Foi impressionante ver a reação dos motoristas de aplicativo ao saber do prejuízo que a Uber teve por causa de uma quadrilha de contas fakes, desarticulada pela Polícia Civil do Rio de Janeiro. Não foi uma reação de revolta contra o crime, nem de apoio à operação policial, a unanimidade nos comentários das redes sociais e portais de notícia foi a comemoração pelo prejuízo da Uber.
Por que os motoristas comemoraram o golpe que a Uber sofreu?
E aí, a gente não vai nem entrar aqui na questão ética da coisa, se tá certo ou errado torcer pelo rombo de uma empresa. O ponto é outro: como uma empresa chega a um nível de rejeição tão grande entre os seus próprios colaboradores? Eu, sinceramente, nunca vi nada igual.
É claro que tem motivo. Quem tá no volante todos os dias sabe muito bem o porquê. A Uber pratica uma política tarifária perversa, injusta, humilhante. Motorista antigo lembra, a tarifa hoje é menor, ou no máximo igual, à de 2016. Isso mesmo, quase 10 anos depois, rodando mais, enfrentando mais risco, com custo de vida nas alturas… e ganhando menos.
Um levantamento feito pelo aplicativo GigU com motoristas de todo o Brasil mostrou, com dados, o que a gente já sente na prática: em 2025, o motorista trabalha mais para ganhar menos que em 2024, 2023… e por aí vai. Ou seja, a canibalização da tarifa não é impressão, é realidade comprovada.
Então, quando os motoristas viram a notícia de que a Uber perdeu dinheiro com golpe de contas fake, a reação foi aquela velha história: “Ladrão que rouba ladrão tem 100 anos de perdão”. É feio? Pode até ser, mas é compreensível. A Uber nos rouba diariamente, na cara dura, com a conivência do sistema e dos governos.
O passageiro também sofre com a Uber hoje?
E enquanto isso, o passageiro? Esse paga mais caro do que pagava anos atrás. Os relatórios trimestrais da empresa mostram lucros recordes. Lucro pra quem? Pros acionistas. Pra quem tem ação da Uber na bolsa. E sabe de onde vem esse lucro? Do nosso suor, do nosso carro, do nosso risco.
Se a Uber sabe de outras contas fake, por que acionou a polícia dessa vez?
A empresa só acionou a polícia porque, dessa vez, o golpe atingiu o bolso dela, porque há muito tempo as contas fake existem. A diferença é que essa quadrilha cometeu o erro de agir sempre do mesmo jeito, no mesmo padrão, facilitando a investigação. Mas e as outras? As que estão rodando até hoje?
A Uber sabe que existem e, em muitos casos, prefere não mexer, porque, mesmo nas fraudes, as corridas acontecem e ela recebe o dela. Às vezes, o passageiro é lesado, a viagem é manipulada, o carro é ruim, o motorista é fake, mas a Uber recebeu. Então, pra ela, tá tudo certo nesse caso.
E mais, se, de fato, todas as contas falsas fossem desativadas hoje, o sistema da Uber poderia entrar em colapso. Tem motorista que usa conta fake porque foi banido injustamente, não tem dinheiro pra contratar advogado, perdeu ação na Justiça, mas precisa sustentar a família. Esses são minoria. A maioria está ali fraudando algoritmo, cancelando corrida pra ganhar mais, oferecendo corrida por fora. E a Uber sabe, mas finge que não vê porque a corrida foi feita.
No fim das contas, a Uber não quer saber se quem tá dirigindo é honesto, é bandido, tem nome limpo ou sujo. O que ela quer é corrida realizada, se isso significar manter um monte de conta fake ativa, que seja. Lucro em primeiro lugar. Se eu consegui chamar a sua atenção com essa informação, compartilha com seus colegas.
Um abraço e até o próximo encontro. Fui!