Jair Almeida, secretário-geral da Associação dos Trabalhadores por Aplicativo do Distrito Federal e Entorno, criticou a falta de representatividade sindical efetiva e alertou que a gamificação dos aplicativos tem ampliado a exploração e o desgaste físico e mental dos motoristas.
A fala ocorreu durante o debate sobre a regulamentação dos trabalhadores por aplicativo, realizado nesta terça-feira (07) na Câmara dos Deputados.
Falta de representação dos motoristas
Segundo Almeida, muitos motoristas não se sentem representados pelos sindicatos existentes, que, em sua avaliação, não acompanham o dia a dia da categoria nas ruas.
“Tem muita gente dizendo que representa os trabalhadores, mas não está na rua vivendo o que o motorista passa”, afirmou.
Ele acrescentou que, no Distrito Federal, há entidades que aparecem apenas em eventos ou fotos oficiais, mas não atuam diretamente na defesa dos motoristas.
“Nós temos sindicato para tirar foto, mas não temos sindicato presente do lado do motorista”, disse.
Almeida afirmou que mantém mais de 50 grupos de WhatsApp com motoristas do DF e Entorno, que servem como espaço de troca de informações e denúncias. Segundo ele, a base se sente abandonada e sem voz nos debates formais.
“Será que o motorista realmente está sendo representado?”, questionou.
Gamificação e impacto sobre os trabalhadores
Durante sua fala, o representante denunciou que as plataformas utilizam mecanismos de gamificação — sistemas de pontuação, metas e bonificações — que, segundo ele, mantêm os motoristas presos ao aplicativo e estimulam jornadas exaustivas.
“A gamificação prende o motorista no sistema, ele acredita que está ganhando dinheiro, mas no final tem prejuízo”, afirmou.
Almeida explicou que esse modelo causa fadiga, pressão psicológica e precarização da atividade, além de criar uma falsa sensação de meritocracia.
“Todo mundo acha que é dono do próprio negócio, mas ninguém é dono de nada”, disse.
Ele relatou ainda que, em períodos de alta demanda, chegou a morar 45 dias no aeroporto, dormindo no carro e tomando banho em condições precárias.
“A gamificação está acabando com famílias. Eu vivi isso. Dormi em aeroporto, tomando banho de cuia junto com colegas”, declarou.
Crítica ao papel das plataformas e pedido de voz para os motoristas
O dirigente também cobrou que as empresas de aplicativo sejam tratadas como intermediadoras de transporte, e não apenas como empresas de tecnologia. Segundo ele, essa classificação é usada para driblar responsabilidades trabalhistas e regulatórias.
“As empresas dizem que são de tecnologia, mas estão intermediando o serviço de transporte”, afirmou.
Ao encerrar, Almeida pediu que mais motoristas sejam ouvidos diretamente nas audiências públicas, sem depender apenas de representantes institucionais.
“Quero que outros motoristas venham aqui e falem a realidade nua e crua. Isso não é brincadeira”, concluiu.