Pesquisar

Movev: “Nosso objetivo é que todos utilizem os carregadores de forma justa”

ponto de exclamacao .png
Entrevista
Conversas com especialistas, gestores e profissionais do setor, com perguntas conduzidas pela equipe do 55content.
Juan S. de León, CEO da Movev. Foto: Reprodução/ LinkedIn/ Juan S. de León.

Startup investe em postos elétricos em estradas e hotéis: “Queremos facilitar trajetos como Porto Alegre a Buenos Aires ou Foz do Iguaçu a Assunção”.

A Movev é uma startup de base tecnológica focada em desenvolver tecnologias para recarga de veículos elétricos. Criada em 2022, a empresa tem como missão disponibilizar e resolver problemas que envolvam o carregamento.

Juan S. De León, CEO e cofundador da Movev, é especialista em energia solar e mobilidade elétrica e responsável pela instalação dos primeiros eletropostos do interior gaúcho.

Pensando nisso e no investimento em mobilidade elétrica, Juan conversou com o 55Content e detalhou a operação, na qual, segundo ele, adaptou as matrizes internacionais ao Brasil: “A ideia era que o carregador fizesse muito mais, como a gestão de consumo e cobrança. Afinal, gasolina não é grátis, então eletricidade também não seria.”

Hoje, a empresa já conta com quase 30 postos de recarga espalhados pelo Brasil, sendo 12 deles em Santa Catarina, foco da operação.
“O mercado elétrico no Brasil é muito complexo, com tarifas únicas e as famosas bandeiras amarela e vermelha, que assustam todo mundo”, afirmou o executivo. Ele explicou que era necessário desenvolver uma solução que atendesse às demandas do setor.

Segundo ele, após conhecer várias marcas, a equipe concluiu que o desgaste para desenvolver um produto próprio seria menor e mais vantajoso do que depender de terceiros. “Um produto nacional agregaria mais valor ao mercado e permitiria domínio sobre o produto”, destacou.

Ele explicou que o centro do negócio gira em torno de rodovias e hotéis, “pois acreditamos que esses são os pontos mais estratégicos”, diz. Além disso, completa: “Não focamos tanto em áreas urbanas porque já existem empresas que atendem bem esse segmento. Nosso foco é nos eixos de deslocamento, como saídas de cidades e rodovias.”

A empresa oferece quatro produtos que vão desde carregadores portáteis até infraestrutura de recarga rápida para grandes players, como rodovias. “Todos os nossos produtos são projetados e desenvolvidos aqui, em Porto Alegre. Fazemos tanto a parte de monetização (cobrança pela recarga) quanto a gestão administrativa (rateio de consumo, por exemplo, em condomínios)”, completa.

A Movev realiza toda a engenharia e o desenvolvimento dos projetos internamente. No entanto, conta com parceiros terceirizados para a execução final. Dessa forma, segundo Juan, consegue manter a operação de maneira sustentável. Além disso, possui instaladores em pontos estratégicos, que seguem os projetos elaborados pela equipe.

Em quais estados a empresa atua?

Nossa tese de negócios é focada no Sul e Sudeste por uma questão de pós-vendas. A gente preza por resolver problemas em até 48 horas. Hoje, isso só é possível nesses estados: Rio Grande do Sul, Santa Catarina, Paraná e São Paulo.

Temos também um carregador em Goiânia, que foi um caso específico, pois um parceiro local assumiu esse risco. Fora isso, nos concentramos no Sul e Sudeste.

Qual o maior desafio da Movev no setor de mobilidade elétrica no Brasil?

O maior desafio é garantir a perenidade do investimento. A mobilidade elétrica ainda é muito nova e instável. Um ponto de recarga pode virar um “elefante branco” se não houver demanda constante. Precisamos criar soluções que sejam sustentáveis ao longo do tempo, garantindo que os pontos de recarga sejam utilizados regularmente.

Além disso, é importante alinhar custo-benefício e educar os usuários sobre a importância desses pontos. Sem infraestrutura adequada, como banheiros ou cafeterias, muitos pontos em rodovias podem se tornar inviáveis.

Como está o projeto de expansão da empresa? Vocês já têm planos definidos? O que estão fazendo para aumentar a demanda?

Nossa preocupação hoje, a nível de expansão, é basicamente visando dois mercados: a interiorização focada no turismo e os esforços no eixo Sul-Sudeste. A gente foca bastante no turismo que conecta o Paraná, Santa Catarina, Rio Grande do Sul e até os países vizinhos, como Uruguai e Argentina.

O Uruguai, por exemplo, é um país muito amigável para veículos elétricos. Ele tem um território enxuto, distâncias curtas e investimentos fortes. Mas o turista gaúcho, por exemplo, não consegue atravessar a fronteira porque não há infraestrutura adequada. Hoje, há poucos pontos de recarga formalizados no trajeto entre Porto Alegre e a fronteira.

O mesmo acontece com quem quer ir para a Argentina. Em trajetos como Porto Alegre a Foz do Iguaçu, o problema é semelhante. Quando você chega ao Paraguai, por exemplo, a infraestrutura elétrica também é muito incipiente. Então, o nosso grande desafio é conectar essas regiões e criar um corredor confiável para que o turista possa fazer viagens mais longas de forma segura e prática.

Hoje, o motorista de elétrico tem duas opções: viajar com tranquilidade ou viajar com aperto, controlando o consumo de energia. Muitas vezes, é necessário reduzir a velocidade, desligar o ar-condicionado ou ajustar a autonomia. Nosso foco é criar uma rede que permita uma experiência mais tranquila, principalmente conectando as capitais do Sul e Sudeste e as fronteiras. A partir disso, podemos pensar em expansões futuras.

Em questão de regulamentações para acelerar a transição para os veículos elétricos no Brasil, o que vocês acham que está faltando para que esse mercado seja impulsionado?

Acho que o maior desafio hoje é a legislação. Muitas concessionárias de energia ainda não entendem o modelo de negócio da recarga de veículos elétricos. Por exemplo, se o proprietário de um local quer instalar um carregador, ele muitas vezes precisa fazer uma ligação elétrica nova ou construir uma subestação, o que é muito custoso. Isso desanima investidores, que não enxergam o retorno financeiro.

Em Santa Catarina, existe a possibilidade de pedir um ponto exclusivo para recarga de até 35 kW, mas com restrições. Por exemplo, você não pode vincular o ponto a uma geração distribuída de energia. Isso é um avanço, mas ainda não é o ideal.

No Uruguai, o processo é muito mais simples. Você consegue uma carta assinada pelo dono do estabelecimento e já pode instalar o carregador. Isso é algo que precisamos melhorar aqui no Brasil: criar legislações que facilitem a instalação e reduzam custos.

Hoje, temos um percentual muito baixo de validação de pontos. Para cada 150 locais prospectados, conseguimos validar cerca de 20. Isso mostra como a legislação atual dificulta o processo. Se tivéssemos um suporte legal mais claro e simples, seria um grande avanço para o setor.

Vocês acreditam que a transição para carros elétricos pode trazer benefícios específicos para os motoristas de app? Se sim, como isso poderia ser viabilizado?

Nós acreditamos muito em democratizar o acesso. Os pontos de recarga que instalamos são sempre pensados para serem abertos e acessíveis. Por exemplo, não trabalhamos com shopping centers porque muitas vezes há cobrança de estacionamento, o que pode ser um empecilho para motoristas de aplicativo. Nosso objetivo é evitar conflitos e criar pontos onde todos possam utilizar de forma justa.

Também evitamos grandes centros urbanos por causa do alto fluxo e da dificuldade de acesso. As saídas de cidades e rodovias são mais estratégicas, pois atendem motoristas que precisam recarregar durante viagens mais longas.

Nosso foco é criar pontos seguros e práticos. Por exemplo, sempre buscamos locais com banheiros e opções de alimentação. Queremos que o motorista, seja ele de aplicativo ou não, tenha uma experiência tranquila e segura, com espaços que atendam às necessidades dele.

Quais são as expectativas de vocês para o próximo ano e quais são os projetos a longo prazo?

A curto prazo, nossa vontade é conectar as fronteiras. Queremos facilitar trajetos como Porto Alegre a Buenos Aires ou Foz do Iguaçu a Assunção. Estamos trabalhando em processos de certificação internacional para exportar nossos produtos e expandir para outros países da América do Sul.

A longo prazo, queremos consolidar nossa presença nesses corredores internacionais. No Brasil, o desafio é continuar validan

Pesquisar