Minha esposa e eu, motoristas de app, faturamos R$ 4 mil por semana

Ronaldo relata: “Faturo R$ 2.500 por semana, mas com o aluguel do carro e gastos, sobra R$ 1.200. De segunda a quinta-feira, faço R$ 330 por dia, já na sexta e no sábado, R$ 600 por dia.”

Ronaldo (resenha na pista)
Foto: Ronaldo Lopes para 55content

Ronaldo Lopes, motorista de aplicativo em São Paulo, transformou a rotina nas ruas em uma oportunidade de compartilhar conhecimento e ajudar outros profissionais do setor. Criador do podcast Resenha na Pista, ele começou gravando dicas no Instagram, em um cenário onde poucos falavam sobre estratégias para maximizar os ganhos. 

Hoje, além de seguir na ativa como motorista, Ronaldo concilia a criação de conteúdo com a rotina familiar, sempre focado em bater sua meta semanal de R$ 2.500. Com uma visão prática e realista, ele fala sobre os desafios da profissão, as mudanças no mercado e a importância do planejamento financeiro para quem deseja prosperar nesse ramo.

Como você se tornou motorista de aplicativo e o que te levou a começar a gravar conteúdo para as redes?

Ronaldo: Nossa, boa pergunta. Eu comecei a gravar justamente aqui na cidade de São Paulo. Na verdade, comecei pelo Instagram, porque na época não tinha ninguém falando sobre como ganhar dinheiro no aplicativo, dar dicas ou ensinar estratégias. Então, comecei a compartilhar as minhas próprias dicas e, automaticamente, outras pessoas começaram a se interessar.

A partir disso, eu criei grupos para ajudar a melhorar os ganhos. Por exemplo, conheci pessoas pelo Instagram e coloquei essas pessoas nos grupos. Uma delas era da Zona Leste, então, quando eu caía nessa região, já tinha informações valiosas que peguei dessa pessoa que me seguia.

Mesmo com meu Instagram pequeno, consegui me conectar com gente de várias regiões, o que ajudava a melhorar meus ganhos. A ideia do Instagram surgiu justamente para isso: entender o que estava acontecendo, compartilhar dicas e buscar informações.

Na época, em São Paulo, quase ninguém usava redes sociais para isso, e o YouTube ainda era pequeno nesse segmento. Quando se via algo por lá, era de gente de fora da cidade.

Como você consegue conciliar o trabalho como motorista e a criação de conteúdo? Você ainda trabalha como motorista? Se sim, em quais dias e horários?

Ronaldo: Sim, ainda trabalho no aplicativo porque preciso bater uma meta semanal de R$ 2.500. Recentemente, mudei meu horário por causa da minha esposa e das minhas filhas.

Eu tenho duas filhas: a mais velha estuda à tarde, e a mais nova, de manhã. Minha esposa sai cedo, então eu fico com a minha filha mais velha, levo ela para a escola e, depois disso, saio para trabalhar. Nesse tempo, eu também encaixo a gravação de podcast e produção de conteúdo, mas, no final, a prioridade é bater a meta semanal.

Trabalho de segunda a sábado, descansando apenas no domingo. Essa rotina foi uma decisão que tomei junto com a minha esposa neste ano. Antes, eu trabalhava das seis da manhã às oito da noite, conciliando com as redes sociais.

Agora, a rotina está mais tranquila, pois começo um pouco mais tarde e trabalho até metade da noite. Ainda assim, pode ser que eu volte ao antigo horário se precisar de mais renda.

Esses R$ 2.500 por semana são o valor bruto? Como funciona a questão dos custos?

Ronaldo: Sim, essa é a meta bruta. Eu tenho um carro quitado que deixei com minha esposa, e atualmente trabalho com um carro alugado.

Minha meta é de R$ 2.500 por semana e a dela, R$ 1.500, somando uma renda conjunta de R$ 4.000. Estamos ajustando a rotina agora que as aulas começaram, para ver se conseguimos manter essa meta ou se será necessário fazer outras adaptações, como eu trabalhar em outro horário.

É tudo um teste por enquanto, mas é essencial ter um bom planejamento, principalmente quando se é casado e tem filhos.

Sua esposa também trabalha como motorista de aplicativo?

Ronaldo: Sim, ela também trabalha como motorista. Eu dei o carro quitado para ela usar. Ela já tem experiência, trabalha há um bom tempo, embora tenha ido e voltado algumas vezes. Eu estou há seis anos no aplicativo, e ela, por volta de quatro ou cinco anos.

Durante esses seis anos, você percebeu mudanças na profissão? Está mais difícil ganhar dinheiro como motorista de aplicativo hoje em dia?

Ronaldo: Está muito mais difícil, principalmente para quem trabalha apenas com o UberX. Antes, fazer UberX era suficiente e ninguém pensava em categorias como Comfort ou Black. Hoje, muitos motoristas precisam buscar essas novas categorias para garantir uma renda melhor.

Além disso, tudo ficou mais caro: combustível, custo de vida, aluguel de carro. Se o motorista tem um financiamento alto ou paga um aluguel caro pelo veículo, fica ainda mais difícil lucrar.

Hoje, para quem está começando, é muito mais complicado do que quando iniciei. É essencial ter um bom controle financeiro e anotar todos os gastos, coisa que muitos não fazem e acabam quebrando.

Quando você começou, quais eram suas metas financeiras?

Ronaldo: Na época em que comecei, um motorista considerado bom fazia em torno de R$ 2.000 por mês. Se alguém conseguisse fazer R$ 300 por dia, era top, até porque a gasolina era muito mais barata.

O aluguel de um carro girava em torno de R$ 1.300, e comprar um carro novo também era mais acessível. Um Corolla, por exemplo, custava cerca de R$ 70.000. Hoje, esse mesmo valor não compra nem um carro popular direito.

Atualmente, depois de descontar os custos, quanto sobra por semana?

Ronaldo: Com o aluguel do carro, sobra entre R$ 1.100 e R$ 1.200 por semana. Esse é o líquido, depois de pagar todos os custos.

Quais são os maiores desafios de ser um motorista de aplicativo?

Ronaldo: O maior desafio hoje em dia é, sem dúvida, a segurança. Você precisa estar sempre muito atento. Outro ponto importante é a saúde. Se você não estiver com a saúde em dia, acaba se complicando, especialmente para quem tem algum problema mais sério.

Além disso, ser motorista de aplicativo está cada vez mais difícil. Existe um excesso de informações por aí, principalmente nas redes sociais, e muitos motoristas não sabem como filtrar o que realmente importa. Vejo muitos influenciadores falando de tudo, mas o mais importante é adaptar essas informações à sua realidade, à sua cidade.

Outro desafio grande é o próprio aplicativo. Ele impõe as regras: define as taxas, quanto vai cobrar, e o motorista precisa saber escolher as melhores corridas para garantir um bom rendimento. No fim das contas, quando você está na rua, é você por você mesmo. É o seu esforço que garante o dinheiro para levar pra casa.

Por isso, o motorista precisa ser estratégico, buscar sempre o melhor custo-benefício em cada corrida para conseguir fechar um bom rendimento no final do dia.

Quais são os maiores desafios em conciliar ser motorista de aplicativo e influenciador ao mesmo tempo? É a falta de tempo, críticas ou dificuldade de criar novos conteúdos?

Ronaldo: É muito difícil, principalmente por causa do podcast. Muita gente pensa que é só sentar, gravar e pronto, mas não é assim. Tem toda uma pesquisa antes: você precisa fazer perguntas relevantes, entender o que está acontecendo no momento, e depois ainda vem a parte de edição e publicação.

Hoje, graças a Deus, consegui contratar algumas pessoas para me ajudar com essas tarefas. Mas no começo, eu fazia tudo sozinho: publicava, editava, planejava os episódios. Agora, depois de três anos de podcast, tenho ajuda para dividir o trabalho.

Ser influenciador não é fácil. Você precisa editar vídeos, publicar, escolher temas… e o maior desafio é o tempo. Ainda mais quando se tem uma família, porque nem sempre eles entendem o quanto isso exige.

Eu saía de casa às seis horas da manhã e voltava às oito da noite. Quando chegava, via minhas filhas rapidinho, jantava e já começava a mexer no celular: respondia mensagens, editava vídeos para postar no dia seguinte.

Teve até momentos em que eu editava vídeos no meio do trânsito, entre uma corrida e outra, só para manter o conteúdo em dia. É muito trabalho, mas é necessário.

O que me ajuda é conhecer bem a cidade e o aplicativo. Isso facilita, porque consigo administrar meu tempo melhor. Mas se eu fosse um motorista novo, tentando conciliar as corridas com a criação de conteúdo, seria ainda mais complicado.

Com o tempo, começam a surgir parcerias e, aos poucos, isso traz um dinheiro extra. Isso ajuda a equilibrar a rotina.

Você trabalha com uma meta diária? E tem algum critério para aceitar corridas, como um valor mínimo por quilômetro?

Ronaldo: Não tenho como aceitar corrida com valor mínimo de R$ 1,60 por quilômetro, porque moro em Barueri. Para sair de Barueri e ir até São Paulo, onde a maioria das corridas acontece, o valor por quilômetro fica entre R$ 1,20 e R$ 1,30.

Quando estou no centro de São Paulo, o critério que eu olho mais é o tempo da corrida. Às vezes, o valor por quilômetro pode ser bom, mas se for uma corrida que vai demorar uma hora e meia para fazer R$ 40, não vale a pena. O trânsito de São Paulo é complicado, então o tempo gasto é um fator muito importante.

No final, se você conseguir aproveitar bem o tempo, o rendimento por quilômetro acaba sendo bom.

E quais são suas metas semanais atualmente?

Ronaldo: Com as mudanças recentes, eu estabeleci uma nova meta: de segunda a quinta-feira, preciso fazer pelo menos R$ 330 por dia. Já na sexta e no sábado, o objetivo é fazer pelo menos R$ 600 por dia.

Essa rotina funciona porque, durante a semana, eu tenho muitos compromissos além das corridas, como gravar podcast, participar de reuniões e resolver outras coisas. Então, começo a rodar mais tarde, por volta das cinco ou seis da tarde, e vou até meia-noite.

Quando consigo fazer um pouco mais durante a semana, fica mais tranquilo para atingir a meta na sexta e no sábado.

Quais dicas você daria para quem está começando a trabalhar como motorista de aplicativo?

Ronaldo: A primeira dica essencial é o planejamento financeiro. Você precisa saber exatamente quanto precisa ganhar e quais são os seus custos. É fundamental fazer um desenho completo desse planejamento.

Anote todos os seus gastos fixos: água, luz, telefone, aluguel do carro, financiamento… tudo. Por exemplo, se o custo total for de R$ 4.000, incluindo o carro, você precisa considerar um adicional de 30% para cobrir o combustível. Se passar disso, tem algo errado na sua operação ou na região em que você trabalha.

Com esses 30%, o seu objetivo já sobe para R$ 5.200. Além disso, é importante separar pelo menos 10% para manutenção do carro, mas isso depende do tipo de veículo que você usa. Se o seu carro for mais caro, como um Corolla, você precisa ter uma reserva maior para cobrir imprevistos.

Então, considerando os 10%, você precisaria faturar aproximadamente R$ 5.700. Se trabalhar 20 dias no mês, a meta diária será de R$ 300. É com base nisso que o motorista deve calcular seus ganhos.

Quem está começando precisa entender esse cálculo básico. Se você sair para a rua sem saber quanto precisa faturar, as chances de ter prejuízo são grandes. Não adianta se comparar com os outros motoristas que fazem R$ 700 por dia — cada um tem uma realidade diferente.

Depois que estiver com esse controle financeiro em ordem, pode pensar em outras formas de complementar a renda, como estudar ou começar um negócio paralelo ao trabalho de motorista. E, claro, sempre reservar um tempo para a família. Sem um bom planejamento, o risco de fracassar é alto.

Outro ponto importante é conhecer o custo por quilômetro (KM). Saber quanto você gasta e quanto fatura por KM é essencial para entender se o lucro no final do mês está valendo a pena.

O que você acha do sistema de dinâmicas atualmente? Na sua opinião, ele melhorou nos últimos tempos?

Ronaldo: O sistema de dinâmicas praticamente acabou. Acho que, daqui a alguns anos, nem vai mais existir.

Antigamente, o aplicativo usava o dinâmico multiplicador, em que o valor das corridas aumentava em horários de maior demanda. Depois, veio o que chamamos de picolé, que é aquele valor fixo de dinâmico, como R$ 5 ou R$ 10 a mais por corrida. Mas, sinceramente, isso não ajuda tanto porque o valor das corridas varia muito de motorista para motorista.

Hoje, o dinâmico não funciona mais como antes. É raro conseguir um valor realmente vantajoso. Estou falando especificamente da Uber, porque na 99, às vezes, o dinâmico ainda compensa mais. No final do ano, por exemplo, a 99 estava melhor nesse quesito do que a Uber.

A tendência da Uber parece ser acabar com o dinâmico. Em algumas semanas, aparece um dinâmico de R$ 10 ou R$ 15, geralmente por causa de chuva ou algum evento em São Paulo. Mas, de maneira geral, o sistema já não oferece aqueles ganhos expressivos de antigamente.

O que vejo é que o sistema caminha para se tornar cada vez mais fixo, oferecendo um pequeno bônus em horários de pico e nada mais. Por isso, quem trabalha com aplicativo não pode mais depender do dinâmico. É preciso avaliar se o trabalho compensa mesmo sem esses valores adicionais.

Você percebe diferenças entre os meses de dezembro e janeiro? Muitos motoristas comentam que janeiro costuma ser um mês mais fraco. Qual a sua visão sobre isso?

Ronaldo: Sim, existe uma diferença clara entre dezembro e janeiro. É importante entender que isso faz parte de uma tendência de mercado.

Em algumas regiões, como áreas de praia ou cidades turísticas, janeiro pode ser um ótimo mês para trabalhar. Tenho amigos que trabalham nessas áreas e conseguem ter bons resultados nessa época.

Por outro lado, em grandes centros urbanos, como São Paulo, janeiro geralmente é mais fraco. Isso acontece porque muitas pessoas estão de férias, viajando ou descansando, e o movimento na cidade diminui.

Aqui em São Paulo, por exemplo, os primeiros 15 dias de janeiro são sempre mais lentos, embora dê para trabalhar. Já na segunda quinzena do mês, o movimento costuma melhorar um pouco.

É importante os motoristas entenderem que essa é a realidade de todo janeiro. Não adianta sair cedo, às seis horas da manhã, achando que vai encontrar muitas corridas, principalmente nas primeiras semanas — a demanda vai ser baixa.

Essa foi uma dificuldade que eu também enfrentei quando comecei. Eu não entendia o funcionamento do mercado e ficava frustrado. Mas, com o tempo, fui aprendendo que essa queda de demanda em janeiro é normal.

Quem mora em cidades turísticas se dá melhor nesse período, pois o fluxo de pessoas aumenta. Mas quem trabalha em centros urbanos precisa se preparar. Uma dica que eu sempre dou é aumentar o faturamento em dezembro. Se você está acostumado a fazer um valor X, tente aumentar em 30% ou 40%.

Isso cria uma reserva que vai ajudar a cobrir as perdas durante as duas primeiras semanas de janeiro. Esse planejamento financeiro é essencial para evitar estresse e prejuízos no início do ano.

Além disso, é fundamental estudar o custo de operação na sua cidade para entender se ainda vale a pena continuar trabalhando com o aplicativo. O aplicativo está cada vez mais pagando menos, então o motorista precisa ser inteligente para maximizar os ganhos e reduzir custos.

Você gostaria de acrescentar mais alguma coisa?

Ronaldo: Sim, eu gostaria de reforçar a importância do planejamento. A gente falou muito sobre custos e organização, e isso não pode ser ignorado.

Cada motorista precisa fazer uma análise constante para entender se ainda vale a pena trabalhar com aplicativo. Isso inclui estudar o custo do carro, avaliar se vale a pena comprar um veículo novo e entender as condições da sua cidade.

O trabalho de motorista de aplicativo vai ficando cada vez mais difícil, e as plataformas tendem a reduzir os ganhos com o tempo. Por isso, é necessário ficar atento, estudar o mercado e planejar bem suas estratégias para conseguir tirar o máximo proveito desse trabalho.

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Giulia Lang

Giulia Lang é líder de conteúdo do 55content e graduada em jornalismo pela Fundação Cásper Líbero.

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