O trabalho como motorista de aplicativo tem se tornado uma opção recorrente para complementar a renda ou até mesmo como principal fonte de sustento para muitas pessoas no Brasil. Em Belém, essa realidade não é diferente, e diversos profissionais enfrentam os desafios do trânsito, a insegurança em algumas regiões e as taxas cobradas pelas plataformas. Entre esses motoristas está o senhor José, que compartilha sua experiência e estratégias para equilibrar a atividade com outras responsabilidades.
Nesta conversa, o senhor José Jonas Coelho detalha como organiza sua rotina, as metas que estabelece e as dificuldades que enfrenta no dia a dia. Ele também reflete sobre as mudanças no mercado desde que começou a trabalhar em 2016, analisando fatores como a remuneração, os custos operacionais e a relação com os passageiros. A entrevista aborda ainda as escolhas feitas para garantir segurança e lucratividade, além de conselhos para quem deseja ingressar nesse segmento.
Senhor José, para começar, há quanto tempo o senhor trabalha como motorista de aplicativo e o que o motivou a ingressar nessa atividade?
José: Bom, na verdade, já estou nisso há alguns anos, mas não trabalho continuamente. Por exemplo, durante períodos chuvosos, eu prefiro não rodar, porque essa não é minha principal fonte de renda. Eu tenho um comércio e comecei a dirigir pela Uber como uma forma de complementar a renda, especialmente em momentos em que o movimento no comércio fica mais fraco. Então, é uma atividade que uso para dar uma melhorada na renda, mas não é algo fixo.
E como o senhor organiza sua rotina nos dias em que decide trabalhar como motorista?
José: Nos dias em que trabalho, geralmente escolho o período noturno, das 19h até meia-noite. Nesse horário, o trânsito é mais tranquilo, e consigo fazer mais corridas em menos tempo. Além disso, o clima à noite é mais agradável. Apesar do que muitos dizem sobre os riscos de dirigir nesse período, graças a Deus, nunca tive problemas. Mas nunca extrapolo, sempre encerro no máximo à meia-noite.
Durante esse horário, o senhor estabelece alguma meta de corridas ou ganhos?
José: Sim, minha meta é de, no máximo, 20 corridas por dia. Muitas vezes, nos finais de semana, aproveito as promoções oferecidas pelo aplicativo, que pagam um valor extra ao completar um determinado número de corridas. Costumo rodar mais aos sábados à tarde e domingos durante o dia. Aliás, o km pago pela Uber em Belém é um dos mais baixos do país.
O senhor considera Belém uma cidade segura para trabalhar como motorista?
José: Olha, considerando os muitos relatos de assaltos a motoristas, eu evito rodar em certos bairros, principalmente aqueles mais perigosos, como Terra Firme, Jurunas, Guamá, Coracy, Pratinha e Barreiro. Prefiro me concentrar nas corridas pelo centro da cidade, onde me sinto mais seguro e é mais vantajoso para o meu carro, que é automático e consome mais combustível.
E quanto o senhor costuma faturar por dia?
José: Depende, mas, em média, consigo fazer entre R$ 120 e R$ 150 por dia. Esse valor varia dependendo das promoções e dos custos com combustível. Por exemplo, se eu gastar R$ 50 ou R$ 60 de combustível, o lucro líquido fica em torno de R$ 90 a R$ 100.
Quais são os maiores desafios de ser motorista de aplicativo em Belém?
José: Um dos maiores desafios é para quem aluga carro. Com diárias de R$ 90 e o custo do combustível, fica muito puxado. Essas pessoas precisam trabalhar cerca de 10 horas por dia para ter algum lucro. Além disso, o trânsito de Belém é complicado: muitos buracos, excesso de motos e ciclistas, e caminhoneiros que não têm cuidado. É preciso estar sempre atento para evitar acidentes.
Na sua opinião, quais são os aplicativos mais usados em Belém?
José: O mais utilizado é o Uber. Já a 99, por exemplo, direciona para muitos locais perigosos, o que acaba afastando os motoristas. Além disso, percebo que os passageiros do Uber são mais selecionados, o que melhora a experiência.
Desde quando o senhor trabalha como motorista de aplicativo? E como era a remuneração no início?
José: Comecei em 2016, e, naquela época, as taxas eram muito melhores. Havia menos motoristas, e a comissão do aplicativo era de 25%. Hoje, eles chegam a cobrar quase 40%. Antes, era fácil faturar até R$ 300 por dia. Agora, é preciso trabalhar mais tempo para ganhar menos, e ainda temos que lidar com os custos de manutenção do carro.
O senhor costuma cancelar muitas corridas?
José: Não. Só cancelo se aceitar por engano ou se a corrida for para um local que não costumo atender. Mas, no geral, procuro evitar cancelamentos.
Como é sua relação com os passageiros?
José: Sempre tranquila. Nunca tive problemas ou reclamações. Os passageiros que transportei até hoje foram educados. Alguns gostam de conversar, outros preferem ficar em silêncio, e os turistas, em especial, são muito interessados na história da cidade e do estado. Acho isso muito legal.
Que conselho o senhor daria para quem está começando como motorista de aplicativo?
José: Meu conselho é que a pessoa esteja disposta a rodar, no mínimo, oito horas por dia para ter um ganho razoável. No entanto, recomendo que encare o aplicativo como uma atividade temporária. Se for possível, tenha outra fonte de renda, pois é difícil viver só disso e ainda conseguir economizar ou realizar grandes planos.
O senhor utiliza algum aplicativo ou ferramenta adicional, como o StopClub ou o DSW, para ajudar no trabalho?
José: Não, apenas o aplicativo do Uber mesmo.
Para finalizar, o senhor já trabalhou como motorista em outras cidades?
José: Não, nunca. Mas conheço pessoas que já rodaram em cidades como Maranhão e Ceará. Elas dizem que as condições são melhores por lá, tanto em termos de ganhos quanto em segurança.