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Trampay: a empresa que quer adiantar os ganhos de trabalhadores de app

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Jorge Junior Trampay
Jorge Junior Trampay

Trampay já emprestou mais de 50 milhões de reais para entregadores, segundo CEO da empresa.

Fundada em 2020, a Trampay é uma empresa financeira digital que se posiciona como um banco para entregadores. 

De acordo com o CEO, Jorge Junior, a empresa nasceu em um contexto de necessidade de inclusão financeira dessa categoria de trabalhadores. Para Junior, os entregadores vivem em uma situação de falta de atenção bancária e financeira, mesmo tendo sido tão essenciais na pandemia.

Desse modo, a Trampay busca oferecer soluções financeiras voltadas especificamente para esse público. Um dos serviços mais inovadores da empresa é o sistema de adiantamento de pagamentos, visto que muitos trabalhadores do setor informal enfrentam atrasos de até 40 dias para receber por serviços prestados. 

A Trampay resolve esse problema permitindo que os trabalhadores acessem seus ganhos quase instantaneamente, um recurso que, segundo Junior, é vital para quem depende de capital de giro diário para sustentar suas atividades.

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O que é a Trampay? Como você define o serviço de vocês?

A Trampay é uma instituição financeira voltada para trabalhadores informais e autônomos, criada em um contexto onde uma significativa parcela da população brasileira ainda se encontra excluída do sistema bancário. Com a pandemia, observamos um aumento no número de pessoas com contas bancárias, o que representou uma inclusão bancária, mas não necessariamente uma inclusão financeira completa, especialmente para os trabalhadores informais. Nosso foco tem sido oferecer algum alívio para este grupo, abrindo as portas do banco para eles e, consequentemente, para os empregadores. Minha experiência anterior com benefícios no ambiente de trabalho, trabalhando com médicos, advogados e diversas outras profissões, me levou à conclusão de que era necessário oferecer benefícios também para aqueles que nunca tiveram acesso a eles, principalmente os trabalhadores informais. Daí surge o nome “Trampay”, evidenciando o nosso compromisso não apenas com a oferta de um benefício, mas com a melhoria da qualidade de vida desses trabalhadores, reconhecendo o valor de seu trabalho.

Quando lançamos a Trampay em 2020, em meio ao caos da pandemia e com o mercado praticamente fechado, notamos que os entregadores, que estavam na linha de frente da nova economia, não possuíam acesso a produtos financeiros básicos devido à natureza volátil de sua renda e à falta de documentos formais como holerites. Isso evidenciou um grande desafio no mercado: a necessidade de oferecer suporte financeiro a esses trabalhadores, que frequentemente se viam sem opções e recorriam às empresas em busca de adiantamentos ou auxílios. Nesse contexto, a Trampay surgiu com o objetivo de preencher essa lacuna, oferecendo serviços financeiros adaptados às necessidades desses trabalhadores, reconhecendo a importância e o valor de seu trabalho. Nosso propósito é corrigir essa disparidade no mercado financeiro, tornando-nos uma fintech acessível a todos os trabalhadores, reforçando o papel fundamental da força de trabalho no desenvolvimento econômico.

Qual foi a inspiração para criar uma fintech voltada especificamente para entregadores? Por que não motoristas ou outras categorias de trabalhadores?

Percebemos que os entregadores estavam entre os mais afetados e negligenciados, especialmente sob a ótica bancária e financeira. Muitas vezes, esse grupo é ignorado por instituições tradicionais, que preferem não se envolver com quem parece ter menos recursos. Foi aí que a gente falou: é aqui que precisamos começar a trabalhar. Um banco idealmente deveria servir como um intermediário financeiro, captando recursos de quem tem para emprestar a quem precisa. Mas, tanto no Brasil quanto globalmente, o crédito muitas vezes só está acessível a quem já possui recursos, criando um ciclo excludente. Os motoristas de aplicativo ainda tinham outras margens, outros recursos para que acessar, mas para os entregadores não tinha nada.

Como funciona o sistema de adiantamento de vocês? 

A gente viu que essas pessoas demoram muitas vezes, dependendo do tipo de serviço executado, 20, 30, 40 dias para receber. E tendo todo esse espaço para você receber e você não tendo um capital de giro para poder aplicar na moto, colocar gasolina… Se eu não tenho isso, eu não consigo sair de casa. Então a gente falou: precisamos fazer algum tipo que esse dinheiro já surja para ele aqui agora. Esse adiantamento é esse desenho. Eu pego esse valor que já está lá na frente e ele já correu, já está disponível na conta dele, mas ele só vai receber daqui a 20 dias e trago para agora. Então dentro do aplicativo no qual ele tem uma conta bancária conosco, ele consegue ter acesso a todos os recebíveis dele, e, numa eventual emergência, ele solicita e na mesma hora o dinheiro cai na conta dele, na velocidade de um Pix.

Quais são os principais desafios em oferecer serviços financeiros para trabalhadores da economia gig?

Nossa filosofia foi, desde o começo, baseada em entender a realidade das pessoas, e tratá-las como iguais, como parceiros. Como essa foi a nossa filosofia desde o início de tudo, a gente não encontrou grandes barreiras. Pelo contrário, a gente encontrou outras pessoas que são muito feras, assim, conosco. Que somam muito, que dão muito engajamento, que precisam mesmo. Isso tudo de forma gratuita, é uma relação saudável. Nosso objetivo foi destacar e valorizar o protagonismo dessas pessoas em suas atividades, iluminando suas contribuições e incentivando seu protagonismo.

No seu ponto de vista, qual o grande diferencial da Trampay?

Sem sombra de dúvidas nossa relação com os entregadores. Eu poderia trazer outros diferenciais, mas o que mais diferencia a gente é isso. Essa perspectiva de humanização e atração dentro de entender melhor quem são as pessoas faz com que a gente caminhe muito à frente.

As opiniões e feedbacks dos entregadores influenciam o desenvolvimento de novos produtos ou serviços?

Sempre e o tempo todo. O produto, na verdade, vem evoluindo conforme a necessidade das pessoas. Os pagamentos, por exemplo, inicialmente eram feitos no final do dia. Mas vimos que, quando as pessoas precisavam, era naquele momento. Então, a gente costurou todo o nosso sistema para que isso fosse numa velocidade de um Pix. Assim que ele pedisse, cairia o pagamento para ele. O ponto de apoio também foi uma estrutura que veio deles. Hoje nós temos pontos de apoio nos quais toda a estrutura foi pensada no que eles falavam. Um lugar para almoçar e jantar enquanto estiverem na rua, por exemplo. A gente trouxe toda uma infraestrutura para eles, gratuita, que eles esquentam a própria comida. O simples virou muito importante.

Você pode falar um pouco sobre os dados financeiros da empresa? Como faturamento, investimentos…

A gente tem alguns números públicos que a gente comenta, como transações financeiras, muito por conta do que a gente faz aqui. Então, como uma operação de crédito é a principal delas, que é essa operação de antecipação de recebíveis, a gente já emprestou mais de 50 milhões de reais para entregadores no Brasil todo. A gente já movimentou mais de 350 milhões. 

Há planos para expandir os serviços oferecidos pela sua fintech? Como novos produtos ou funcionalidades.

Muito, muito mesmo. Hoje, os principais produtos estão ligados ao financeiro, então tem a antecipação de recebíveis, que, principalmente para o entregador, é o principal ponto de contato. Temos o ponto de apoio, tem outros produtos financeiros também para as empresas. Mas a gente recebe muitos pedidos, desde linhas de consórcio a financiamentos. Todo mundo, no final do dia, quer ter um lugar melhor para trabalhar. Nesse caso, para eles, é em cima da moto, ou um carro, bicicleta, seja lá qual for o modal. Então, a gente está abrindo linhas agora de crédito para que outras estruturas sejam possíveis para eles, que eles possam trocar ou adquirir novas. E a gente não está falando só de coisas pequenas. Imagina a pessoa financiar a própria casa? Por que a gente não abre outras formas que essas pessoas possam ter acesso a coisas assim também?

Como você vê o futuro da empresa? Qual o próximo grande objetivo que espera atingir?

A Trampay já é o principal banco para os entregadores, mas a gente quer ser para todos esses trabalhadores autônomos. Quando a gente fala de todos os trabalhadores autônomos, a gente está falando dos profissionais de segurança, de limpeza, de profissionais que estão, de fato, na linha de frente e fazendo o Brasil que a gente conhece funcionar. Essas pessoas estão prestando serviço e normalmente não têm ninguém que seja um avalista por elas. No Brasil, você só consegue alugar uma casa se você tiver um avalista e essa pessoa tem que ter dois imóveis no lugar onde você mora. Isso é um nível de infraestrutura que não acessa mais da metade da população brasileira. Isso é inconcebível. Então, a ideia é que a gente chegue a mais trabalhadores informais.

Você tem alguma consideração final?

Na linguagem de startups, a gente vai chamar de core business [atividade central da empresa] os clientes que a gente tem. Que é o principal motor, é para quem a gente endereça a nossa solução. Mas, assim, mais do que um core business, eles são, para a gente, muito core. Hoje, a Trampay é um negócio de impacto, então ela envolve tanto o privado quanto também a vontade do impacto na vida das pessoas. 

Então o que eu quero falar é: A gente ainda não tem noção. Ou talvez vocês que vão ler isso aqui não tenham noção ainda, mas muita coisa vai acontecer na vida dos informais e necessariamente para melhor. A partir do momento que a gente tiver com eles e com mais força.

Foto de Anna Julia Paixão
Anna Julia Paixão

Anna Julia Paixão é estagiária em jornalismo do 55content e graduanda na Escola Superior de Propaganda e Marketing.

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