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Cansado das taxas da Uber, motoristas começam a fazer corridas particulares e criam app com mais de 100 mil pedidos mensais

Itacar cobra no máximo 7% de taxa para motoristas de aplicativo na cidade de Itajubá, no interior de Minas Gerais.

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Entrevista
Conversas com especialistas, gestores e profissionais do setor, com perguntas conduzidas pela equipe do 55content.
Carro elétrico branco da marca BYD com identidade visual da ItaCar, estacionado em via urbana com cercas e árvores ao fundo.
Foto: Itacar/Divulgação

Gerson Lara era motorista da Uber em Itajubá, cidade no sul de Minas Gerais com aproximadamente 100 mil habitantes.

Cansado das taxas cobradas pela plataforma e do aumento dos custos para continuar na profissão, ele e outros motoristas passaram a realizar corridas particulares, usando o WhatsApp para organizar cerca de 200 passageiros.

“A gente tinha tanto a rede de clientes no WhatsApp quanto a rede de motoristas. Atendíamos pela Uber, mas aos poucos fomos criando uma carteira particular e deixando o aplicativo de lado”, explica Gerson.

“O passageiro mandava mensagem, e quem respondesse primeiro pegava a corrida”, relembra.

Além disso, os motoristas mantinham um grupo exclusivo para repassar corridas entre si.

“Cada motorista tinha a sua cartela de clientes, e a gente ficava compartilhando as corridas entre nós. Era tudo feito na confiança, direto pelo WhatsApp.”

O modelo funcionava, mas apresentava limitações. Segundo Gerson, era comum receber pedidos em horários inconvenientes, o que motivou a criação de um sistema automatizado.

“Você está com a família, num jantar, e alguém manda mensagem pedindo corrida. Foi aí que a gente pensou: por que não transformar isso em aplicativo? Automatizar tudo, deixar mais organizado e profissional.”

A criação do aplicativo

A partir da experiência acumulada nos grupos de WhatsApp, o grupo lançou o aplicativo Itacar, em outubro de 2019. O investimento inicial foi de cerca de R$ 5 mil, bancado por quatro sócios com recursos próprios.

“A gente não tinha dinheiro para investir em divulgação. O marketing era feito dentro das próprias corridas da Uber. A gente entregava o cartão, falava: ‘Na próxima corrida, chama pelo Itacar’.”

Com uma base de clientes já consolidada e o apoio dos motoristas locais, o app cresceu rapidamente.

“Foi um trabalho de formiguinha. Usamos nossos grupos, boca a boca, redes sociais. A gente falava: ‘Baixa o app, chama por aqui, é mais barato, mais rápido’.”

O crescimento acelerado foi impulsionado por um fator: a cidade é sede de da Universidade Federal de Itajubá.

“Chega o final de ano, é formatura uma atrás da outra, festa de curso, confraternizações de empresas, fora Natal e Ano Novo. Então o movimento no comércio e nas ruas aumenta muito.”

Pandemia e retomada

Apesar do bom desempenho inicial, a pandemia de Covid-19 impactou diretamente a operação.

“A gente deu sorte e azar ao mesmo tempo. Quando veio a pandemia, em março de 2020, a empresa não tinha nem seis meses.”

Com as restrições de circulação, o número de corridas caiu significativamente.

“Foi uma retomada lenta. A pandemia demorou mais de um ano. Mas desde a primeira onda, cada mês a gente via os gráficos subindo um pouquinho.”

Modelo de negócio e ganhos dos motoristas

A Itacar opera com um modelo de remuneração que busca atrair motoristas com taxas reduzidas. O percentual máximo cobrado por corrida é de 7%, além de uma taxa fixa a cada 10 dias.

“Isso é política da empresa. A gente quer valorizar o motorista.”

Essa cobrança é feita automaticamente, por meio de uma carteira digital no próprio aplicativo.

“O motorista ganha, em média, de R$ 6 mil a R$ 7 mil bruto, mas já tivemos motoristas que alcançaram até R$ 17 mil em um único mês”.

A empresa também oferece incentivos para motoristas que mais faturam no mês: os Top 50 (homens) e Top 20 (mulheres) recebem descontos nas taxas fixas e percentuais menores por corrida.

Além disso, cerca de 30 veículos elétricos operam na plataforma, com tarifas diferenciadas e benefícios adicionais.

A Itacar adota duas tarifas mínimas: R$ 10,00 durante o dia e R$ 11,50 à noite e aos fins de semana. A corrida mínima cobre aproximadamente 1,5 a 2 km.

A empresa também oferece cupons de desconto de até 10%, que podem reduzir o valor mínimo da corrida para R$ 9,00.

“A gente tem uma categoria universitária. Como a cidade tem muito estudante, criamos essa tarifa diferenciada para eles.”

Durante a entrevista, Gerson revelou que a empresa alcançou o número de 100 mil corridas solicitadas nos últimos 30 dias.

Expansão para Pouso Alegre

Após se consolidar em Itajubá, a empresa iniciou sua expansão para outras cidades. A primeira foi Pouso Alegre, município vizinho com população maior.

“Aqui em Itajubá, a gente já é bem consolidado. Em Pouso Alegre ainda estamos na luta. Lá tem Uber, tem 99, e o mercado é mais difícil.”

Segundo Gerson, a principal dificuldade é convencer motoristas e passageiros a experimentarem um serviço local.

“Eles já estão acostumados com as tarifas muito baixas da Uber e da 99. Nosso maior desafio é mostrar que o nosso serviço é diferente, com tarifas melhores para o motorista e atendimento de qualidade para o passageiro.”

Atualmente, a empresa perde de 30% a 40% das corridas em Pouso Alegre por falta de motoristas disponíveis.

“Em Itajubá, esse índice não chega a 10%. Então nosso foco para 2025 é melhorar esse número.”

A operação em Pouso Alegre é 100% própria, sem modelo de franquia.

Para os próximos anos, a Itacar pretende expandir para cidades de até 200 mil habitantes, com perfil semelhante ao de Itajubá.

“A gente pensa em ampliar, mas sem dar passos maiores que as pernas. Queremos manter a operação enxuta, com controle de qualidade, e só expandir quando for viável.”

A empresa também quer aumentar a frota de veículos elétricos, substituindo gradativamente os carros a combustão.

“Nosso plano é substituir os carros a combustão por veículos elétricos, aumentar essa frota e continuar investindo em mobilidade sustentável.”

Gerson destaca que, em cidades com regulamentação local para aplicativos, como Itajubá, o ambiente é mais favorável.

“O maior desafio em cidades grandes é a desunião dos motoristas. Cada um olha só para si. Aqui em Itajubá, a gente conseguiu criar um ambiente de cooperação desde o início, e isso fez muita diferença.”

Vinícius Guahy

Vinícius Guahy é jornalista formado pela Universidade Federal Fluminense e coordenador de conteúdo do 55content.

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