O motorista prefere pagar R$ 8,57 por dia do que perder 20% do faturamento por corrida: gestores debatem formas de cobrança nos apps de transporte

Pagar R$ 2 por cada corrida feita ou R$ 240 por todas as corridas ao mês? Gestores debatem o que os motoristas de apps preferem.

Banner digital de um evento para assinantes da 55 Content Premium. O título do evento é "Por período ou por corrida: qual é a melhor forma de cobrar os motoristas?". A data e horário do evento são 24/02 às 20h. O banner apresenta as fotos de dois palestrantes: Paulo Ubiratan (Diretor-Presidente da Alfacar) e Renan Vieira (Gestor da Uberio). Há um convite para assinatura Premium da plataforma para acesso ao evento. O fundo do banner é azul, com textos em branco e detalhes em laranja.
Foto: Acervo pessoal

Na noite da última segunda-feira (24), assinantes do 55content Premium participaram de um evento online exclusivo para discutir um tema essencial para o setor de mobilidade: Por período ou por corrida? Qual a melhor forma de cobrar os motoristas de aplicativo?. O encontro, realizado via Google Meet, contou com a presença de dois especialistas da área: Renan Denner, da Ubzero, e Paulo Ubiratan, da Alfacar.

O evento faz parte de uma série de encontros semanais promovidos pelo 55content Premium com o objetivo de trazer discussões aprofundadas sobre o mercado de mobilidade urbana. A iniciativa busca reunir gestores de aplicativos e especialistas para compartilhar experiências e insights valiosos para o setor.

A Trajetória da Ubzero

Renan Denner, fundador da Ubzero, iniciou sua trajetória no setor como motorista da Uber. Com a necessidade de aumentar os ganhos, ele e seus colegas ingressaram em um aplicativo regional, onde acabaram se tornando gestores. A experiência os levou à criação da Ubzero, que hoje opera em dez estados brasileiros e se consolidou como uma alternativa promissora no mercado de mobilidade.

“Começamos a Ubzero há seis anos e, desde então, temos trabalhado para oferecer uma solução eficiente tanto para motoristas quanto para passageiros. Atualmente, atuamos em diversas cidades e seguimos em expansão”, explicou Renan, destacando que a empresa opera de forma descentralizada, sem uma sede física fixa.

O Modelo Cooperativista da Alfacar

Já Paulo Ubiratan, diretor-presidente da Alfacar, trouxe uma perspectiva diferente ao debate. Fundada em Alfenas, Minas Gerais, a Alfacar segue um modelo de cooperativa, diferenciando-se dos tradicionais aplicativos de mobilidade. Segundo Paulo, a ideia surgiu da insatisfação de um grupo de motoristas com as altas taxas cobradas pelas grandes plataformas.

“Nos reunimos e decidimos criar uma alternativa própria. Assim nasceu a Alfacar, uma cooperativa que coloca os motoristas no centro do modelo de negócio”, afirmou. Em apenas dois anos, a Alfacar foi reconhecida como o melhor aplicativo da cidade pelo segundo ano consecutivo, destacando-se não apenas pelo volume de corridas, mas principalmente pela qualidade do atendimento.

Período x Corrida: Qual o Melhor Modelo?

A discussão central do evento girou em torno dos modelos de cobrança para motoristas: é mais vantajoso cobrar por período ou por corrida? Embora não haja uma resposta única, cada especialista apresentou argumentos embasados em suas experiências.

Paulo explicou que a Alfacar adota um sistema de taxa fixa semanal para os motoristas cooperados. Atualmente, o valor estabelecido é de R$ 60 por semana, totalizando R$ 240 por mês. Esse valor cobre os custos operacionais da cooperativa, como servidores, contabilidade, marketing e manutenção da plataforma. A principal diferença desse modelo em relação aos aplicativos tradicionais é que nenhum cooperado paga taxas por corrida, mantendo uma previsibilidade financeira muito maior.

“Antes de criarmos a cooperativa, pagávamos até R$ 600 por semana para trabalhar em um dos aplicativos tradicionais. Hoje, com a taxa fixa, sobra muito mais no bolso dos motoristas”, afirmou Paulo. Ele também destacou que toda a arrecadação é revertida para o funcionamento da cooperativa, sem fins lucrativos. Qualquer excedente ao final do ano é redistribuído entre os cooperados.

Por outro lado, Renan apresentou o modelo da Ubzero, que se baseia na cobrança por corrida, mas de forma fixa e reduzida. No início, a tarifa cobrada era de R$ 1,30 por corrida, e hoje foi ajustada para R$ 2,00, com promoções que reduzem esse valor para R$ 1,70 em alguns períodos.

“Nosso modelo se chama Zero Exploração porque queremos oferecer aos motoristas uma alternativa mais justa. Diferente dos aplicativos tradicionais, que chegam a reter até 25% do valor da corrida, nós fixamos um valor baixo para garantir que o motorista fique com a maior parte do seu faturamento”, explicou Renan. O valor arrecadado pela plataforma é utilizado para cobrir custos como servidores, jurídico, contabilidade e campanhas promocionais.

Motoristas e a Receptividade dos Modelos de Cobrança

Os motoristas cooperados da Alfacar demonstram uma grande satisfação com o modelo de taxa fixa. Muitos deles migraram de plataformas que cobravam uma porcentagem sobre as corridas e destacam a previsibilidade financeira como um dos principais atrativos. “A gente recebe ligações diárias de motoristas querendo entrar na cooperativa, justamente porque sabem que pagar R$ 8,57 por dia é muito mais vantajoso do que perder 20% do faturamento por corrida”, explicou Paulo.

Na Ubzero, a recepção também é positiva, especialmente entre motoristas que vieram de grandes plataformas. “Eles ficam impressionados com a previsibilidade e a justiça do modelo fixo por corrida. Muitos motoristas nos procuram dizendo que gostariam de levar esse modelo para suas cidades de origem”, contou Renan

Desafios na Mudança de Cultura e Escalabilidade

Durante o evento, foi debatida a dificuldade de introduzir novos modelos de cobrança em cidades onde grandes aplicativos como Uber e 99 já estão estabelecidos. Renan explicou que a Ubzero tem evitado entrar em cidades onde esses aplicativos já estão bem consolidados, focando-se em cidades menores, onde a penetração pode ser mais eficiente. Em alguns casos, os próprios motoristas dessas cidades decidiram não aderir a novos aplicativos que não oferecessem condições justas, blindando a Ubzero contra concorrência nacional.

A escalabilidade dos modelos de cobrança também foi discutida. Renan defendeu que, mesmo com uma taxa fixa por corrida, a empresa continua crescendo de forma saudável, pois a expansão para novas cidades compensa as margens reduzidas por corrida. “Nosso modelo permite uma expansão sustentável. Estamos em dez estados e continuamos buscando novas cidades para crescer”, afirmou Renan.

Paulo, por sua vez, destacou que a Alfacar tem uma estratégia diferente de expansão, focada no compartilhamento da ideia de cooperativismo. Em vez de levar a marca Alfacar para outras cidades, ele auxilia motoristas interessados a criar suas próprias cooperativas locais, garantindo que o conceito de uma taxa fixa acessível se espalhe sem comprometer os princípios do cooperativismo.

Erros Comuns em Modelos de Cobrança

Renan e Paulo discutiram erros comuns cometidos por novos aplicativos regionais ao definirem seus modelos de cobrança. Um dos principais problemas apontados é a tentativa de cobrar taxas elevadas antes de consolidar uma base de motoristas e passageiros.

Renan ressaltou que muitos aplicativos tentam aplicar mensalidades sem oferecer um volume significativo de corridas, afastando os motoristas. “Quando entramos em uma cidade nova, não cobramos nada inicialmente. O motorista ganha 100% do valor das corridas enquanto estruturamos o aplicativo. Somente depois, quando há um fluxo de corridas estabelecido, iniciamos a cobrança de créditos”, explicou.

Paulo apontou que a falta de transparência de algumas plataformas é um grande problema. “Aqui em Alfenas, alguns aplicativos aumentaram as taxas de 10% para 25% de uma vez, sem aviso prévio, prejudicando os motoristas. Além disso, inventaram taxas extras como a ‘taxa de inteligência’, que encarece ainda mais as corridas”, criticou Paulo.

Conclusão

O evento confirmou a importância de se discutir modelos de cobrança no setor de mobilidade urbana, uma vez que diferentes estratégias podem impactar diretamente na satisfação dos motoristas e na viabilidade financeira dos aplicativos.

Os encontros promovidos pelo 55content Premium seguem trazendo especialistas para debater temas relevantes do mercado, consolidando-se como um espaço essencial para gestores e profissionais do setor.

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Giulia Lang

Giulia Lang é líder de conteúdo do 55content e graduada em jornalismo pela Fundação Cásper Líbero.

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