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“Livre iniciativa tem sido usada pelos aplicativos para transferir riscos e custos para motoristas”, defende advogada

Letícia Kaufman defende o reconhecimento de vínculo entre motoristas e aplicativos, afirmando que a livre iniciativa não pode justificar a negação de direitos básicos.

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Notícia
Informações objetivas sobre fatos relevantes para o mercado de mobilidade, com apuração direta da redação.
Advogada de toga fala em pé diante de um microfone durante sessão no Supremo Tribunal Federal (STF).
Letícia Kaufman Foto: Reprodução/Youtube

A advogada Letícia Kaufman, representante da Associação Nacional dos Procuradores e Procuradoras do Trabalho, afirmou que a livre iniciativa tem sido usada como um “escudo absoluto” para justificar um modelo de negócios que transfere todos os riscos e custos da atividade para os motoristas, negando-lhes as proteções mínimas que deveriam ser garantidas pelo Estado.

A manifestação ocorreu nesta quinta-feira (02), em sessão do Supremo Tribunal Federal (STF), que discute a possibilidade de reconhecimento do vínculo de emprego entre motoristas e plataformas digitais.

A advogada ressaltou que não existem direitos absolutos no Brasil. Para ela, a livre iniciativa deve ser ponderada com outros princípios constitucionais, como a dignidade da pessoa humana e os valores sociais do trabalho. Lembrou ainda que a Constituição, em seu artigo 170, condiciona a ordem econômica à valorização do trabalho humano e à promoção da justiça social, fundamentos que precisam ser levados em conta nesse julgamento.

Aplicativos não seriam inviabilizados

Letícia Kaufman destacou que não se trata de inviabilizar a atuação de empresas como a Uber. Pelo contrário, reconheceu que a tecnologia e a conveniência trazidas pela plataforma são inegáveis. O que se busca, segundo ela, é garantir que esse funcionamento ocorra com respeito aos direitos dos motoristas, que são os verdadeiros responsáveis por movimentar o modelo de negócio.

Ela questionou se a única forma de viabilizar os aplicativos seria pela “máxima exploração do trabalhador” e sem qualquer proteção social. Afirmou acreditar que é possível inovar e lucrar sem abrir mão da dignidade de quem trabalha, lembrando que o STF deve harmonizar o desenvolvimento econômico com a preservação de direitos básicos.

Proteção social e futuro dos motoristas

Em sua fala, Kaufman trouxe também uma reflexão simbólica. O julgamento começou justamente no dia em que se celebrava o Dia do Idoso, o que, para ela, reforça a necessidade de pensar no futuro dos trabalhadores de aplicativo. “Tratar dessa questão também é proteger o trabalhador de hoje, garantindo que no futuro tenha aposentadoria e uma velhice digna”, afirmou.

Ela citou dados do IBGE de 2022, segundo os quais apenas 27% dos trabalhadores de plataforma contribuem para a Previdência Social. Isso, disse, reforça a urgência de mecanismos que assegurem proteção mínima a esses profissionais.

Primazia da realidade

A representante da Associação Nacional dos Procuradores e Procuradoras do Trabalho concluiu que, sempre que presentes os requisitos legais, cabe à Justiça do Trabalho reconhecer o vínculo de emprego. “A livre iniciativa não pode ser exercida à custa da máxima exploração do trabalhador”, afirmou. Para ela, é dever da sociedade e do STF garantir a harmonização dos fundamentos da República, permitindo que a atividade econômica exista, mas sem renegar direitos sociais básicos aos motoristas.

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Redação 55content

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