A rotina dos motoristas de aplicativo costuma parecer imprevisível para quem está de fora, mas para Elvis Santos, conhecido como “Driver Elvis” nas redes sociais, o segredo do sucesso está justamente na disciplina. Atuando em São Paulo desde 2023, ele contou em entrevista ao Clube Machine que construiu uma rotina de trabalho baseada em constância, planejamento e uma estratégia clara de onde, quando e como rodar para atingir seus objetivos financeiros.
Tudo começou de forma despretensiosa, quando ele conciliava a ida de Osasco, onde morava, até a obra de sua casa em Santana de Parnaíba, e um amigo sugeriu que ele aproveitasse o percurso para fazer corridas. “Era um trajeto que eu já faria, e eu conseguia fazer R$100, R$120, R$130. Foi aí que percebi que dava para tirar uma graninha nesse negócio”, recordou.
Autonomia acima de tudo
Antes, ele trabalhava com instalações de internet, mas pediu para ser desligado. Enquanto ainda recebia o seguro-desemprego, começou nos aplicativos, o que, segundo ele, “foi a melhor coisa que poderia ter acontecido”. Ele explicou que considera isso por conta da autonomia e possibilidade de organizar sua própria rotina: “Não ter um patrão faz toda a diferença”.
Elvis também destacou que não limita sua atuação a uma única plataforma. “Rodo na Uber e na 99. Não dependo de um só aplicativo.” Com ambos os aplicativos sempre ligados, a escolha é feita com base no melhor valor disponível no momento, como disse. “Já cancelei uma corrida no Black de R$45 para fazer uma Pop de R$75. O importante é o valor da corrida.”
Foco nos números e estratégia
Hoje, ele não aceita menos do que um mínimo diário: “Não posso sair de casa para fazer menos de R$500 por dia”. Ele calcula, diariamente, todos os seus custos fixos, incluindo combustível, manutenção, seguro e parcelas do carro. Com um gasto que ele afirma variar entre R$150 a R$200 só com abastecimento, ele compartilha essas informações em tempo real nas redes sociais.
Para atingir a meta diária, na hora de escolher as corridas, Elvis tem uma prioridade clara: o ganho por hora. “Corrida de R$ 30 por 10 km pode parecer boa, mas se durar 40 minutos, o ganho por hora é ruim”, determinou. Mesmo atuando na categoria Black na Uber, na qual o equilíbrio entre tempo e valor costuma ser mais estável, segundo ele, o motorista mantém esse critério como regra.
A média de faturamento do motorista teve altos recordes. “Até o mês seis, eu fiz R$132 mil. Isso dá uma média de R$20 mil por mês”, contou. Em um dia de desafio, chegou a fazer R$1.906 em 28 horas, e em seis dias acumulou R$8.388. Apesar dos valores que podem impressionar, ele reforçou que a receita para faturar alto não é apenas uma questão de sorte, mas de estratégia e dedicação.
O controle financeiro também inclui uma reserva mensal para manutenção do veículo. “Dentro do meu cálculo de custo fixo, incluo R$ 300 por mês para manutenção”, afirmou Elvis. Como costuma trabalhar mais de 20 dias por mês, ele ainda consegue acumular uma margem extra. Essa estratégia o livrou de apertos recentemente, quando precisou desembolsar R$ 3 mil para trocar pneus e a bandeja do carro: “Não fiquei desesperado porque já tinha essa reserva”.
Desde casa: rotina planejada
Elvis também detalhou que sai de casa entre 4h e 5h da manhã e que parte do seu planejamento é levar o próprio café da manhã, água e almoço, pois evita paradas em horários de pico, como esses que correspondem às refeições. “Tomar café às 8h, por exemplo, é um erro. É hora de demanda alta”, explicou.
Na capital paulista, ele atua mais no centro expandido, principalmente nas categorias Comfort e Black. A escolha pelo centro da cidade, segundo Elvis, é estratégica: “Uma corrida de São Paulo para Santana de Parnaíba paga mais do que o inverso, só porque saiu do centro”. Além disso, ele também adota um planejamento territorial. “Onde tem mais poder aquisitivo, tem mais procura por corridas premium”, observou.
A segurança também é pauta importante para ele. Conforme relatou, um dos momentos mais marcantes de sua trajetória foi uma corrida em que sentiu risco real de assalto, o que fez com que ele mudasse alguns costumes no dia a dia de trabalho: “Hoje em dia, não destravo o carro antes de ver quem é o passageiro. E, quando aceito corridas para lugares mais distantes, compartilho minha localização com amigos”.
Do volante à mentoria
Com mais de dois anos de experiência, Elvis passou a dividir seus conhecimentos com outros motoristas. Ele é um dos criadores do Clube do Milão, um grupo pago em que motoristas recebem dicas em tempo real, consultoria e até participação em sorteios. “A gente viu que os influenciadores pararam de dar dicas e ficaram só nas propagandas. Decidi mostrar a realidade do dia a dia.”
Para quem está começando, Elvis deixou como principal dica escolher bem as influências nas redes: “Se você seguir gente que só reclama, vai absorver aquilo. Siga quem mostra o que é possível, com positividade e estratégia”, aconselhou.