Débora Braz, mais conhecida como “Braba da 99”, é motorista de aplicativo em Niterói, Rio de Janeiro, e uma figura ativa da comunidade de motoristas da 99. Após enfrentar um aneurisma cerebral e um AVC que a deixou em coma por cinco meses, ela precisou recomeçar a vida do zero, e foi nos aplicativos de mobilidade que encontrou não só sua independência financeira, mas também um propósito. Com mais de 30 mil corridas realizadas, Débora é cinco estrelas, integrante do programa Amigos Anjos e se dedica a ter organização e gentileza, como conta. Hoje, além de dirigir, atua como mentora de novos motoristas, cria conteúdo nas redes sociais e participa de ações de formação e diálogo com a 99. Confira abaixo a entrevista completa:
Como foi o seu início como motorista de aplicativo?
Em 2016, eu tive um aneurisma cerebral e um AVC. Fiquei cinco meses em coma, passei por três cirurgias e perdi tudo: trabalho, contratos, casa, carro. Retornei à vida trabalhando no aplicativo. Hoje, sou conhecida como a “Déb, a Braba da 99”, voltei a ter minha independência financeira e pude retornar ao mundo.
Quantos anos você tem de experiência como motorista de aplicativo?
Cinco anos. Antes disso, tentei outra coisa, mas não deu certo. Meu irmão me apoiou, alugou um carro no nome dele e comecei a trabalhar com carro alugado. Depois, comprei meu primeiro carro, ganhei prêmios e fui convidada pela Casa 99 do Rio para ir a São Paulo. Foi lá que surgiu a Braba da 99.
Como surgiu o apelido “Braba da 99”?
No grupo em que meu irmão me apresentou, ele dizia: “Cuida da minha braba”. Eu também batia muitas metas, e as pessoas diziam que eu era da 99. Quando fui para São Paulo, sentada numa mesa com outros motoristas, surgiu o nome “Braba da 99”. O pessoal gostou, e ficou.
Como é sua rotina de trabalho?
Acordo cedo, faço atividade física e começo no aplicativo por volta das 6h. Às vezes, atendo clientes mais cedo, faço muitos trajetos para aeroportos. Participo do programa Amigos Anjos, em que indico motoristas. Trabalho cerca de 10 a 12 horas por dia, inclusive em fins de semana e feriados. Apenas no último fim de semana do mês eu me dou folga.
O que é o programa Amigos Anjos?
É um programa da 99 que oferece suporte a motoristas iniciantes. Eu e outros motoristas damos dicas, ajudamos com planejamento e ensinamos tudo, do A ao Z. Após um período, o motorista segue sozinho, mas muitos continuam nos grupos, em que seguimos trocando informações.
Onde você costuma rodar?
Atualmente, rodo entre Niterói e São Gonçalo. Antigamente, rodava mais no Rio de Janeiro (Centro, Zona Sul, Barra), mas hoje também exploro mais Niterói e a região de Maricá. Raramente vou para a baixada, mas já fui e voltei com corrida.
Você trabalha com metas? Como funciona seu planejamento?
Sim, trabalho com metas. Divido o mês em períodos e busco um mínimo de R$ 450 por dia, o que exige 10 a 12 horas de trabalho. Quando preciso, aumento o ritmo para atingir valores específicos.
Como você organiza seus gastos?
Abasteço o carro todos os dias e deixo o tanque cheio. Tenho parceria com o 99 Abastece. Faço reserva para manutenção, separo porcentagens para diversos custos, faço troca de óleo com menos de 10 mil km, troco pastilhas, velas, tudo certinho. Tenho financiamento e separo o valor do carro também.
Você prioriza ganhos por tempo ou por km?
Prioritariamente, por tempo. Rodo cerca de 250 a 270km por dia. Já cheguei a rodar 630km em um dia em que fiz viagens mais longas.
Você é seletiva nas corridas que aceita?
Sim, recuso muitas. Minha taxa de aceitação varia, já chegou a 36%, mas a de finalização fica sempre alta. Penso na volta e na estratégia do dia. Faço corridas curtas quando há campanhas, e longas, em outros momentos.
Como funcionam as campanhas da 99?
Elas são baseadas em quantidade de corridas. Corridas curtas ajudam a bater metas, e a 99 paga bonificações de R$200, R$300, até R$400.
Qual foi seu maior faturamento em um mês?
Em dezembro, cheguei a R$15 mil no bruto. Trabalhei de domingo a domingo, só parei no dia 25.
Qual é seu faturamento médio mensal?
Entre R$11 mil e R$12 mil, bruto.
Você tem alguma renda extra além do aplicativo?
Tenho parcerias com a Sunan Óleo e a 21 Gol (proteção veicular), com os quais tenho acordos de divulgação e indicação.
Você também faz outros serviços além do aplicativo?
Sim, faço transfer e City Tour. Sou credenciada em vários hotéis como Copacabana Palace, Sheraton e Arena Hotel. Trato todos com educação e gentileza, isso fez a diferença para conquistar essas oportunidades.
Como você lida com situações estressantes no dia a dia?
Quando percebo que estou estressada, paro o carro, atravesso a rua, piso na areia da praia, tomo uma água de coco e volto renovada.
Você trabalhou em outros aplicativos?
Trabalhei com a Uber por uma semana. Tive uma experiência ruim com troca de destino sem autorização e demora no pagamento. Decidi trabalhar apenas com a 99.
O que você acha sobre aplicativos regionais?
Acredito que o diferencial para se destacarem seja a segurança e a tarifa justa, especialmente uma tarifa de R$2 por km.
Já passou por alguma situação de perigo?
Graças a Deus, nunca sofri assaltos diretamente. Já vi arrastões e presenciei situações complicadas, mas nunca fui vítima. Fico atenta a comportamentos suspeitos e uso o botão de emergência quando necessário.
Como você começou a produzir conteúdo nas redes sociais?
Comecei cerca de um ano e meio depois de virar motorista, após ser chamada para um evento da Casa 99 em São Paulo. Lá, surgiu a necessidade de criar uma rede social. Meus filhos me ajudaram e nasceu a Braba da 99.
Qual é o maior desafio que você enfrenta na profissão?
Quando não bato minhas metas, me cobro muito. Também fico chateada com passageiros que sujam o carro ou não querem pagar.
Qual a maior qualidade que o motorista de aplicativo deve ter?
Planejamento, constância, foco, objetivo e determinação. E acima de tudo, educação e gentileza. São essas qualidades que abrem portas.
Como o pessoal pode te encontrar nas redes sociais?
Estou no Instagram e no TikTok como @deb_abraba99. Em breve, terei um canal no YouTube também.
