando hoje meu jet ski, eu estou atrás de um empreendedor. Alguém que empreende dentro da companhia”, afirmou.
Ele destaca que trabalhar em um projeto de jet ski exige estar preparado para errar: “O cara que está trabalhando dentro dessa área, que está disposto a trabalhar com jet ski, ele querendo ou não, ele tem que estar ciente de que vai errar um monte. Sei que eu vou experimentar 20 coisas e acertar uma”, disse Gurgel. Ele afirmou que, embora mais de 90% dos projetos de jet ski não tenham sucesso, aqueles que dão certo, como iniciativas nas áreas de farmácia, shopping e pet shop, começam pequenos e depois escalam significativamente.
Inteligência Artificial no iFood
No mês de junho, o iFood alcançou a marca de mais de 4 mil funcionários utilizando inteligência artificial (IA) diariamente, em um universo de 6 mil colaboradores. Gurgel destacou que a IA no iFood não está restrita a um departamento específico, mas é uma ferramenta amplamente adotada por diversas áreas da empresa: “Hoje o iFood tem uma das pouquíssimas, para não falar uma das únicas empresas onde você tem a maior parte do seu grupo de funcionários utilizando a inteligência artificial quase que diariamente”, afirmou.
Ele citou três exemplos de aplicação de IA desenvolvidos por profissionais de áreas distintas, não necessariamente por cientistas de dados. No setor jurídico, advogados criaram uma ferramenta que otimiza a análise de contratos: “A partir de inteligência artificial, temos quase 100% dos contratos analisados rapidamente, comparados com nossa base e verificados cláusula por cláusula”, explicou. Segundo ele, essa ferramenta agiliza significativamente o tempo de análise de contratos, proporcionando maior eficiência ao departamento jurídico.
O segundo exemplo foi a criação de catálogos inteligentes para parceiros do iFood. Um botão no catálogo permite que os parceiros melhorem a descrição e as fotos dos seus produtos com a ajuda da IA, sem necessidade de conhecimento técnico avançado: “Quando mostramos isso para uma gama de mil restaurantes, 75% virou e falou que ia testar”. Ele relata que os restaurantes que adotaram a ferramenta registraram um aumento de 5% no tráfego dentro das suas lojas.
O último exemplo mencionado foi o caso do bot Dora, que transforma comandos de voz em listas de compras: “Eu posso falar o seguinte: ‘Eu gostaria de fazer um bolo de cenoura’. Ela entende o contexto e consegue montar a lista de compras dentro do Mercado do iFood”, explicou Gurgel. Dora permite a edição da lista e compara preços e condições de entrega entre diferentes mercados, ajudando o usuário a fazer a escolha mais conveniente.