A equipe do 55Content conversou com Gilson Nascimento, ex-motorista de aplicativo que migrou para o táxi após oito anos na plataforma. Ele critica as tarifas baixas, a falta de estabilidade e o risco constante de bloqueios sem explicação. Para ele, o táxi oferece mais segurança financeira e reconhecimento profissional.
Um dos pontos mais polêmicos da entrevista foi seu bloqueio pela Uber, em 2024, sob a acusação de uso indevido de GPS, algo que ele contesta na Justiça. Gilson também aponta que motoristas experientes vêm sendo desligados sem justificativa clara. Apesar disso, ele admite que os aplicativos ainda são essenciais para captar passageiros e voltaria a usá-los caso fosse desbloqueado.
Minha primeira pergunta é entender como você começou a realizar o serviço de transporte por aplicativo e agora de táxi.
Gilson: Eu comecei em 2016. Na verdade, atuo na área de transporte desde 2002. Inicialmente, trabalhava com entrega de mercadorias. Em 2016, fui desligado da empresa e a opção que eu tinha naquele momento foi atuar como motorista de aplicativo. Fiquei oito anos nessa atividade e, no final de 2023, migrei para o táxi.
Por que você decidiu sair do transporte por aplicativo?
Gilson: Chegou um momento em que as tarifas e os métodos das plataformas tornaram-se quase inviáveis, além do tratamento dispensado aos motoristas. Tive alguns imprevistos com passageiros e percebi que, a qualquer momento, poderia ser desligado da plataforma, ficando sem fonte de renda. No táxi, encontrei uma alternativa mais segura e rentável.
Quais são as principais diferenças entre ser motorista de aplicativo e ser taxista?
Gilson: O taxista é uma profissão regulamentada e reconhecida. Se alguém perguntar minha profissão e eu disser “taxista”, serei identificado como tal. Já o motorista de aplicativo, por mais que se veja como um profissional, não é amplamente reconhecido como uma categoria profissional. Além disso, o táxi oferece mais benefícios e estabilidade financeira.
E sobre faturamento e lucro, é mais vantajoso ser taxista?
Gilson: No faturamento diário, a diferença é pequena. Mas, a longo prazo, o táxi se torna mais rentável, pois não pagamos IPVA e temos desconto na compra de veículos. No aplicativo, há apenas perdas: pagamento de IPVA, desvalorização do carro, entre outros. No táxi, posso comprar um veículo por um preço reduzido e vendê-lo anos depois pelo mesmo valor.
Como funciona sua rotina de trabalho?
Gilson: Minha rotina é organizada de acordo com minha filha de 6 anos. Preciso levá-la à escola pela manhã e, por volta das 10h30, saio para trabalhar. Minha jornada diária é de 10 a 12 horas.
Você tem uma meta de faturamento?
Gilson: Minha meta é nunca faturar menos de 500 reais por dia.
E nos finais de semana? Você consegue um faturamento maior?
Gilson: No táxi, há mais dificuldade nos finais de semana. Por isso, geralmente não trabalho nesses dias, a menos que tenha algum cliente fixo. Não costumo explorar exclusivamente o táxi aos finais de semana.
Com essa média de faturamento, você tira algum dia de folga?
Gilson: Como o táxi não tem rodízio na cidade de São Paulo, não preciso folgar durante a semana. Minhas folgas são no sábado e domingo, salvo quando tenho serviço agendado.
Seu faturamento mensal fica em torno de quantos reais?
Gilson: Sim, entre 10 e 12 mil reais por mês.
E de lucro, quanto fica?
Gilson: Como meu carro ainda é movido a combustível líquido, meu faturamento líquido gira em torno de 7 a 8 mil reais.
Você também faz transporte executivo?
Gilson: Sim, mas no táxi não há essa divisão tão clara. As viagens são geralmente agendadas e os clientes me chamam quando precisam. Dependendo do tipo de veículo, o transporte já é considerado executivo.
Entre 2016 e 2023, você percebeu uma piora no trabalho como motorista de aplicativo?
Gilson: Eu não senti tanto impacto porque fui me adaptando. Comecei no UberX e, com o tempo, migrei para categorias superiores, como o Black. O que mudou foi a inflação e o aumento dos custos operacionais, enquanto as tarifas das plataformas não acompanharam essa alta. Antes, a tarifa dinâmica ajudava a melhorar os ganhos, mas hoje é preciso trabalhar mais tempo para atingir a mesma renda.
Em 2016, seus ganhos eram maiores em relação ao que você tem hoje como taxista?
Gilson: Em termos de faturamento, é mais ou menos a mesma coisa. O que mudou foram os custos, que aumentaram muito, reduzindo o lucro líquido.
Muitos motoristas dizem que a Uber deveria acompanhar a inflação. Afinal, o faturamento continua o mesmo, mas os gastos com gasolina, troca de pneus e lavagem do carro aumentaram consideravelmente. O que você pensa sobre isso?
Gilson: Exatamente. Antigamente, ganhávamos por tempo e distância, o que proporcionava um certo equilíbrio. Com a mudança para o preço fixo, muitas vezes pegamos corridas de 20 minutos e ficamos uma hora no trânsito, o que representa uma perda. Além disso, o aplicativo pode oferecer uma corrida de 10 quilômetros, mas, na prática, acabamos rodando 13 ou 14. Tudo isso são perdas, o que dá a impressão de que estamos ganhando menos.
Se eu comparar meus ganhos de 2017 e 2018 com meu último ano no aplicativo, percebo que o faturamento bruto diário, semanal e mensal permaneceu o mesmo. No entanto, o faturamento líquido caiu bastante devido ao aumento dos custos.
Hoje em dia, você recomendaria que alguém ingressasse no setor de táxi ou como motorista de aplicativo?
Gilson: Depende muito do que a pessoa procura. Se alguém deseja seguir uma carreira na área de transporte e gosta de dirigir, eu indico o táxi. No táxi, você não corre o risco de ser desligado de uma plataforma sem aviso prévio. Nos últimos anos em que trabalhei com aplicativos, sempre existia a incerteza de abrir o app e descobrir se ainda poderia trabalhar ou não. No táxi, a licença só é perdida em caso de uma infração muito grave.
Além disso, o táxi é uma profissão regulamentada, com regras claras a serem seguidas. Já o aplicativo permite que qualquer pessoa trabalhe a qualquer momento, sem a mesma segurança e estabilidade.
Para você, quais são os maiores desafios de trabalhar com transporte por aplicativo atualmente? As taxas repassadas são justas?
Gilson: O maior desafio dos motoristas de aplicativo são as tarifas baixas e a insegurança nas grandes metrópoles. Esses são os principais problemas enfrentados hoje.
Você é seletivo nas corridas que aceita? Por exemplo, só pega corridas que pagam um valor mínimo por quilômetro?
Gilson: No táxi, não preciso fazer essa seletividade, pois a tarifa é fixa e justa, tanto pelo quilômetro rodado quanto pelo tempo de viagem. A única coisa à qual preciso ficar atento são as localidades que não me darão retorno. Por exemplo, se eu pegar uma corrida para outra cidade, pode ser que precise voltar vazio. No aplicativo, que ainda utilizo em parte da minha atuação, a 99 respeita a tarifa local do táxi, então os valores são mais equilibrados. O que importa mais é a área de atuação e não necessariamente o valor da corrida.
Entrevistador: Você foi bloqueado pela Uber?
Gilson: Foi.
Entrevistador: Vamos falar sobre o seu bloqueio. Pode comentar como isso aconteceu e em qual ano?
Gilson: Como mencionei, comecei a atuar no táxi em 2023. Diferente da 99, na Uber você pode ter duas contas: uma para carro particular e outra para táxi. Eu segui essa recomendação, mas, no final de 2024, em um certo dia, tentei ficar online e recebi uma mensagem informando que eu não podia mais acessar a plataforma por ter infringido os termos da Uber.
Eles não deixam claro quais termos foram violados. Entrei com medidas judiciais para entender a situação, e a justificativa foi uso indevido de GPS. Fiquei oito anos na plataforma sem nunca utilizar qualquer método irregular. E agora, atuando no táxi, isso faria ainda menos sentido. A Uber alegou que eu teria manipulado o aplicativo usando um “GPS fake”. O caso está na Justiça e aguardo a decisão.
Até hoje você está bloqueado pela Uber?
Gilson: Sim, ainda estou bloqueado.
Isso foi o motivo principal que te levou a começar a trabalhar como taxista?
Gilson: Não, porque antes do bloqueio eu já estava atuando como taxista. Mas, com o tempo, percebi um padrão: muitos motoristas veteranos estavam sendo cortados. Não sei se há uma relação direta, mas notei que os motoristas com mais experiência, que sabiam selecionar melhor as corridas e evitavam as viagens com altos descontos da Uber, estavam sendo removidos da plataforma.
Eu já estava apreensivo, pois sabia que a qualquer momento poderia ser eu. Depois de quase um ano como taxista, ainda usava o Uber Táxi quando fui bloqueado, com a justificativa de manipulação do aplicativo por meio de GPS fake.
Se você for desbloqueado, pretende voltar a trabalhar com o aplicativo?
Gilson: Sim. Como mencionei, nos finais de semana o táxi tem pouca demanda, não é tão rentável quanto os aplicativos. Por exemplo, uma pessoa que está em uma festa dificilmente vai sair na rua para dar sinal para um táxi. Em vez disso, vai chamar pelo aplicativo.
Dentro do próprio app da Uber, existe a opção Uber Táxi. A tecnologia já se tornou parte da rotina das pessoas, e mesmo quem quer usar um táxi prefere chamá-lo pelo aplicativo em vez de procurar um na rua.
Uma resposta
E meus caro leitores e motorista de aplicativos. As empresas de aplicativos fazem um que querem com nossos motorista brasileiro porque elas são empresas capitalista e primeira coisas que eles fazem e comprar os nossos direitos que a gente tem e nossos governo aceitar porque também ganham e nós vamos continuar escravo do sistema. Por causa dessas palavras que eu estou escrevendo e arriscado nem aceitar. Aí ninguém vai fazer nada por que quem manda é quem tem dinheiro. Mais quem tem Deus não cair.