Pagamento pendente nos apps de corrida: “A transação é realizada antes mesmo do motorista ser solicitado”

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Reportagem
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Reprodução/Internet

Dependendo da forma de pagamento escolhida pelo passageiro, é normal que os pagamentos das corridas apareçam como “pendentes”.

O mercado de transporte por aplicativos no Brasil tem evoluído rapidamente, impulsionado por avanços tecnológicos e mudanças nas preferências dos consumidores. À medida que o uso de plataformas digitais para solicitar corridas se torna mais comum, a segurança e a eficiência dos sistemas de pagamento se tornam questões centrais.

Esse cenário destaca a importância de entender como as empresas de transporte estão adaptando seus processos e implementando novas tecnologias para garantir transações seguras e confiáveis para motoristas e passageiros.

Do pedido ao pagamento

Ana Carolina Cabral, coordenadora do time de Pay da Machine, sistema operacional para aplicativos de mobilidade e logística, descreve que o processo de uma transação varia conforme o método de pagamento escolhido: “Para pagamentos que chamamos de presenciais, como dinheiro, cartão via maquininha ou Pix após a corrida, ele é realizado depois”, explica Ana Carolina.

Nesse caso, o passageiro solicita a corrida, um motorista aceita, realiza a viagem e, ao final, o passageiro paga diretamente ao motorista. Nos pagamentos não presenciais, como no cartão via app, “a corrida já é paga desde o início, pois a transação é realizada antes mesmo de um motorista ser solicitado”, conclui.

A inDrive afirma que o processo da transação começa pela seleção do método de pagamento: “O passageiro pode fazer seu pagamento em dinheiro, com máquina de cartão ou através do Pix. Ele deve selecionar o tipo de pagamento assim que fizer a solicitação”. Após a conclusão do serviço, o pagamento é realizado utilizando a forma escolhida, que melhor acomoda tanto o passageiro quanto o motorista.

A empresa também conta que está testando um novo método de pagamento: “O processo de pagamento via cartão, nomeado de cashless, está em operação em Curitiba e deve ser expandido para outros estados do país nos próximos meses”.

De acordo com a empresa, os desafios mais comuns enfrentados pela inDrive em relação aos sistemas de pagamento incluem a inadimplência dos passageiros: “A maior questão dos motoristas inDrive são os casos em que os passageiros não pagam pela corrida. Nesses casos, nós fazemos o possível para contatar o passageiro sobre o não pagamento e retornamos com um feedback ao motorista,” explica a empresa.

A principal causa para que um pagamento fique pendente na inDrive, segundo a empresa, é essa inadimplência dos passageiros, que deixam de pagar ao final do percurso.

Desafios técnicos e medidas de segurança

Ana Carolina Cabral destaca os principais desafios técnicos no desenvolvimento de sistemas de pagamento para aplicativos de transporte: “As maiores dificuldades são sempre em relação a garantir segurança e confiabilidade do sistema”, afirma Ana Carolina. A verificação da veracidade e integridade dos dados é essencial, além de trabalhar em validações que evitem golpes e usos indesejados da plataforma.

Para proteger as transações financeiras dos usuários, diversas medidas de segurança podem ser implementadas pela Machine: “Existem muitas medidas diferentes que podem ser utilizadas, inclusive elas podem ser usadas separadamente ou de forma combinada, trazendo ainda mais segurança para o sistema,” explica Ana Carolina. Entre as medidas estão criptografia e tokenização das informações dos cartões, além de autenticação multifator e validação dos dados cadastrais do usuário: “As possibilidades são muitas”, finaliza.

A inDrive afirma que adota várias medidas de segurança para proteger as informações financeiras dos usuários: “A inDrive adota medidas de segurança de alta qualidade para que os usuários estejam protegidos”. Segundo a empresa, todas as operações são verificadas pela equipe de suporte e, em caso de anomalia, os usuários podem se comunicar pelos canais de atendimento para relatar a situação e tomar as medidas cabíveis: “Qualquer situação pode ser comunicada diretamente ao nosso suporte, que está disponível 24 horas por dia,” acrescenta a empresa.

A inDrive conta que enfrenta desafios na detecção de fraudes devido aos métodos de pagamento aceitos: “Devido ao fato de a inDrive operar com pagamento em dinheiro, Pix, ou máquina de cartão do motorista, atualmente não há um sistema de pagamento específico que possamos monitorar ou detectar fraudes diretamente,” esclarece a empresa.

A ascensão do Pix

O Banco Central do Brasil reporta que as transações via Pix ultrapassam 5 milhões e 270 mil até junho de 2024, em comparação com 2 milhões no mesmo período de 2022. De acordo com dados da Federação Brasileira de Bancos (Febraban), com base em levantamentos do Banco Central (BC) e da Associação Brasileira das Empresas de Cartão de Crédito e Serviços (Abecs), em 2023, os brasileiros realizaram quase 42 bilhões de transações por Pix, representando um crescimento de 75% em relação ao ano anterior.

O levantamento mostra que o Pix superou outras formas de pagamento, como cartões de crédito e débito, boleto, TED, DOC, cheques e TEC, que juntas somaram quase 39,4 bilhões de operações. A população tem utilizado o Pix principalmente para transações de menor valor.

Essa nova tendência pediu ajustes dos aplicativos de corrida: “Como essa forma de pagamento decolou e é uma das mais usadas no país, isso exigiu adaptações da nossa parte,” afirma Ana Carolina.

Ela conta que a Machine já havia trabalhado para disponibilizar a recarga de carteiras de crédito através do Pix e também na liberação de uma nova forma de pagamento para ser selecionada pelos passageiros, permitindo o pagamento em Pix ao fim da viagem.

Ana Carolina destaca, ainda, que novas funcionalidades estão a caminho: “Em breve vamos liberar também o pagamento de corridas via Pix diretamente no app, assim o pagamento pode ser feito antes da viagem, para evitar que o motorista precise cobrar do passageiro ao final do trajeto,” acrescenta.

Experiência dos motoristas

O motorista Pedro Henrique Soares, de Colatina (Espírito Santo), relata uma experiência positiva com os pagamentos recebidos através dos aplicativos: “Minha experiência geral é boa. Nunca tive problemas,” afirma Pedro. Ele conta que aceita todas as opções de pagamento disponíveis na sua cidade, incluindo dinheiro, máquina de cartão e pagamento online, devido à natureza pequena e interiorana de Colatina.

Apesar de sua experiência geralmente tranquila, Pedro menciona um caso isolado onde houve um atraso no recebimento de um pagamento: “Houve apenas uma vez. Eu fiz uma viagem pela 99 para o aeroporto na capital (Vitória-ES) e, por ser um valor alto, R$ 380,00, pago com um voucher corporativo, entrou no meu saldo em 48 horas úteis,” explica Pedro. Embora não tenha atrapalhado sua logística operacional, ele admite que ficou receoso de não receber o pagamento.

Pedro também expressa uma certa desconfiança em relação às informações fornecidas sobre suas transações. “Eu não confio nessa taxa média semanal da 99,” comenta ele.

O motorista paulista Gilberto Mendes, por outro lado, adota uma abordagem mais cautelosa em relação aos métodos de pagamento que aceita: “Minha experiência em relação ao recebimento não tem problema,” diz Gilberto, atribuindo isso à sua escolha de aceitar apenas pagamentos via cartão.

Ele conta que evita dinheiro e Pix por questões de segurança: “Eu penso que se eu abrir para dinheiro ou Pix, vou estar muito suscetível a assalto e as pessoas podem achar que eu tenho dinheiro no carro,” justifica Gilberto, reforçando que utiliza apenas a forma de pagamento via cartão para minimizar riscos.

Perspectiva dos usuários

A terapeuta Michelle de Sá descreve sua experiência com os pagamentos nas corridas de aplicativos de transporte como boa, mas aponta algumas ressalvas: “Só não gosto quando eu tenho que pedir mais de uma vez, seja porque o motorista cancelou ou estava longe,” relata Michelle. Ela menciona que em alguns aplicativos, o pagamento é descontado várias vezes no cartão de crédito, com o reembolso ocorrendo apenas posteriormente: “Tem app que desconta antes até de aceitarem a corrida, o que eu não gosto também”, comenta.

A estudante Maria Clara Mello tem uma visão menos positiva, embora continue a usar os aplicativos por falta de alternativas melhores: “Minha experiência geral não é das melhores, mas sempre acabo usando os apps mesmo assim, por falta de uma opção melhor,” afirma. Ela conta que já enfrentou problemas quando os motoristas não aceitavam as corridas, especialmente quando a fatura de seu cartão estava prestes a fechar, tornando o reembolso uma tarefa burocrática: “Foi muita burocracia para conseguir o reembolso antes de ter que pagar”.

Michelle afirma que prefere usar cartão de crédito ou Pix para seus pagamentos: “Eu uso cartão de crédito ou Pix. Sinto que quando peço no dinheiro é mais difícil de aceitar,” diz Michelle. Apesar das preocupações modernas com segurança, ela nunca teve problemas com a proteção de seus dados financeiros: “Acho que no mundo de hoje em dia a gente sempre fica preocupado, mas como nunca tive nenhum problema, fico mais tranquila”.

Maria Clara, por outro lado, também prefere o Pix, mas recorre ao cartão de crédito em situações mais complicadas, como após uma festa, quando é difícil conseguir uma corrida: “Eu normalmente uso Pix, mas em situações onde fica difícil de conseguir uma corrida, tipo de madrugada, acabo optando por usar o cartão de crédito, por ser mais fácil,” explica. Ela já teve seu cartão clonado e usado em várias corridas da Uber, mas elogia o atendimento da empresa durante o problema: “Foi logo depois do carnaval, então tinha usado meu cartão em várias maquininhas. Não tem como saber quando clonaram meu cartão, mas a Uber me reembolsou rápido”.

Conclusão

Os sistemas de pagamento dos aplicativos de corrida são complexos e envolvem uma série de desafios técnicos e operacionais. A segurança é uma prioridade, com medidas como criptografia e autenticação multifator sendo implementadas para proteger as transações. A popularização do Pix e a necessidade de adaptar as plataformas a novas tecnologias demonstram a evolução constante deste setor.

A experiência dos motoristas e passageiros revela que, apesar dos avanços, ainda há áreas a serem aprimoradas, especialmente em relação à clareza nas transações e na resposta a fraudes. No entanto, a flexibilidade e a variedade de opções de pagamento disponíveis continuam a tornar os aplicativos de corrida uma escolha conveniente e prática para milhões de usuários.

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Anna Julia Paixão

Anna Julia Paixão é estagiária em jornalismo do 55content e graduanda na Escola Superior de Propaganda e Marketing.

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