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Luiz Müller: “A representatividade dos motoristas de app não pode ser terceirizada; só quem sente a dor olha pela causa”

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Política
Político discursando na Câmara dos Deputados com a bandeira do Brasil ao fundo.
Deputado federal faz discurso na tribuna da Câmara dos Deputados, com a bandeira do Brasil em destaque ao fundo. Foto: Reprodução/ Luiz Müller.

Candidato a vereador diz que motoristas de app devem votar em quem sente a sua dor, defendendo a representatividade direta da categoria.

Luiz Müller é presidente da Associação dos Motoristas de Aplicativos do ES (AMAPES) desde 2019 e apresenta a sua campanha como candidato a vereador em Vitória, capital do Espírito Santo. O também motorista de aplicativo há quase 8 anos tenta a sua carreira na política pela segunda vez.

Luiz iniciou sua jornada nos aplicativos de transporte para complementar a renda e, aos poucos, foi se inteirando sobre os assuntos da classe: “Eu tinha uma veia comercial e pensei em montar uma associação de motoristas. Fui eleito vice, um dia depois o presidente desistiu, e desde 2019 estamos à frente da AMAPES. Foi a primeira associação devidamente registrada no Espírito Santo”.

Ele também cita a criação do primeiro Fórum Capixaba dos Motoristas de Aplicativo: “foi o primeiro fórum do Brasil”. Observando a necessidade de representantes na esfera municipal, estadual ou federal, procurou a Assembleia Legislativa do Espírito Santo.

“Bati na porta de vários deputados e apenas um me atendeu. E, desse que me atendeu, criamos a primeira Frente Parlamentar em Defesa dos Motoristas de Aplicativos do Brasil, a nível estadual. Então, aqui no Espírito Santo, pela AMAPES, foi criada a primeira Frente Parlamentar em Defesa dos Motoristas de Aplicativos”.

E completou: “Nela houve a primeira convocação oficial da diretoria da Uber e da 99, foi a primeira convocação. Então foi feita uma CPI, a CPI dos Crimes Cibernéticos. A CPI tem força de lei de convocação, e, na época, a CEO da Uber foi convocada a participar. Isso deu um tumulto muito grande no Brasil, porque essas pessoas nunca tinham sido convocadas, e aqui foram”.

O candidato conversou com o 55Content e esclareceu suas ideias:

E o que pesou para aceitar ser pré-candidato a vereador?

O que nós vemos hoje é que existe uma grande falta de representatividade. Existe uma representatividade que somos nós, motoristas de aplicativos, presidentes de associação, mas não somos reconhecidos pelo poder público, porque eles nos tratam simplesmente como motoristas por aplicativos.

Então, com um mandato em mãos, a gente consegue fazer muito com esses projetos de lei. Mas o que realmente me fez entrar foi que um deputado federal me disse: “Você jamais deve terceirizar a sua representatividade. As outras pessoas que estão aí, os outros políticos, não vão olhar para a sua causa. Só quem pode olhar para a sua causa é quem sente a dor”.

Eu, como motorista de aplicativo, sei a dor que todos os outros motoristas e os entregadores sentem. Os vereadores que estão lá hoje, que não são da categoria, vão lutar sim por alguma melhoria, mas não para o nosso lado.

Tanto que nós temos hoje praticamente oito anos de aplicativo e nenhuma lei dentro da Grande Vitória foi feita por um motorista por aplicativo. Então, minha intenção é não terceirizar essa responsabilidade, não terceirizar minha representatividade também. O foco principal é realmente trabalhar como motorista para o motorista.

Quais são as suas principais propostas, caso eleito vereador?

Uma das principais propostas que temos aqui é resolver a grande dificuldade em rodoviárias e aeroportos. Fazer com que o poder público, hoje, através de projetos de lei, crie pontos de embarque e desembarque para motoristas de aplicativos.

Hoje, somos deixados de lado e multados todas as vezes que paramos. Então, esse é um ponto principal. Aqui na Grande Vitória, temos muitos shows, principalmente em Vitória, e não temos um espaço onde possamos parar. Hoje, e é correto, os taxistas, como têm uma concessão municipal, por projetos de lei e pela lei orgânica, têm essa prerrogativa.

A prefeitura e os eventos são obrigados a separar uma área identificada para esses profissionais, e isso é correto. Queremos ter esse mesmo direito, não de ficar parados, mas de ter um ponto de embarque e desembarque voltado para nossa atividade.

Um exemplo é que, no carnaval fora de época, que acontece com mais de 100 mil pessoas, temos apenas cinco vagas, o que é insuficiente. Somos obrigados a parar em locais inadequados e somos multados. Esse é um ponto principal.

Queremos que haja uma obrigatoriedade, por parte do poder público, de demarcar vagas de embarque e desembarque para motoristas por aplicativos em eventos. Além disso, também em frente a hospitais e locais públicos com grande demanda.

Em Vitória, a cidade é dividida em nove regiões. Queremos criar um projeto de lei que obrigue as operadoras maiores a participar de uma parceria público-privada para criar pontos de apoio para motoristas por aplicativos e entregadores, principalmente nas áreas mais movimentadas. Precisamos de um local para beber água, esquentar comida, carregar o celular e descansar, eliminando um pouco da fadiga.

Quero também criar um projeto de lei que obrigue operadoras com mais de 5 mil motoristas na região a disponibilizar veículos para pessoas com deficiência. Sabemos que existe um grande problema em relação à locomoção de cadeirantes e pessoas com deficiência, e o poder público não se manifesta sobre isso. Queremos que as operadoras tenham veículos preparados para o transporte dessas pessoas, e o poder público definiria o número de carros necessários.

Esses são os nossos pontos principais: locais de embarque e desembarque e a questão da acessibilidade, que encaramos como urgentes.

Por qual partido você está se candidatando?

Eu vou concorrer pelo DC, que é a Democracia Cristã. É um partido de viés mais à direita. Eu me considero também um candidato à direita, mas, como presidente de associação e representante dos motoristas, sabemos que hoje temos motoristas tanto com ideologia de esquerda quanto de direita.

Então, eu não posso me dar ao luxo de legislar apenas por um lado. Tenho que legislar para o motorista de aplicativo, para a categoria dos motoristas de aplicativos. Somos obrigados a transitar entre essas duas facetas, digamos assim.

Atualmente, apenas o vereador Marlon Luz está eleito com a bandeira da representação dos motoristas de aplicativo. Nas últimas eleições, outros motoristas de app tentaram e não conseguiram. O que faz você acreditar que será diferente em 2024?

O Marlon e eu conversamos muito. Ele tem uma excelente representatividade, é um espelho para a categoria. Nós ainda somos uma categoria nova. Considero essa dificuldade por sermos uma categoria que eu chamaria de híbrida.

O que quero dizer com isso? Hoje, temos engenheiros, advogados, enfermeiros, pessoas que trabalham em plataformas de petróleo e que também trabalham como motoristas de aplicativo. Porém, eles nunca se identificam como motoristas de aplicativo. Eles dizem: “Ah, eu sou advogado”. Mas por que está trabalhando como motorista de aplicativo? “Ah, quando a situação melhorar, volto para a minha área”. Mas isso já dura dois, três, quatro, cinco, seis, sete anos.

Então, o que vejo hoje? Com as lutas que todos os motoristas no Brasil estão enfrentando, com a questão da PL-12, que vai atrapalhar muito o motorista por aplicativo, e com a reforma tributária, se os motoristas não tiverem conhecimento e não se unirem, realmente vamos ter uma perda financeira muito grande.

É necessário, e a gente entende que, com essa bandeira de representatividade, junto à PL-12 e no Senado, em relação à reforma tributária, vamos ter sucesso.

O que você acredita que está impedindo os motoristas de aplicativo de se unirem de forma mais eficaz? Quais são os principais obstáculos para alcançar uma representatividade mais forte entre a classe?

Eu acho que é a falta de conhecimento da causa. Hoje, muitos motoristas não conhecem o trabalho que as associações fazem e o que nós, motoristas que estamos pleiteando um cargo, vamos fazer.

Muitos têm inveja, dizendo: “Ah, você vai ser eleito e vai parar de trabalhar”. Sim, a gente vai parar de trabalhar como motorista de aplicativo para trabalhar para o motorista de aplicativo.

Ainda existe um pouco dessa inveja. Mas acho que, quando o motorista realmente entender que precisa de representatividade, como advogados têm, como médicos têm, como policiais militares têm, vamos conseguir essa representatividade.

Visto que somos quase 2 milhões de profissionais trabalhando. E, por exemplo, no Espírito Santo, podemos eleger um vereador em qualquer município. Simplesmente precisamos de união.

Quando influenciadores de uma determinada categoria decidem entrar para política, é comum haver críticas de que estariam se aproveitando da influência para fins próprios. Como você responderia a essas críticas?

Realmente existe. Quando a gente se candidata, a primeira coisa que a pessoa fala é: “Ah, ele quer se aproveitar dos motoristas de aplicativos”. Já escuto isso todos os dias. “Ah, conseguiu o que queria, quer ter o holofote”.

Isso acontece justamente por falta de conhecimento e do trabalho que podemos fazer pela categoria. No meu caso, como representante e presidente de associação, se Deus abençoar e eu for um futuro candidato, temos que aprender a lidar com críticas.

Como eu respondo isso? Mostrando o que eu fiz sem mandato. Ao longo desses anos, desde 2019 à frente da associação, e quase oito anos como motorista de aplicativo, o que eu já construí? Sem mandato, consegui várias conquistas para os motoristas de aplicativo. Com mandato, podemos fazer muito mais. Isso é o que apresento para eles.

Como pretende usar um possível cargo de vereador para modificar a regulamentação federal?

Então, não é atribuição do vereador interferir numa regulamentação federal. Mas, como o Marlon Luz faz hoje, e nós já fazemos sem o mandato, com o mandato fica mais fácil termos interlocução com nossos partidos em Brasília.

Participar e contribuir com a experiência que já temos, vivida como motorista de aplicativo, e poder apresentar propostas. Sabemos que isso já está nos finalmentes, mas acho que, se tivermos mais motoristas eleitos no Brasil, podemos nos unir e ir para Brasília, através de nossos partidos políticos, e fazer uma grande contribuição.

Sabemos que 99% dos motoristas de aplicativos que vão a Brasília, como eu fui, vão com seus próprios recursos, sem ajuda de ninguém. Isso atrapalha um pouco. Com o mandato, seria possível conseguir essa ajuda financeira para representar melhor os motoristas.

Você acredita que esse cargo aproxima um pouco vocês de Brasília, para melhores contatos e conversas pela classe?

Sim, acredito, porque, como existem os partidos, o vereador é a base de tudo. Um deputado estadual, por exemplo, precisa de uma base para ser eleito. Um deputado federal precisa do deputado estadual e do vereador.

A base da cadeia hoje é o vereador dentro dos municípios. Então, se tivermos essa interlocução com deputados federais e senadores, conseguimos uma aproximação e podemos mais facilmente mostrar o que temos a apresentar para essas pessoas. E, logicamente, nos aproximamos de Brasília, que é onde tudo vai ser resolvido.

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