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Empreendedor cria aplicativo regional de mobilidade que ultrapassa 115 mil corridas mensais em MG

Com presença em 12 cidades, plataforma criada por Tiago Sanches aposta em 'esteira de serviços' para expandir

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Entrevista
Conversas com especialistas, gestores e profissionais do setor, com perguntas conduzidas pela equipe do 55content.
Empreendedor cria aplicativo regional de mobilidade que ultrapassa 115 mil corridas mensais em MG
Foto: Reprodução/Acervo pessoal

O iMOVE, aplicativo de mobilidade, nasceu em 2019 como um projeto individual e quase improvisado. À frente da criação está Tiago Sanches, de 39 anos, gestor e fundador da plataforma, que transformou uma ideia surgida após uma viagem ao Mato Grosso em uma operação robusta, hoje, com 12 cidades atendidas, mais de 122 mil usuários cadastrados, cerca de 700 motoristas ativos e um índice de satisfação alto.

“Eu comecei com R$ 5 mil, né? E foi de emprestado… com R$ 8 mil a gente começou”, recorda Sanches, que construiu a base do aplicativo praticamente sozinho. Hoje, o cenário mudou completamente e o iMOVE se prepara para novos saltos, incluindo serviços financeiros, maquininha própria, locação de veículos, integração de viagens entre cidades e expansão para municípios de maior porte.

Da vida nos Estados Unidos ao empreendedorismo regional

Nascido e criado em Minas, Sanches nunca imaginou trabalhar diretamente com mobilidade urbana, conforme explica. Sua formação era voltada à tecnologia: “Eu sempre fui da área de sistemas. Trabalhei com desenvolvimento, com infraestrutura… Já tive loja de informática”. Sua vida, porém, mudou após passar uma temporada nos Estados Unidos, onde sua filha nasceu e onde viveu experiências que viriam a influenciar seu olhar para inovação.

O gestor conta que, ao retornar ao Brasil, encontrou um cenário de incertezas pessoais e profissionais. Voltou “sem muito norte”, como define. Trabalhou como vendedor ambulante, até que, durante uma viagem a Sinop (MT), teve o primeiro contato com um aplicativo regional de mobilidade. Na época, não tinha utilizado nem mesmo empresas consolidadas como a Uber, e se surpreendeu ao descobrir que existiam alternativas locais funcionando bem em cidades nas quais os grandes players sequer tinham muito espaço.

Ele recorda o momento exato em que percebeu que aquele mercado era uma oportunidade: “Ali, eu já vim incomodado. Voltei para minha serra e já não dei conta mais de trabalhar em outra coisa”. A partir dessa inquietação, começou a rascunhar o que viria a se tornar o iMOVE, ainda sem estrutura e capital para investir.

Entre obstáculos comuns do início e a pandemia

Sanches lançou a plataforma, simultaneamente, em Lagoa da Prata e Arcos, duas cidades pequenas nas quais ele diz que a população ainda mal compreendia como funcionava um aplicativo de transporte. “A gente iniciou com oito motoristas numa cidade, oito na outra. Fiz uma reunião explicando e a gente deu o pontapé inicial”, lembra.

O gestor compartilha que o nome “iMOVE” surgiu quando, durante uma visita a Belo Horizonte, observou o sistema de integração de ônibus chamado Move. O termo, associado ao prefixo “i”, presente em marcas globais de tecnologia, “como iFood, iPhone e outros”, permitiu criar um nome que, segundo Sanches, é adaptável a diversas frentes de serviços. “iMove combina com muita coisa, me dá um oceano de possibilidades”, afirma.

A marca é registrada em duas categorias e, hoje, se expande em múltiplas versões: iMove Bank, iMove Pass, iMove Delivery, iMove Connect e outras que ainda estão sendo desenvolvidas. A versatilidade do nome acompanha a ambição do empreendedor em fazer da empresa muito mais que um aplicativo de mobilidade.

No entanto, no início, o desafio era grande. Além das dificuldades comuns ao começo de qualquer negócio, oito meses depois do lançamento, chegou a pandemia. Sanches não esconde que cogitou desistir: “Em muitos momentos, eu pensei que não ia dar certo, que a gente ia ter que recuar”. Mas, com o tempo, ele fala que percebeu padrões de comportamento, entendeu a sazonalidade da demanda e viu a importância de construir um serviço resiliente e próximo dos passageiros.

Apesar da pandemia, o negócio se manteve de pé, preparando o terreno para crescer quando a economia começou a se estabilizar. “Um ano e meio… aí, eu falei: ‘Agora começou a dar certo’.” O gestor detalha que o aplicativo levou cerca de um ano e meio para começar a se pagar.

A estrutura do aplicativo regional hoje

Seis anos depois, de uma “empresa de um homem só”, como o gestor descreve, a um negócio com sede própria, equipes internas especializadas e uma estrutura organizacional que cobre todas as frentes essenciais de um aplicativo de mobilidade. Hoje, são 12 funcionários contratados, além de prestadores de serviços em áreas estratégicas.

A companhia conta com analistas de suporte de primeiro e segundo nível, especialistas em cadastro e verificação de motoristas, equipe de marketing, setor de qualidade, time de vendas (SDR), administração e uma área dedicada à ativação de marca, responsável por eventos e ações presenciais nas cidades atendidas. Cada área atua de forma integrada para garantir eficiência, atendimento rápido e padronização de procedimentos.

“Hoje nós temos um suporte 7 dias por semana, seja Natal, Reveillon… Todo dia o usuário consegue falar com a nossa equipe”, enfatiza Sanches. A meta, agora, é elevar esse nível de atendimento implementando um modelo de operação 24 horas por dia, todos os dias do ano.

Indicadores para guiar os processos

Sanches afirma que a plataforma já realizou 3,5 milhões de viagens em toda sua história. Um dado importante é que a empresa nunca registrou qualquer caso de assalto ou violência grave em suas corridas.

Atualmente, o aplicativo opera cerca de 115 mil corridas mensais, com ticket médio de R$ 17. Possui aproximadamente 122 mil usuários cadastrados. O gestor também compartilha que são cerca de 30 a 35 mil usuários realmente ativos e entre 650 e 700 motoristas atuando regularmente.

Além disso, ele destaca a taxa de finalização de corridas como um dos pontos altos: 90%. “A cada 100 corridas que são solicitadas, 90 são finalizadas.” Sanches compara esse resultado com a média do índice das grandes plataformas, especialmente nas capitais: “A Uber acho que tem uma taxa de 30% a 40%”.

O empreendedor cita os indicadores de satisfação, como o NPS (Net Promoter Score), uma métrica que mede a experiência dos usuários, que chega a 79 entre os passageiros e 88 entre os motoristas, ambos dentro da chamada zona de excelência. Na Play Store, na qual o aplicativo exibe mais de 100 mil downloads, a nota média é de 4.9, conforme ele aponta.

Modelo de remuneração e taxas no iMOVE

No iMOVE, a gestão das corridas funciona por meio de uma carteira digital interna. A cada corrida efetuada, uma taxa é debitada automaticamente do saldo do motorista. Esse sistema, que inicialmente exigia créditos pré-pagos, foi totalmente modernizado com a criação do iMove Bank, a fintech própria da plataforma. Com o novo sistema, “o motorista vai receber PIX diretamente na conta”, podendo sacar os ganhos de forma imediata, a qualquer hora do dia.

Já as taxas cobradas pelo aplicativo, variam entre 8% e 15%, conforme o volume mensal de corridas. O gestor explica que motoristas iniciantes, que ainda não contribuem tanto para o ecossistema, começam pagando 15%. Já aqueles mais ativos têm reduções gradativas, podendo chegar ao piso de 8%. “Motorista hoje que faz R$ 20 mil paga 1.200, 1.300… chega a 8%”, explica. Segundo Sanches, mesmo a taxa máxima ainda fica abaixo do que muitos aplicativos regionais e nacionais cobram.

Uma ‘esteira de serviços’ que cresce

Para o gestor, um dos diferenciais do iMOVE está na construção de um ecossistema que vai além das corridas tradicionais. O objetivo é oferecer múltiplas soluções dentro da mesma plataforma, fortalecendo o vínculo do usuário com a marca e abrindo novas frentes de monetização: “A gente conecta. Isso é essencial porque é com serviços assim que exercitamos muito a marca”.

Entre as inovações está a conta digital iMove Bank, que centraliza todas as transações financeiras da plataforma. Há também o lançamento de uma maquininha própria, com taxas mais competitivas que as principais fornecedoras do mercado, consolidando a presença da marca nos pagamentos presenciais.

Outro serviço que deve ganhar força é a locação de carros, incluindo veículos elétricos. “O passageiro vai ter a opção de alugar um carro”, releva. Esse recurso permitirá que usuários e motoristas aluguem veículos diretamente pelo aplicativo, ampliando a abrangência do serviço e abrindo portas para novas parcerias comerciais.

O iMove Connect, por sua vez, é a resposta da empresa ao aumento da demanda por viagens intermunicipais. Integrado ao sistema do iMOVE, os usuários vão poder “fazer viagens intermunicipais compartilhadas, tipo Carona Fácil, Blablacar”.

Há ainda o iMove Pass, que funciona como uma bilheteria digital. “A pessoa compra o ingresso e ganha o cupom de desconto para ir até o evento”, elucida. O sistema permite que produtores e organizadores de eventos cadastrem apresentações, shows, jogos e exposições, vendendo ingressos com taxa zero.

Além dessas frentes já ativas, Sanches adianta que estuda implementar novos modelos de serviço, como o transporte do passageiro e seu carro após consumo de álcool em bares e restaurantes. A ideia, inspirada em soluções vistas na China, consiste em enviar dois motoristas: um conduz o cliente e o outro devolve o condutor original ao ponto inicial. Ele afirma que, apesar de inusitado, é algo simples de testar. E o gestor já decidiu como começar: “A gente vai fazer parceria com os estabelecimentos”.

Expansão também para grandes cidades

O iMOVE dominou as cidades em que atua e agora prepara seu maior salto: a entrada em municípios de porte médio e, futuramente, capitais. A próxima inauguração será em Nova Serrana, conforme compartilha. Ainda assim, a expectativa do gestor é de uma entrada forte e estruturada, com investimento previsto entre R$ 200 mil e R$ 300 mil para ações de divulgação, suporte, equipe local e parcerias.

Após consolidar essa etapa, a empresa pretende entrar em uma cidade grande. “Belo Horizonte é algo para daqui um ano, quem sabe”, adianta. Sanches revela ainda conversas iniciais com um investidor bilionário do setor de peças automotivas, que demonstra interesse em apoiar a expansão para a capital mineira.

Futuro: carros autônomos e múltiplos canais

Com olhar voltado ao futuro, o empreendedor acredita que a mobilidade urbana está prestes a entrar em uma fase de grande transformação. Ele vê os carros autônomos como realidade próxima. “Eu creio que daqui a cinco anos a gente vai ter opções autônomas”, projeta.

Para acompanhar essas mudanças, pretende manter o iMOVE diversificado em canais e tecnologias. Uma das principais iniciativas é a criação de uma ferramenta que tem como proposta permitir que o usuário solicite corridas não apenas pelo aplicativo, mas também por WhatsApp, Instagram, Telegram, Facebook e até telefone, com chatbots avançados e atendimento híbrido. Segundo Sanches, o iMOVE será o primeiro case dessa tecnologia.

Impacto social e os momentos de orgulho

Em meio a números expressivos e planos, ele afirma que o maior orgulho é ver o impacto transformador do iMOVE na vida de motoristas e famílias. Ele lembra de casos em que o trabalho no aplicativo ajudou pessoas em situação de vulnerabilidade a melhorar de situação financeira. “Muito motorista hoje chega agradecendo. Já teve motorista chegando aqui e falando: ‘Eu não tenho nada para comer’. Aí, ele trabalhava no final de semana e na segunda-feira falava: ‘Consegui fazer uma compra’”, recorda.

O gestor também destaca o papel de sua família, especialmente dos pais, que hoje consegue apoiar mais diretamente. Ao falar sobre isso, sua voz vacila, e ele se emociona.

Além dos planos de expansão para capitais, a longo prazo, o gestor considera a possibilidade de levar o conceito para fora do país: “Quem sabe, um dia, Miami. Uma plataforma para brasileiros e latinos.” Sanches resume sua postura em relação ao futuro do iMOVE. “Eu sou sonhador, tenho uma ideia e não durmo”, afirma.

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