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Faturei R$519,80 rodando 168 km no Uber Black; já no UberX faturei R$ 475 mas tive que rodar 233 km 

De cada 10 corridas no UberX, 8 são ruins. Se eu fosse começar hoje, começaria no Comfort. Já no Uber Black de cada 10 corridas, 9 valem a pena.

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Opinião
Textos assinados que refletem o ponto de vista do autor, não necessariamente da equipe do 55content.
Comparativo de ganhos e gastos de um motorista de aplicativo em três dias diferentes, exibido ao lado de um homem com barba e jaqueta de couro preta, dentro de um carro, falando diretamente para a câmera.
Foto: Daniel Piccinato para 55content

https://youtu.be/eEv7tP2rKws

Este texto não reflete, necessariamente, a opinião do 55content

Pessoal, nesse texto eu quero compartilhar uma experiência que realizei recentemente e que foi muito interessante para mim. Durante três dias seguidos, eu rodei em categorias diferentes do aplicativo. Em um dos dias, atendi nas categorias UberX, Comfort e 99. No dia seguinte, trabalhei apenas com UberX e 99. E no terceiro dia, rodei exclusivamente no Uber Black.

A ideia desse teste era simples: entender na prática como cada categoria se comporta. Não se trata apenas de valores, mas também de esforço físico, quantidade de corridas, horas na rua, impacto psicológico, custos com combustível e faturamento final.

Claro que cada motorista pode interpretar de forma diferente. No meu caso, percebi que no UberX sofri bastante. De cada 10 corridas, 8 foram ruins. Cheguei a comentar várias vezes como há corrida “lixo” no X. Fico sem entender como os motoristas conseguem sobreviver nessa categoria. Mas, refletindo, tem gente com carro mais simples, quitado, poucas despesas, e acaba se virando bem no X.

No Comfort, a situação melhora bastante. No entanto, em dias atípicos ou ruins, como final de mês, o ganho pode cair um pouco. Já no Uber Black, a experiência é impactante. Às vezes o app passa horas sem tocar corrida, o que é um verdadeiro teste psicológico. Mesmo assim, algo interessante acontece: os valores finais, as horas trabalhadas e a quilometragem no X e no Comfort são muito parecidos. No Black, os números já mudam bastante. É impressionante como o algoritmo da Uber parece trabalhar para equilibrar as três categorias.

Estou mostrando aqui do lado o comparativo dos três dias. Lembrando que o meu carro é híbrido. Por ser híbrido, meu gasto com combustível é praticamente a metade de um carro a combustão. Ou seja, se você usa um carro a combustão, seus custos seriam praticamente o dobro.

No primeiro dia, rodando nas categorias X, Comfort e 99, faturei R$475,00 e gastei R$77,00 com combustível. Com um carro a combustão, o gasto seria entre R$110,00 e R$120,00. Meu lucro líquido ficou em R$398,00, percorrendo 213 quilômetros. O consumo foi de 16 litros, o que está dentro da média para um carro híbrido.

No segundo dia, atendendo apenas UberX e 99, faturei novamente R$475,00 e tive lucro líquido de R$400,00. Porém, rodei 233 quilômetros — 20 km a mais que no primeiro dia. Isso porque fui muito seletivo nas corridas, buscando manter uma média de R$2,00 por quilômetro. Se tivesse aceitado corridas de R$1,30 ou R$1,50 por km, teria ultrapassado os 300 km rodados. Por isso, é importante não ser impulsivo e saber selecionar bem as corridas. Usei o aplicativo GigU para me ajudar nessa escolha. Esse foi um ponto fundamental no teste.

No terceiro dia, rodei 100% no Uber Black. Saí de casa sem corrida, fui em direção ao centro (18 km), e depois voltei mais 18 km para casa. Mesmo com esse deslocamento, faturei R$519,80, rodando no total 168 quilômetros. Isso mostra como a quilometragem no Black é bem menor em comparação com o X e o Comfort.

Agora, prestem atenção na comparação de gastos com combustível considerando meu carro híbrido e um carro a combustão que faz, por exemplo, 9,5 km/l (como uma Nissan Kicks, que atende todas as categorias):

  • Primeiro dia: eu gastei R$77,00. Num carro a combustão, teria gasto R$154,00.
  • Segundo dia: meu gasto foi R$75,00. Num carro a combustão, seria R$148,00.
  • Terceiro dia: gastei R$52,00. Num carro a combustão, teria gasto R$104,00.

Então vemos que o gasto no Black é bem menor com combustível, mas há outras variáveis como manutenção, que não abordei aqui.

A reflexão que quero trazer é: cada categoria tem seus pontos positivos e negativos. O UberX gera mais volume, mas exige muito mais rodagem e estressa o psicológico, pois você recusa corrida o tempo todo. É muito desgastante, você passa o dia todo vidrado na tela, lidando com corridas ruins e queda de rendimento.

O Black, apesar de menos frequente em chamadas, permite economizar tempo e combustível. Embora o tempo na rua seja semelhante — em média, mais de 12 horas por dia nos três testes —, no Black você passa longos períodos parado, mas mesmo assim consegue faturar mais.

Esse resultado só foi possível porque meu carro atende todas as categorias e porque já conheço os melhores horários e regiões. Se eu estivesse começando agora, com um carro de alto consumo, o resultado poderia ser bem diferente.

Muita gente me pergunta: “Daniel, qual o melhor cenário hoje para começar nos aplicativos em São Paulo?” Sem dúvida, eu começaria com um carro que pega Comfort. Um modelo como o Cronos ou o Argo, com manutenção mais em conta. Com ele, você fica no meio do caminho: consegue aproveitar a boa demanda do Comfort — que às vezes se aproxima do Black —, sem sofrer tanto quanto no X.

Hoje, quem roda no X sofre financeiramente e psicologicamente. São muitas corridas ruins, o ganho é baixo, o desgaste do carro é alto. A Uber castiga o motorista do X. Já no Comfort, você está numa posição mais equilibrada. Se eu fosse começar hoje, não começaria no X. Começaria direto com um carro Comfort.

No Black, a realidade muda: de cada 10 corridas, 9 valem a pena. A única que não vale é aquela que te leva para uma região que você não quer ir. O problema está nos custos: carro caro, manutenção cara, consumo maior. Por outro lado, você roda menos, gasta menos combustível, e o desgaste do carro também é menor. Mas o psicológico continua sendo exigido, especialmente se o começo do dia for fraco e você tiver que compensar depois.

A média semanal do Black costuma ser muito boa. Em um ano, você roda menos que no Comfort ou no X. Estou fazendo uma conta de cabeça, mas a diferença é clara: no X, em dois anos, você roda cerca de 200 mil km. No Comfort, uns 160 a 170 mil km. No Black, de 100 a 120 mil km. Isso influencia na revenda, manutenção e outros custos.

Resumindo: se eu fosse começar hoje, escolheria um carro Comfort, com a meta de, no futuro, juntar dinheiro para migrar para o Uber Black. Lá você terá mais tranquilidade, mais segurança, rodará menos e se desgastará menos fisicamente e mentalmente.

Só que nem todo mundo está preparado para isso. O maior problema do motorista hoje, além das tarifas baixas das plataformas, é a falta de gestão financeira. Muitos não separam uma reserva de emergência. No X, o motorista acha que está ganhando bem no começo, mas depois o carro começa a dar problema. No Comfort é parecido, e no Black pode ser ainda pior, pois o custo do carro é muito mais alto.

Minha reflexão final é: não adianta mudar de categoria achando que isso vai resolver seus problemas. Se você não mudar sua mentalidade e reduzir seu custo de vida, não conseguirá se manter. É essencial ter uma reserva, estar preparado para imprevistos.

Se você tem um carro quitado no X, junte dinheiro para migrar para o Comfort. Se já está no Comfort, pense em juntar para ir para o Black. Se está bem no Comfort, tudo certo. Mas eu, pessoalmente, não rodaria apenas no X hoje. No mínimo, um carro que pegue Comfort.

Por que falo isso? Porque é muito difícil lidar com a pressão psicológica de ter que recusar corrida o tempo todo no horário de pico. O que a Uber paga hoje no X não compensa nem para motociclista. Para ter um bom desempenho no X, você precisa aceitar apenas corridas que paguem entre R$8,00 e R$13,00, o que exige atenção constante.

O X é extremamente desgastante. O Comfort já alivia bastante. O Black, então, nem se fala.

Finalizando: se você não mudar sua mentalidade, não reduzir seu custo de vida, se não estiver bem em casa e focado, não vai adiantar procurar solução nos aplicativos. Ser motorista exige controle de gastos, para que, quando surgir um imprevisto, você possa parar um ou dois dias sem quebrar financeiramente.

O teste que fiz mostra que o faturamento final é muito parecido entre as categorias. O que muda é o custo — e principalmente o psicológico. Se você não souber administrar seu dinheiro, vai quebrar em qualquer categoria. No fim, a Uber e a 99 funcionam para manter o motorista na corda bamba. Enquanto você não usar o app a seu favor, estará trabalhando a favor do app.

Quero saber a sua opinião. Tamo junto!

Foto de Daniel Piccinato
Daniel Piccinato

Daniel começou a trabalhar como motorista de aplicativos em 2016, buscando maior estabilidade após sentir insegurança na empresa onde estava. Inspirado por conversas com o filho do dono, ele logo se uniu a outros motoristas em um grupo de WhatsApp, onde trocava dicas para melhorar seu desempenho. Em 2018, criou um canal no YouTube para compartilhar orientações sobre horários e estratégias de trabalho. Com o sucesso, expandiu para o Instagram em 2020, continuando a ajudar motoristas ao compartilhar sua experiência.

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