Criado em Ouro Preto, Minas Gerais, em 2022, o aplicativo de transporte Pampam nasceu do olhar de quem vive a mobilidade urbana diariamente: o taxista e, hoje, gestor Danilo Magalhães, de 37 anos. Com mais de uma década de experiência no setor, ele viu nas plataformas digitais uma oportunidade de inovação, e também de resistência diante das grandes empresas de tecnologia que dominaram o mercado nacional.
“Eu sempre fui do ramo de transporte, sabe? Eu fui taxista por mais de 10 anos e cheguei a ser presidente dos taxistas daqui”, conta Magalhães. Durante o período em que presidiu a associação local de taxistas, ele tentou implementar um aplicativo voltado para a categoria, mas enfrentou resistência: “O taxista é uma classe mais velha e tudo, eles não aderiram”.
Mesmo assim, a ideia não morreu. Quando novas plataformas começaram a atuar na região, ele percebeu que poderia transformar uma necessidade local em uma oportunidade de negócio. “Eu falei: ‘Eu vou ter que criar uma para mim, já que eles não querem’. Aí, consegui com mais quatro amigos de a gente criar o Pampam.”
Da lanchonete à fundação da plataforma
O gestor compartilha que o início foi guiado por determinação e senso de comunidade: “A gente começou só em Ouro Preto mesmo. Eu tinha uma lanchonete, aí a gente se reunia lá para iniciar o Pampam”. O nome da plataforma, explica ele, surgiu da ideia de lembrar a buzina de um carro.
Naquele espaço, as primeiras reuniões ajudaram o grupo a construir o modelo do aplicativo, pensado para valorizar os motoristas locais. “Os meninos já rodavam em outros aplicativos. Eu apresentei para eles uma proposta melhor do que os outros e a gente conseguiu fundar”, diz.
O grupo inicial era formado por nove sócios, mas, com o passar do tempo, se consolidou em cinco. Entre eles, pessoas de diferentes áreas: “A gente tem motorista que trabalhava em ambulância, outros, na Câmara de Ouro Preto, um era agente penitenciário… Então, era todo mundo conhecido, mas não necessariamente do ramo de transporte”, explica.
Primeiros resultados em pouco tempo
A criação do aplicativo demandou não apenas vontade, mas também um investimento considerável. Segundo Magalhães, o grupo aplicou cerca de R$ 40 mil para colocar o Pampam no ar: “A gente já começou pagando a plataforma e uma moça que fazia o marketing aqui na cidade”.
O gestor conta que o retorno, porém, foi mais rápido do que esperavam. “No primeiro mês mesmo, a gente já pagou as despesas com o próprio dinheiro da plataforma”, afirma.
Hoje, com quase quatro anos de operação, os números são maiores: mais de 20 mil usuários baixaram o aplicativo, que realiza entre 20 e 30 mil corridas por mês, e conta com 100 motoristas ativos. Além dos condutores ativos, o número de cadastrados é superior: “A gente não tem o costume de inativar o motorista, não”.
Um modelo diferente de remuneração
Entre os diferenciais mais marcantes do Pampam para o gestor está a forma de cobrança e repasse aos motoristas, pensada para garantir estabilidade e previsibilidade. “Eles pagam para a gente em forma de crédito. A gente desconta R$ 2,60 por corrida”, explica.
A taxa é fixa, mas não é um percentual de cada corrida: “É o fixo mesmo, independente se ele fizer a mínima nossa, que é R$ 15,90, ou a maior corrida. Se for R$ 10 mil, é o mesmo R$ 2,60”.
Magalhães esclarece que o formato, pouco comum entre aplicativos do setor, é um reflexo da vontade de priorizar o motorista. “Como a gente é pensado no motorista também, a gente não tem interesse de alterar isso”, reforça.
Os desafios de uma expansão
Hoje, o aplicativo opera em Ouro Preto e Mariana, ambas em Minas Gerais, com a expansão para a segunda cidade tendo ocorrido há cerca de um ano. O plano, contudo, é seguir crescendo: “No próximo ano, a gente tem uma meta de expandir para, pelo menos, mais duas cidades. A gente só não definiu ainda se vai por método de sócios, igual a gente fez aqui, ou se vai como franquia”.
Apesar do objetivo, o gestor cita dois obstáculos. “A gente está tendo muita dificuldade de achar alguém que escreva para a gente o modelo de franquia”, elucida. E complementa: “O problema maior é encontrar o motorista parceiro, porque toda cidade já tem alguma plataforma, e o motorista não justifica sair pra entrar numa nova”.
Concorrência e posicionamento local
Mesmo diante de grandes concorrentes do setor, o Pampam conseguiu se consolidar no mercado local. “A gente já teve a concorrência da inDrive, da 99… mas eles não vingaram aqui na cidade. A gente não tem nem chamado deles”, afirma.
Magalhães compartilha que, hoje, o principal rival do aplicativo é outro player regional. Apesar disso, ele diz que o segredo para resistir é o vínculo com a comunidade: “A gente fica muito feliz e satisfeito de ser a plataforma do ouro-pretano mesmo. Todas as plataformas que tinham aqui pensavam em atingir o turista ou o estudante. A gente chegou e pegou primeiro a parte que não era atendida”.
A estratégia de atender primeiro ao público residente, e não apenas turistas, criou uma base sólida e fiel, segundo o gestor. “Depois nós expandimos os outros leques, mas nós pegamos primeiro a parte que não era atendida.”
Entre oferta de benefícios e fidelização
Em termos de faturamento, Magalhães conta que os valores mudam conforme o período: “Varia muito de um mês para o outro, mas é em torno de R$ 20 mil”.
O gestor revela ainda a novidade de que, além da expansão geográfica, o Pampam pretende investir em fidelização e benefícios. “A gente está estudando a possibilidade de criar um cartão de fidelidade junto da plataforma”, conta.
Ele detalha: “Por exemplo, vai se chamar “Cartão Pampam”. Aí, com ele, a gente vai tentar desconto em postos de gasolina, clínicas médicas, essas coisas assim”. O cartão será voltado principalmente ao público cliente, mas também poderá beneficiar motoristas, conforme relata.
Planos, pensando o futuro dos aplicativos regionais
Em um cenário de constante transformação, como o do setor de mobilidade, Magalhães observa as movimentações regulatórias no país: “A gente tem muito medo das regulamentações do governo, não sabemos o que pode acontecer para a frente”. Para ele, é fundamental preservar a autonomia dos motoristas. “Quem trabalha nos aplicativos aqui, na maioria das vezes, não quer ser CLT. A gente tem um horário flexível, pode fazer o que bem entende da vida da gente sem ter que dar satisfação para patrão”, afirma.
Essa visão, aliada ao contato direto com os motoristas, reflete o aplicativo, em que todos os sócios seguem também dirigindo. “Todos os nossos sócios são gestores e motoristas.” Para o gestor, mais do que um negócio, o Pampam se tornou símbolo de um movimento que valoriza o que é regional. “É uma coisa que cresce coletivamente”, enfatiza.