“Uber cobrou R$ 103 de passageiro e me pagou R$ 61, ou seja, ficou com 41% da corrida”, diz motorista de app

Ronaldo diz que usa um app configurado para ganhar no mínimo R$ 2,50/km e R$ 50/h, e completa: "prefiro as corridas curtas pois algumas estão pagando até R$ 13,00 por km.'

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Entrevista
Conversas com especialistas, gestores e profissionais do setor, com perguntas conduzidas pela equipe do 55content.
Print de um aplicativo de mobilidade mostrando detalhes de uma corrida, incluindo valor de R$ 61,92, tempo de viagem de 10 minutos e 23 segundos, distância percorrida de 6,31 km e os endereços de origem e destino em São Paulo.
Foto: Ronaldo para 55content

Ronaldo Mourão trabalha como motorista de aplicativo desde 2016 e já viveu momentos de alta e queda nos ganhos. No auge, faturava cerca de R$ 21.000 por mês, com lucro líquido de até R$ 16.000. Hoje, para atingir esse valor, precisaria trabalhar até 18 horas por dia. Com a redução das tarifas e o aumento das taxas das plataformas, ele adaptou sua estratégia: utiliza aplicativos auxiliares para calcular ganhos por quilômetro e escolhe corridas mais curtas, que chegam a pagar até R$ 13,00 por km. Nesta entrevista, Ronaldo detalha como maximiza seus ganhos e expõe os desafios atuais da profissão.

Minha primeira pergunta é: como você se tornou motorista? O que te levou a começar a trabalhar com a Uber e desde quando você trabalha com os aplicativos?

Ronaldo: Eu comecei em 2016, logo no início. Trabalhei na categoria UberX quando ela foi lançada. Naquela época, a taxa era de 25%, era uma maravilha, e as corridas não paravam de tocar. Tinha momentos em que eu precisava desligar o celular porque não conseguia nem pausar.

Com o tempo, o sistema de ganhos mudou. Antes era multiplicador, e a gente ganhava muito bem. Mas hoje em dia, se você não souber escolher as corridas, não consegue fazer dinheiro. Eu utilizo um aplicativo que me mostra o valor por quilômetro e o horário em que estou ganhando melhor. Se não for assim, você acaba ficando muito tempo na rua e ainda sendo enganado. A Uber engana muito tanto os motoristas quanto os passageiros, e isso me deixa horrorizado.

Agora, no Carnaval, teve um show no Vibra São Paulo, que é uma casa de espetáculos. Fiz uma corrida de lá até o Itaim, que dá 6,3 km. Você não vai acreditar: a Uber me pagou R$ 61,00, mas quando fui ver quanto o passageiro pagou, era R$ 103,00. Se fosse de táxi, não chegaria nem perto desse valor. A Uber teve coragem de cobrar R$ 103,00 do passageiro.

Eu fico revoltado com isso. Tudo bem que a empresa precisa lucrar, mas qual é o limite? A corrida é passada para o motorista executar, e a Uber cobra uma taxa. Mas pra que cobrar 40%, 60%, até 70%? E ainda dizem que a taxa foi de 25%. Ou eu sou burro ou eles são. Porque alegar que cobraram apenas 25% ou 27% é mentira. Não sei que cálculo eles usam.

Eu continuo trabalhando, levando a situação até onde dá. Mas hoje trabalho mais com a 99, que está um pouco melhor, e também com a InDrive. O problema da InDrive é que tem muito assédio e, mesmo reclamando, a empresa não toma providências. Já fiz uma reclamação contra um passageiro e, depois, vi ele oferecendo propostas indecentes para outros motoristas. A empresa simplesmente não faz nada. Agora, se fosse o motorista que fizesse algo errado, seria banido na hora.

Agora, falando sobre sua rotina de trabalho, como você se organiza? Quais são seus horários e você folga algum dia na semana?

Ronaldo: Quando comecei na Uber e nos aplicativos em geral, gostei da flexibilidade. Você faz seu próprio horário. Se eu não quiser trabalhar por uma semana, não trabalho. Mas se quiser trabalhar os 30 dias do mês, também posso. Se trabalhar, ganha; se não, não ganha. Simples assim.

Eu tenho um horário pré-definido. Começo às 6h e faço dois períodos. Trabalho até umas 10h ou 11h, depois volto para casa e saio novamente no final da tarde. Agora, por exemplo, já são 20h50. Se atingi minha meta, ótimo; se não, paciência. Antes, eu ficava muito preocupado com isso, mas percebi que a Uber estava diminuindo os ganhos e me fazendo ficar mais tempo na rua. Então mudei minha estratégia. Hoje, se bato a meta, ótimo. Se não, sigo em frente.

Antigamente, eu me sentia um escravo. Não voltava para casa enquanto não atingisse a meta. Mas aí a família começou a reclamar, com razão. Os filhos sentiam minha ausência. Aí parei para pensar e percebi que as coisas mudaram. O número de motoristas aumentou muito, e a Uber, em vez de pagar melhor, reduziu os ganhos e aumentou seu próprio lucro. Não é à toa que bate recordes de lucro. Como pode uma corrida de 6 km custar R$ 103,00 para o passageiro e pagar apenas R$ 61,00 para o motorista?

Isso acontece muito em eventos no Autódromo. Sempre pergunto para os passageiros: “Você teve coragem de pagar isso?” E eles respondem: “Não tenho escolha, preciso ir embora.” A Uber usa essa estratégia porque sabe que as pessoas não têm opção. Mas eu, sinceramente, não pagaria esse valor.

Entendi. Agora, sobre sua meta, você poderia nos contar como ela funciona?

Ronaldo: Há uns quatro anos, minha meta diária era faturar R$ 700,00. Mas isso não era lucro, era o valor bruto. Depois, conheci um aplicativo chamado Rotas, que ajuda no cálculo das corridas. Antes, eu usava o Stop Club, mas preferi o Rotas. Antes, pagávamos uma assinatura mensal, mas agora é vitalício: você paga uma vez e usa para sempre.

Esse aplicativo me ajudou a aumentar meu lucro. Eu configuro para ganhar pelo menos R$ 2,50 por quilômetro e R$ 50,00 por hora. Quando uma corrida aparece, ele me mostra se vale a pena ou não. Se for uma boa corrida, ele exibe um sinal verde, indicando que devo aceitar. Se não, aparece vermelho, indicando que devo recusar. Isso reduziu muito meu tempo na rua, porque não preciso ficar calculando manualmente cada corrida. É tudo automático.

Muitos amigos dizem que o aplicativo me favorece, mas não é verdade. Minha taxa de aceitação hoje é de 3% e minha taxa de recusa é de 4%, ou seja, está bem baixa. Mesmo assim, ainda recebo boas corridas, como essa de R$ 61,00 para 6,3 km. Essas corridas deveriam ser priorizadas para motoristas com status diamante ou platina, mas não são.

E, sinceramente, acho que quem se mata para ser diamante ou platina está perdendo tempo. A Uber não valoriza esses motoristas. Eles aceitam qualquer corrida, inclusive corridas ruins, só para manter o status. Mas a verdade é que quem faz a conta direito consegue trabalhar menos e ganhar mais.

Através desse aplicativo, reduzi ainda mais meu tempo na rua. Trabalho em dois períodos e estou muito satisfeito. No Carnaval, por exemplo, trabalhei no máximo dois dias à tarde. E é isso.

Você trabalha de tal e tal horário e não se preocupa com meta?

Ronaldo: Hoje eu não me preocupo com meta pelo simples motivo de que a Uber trabalha com preços variáveis. A mesma corrida que hoje pagou R$ 60,00 para mim poderia ter sido paga por R$ 40,00 para outro motorista e cobrada por R$ 80,00 ou até R$ 120,00 do passageiro. O sistema de preços variáveis faz com que cada motorista receba um valor diferente para a mesma corrida.

Esse modelo de preços variáveis tem sido alvo de críticas, inclusive nos Estados Unidos. O vereador Marlon Luiz denunciou esse sistema, pois ele força os motoristas a ficarem mais tempo na rua. E eu não caio nessa armadilha. Percebi que a Uber manipula os valores, reduzindo o pagamento ao motorista e cobrando mais do passageiro. Muitos motoristas não se dão conta disso e continuam aceitando qualquer corrida, ficando mais tempo na rua sem perceber o prejuízo.

Se todos os motoristas adotassem a mesma estratégia que eu, a situação poderia mudar. Eu sempre digo: o poder está na mão do motorista. Você pode escolher quais corridas aceitar. Se todos recusassem as corridas ruins, a Uber teria que melhorar os valores. Mas o problema é que muitos motoristas fazem do Uber apenas uma renda extra, então aceitam qualquer coisa. Isso mantém o desequilíbrio no sistema.

Se a maioria trabalha apenas por renda extra e aceita qualquer corrida, a melhor solução para quem quer viver disso é buscar um emprego fixo, um CLT, como muitos já estão fazendo. Essa é a dica que eu dou.

A Uber chegou ao Brasil como carona solidária, certo? Como isso mudou?

Ronaldo: Exato! Eu lembro bem quando a Uber chegou ao Brasil. Eu tenho muitos amigos taxistas e, na época, falei para eles: “Olha, vai chegar uma empresa chamada Uber, mas ela funciona como carona solidária”. O sistema original era bem diferente. A ideia era que você pegasse passageiros que estivessem indo na mesma direção que você e, em troca, recebesse uma remuneração simbólica.

Mas o que aconteceu? O Brasil tem muito desemprego. De repente, as pessoas começaram a enxergar a Uber como uma fonte de renda principal. Quando alguém que nunca ganhou R$ 5.000, R$ 6.000 ou até R$ 7.000 por mês vê essa oportunidade, ele se ilude. E eu entendo! Para quem nunca teve essa renda, parece uma grande chance. O problema é que muitos não calculam os custos, o impacto na qualidade de vida e na família.

Já vi muitos motoristas perderem o casamento porque trabalhavam sem parar. Um amigo meu, por exemplo, não conseguia sair do carro. Ele achava que, quanto mais trabalhava, mais ganhava, e que isso era suficiente. Só que ele acabou perdendo a família. Eu tentei alertá-lo várias vezes: “Para com isso, você está se tornando um escravo”. Mas ele não ouviu, e quando percebeu, já era tarde demais. Isso não é vida.

No passado, os ganhos eram melhores. Como você compara a situação de antes com a de hoje?

Ronaldo: No início, era uma maravilha! O emprego que todo mundo queria. Os ganhos eram bons, a Uber cobrava apenas 25% de taxa e ainda havia o sistema de multiplicador, que aumentava o valor das corridas conforme o tempo de deslocamento e trânsito. Naquela época, todo motorista queria corridas longas porque compensava muito mais.

Hoje, o cenário é outro. O ideal agora é fazer corridas curtas, porque a Uber praticamente não paga pelo tempo parado no trânsito. Se você pega uma corrida longa, pode acabar perdendo tempo e ganhando pouco. Algumas vezes, ela até paga pelo tempo parado, mas na maioria das vezes, não.

E sobre a questão da segurança, como você lida com isso em corridas para o Aeroporto de Guarulhos, por exemplo?

Ronaldo: Segurança é uma grande preocupação. No meu caso, quando levo passageiros para o aeroporto, sempre alerto sobre os riscos. Digo para eles: “São Paulo está perigoso e passaremos por uma área chamada ‘Afeganistão'”. Esse é o apelido da Avenida Tiradentes, onde o índice de assaltos a motoristas e passageiros é altíssimo.

Então, eu sempre ofereço uma alternativa mais segura, que chamo de “caminho M&M”: Marginal Pinheiros e Marginal Tietê. Esse trajeto aumenta a corrida em cerca de 15 km, mas evita as áreas perigosas. Quando explico isso, a maioria dos passageiros aceita a sugestão. Algumas vezes, a Uber ajusta o valor da corrida para compensar, mas nem sempre.

Se um dia você ouvir falar em “caminho M&M”, já sabe: é um desvio mais longo, mas que garante mais segurança para motorista e passageiro.

Você mencionou que, anos atrás, sua meta era faturar R$ 700 por dia. Quando isso começou a mudar?

Ronaldo: Isso começou a piorar há uns quatro anos, por volta de 2021. Até a pandemia, ainda era possível faturar bem. Durante a pandemia, inclusive, eu ganhei mais dinheiro fazendo entregas do que transportando passageiros. Como muitos motoristas não gostavam de trabalhar com entregas, eu conseguia trabalhar menos horas e ainda bater uma meta de R$ 400 a R$ 500 por dia, sem contar as gorjetas.

Depois da pandemia, veio o Uber Promo, que só piorou as coisas. Esse sistema oferece descontos absurdos para os passageiros e reduz os ganhos dos motoristas. Além disso, tiraram o multiplicador e colocaram aquele sistema de incentivos fixos, que eu chamo de “picolé”: bônus de R$ 2, R$ 3, no máximo R$ 4 por corrida. Antes, o dinâmico chegava a R$ 30 ou mais. Hoje, raramente passa de R$ 8.

Se você não souber escolher bem as corridas, acaba perdendo dinheiro. No começo, trabalhar com Uber era bom, mas hoje, está cada vez pior. E por isso, eu diversifico: trabalho com três aplicativos e, ultimamente, a 99 tem sido mais rentável do que a Uber.

Naquela época, com uma meta de R$ 700 por dia, quanto dava para faturar no final do mês?

Ronaldo: Basta fazer a conta. Trabalhando 30 dias no mês, dava entre R$ 20.000 e R$ 21.000. Depois de tirar as despesas, sobravam cerca de R$ 15.000 a R$ 16.000 líquidos no bolso.

Caramba! Era isso que eu queria saber, de lucro mesmo.

Ronaldo: Exatamente! Todo mundo queria trabalhar com a Uber naquela época. Você ganhava R$ 16.000 líquidos. Mas lembra da história que eu contei? Muita gente nunca tinha ganhado isso na vida e enlouqueceu com o dinheiro.

E hoje? Ainda é possível chegar nesses valores?

Ronaldo: Hoje em dia, a triste realidade é que, para um motorista chegar a R$ 16.000 ou R$ 18.000 no mês, ele precisa atingir o que chamamos de “kit mil”.

O que é o kit mil?

Ronaldo: Kit mil é quando o motorista consegue faturar R$ 1.000 em um único dia. Mas, para isso, ele precisa trabalhar entre 16 e 18 horas. Atualmente, todo mundo quer atingir esse valor, mas poucos conseguem. Um ou outro tem sorte.

Nos grupos que participo – e são pelo menos cinco grupos de motoristas – sempre discutimos sobre isso. Para conseguir o kit mil, o ideal é começar o dia com uma corrida de R$ 300 ou R$ 400. Se você inicia o dia com uma corrida dessas, no final consegue bater os R$ 1.000. Mas se não pegar uma dessas logo cedo, dificilmente vai conseguir.

Minha próxima pergunta é sobre os custos. Quanto você gasta com combustível atualmente?

Ronaldo: Hoje eu abasteço apenas com gasolina. Meu carro é flex, um Virtus, e ele tem um desempenho muito bom na gasolina.

O que ajuda a economizar são os aplicativos de desconto. Posso falar sobre eles?

O Shell Box, por exemplo, oferece pontuações a cada abastecimento. O Premia, da Petrobras, também dá cashback. Mas o melhor atualmente é o 99 Abastece. Quanto mais corridas você faz, maior o desconto no combustível nos postos credenciados pela 99. Isso tem ajudado muito.

A Uber também tem um programa de cashback com os Postos Ipiranga, mas o da 99 é muito melhor, porque tem mais postos credenciados. A proposta da 99 é simples: “Quanto mais corridas você faz para mim, mais desconto eu te dou no combustível”. Isso é o que está salvando os motoristas hoje.

Se o motorista não conseguir nenhum desconto no combustível, ele acaba pagando para trabalhar. Tem muita gente que não faz cálculo dos custos, simplesmente vai dirigindo sem controle. Aí, no fim do mês, percebe que a conta não fechou.

E, na sua opinião, qual é o maior desafio dos motoristas de aplicativo hoje?

Ronaldo: O maior desafio é encontrar corridas que realmente valham a pena. O preço das corridas está cada vez pior.

Não sei se você conhece o influenciador Daniel 24 Horas? Uma vez, ele gravou um vídeo em que recebeu uma corrida de mais de R$ 300 para Aparecida do Norte. Você precisava ver o grito de felicidade que ele deu! Naquele momento, dava para ver claramente a satisfação dele. Essa é a sensação que todo motorista quer ter ao pegar uma corrida boa.

A corrida ideal é aquela que você bate o olho e já sabe que vai valer a pena. Você já tem noção do tempo e do ganho. E se conseguir pegar três dessas seguidas, fica muito feliz. Mas, se não conseguir, bate um desânimo grande.

O problema do desânimo é que ele te tira do foco. Se você perder o foco e a paciência, não consegue fazer dinheiro. Hoje em dia, trabalhar com aplicativos exige paciência.

Você costuma fazer muitas corridas para o interior?

Ronaldo: Sim! Eu vou muito para o interior. Quando chego lá, faço um cálculo para saber se vale a pena. Por exemplo, para Campinas, o custo total da viagem para mim fica em torno de R$ 74. Se a Uber me pagar R$ 150 ou R$ 160, dependendo da categoria, eu sei que está dentro da realidade.

Ou seja, se a ida custa R$ 72 e a volta também, o ideal é eu garantir uma corrida de retorno. Se eu não conseguir uma corrida de volta, pelo menos já deixo meus custos cobertos. Muitas vezes, fico no aeroporto de Viracopos esperando uma corrida para São Paulo.

Então paciência é essencial?

Ronaldo: Com certeza! Às vezes você tem que esperar bastante, mas vale a pena. Já aconteceu de eu pegar uma corrida muito boa para o interior, rodar um pouco por lá e depois conseguir uma corrida de R$ 350 para voltar para São Caetano. Quase bati o kit mil nesse dia.

E é como eu sempre digo: quando bato minha meta, vou para casa. Se atingi cedo, volto para casa, mesmo que a pista esteja boa. Ficar rodando só por rodar é besteira.

Isso significa que você evita ficar trabalhando além do necessário?

Ronaldo: Exatamente! Se você bateu a sua meta, vá para casa. Se percebe que já passou do horário e não está valendo mais a pena, pare. Esse é o jogo hoje.

Quem não sabe jogar, infelizmente, só vai ficar reclamando. Muitos motoristas reclamam, e com razão. Mas se souberem fazer o cálculo certo, conseguem melhorar a renda.

Você prefere corridas curtas ou longas?

Ronaldo: Hoje em dia, prefiro as curtas. São as mais rentáveis.

Por quê?

Ronaldo: Porque elas pagam mais por quilômetro rodado. Algumas corridas curtas estão pagando R$ 5,45, R$ 13,00 por km. Como eu não vou aceitar uma dessas?

Já expliquei isso para vários colegas. Eles pegam corridas longas e acabam perdendo dinheiro. Se você pegar quatro corridas curtas boas, vai ganhar mais do que em uma corrida longa. Além disso, você gasta menos combustível e fica menos tempo na rua.

A diferença é essa: quem faz corrida longa está perdendo dinheiro. Quem foca nas curtas, trabalha menos e ganha mais!

Qual a principal dica que você daria para quem está começando agora como motorista de aplicativo?

Ronaldo: Para quem está começando agora, minha dica é: pense três vezes antes de entrar nesse ramo. A maioria dos motoristas conta vantagem, dizendo que ganha muito, mas não fazem os cálculos corretamente. Muitos dizem: “Estou ganhando isso, faço aquilo”, mas não consideram os custos reais.

Se você quer ganhar dinheiro nesse trabalho, precisa calcular seus custos. Tem que saber exatamente quanto custa seu quilômetro rodado. Um exemplo disso foi um motorista que comprou um carro elétrico e achava que gastaria R$ 5.000 por mês. Mas, na realidade, ele precisava fazer R$ 10.000, porque metade seria para cobrir as despesas e a outra metade seria o lucro real. Só depois de um tempo ele percebeu o que eu queria dizer.

Hoje, quem começa nos aplicativos precisa ter consciência de que não é um mundo de mil maravilhas. Só faz dinheiro quem sabe trabalhar. Quem não souber trabalhar vai fazer exatamente o que o aplicativo quer: aceitar promoções ruins, cair em armadilhas e perder dinheiro.

Os aplicativos lançam promoções aparentemente vantajosas, mas, se você não ler as letras pequenas, vai se frustrar. No final da promoção, você descobre que não atingiu os requisitos porque deixou passar um detalhe. Mas a Uber e a 99 não explicam isso claramente. Muitos motoristas novos caem nessa armadilha porque não leem as regras detalhadamente.

Por exemplo, para ganhar uma promoção de R$ 2.500, é preciso cumprir uma série de exigências que não são bem explicadas. O motorista só descobre que não vai receber o bônus quando já é tarde demais. Por isso, reforço: pense três vezes antes de entrar nesse ramo. Essa é a minha dica.

Além disso, procure orientação de motoristas mais experientes. Assista vídeos antigos no YouTube e analise como está a situação do mercado antes de começar. Não adianta pensar “Sou trabalhador, vou me esforçar”, sem saber se realmente vai conseguir se sustentar com isso.

Outro ponto: você vai transportar todo tipo de gente no seu carro. Você não sabe se a pessoa que entrou é bandida ou honesta. Já levei passageiros de todos os tipos, desde pessoas humildes até milionários. Uma vez, um passageiro estava ao telefone e disse: “Acabei de comprar uma casa por R$ 50 milhões”. Eu pensei: “Caramba, estou levando um cara que tem uma casa de R$ 50 milhões no meu carro”. Isso mostra como os aplicativos são usados por todos os tipos de pessoas.

Ronaldo, conversamos bastante. Você gostaria de acrescentar algo que não falamos?

Ronaldo: Gostei muito da conversa. A única coisa que eu gostaria de acrescentar é um pedido: se um dia essa conversa chegar aos responsáveis pelos aplicativos, que eles parem de explorar tanto os motoristas quanto os passageiros.

Seria muito mais justo se eles cobrassem uma taxa equilibrada para os passageiros e pagassem um valor adequado para os motoristas. Assim, todos sairiam ganhando e o sistema funcionaria melhor.

Mas, infelizmente, o que vemos hoje é o contrário: os aplicativos cobram cada vez mais dos passageiros e pagam cada vez menos para os motoristas. Esse é o grande problema dos aplicativos atualmente.

O próprio Dara Khosrowshahi, CEO da Uber, já deixou claro o pensamento da empresa: “Temos que ver o quanto o passageiro está disposto a pagar e, ao mesmo tempo, pagar cada vez menos para o motorista”. Isso é um absurdo! Como alguém pode dizer isso abertamente e não se preocupar com os trabalhadores da plataforma?

Por essa declaração, fica evidente que eles não estão nem um pouco preocupados conosco.

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Giulia Lang

Giulia Lang é líder de conteúdo do 55content e graduada em jornalismo pela Fundação Cásper Líbero.

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