Criada em Muzambinho (MG), uma cidade de pouco mais de 22 mil habitantes, a plataforma de mobilidade Uby nasceu em plena pandemia de covid-19 como resposta à necessidade de reinvenção de seus fundadores. O gestor e cofundador da empresa, cientista da computação, Goimy Rondinelli, de 35 anos, relembra o início da trajetória: “Eu tinha um sócio com quem já tive uma startup aqui. E, com a chegada da pandemia, a gente sabia que tinha que se recolocar no mercado”.
Ele conta que a inspiração veio de um amigo motorista que enxergou no grupo o perfil empreendedor que considerava faltar em outras plataformas. “Um amigo nosso que é motorista falou assim: ‘Eu trabalho numa plataforma, acho muito legal, mas o cara não tem a pegada de empreendedor e de gestão que você costuma ter’”, recorda.
Foi a partir desse comentário que surgiu a semente do negócio. Os fundadores decidiram que o caminho seria apostar em um modelo de mobilidade adaptado à realidade das cidades menores, com foco em eficiência, proximidade e sustentabilidade financeira. “Primeiro, a gente fez uma proposta para uma outra plataforma, para fazermos a expansão dela. E aí, a gente decidiu ingressar nesse desafio da mobilidade urbana.”
O início: investimento e estrutura
Rondinelli divide que o início, em maio de 2021, foi marcado pelo uso inteligente dos poucos recursos disponíveis: “O investimento foi o caixinha que a gente tinha na época. Era fim de pandemia”. O gestor conta também que uma vantagem foi já conhecer a área de tecnologia. “Investimos na plataforma e no marketing também, mas por ter conhecimento técnico, a gente executou a maioria do marketing”, diz.
Ele conta que a Uby alcançou muitas pessoas nas redes sociais logo no lançamento, quando os fundadores criaram uma divulgação que pediram aos amigos para compartilhar. “Na estratégia de lançamento, a gente pediu para todos os amigos nossos postarem um story específico, que virou meme e viralizou.”
Hoje, quem deseja adquirir uma licença da marca, já com marketing incluso, precisa de um investimento inicial a partir de R$ 6 mil, compartilha o gestor. “Quando a gente começou, a gente gastou mais que o dobro disso aí”, faz questão de destacar.
Do computador a 50 cidades
No começo, o time trabalhava de forma improvisada, com poucos recursos, conforme recorda o gestor: “Começamos a plataforma, mas só tinha motorista clandestino. Faziam bagunça, contavam muita mentira para a gente… Foi um começo muito desafiador”.
A empresa foi fundada com quatro sócios: o próprio Rondinelli, o publicitário Rafael Possidônio, o estudante de finanças João Paulo e um motorista amigo do grupo, que saiu ainda nos primeiros meses. Mesmo assim, o trio permaneceu e fez a plataforma, atualmente, estar presente em cinco estados, Minas Gerais, São Paulo, Mato Grosso do Sul, Pará e Paraná. “A gente começou aqui e com pouco tempo percebeu o potencial da expansão. Hoje, estamos em mais de 50 cidades e a meta é chegar a 100 até o final do ano que vem.”
O modelo de expansão é descentralizado, segundo informa o gestor. A Uby, que aposta em cidades com até 100 mil habitantes, vende licenças para gestores locais, geralmente motoristas, que recebem suporte contínuo. “A gente vende a licença, mas faz o treinamento e o acompanhamento. Nosso índice de sucesso está superior a 95%”, relata.
O trunfo de conhecer o trabalho do motorista
Para Rondinelli, um dos principais diferenciais da Uby é a experiência que ele tem no próprio campo de operação. “Eu saí do administrativo, comprei um carro e fui rodar. Eu tenho quase 7 mil corridas.” Ele considera que ter feito isso foi essencial para o crescimento da empresa: “Lá no campo, eu aprendi o que era mobilidade e comecei a trazer isso para o software e para o operacional”.
A vivência prática se transformou em um trunfo, pois ele relata que não apenas entende o comportamento do motorista, mas também pode identificar de perto as dores do passageiro. “Então, eu entendo perfeitamente o que eles fazem na ponta ali e consigo adaptar a tecnologia ao que o passageiro e o motorista realmente precisam no campo”, enfatiza.
“Eu fui motorista, eu uso como passageiro, eu fui gestor da unidade na cidade… A gente sabe fazer todo o processo ali.” Na visão de Rondinelli, essa proximidade cria uma cultura de empatia dentro da empresa e se reflete no relacionamento com os licenciados e motoristas.
Resultados e solidez de um negócio
Com mais de 100 mil downloads, a Uby já ultrapassou altos valores somando as unidades em operação. “A gente distribuiu aos motoristas mais de R$ 1.5 milhão nesse último mês”, compartilha Rondinelli.
O aplicativo reúne cerca de 1 mil motoristas ativos, além de 70 mil contatos que pedem corridas via central telefônica, uma ferramenta que, segundo o gestor, também funciona como porta de entrada para novos usuários do aplicativo: “O cara pede na central e a gente fala: ‘Quer pagar mais barato? Vai para o aplicativo’. Um por um”.
A empresa cobra uma taxa fixa de 15% por corrida, índice considerado justo tanto para a empresa quanto para o motorista. “É fixo, uma taxa que não dá muita margem, mas na quantidade consegue crescer e escalar.”
Ele explica ainda que a Uby trabalha com metas de desempenho: “A meta é que o motorista que trabalhe mais de 60 horas semanais on-line tire de R$ 800 a R$ 1 mil por semana”. Com os incentivos, o retorno dos condutores, segundo Rondinelli, é significativo. “A gente tem motorista que está há meses consecutivos passando de R$ 20 mil de faturamento por mês”, exemplifica.
Concorrência: foco regional
Mesmo diante das grandes companhias do setor, Rondinelli considera que a Uby encontrou um espaço específico para crescer: “A gente não teve problema com a concorrência até agora. Quando competiu com Uber e 99 em algumas cidades, a gente não teve dificuldade”. Para o gestor, a atenção ao relacionamento humano é um diferencial. “A gente gosta de cuidar do motorista mesmo, orientar ele, estar junto com ele”, afirma.
Além disso, ele atribui o compromisso com as comunidades locais como um forte fator para o sucesso da plataforma: “A primeira coisa é que o dinheiro fica na cidade. O gestor local tem um CNPJ lá. E a segunda coisa é que ele não está vendo apenas números, ele está convivendo com as pessoas lá”.
Essa conexão comunitária, segundo o empreendedor, é o que sustenta o modelo da Uby. “Quando as grandes plataformas entram, essas corridas acabam ficando esquecidas. Aí, tendo cuidado com as pessoas dali, as corridas vão todas para você”, visualiza.
Desafios e próximos passos de um aplicativo local
“A gente ralou muito pra abrir outras cidades sem ter padronizado organização de processo. Isso aí foi algo terrível”, Rondinelli aponta que o principal obstáculo da expansão é justamente o propósito de oferecer um serviço personalizado.
Hoje, ele cita como maior questão uma ferramenta que considera essencial: “O grande desafio está sendo desenvolver curso on-line para capacitação do licenciado e do motorista. Esse é o jeito que a gente vai disseminar a cultura da empresa”. Essa estratégia, conforme conta, busca uniformizar o padrão de atendimento e manter a marca, mesmo a milhares de quilômetros da sede.
Para além dos resultados atuais, a Uby traçou metas para os próximos cinco anos: alcançar 10 mil corridas por dia até 2028. “A gente começou essa meta no comecinho de 2024 e, hoje, já fazemos 4 mil corridas por dia.”
Mais do que métricas, o gestor reforça o propósito pessoal e coletivo que o move: “Meu propósito de vida é fazer as pessoas realizarem os sonhos delas. Quando vejo um motorista trocando de carro, fazendo uma viagem com a família, o cara realizando um casamento que estava no papel há muito tempo… Isso é o motivador”.
Nesse sentido, Rondinelli faz questão de dizer que o crescimento da empresa não se dá à custa dos princípios. “A gente tem valores e a gente segue nossos valores, a gente não muda isso”, esclarece. E destaca: “Não entramos em lugares que não fazem sentido para a gente”.
Visão do gestor: o futuro da mobilidade regional no país
Para o gestor da Uby, o futuro da mobilidade urbana no Brasil será cada vez mais regionalizado: “Vai ser cada vez mais difícil, nas menores cidades, as grandes plataformas concorrerem com os regionais”. Ele acrescenta que vê na expansão de marcas já existentes um próspero caminho. “O futuro está com as grandes licenças, com as grandes franquias dominando esse mercado brasileiro.”
O empreendedor acredita que o modelo baseado em licenciamento local e autonomia de gestão será o caminho mais sustentável. “As metrópoles, eu não vejo uma regional ‘pegar’ tão cedo, mas creio que o futuro está com as grandes licenças dominando o mercado brasileiro”, reforça Rondinelli.
 
								 
								 
						 
				 
											 
								 
								 
								