Embaixadora da Lady Driver em Sorocaba, interior de São Paulo, quer pautar mandato na defesa do motorista e de pessoas com doenças autoimunes.
Luciana Marçura trabalha como motorista de aplicativo em Sorocaba, no interior de São Paulo, e decidiu lançar a sua pré candidatura como vereadora na cidade interiorana. Após o seu diagnóstico de Lúpus, uma doença autoimune e perder o seu emprego de carteira assinada, Luciana decidiu dar uma chance para os aplicativos de transporte de passageiros.
Hoje, aos 50 anos de idade, a pré candidata conta sobre o dia a dia nas corridas: “Depois dos 40 anos, você já fica velho para o mercado de trabalho, para ter alguma função. Existe a discriminação também por causa da doença, porque nenhuma empresa quer um funcionário que possa se afastar a qualquer momento. Então, eu vi nos aplicativos uma maneira de trabalhar, ganhar meu dinheiro honestamente, ser autônoma e fazer meus horários”.
Com mais de 16 mil corridas na plataforma Uber, Luciana decide inovar e investir na carreira política:
Como surgiu o convite para entrar na política?
Nunca imaginei que um dia a vida política bateria à minha porta, mas bateu, e começou pelo meu engajamento na defesa da categoria de motoristas de aplicativos. Eu via as injustiças, as perdas, a falta de um olhar mais cuidadoso e comecei a lutar, não aceitando o “não” que ouvia constantemente. Sou motorista de aplicativos há 7 anos e embaixadora da Lady Driver em Sorocaba há 2 anos e 6 meses. Consegui melhorar os ganhos das mulheres e mudar o rumo do trabalho que elas realizam hoje.
Um dia, encontrei refúgio nas ações do prefeito Manga, que demonstrou interesse em nos ajudar. Quando chegou a época de falar de eleições para 2024, além dos amigos que até enquete fizeram para decidirem quem iriam apoiar, o próprio prefeito me incentivou. Então, aqui estou, ciente de que tenho muito a fazer por Sorocaba. Além das mulheres, tenho os motoristas homens que tanto fizeram para me ajudar e ajudam até hoje. É uma categoria à qual faço parte e que merece ter um representante que realmente sabe o que os motoristas necessitam.
Tenho outra bandeira que defendo, pois tenho propriedade para falar sobre o assunto. Sou portadora de Lúpus e Artrite Reumatoide, duas doenças autoimunes. Sei que minhas ideias e projetos podem ajudar muito as pessoas que sofrem das mesmas dores e dificuldades a ter qualidade de vida e acessibilidade a tratamentos específicos para essas doenças.
E o que pesou para aceitar ser pré-candidata a vereadora?
Esses convites e indicações me soaram como uma missão, quase uma obrigação, pois se não tivermos cadeiras ocupadas por pessoas que entendam as dores de uma categoria profissional ou das pessoas que muitas vezes estão sem informações para conseguir melhoras em sua vida. Por isso aceitei esse desafio e vou me comprometer desde já a defender não somente as duas categorias que represento, mas também a população em geral.
Quais são suas principais propostas, caso eleita vereadora?
Tenho duas bandeiras bem pontuadas, embora acredito que um representante do povo não possa se dedicar a apenas um assunto. A categoria de motoristas de apps é nova no Brasil, está completando apenas 10 anos, então está engatinhando e passando por um processo de regulamentação que nada está sendo feito que realmente beneficie a categoria. Precisamos ser vistos e respeitados como profissionais com deveres, mas também com direitos, que para levarmos o sustento às nossas famílias são árduas horas no trânsito.
Sou portadora de doenças autoimunes e conheço todas as dificuldades que temos em conseguir apoio, em conseguir emprego, em ter informações importantes sobre a doença. Precisamos levar para os portadores de autoimunes que a vida não acabou e podemos lutar bravamente por saúde e visibilidade em nossa sociedade.
Por qual partido você irá concorrer e como definiria seu posicionamento político?
PMB, e meu posicionamento é de defesa da população, muito mais que ideologias e partidos até. Embora tenhamos avançado muito em diversos setores, a população cresce rapidamente e as doenças também estão avançando, então, para além dos posicionamentos políticos, precisamos pensar no povo. Contudo, posso deixar claro que sou conservadora, protetora de crianças e mulheres sobretudo, mas preocupada com a população em geral.
Atualmente, apenas o vereador Marlon Luz está eleito com a bandeira da representação dos motoristas de aplicativo. Nas últimas eleições, outros motoristas de app tentaram e não conseguiram. O que faz você acreditar que será diferente em 2024?
Em primeiro lugar, o mundo político mudou muito nos últimos anos e a consciência de cada um sobre a importância de ter um representante, alguém (como temos o Marlon em São Paulo) a cobrar, está maior e mais efetiva, tanto que já estou sendo cobrada. A necessidade muda o ser humano e acredito demais nisso, a água está batendo no pescoço e só vai melhorar quando pessoas interessadas na melhora estiverem ocupando espaços onde possam fazer algo de fato. A partir do momento que conseguirmos eleger mais motoristas como vereadores, nossa classe ganha força extra.
Quando influenciadores de uma determinada categoria decidem entrar para política, é comum haver críticas de que estariam se aproveitando da influência para fins próprios. Como você responderia a essas críticas?
Não sou influenciadora, tenho 2 mil seguidores apenas e acredito que o papel dos influenciadores tem nos ajudado a conseguir mais informações sobre o que realmente está acontecendo a nível de Brasil e estou aprendendo muito com eles. Nessas audiências públicas que participei, tive a oportunidade de conhecer muitos pessoalmente. Apoio o trabalho de relevância pública que eles exercem e agradeço por espalharem, ajudando muita gente a entender sobre regulamentação, cálculos, vantagens e desvantagens para os motoristas.
Como pretende usar um possível cargo de vereadora para modificar a regulamentação federal?
Só existe uma maneira de mudar essa regulamentação e ela não passa pela “boa vontade” dos deputados federais, é derrubando e começando tudo desde o início. A PLP 12 não traz nada de melhorias para a categoria, somente obrigações, e beneficia as maiores plataformas.
Defendo a PL 536 que essa sim dá possibilidade de ganhos reais através do markup, tarifa fixa de desconto e autonomia para o motorista escolher entre pagar seu INSS ou optar por ser MEI, isso sim é uma regulamentação justa onde o motorista continua tendo sua escolha. A participação na regulamentação fica mais “fácil” quando se é um vereador, pois o acesso e comunicação com os parlamentares se torna mais acessível e ganha-se o respeito.
Então, até hoje só tivemos voz para defender os motoristas, por termos determinação nos nossos objetivos. Estamos em constante pressão junto aos parlamentares, através de e-mails disparados a todos os envolvidos e usando influência para levar aos políticos a realidade do dia a dia de um motorista de app, que a maioria da população desconhece, inclusive os políticos.
Ser motorista vai muito além de dirigir. Precisamos de empatia, paciência, amor, cuidados, profissionalismo, administração de tempo e dinheiro. O que o governo não entende é que o motorista não quer ser CLT, quer continuar sendo autônomo com direitos e respeito.
