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“Não volto para casa com menos de R$100”, diz motoboy de SP

Rodando até 180km por dia e conciliando as entregas com a faculdade, William Rocha afirma: "Minha meta é R$150 por dia. Se fizer só R$100 num dia, no outro preciso fazer pelo menos R$ 200 para compensar."

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Entrevista
Conversas com especialistas, gestores e profissionais do setor, com perguntas conduzidas pela equipe do 55content.
Homem sorridente usando capacete e uniforme de motoboy, sentado em sua moto com uma cidade ao fundo. Texto na imagem diz: "De desempregado na pandemia a motoboy de sucesso!" com o selo "AO VIVO" na lateral e logotipo do Clube Machine Entrevista.
Imagem: Acervo 55content

Com início na profissão durante o início da pandemia, em 2019, William Rocha encontrou nas entregas por aplicativo uma forma de garantir renda em meio à crise. Morador da Zona Leste de São Paulo, ele organiza sua rotina entre as ruas e a faculdade de audiovisual, conduzindo o próprio crescimento pessoal e profissional com disciplina e visão de futuro, como conta. Com experiências que vão de entregas em rodovias escuras a situações de risco e superação após acidentes, William compartilha sua vivência com bom humor e reflexões profundas nas redes sociais, nas quais também oferece dicas e conteúdos voltados à categoria. Em entrevista ao Clube Machine, ele falou sobre os bastidores da rotina de um motoboy, os desafios diários, os aprendizados da profissão e a importância de enxergar o trabalho como uma ponte para a realização de sonhos maiores. Confira a entrevista completa:

Como você começou a trabalhar como motoboy? O que você fazia antes?

Comecei a ser motoboy lá na pandemia, em 2019. Foi bem no auge, com muita gente perdendo o emprego, ficando isolada e o comércio caindo. Aí vi uma saída nessa profissão, que é acessível para qualquer um. Mas não é todo mundo que consegue ganhar bem, só se for um motoboy dedicado.

Como é o seu dia a dia de trabalho, você tem um horário certo ou vai se adaptando?

Um dos benefícios de ser autônomo é ter flexibilidade. Alguns dias a demanda é baixa, então não vale a pena acordar cedo. Uso minha experiência para calcular e atingir minhas metas. Se um dia está fraco, no seguinte tenho que compensar. É um dia pelo outro.

Como você concilia o trabalho com os estudos?

Na faculdade, minhas aulas são de segunda, terça, quarta e sexta-feira, mas estou de férias. Nos dias de aula, prefiro chegar em casa e sair um pouco mais tarde. Mas, quando saio, fico na rua até bater minha meta. Se saio cedo e atinjo a meta, faço um pouco a mais. Se saio tarde, estico para equilibrar. A gente tem que ir se adaptando.

Qual é a sua meta diária de ganhos?

Minha meta é R$150 por dia. Alguns dias não dá, mas não volto para casa com menos de R$100. Se fizer só R$100 num dia, no outro preciso fazer pelo menos R$ 200 para compensar.

Como você lida com os gastos e manutenção da moto?

Abasteço R$20 e faço R$120. Minha moto é uma Pop 110, bem econômica. Abasteço todos os dias e tenho um cartão reserva para emergências, só para manutenção. A moto é a empresa do motoboy, ele tem que zelar por ela.

Você costuma comer fora ou leva comida de casa?

Trabalho mais à tarde por causa da faculdade, então saio já alimentado. Trabalho até umas 20h30, 21h e paro para tomar um café com leite, comer um salgado, pizza, algo assim. Se for para casa, o corpo esfria e é difícil sair de novo. O segredo é continuar.

Você roda por toda São Paulo ou evita algumas regiões?

Não gosto de ir para a baixada porque minha moto tem baixa cilindrada e isso é arriscado. Mas Zona Sul, Norte, Oeste, qualquer lugar da Grande São Paulo, eu vou.

Você trabalha em quais aplicativos?

Trabalho com iFood e Uber Flash. Faço uma intercalação. Durante a semana prefiro o Uber, que é mais dinâmico. Quando você está finalizando uma corrida, já aparece outra. O iFood é mais devagar durante a semana, mas de quinta a domingo melhora muito, com promoções bacanas.

Qual a principal diferença entre Uber Flash e iFood?

O público é diferente. Na Uber, o cliente já está no portão esperando. No iFood, tem que esperar o cliente descer, o pedido ficar pronto. Uber é mais ágil, mas paga menos. iFood paga melhor, mas é mais lento. É preciso equilibrar.

E nas datas comemorativas, como você se organiza?

Nos feriados, ligo os dois aplicativos. O iFood paga taxas ótimas e tem alta demanda, mas a Uber salva quando está parado. A Uber tem o famoso “dinâmico maluco”, com corridas bem remuneradas.

Sua renda vem 100% dos aplicativos?

Sim, 100%. Dá para sobreviver. O motoboy tem mais flexibilidade que um CLT, pode decidir não trabalhar num dia e descansar, isso não tem preço.

O que você mais e menos gosta nesse trabalho?

O que menos gosto são alguns clientes. O que mais gosto são as experiências que os aplicativos trouxeram: pagar minha moto, fazer amizades, ver paisagens lindas. A convivência com outros motoboys é muito boa, a troca de histórias, o companheirismo… é ver a vida de verdade.

Você já sofreu algum acidente trabalhando?

Já sofri uns seis acidentes. O último deixou uma sequela nas costas, mas me motivou a voltar a estudar. Finalizei o primeiro semestre da faculdade e estou iniciando o segundo. Percebi que não quero me aposentar como motoboy. Uso esse trabalho para investir nos meus sonhos.

Você acha que o valor pago pelas plataformas é justo?

Não é justo, mas é melhor pingar do que secar. O mundo não é justo. Se pudermos lutar por melhorias, como taxas mais altas, seria ideal. Hoje, nenhuma plataforma remunera de forma justa.

O que poderia melhorar nos aplicativos?

As empresas podiam investir mais no motoboy: jaqueta, bag, capacete de qualidade. Criar campanhas de incentivo com recompensas reais. Isso motiva o entregador, melhora a imagem do aplicativo e aumenta a qualidade do serviço.

Quanto você consegue faturar por mês e quanto fica para você?

Para mim não fica nada específico. Uso para viver bem, comer o que quero. Rodo cerca de 170 a 180km por dia. Gasto bastante, mas consigo manter um padrão que me deixa feliz.

Qual a melhor época do ano para faturar mais?

Final de ano, dezembro. Muita gente viaja, tem menos motoboy na rua, e os aplicativos oferecem bons incentivos. As pessoas estão com dinheiro no bolso e querem gastar.

Teve alguma entrega que te marcou muito?

Teve uma entrega à noite, longe, que tive que passar por pedágio e fiquei devendo, porque não aceitava Pix. O cliente estava num carrão e se recusou a me ajudar, me senti desrespeitado. Também já fiz entregas em lugares isolados, sem sinal, na chuva. Dá medo, mas essas aventuras marcam.

Qual foi a maior lição que você aprendeu como motoboy?

Que a vida é passageira. A gente vê de tudo: favelas, fazendas, centro da cidade de madrugada. Aprende a valorizar cada momento.

Você já precisou usar o suporte do aplicativo?

Já, mas não por conflito com cliente. Já recebi substâncias suspeitas, precisei relatar, tirar fotos, mandar para a Uber. Eles pedem para descartar ou levar à polícia, mas eu prefiro descartar. Tem que documentar tudo para não perder a conta.

Você já teve problemas com clientes ou restaurantes?

Já tive vários, mas considero superficiais. Cliente não lembra do seu rosto depois. Já fui denunciado por uma cliente que recusou a entrega porque a moto não era a mesma do cadastro. Não cheguei nem a descer da moto. O iFood costuma bloquear temporariamente em casos de rejeição de rotas ou outras infrações.

Você costuma receber gorjetas?

Sim, mas é mais comum em épocas como final de ano. Algumas pessoas já compraram lanche para mim. Faço decoração na moto para tentar melhorar os ganhos nessa época.

Que conselho você daria para quem quer começar nos aplicativos?

Seja motoboy, mas tenha calma. As entregas não vão acabar. Priorize sua vida. Uma batida a 60km/h pode acabar com você. Lembre que você é de carne e osso. Pilote com segurança.

O que você gostaria que as pessoas soubessem sobre seu trabalho?

Que motoboy não é bandido. A segurança pública está tão precária que as pessoas se assustam quando veem um motoboy. Guardam celular, correm. Mas muitos de nós somos pais de família. Estamos na mão dos criminosos, não somos eles.

Quais são suas redes sociais para quem quiser acompanhar seu trabalho?

Você pode me acompanhar no @motoboy_orealwilliam. Faço conteúdo de motoboy, tiro dúvidas, falo sobre aplicativos e memes. Também tenho a página @audiovisuwill, em que coloco meus trabalhos de audiovisual. Meu objetivo é ser um grande cineasta.

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Redação 55content

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