Rota 77: “Os motoristas faturam entre R$15 mil a R$20 mil por mês”

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Reportagem
Apuração aprofundada sobre um tema específico, com múltiplas fontes e contextualização completa.
A imagem mostra um carro preto com a marcação do aplicativo de mobilidade urbana "Rota 77" nas portas. Em letras grandes e chamativas, está escrito "#VAIDEROTA77" e abaixo "APLICATIVO DE MOBILIDADE URBANA". Também é possível ver as frases "#TEM SEMPRE UM ROTINHA" e "PERTINHO DE VOCÊ!" no veículo, indicando uma campanha promocional ou de identificação do serviço. O carro está estacionado em um local que parece ser um estacionamento ou área de entrada de um prédio comercial.
Foto: Reprodução/ Arquivo Pessoal

Aplicativo regional ganha espaço no Rio Grande do Sul e registra mais de 800 mil corridas por mês.

O aplicativo de transporte regional, Rota 77, foi criado em 2019 por Carlos Henrique de Araújo e mais dois sócios, cansados da falta de suporte e atenção do aplicativo regional em que rodavam e observando o novo mercado de mobilidade urbana.

Atualmente, o Rota 77 atua em cidades do Rio Grande do Sul e Santa Catarina: Alegrete, Bagé, Carazinho, Concórdia, Erechim, Frederico Westphalen, Ijuí, Rosário do Sul, Santiago, Santa Rosa, Santana do Livramento, São Luiz Gonzaga, Três de Maio e Uruguaiana.

Carlos Henrique conversou com o 55Content e detalhou um pouco da história do aplicativo: “Começamos distribuindo panfletos de porta em porta, fizemos parcerias com conhecidos na cidade que já morávamos há algum tempo. Naquela época, eu também era DJ. Nas casas noturnas onde tocava, levava o Rota, distribuía copos, adereços e brindes para as pessoas que frequentavam as boates, falando sobre o nosso aplicativo”.

Com 3770 motoristas cadastrados na plataforma, o gestor conta que a empresa conta com parceiros que fazem até 1.200 corridas por mês: “Teve um que bateu o recorde com 1.330 corridas em um mês”. Veja a entrevista completa com Carlos Henrique:

Como surgiu a ideia de criar o aplicativo?

Um carro de som passou divulgando um aplicativo de um concorrente meu na época, também local. Eu era metalúrgico durante o dia e, à noite, fazia corridas. Só que o aplicativo não tocava, era novidade na época, por volta de 2017 para 2018. E eu não sabia da revolução que estava acontecendo na área de mobilidade urbana. Também sou formado em ciência da computação, mais uma área que tentei explorar, mas não consegui avançar.

Queria entender mais sobre a tecnologia, como funcionava o código-fonte da Machine. Fiz um curso simples, na verdade, a Machine fazia uma live mostrando como funcionava a plataforma em si. Eu me interessei muito naquela época. Eu e o Oséias Santana trabalhávamos juntos, e na época tínhamos outro sócio, que acabou desistindo mais tarde.

Nós trabalhávamos para outro aplicativo, que estava começando a se popularizar na nossa região. As pessoas não tinham muita habilidade para chamar carro por aplicativo, era tudo muito novo. As opções na minha região eram basicamente táxis. Mas o aplicativo em que trabalhávamos estava crescendo muito, e começamos a ficar descontentes com o suporte.

Foi aí que decidi tomar a iniciativa e ir atrás da Machine. Eles fizeram uma live, e nosso principal desafio no começo foi angariar fundos. Lembro que parcelamos tudo no cartão, e eu tive que vender meu computador, que valia cerca de 7 mil reais. Era um bom computador que eu usava para edição de jornalismo, pois eu trabalhava no SBT. Tivemos que nos desfazer de algumas coisas para pagar nossa parte.

Nós éramos três sócios e surgiu a necessidade de criar um aplicativo devido à falta de suporte no aplicativo em que trabalhávamos. Assim nasceu o Rota, em Nova Mutum, Mato Grosso. Começamos distribuindo panfletos de porta em porta, fizemos parcerias com conhecidos na cidade, pois já morávamos lá há algum tempo. Naquela época, eu também era DJ. Nas casas noturnas onde tocava, levava o Rota, distribuía copos, adereços e brindes para as pessoas que frequentavam as boates, falando sobre o nosso aplicativo.

Foi assim que o Rota nasceu em Nova Mutum, Mato Grosso.

Qual foi a maior “dor” que enxergava na sua região e que desejava auxiliar com um novo app?

Muitos motoristas relatavam que não havia suporte adequado; o suporte disponível era de outro estado, e eles faziam reuniões mensais ou até trimestrais. Nós reclamávamos que não éramos atendidos adequadamente. Por isso, nós decidimos buscar criar nosso próprio aplicativo.

Acabamos enfrentando um certo boicote da concorrência, que chegou a nos desligar, deixando-nos sem dinheiro e sem meios de movimentar o aplicativo. Nossa maior dor, naquela época, em 2019, era a falta de suporte necessário aos motoristas, porque tudo era muito novo. A gente não sabia como funcionavam as tabelas de quilometragem, de minuto, ou como eram feitas as cobranças dos valores.

Além disso, a cidade em si também era nova para esse tipo de serviço, então era difícil conquistar passageiros. Tudo era complexo, e até hoje ainda é um pouco complexo fazer com que as pessoas baixem um novo aplicativo. Naquela época, os telefones tinham pouca memória, então conquistar um cliente para baixar um aplicativo era um desafio. As pessoas pensavam mil vezes antes de baixar um aplicativo que poderia ocupar muito espaço no telefone, especialmente porque aplicativos como o WhatsApp já consumiam muita memória.

Portanto, a dor que enxergávamos naquela época era a falta de suporte necessário para os motoristas, o que dificultava o uso dessa ferramenta muito nova e a conquista do cliente final, que era o passageiro.

Quais foram os principais desafios enfrentados no lançamento do aplicativo?

Os desafios do lançamento do aplicativo foram principalmente relacionados às nossas verbas. Eu tinha recém fechado uma metalúrgica e já estava enfrentando dificuldades financeiras. Nós não tínhamos fundos para fazer o aplicativo acontecer, porque, hoje em dia, para lançar um aplicativo em uma cidade, é necessário dispor de muitos recursos financeiros para alcançar os meios de comunicação, sejam mídias sociais, rádio, panfletagem ou mídia impressa.

Nós não tínhamos esses fundos, então tínhamos que trabalhar duro e fazer tudo acontecer por conta própria. Precisávamos atender as corridas, e, no início, não tínhamos nem motoristas que acreditassem em nós. O desafio era conquistar os motoristas dos concorrentes, que também estavam começando na cidade.

Conseguimos atrair uma certa clientela com nossas campanhas de panfletagem. Eu lembro que saíamos às ruas durante o dia, distribuindo panfletos, e também atendendo corridas. Um de nós ficava panfletando enquanto o outro fazia as corridas. Foi um início bem difícil para nós, principalmente pela falta de recursos financeiros para investir em mídia e divulgação.

Conquistar clientes naquela época era muito difícil. As pessoas pensavam mil vezes antes de baixar um aplicativo. Assim, conseguimos atingir uma parcela de clientes, que marcou o início de nossas atividades. Lembro que foi no dia 28 de setembro de 2019 que finalmente conseguimos registrar nosso CNPJ. Naquela época, tudo era caro, e ainda é, mas conseguimos nos firmar no final de 2019.

O principal desafio que enfrentamos depois foi a pandemia. Isso me levou a decidir me mudar para o Rio Grande do Sul, onde meus pais moram, e tentar conquistar o público gaúcho com o nosso atendimento. Eu já tinha algum conhecimento de um grande aplicativo que estava instalado no estado e que era falho no quesito principal: o suporte ao motorista.

Teve algo que imaginou que seria um sucesso e que não supriu as expectativas?

Essa pergunta eu vou ficar te devendo, porque, na verdade, tudo o que foi criado superou as expectativas. Até hoje, sou grato, claro, a Deus, porque tudo o que eu não esperava aconteceu. O aplicativo em si é um sucesso; já atingimos quase um milhão de clientes, e isso, para mim, é um grande sucesso, que eu devo a Deus e, é claro, aos meus objetivos.

Sou muito grato também aos meus sócios gestores, que acreditaram na minha proposta de atuar no Rio Grande do Sul e levar a gestão local para lá, assim como em todas as outras cidades onde hoje oferecemos atendimento.

Qual foi o faturamento inicial do aplicativo no seu primeiro ano de operação? E como foi a sua evolução durante o passar dos anos?

No entanto, pela minha parte nas cidades que eu gerencio hoje, que estão no Rio Grande do Sul, posso te dar uma estimativa: tudo o que foi arrecadado no primeiro ano foi reinvestido.

Foram mais de R$300 mil investidos nas cidades onde opero, seja em marketing, televisão, mídia impressa, rádio, entre outros. Então, não tenho como precisar um faturamento inicial exato do aplicativo, mas sei que “quem não é visto não é lembrado”. Por isso, todo o lucro foi reinvestido. Claro, não foi tudo, já que precisamos de alguma coisa para sobreviver, mas foram mais de 300 mil reais investidos em todas as cidades.

Essa é a noção que podemos ter do que foi investido. Não tenho um valor específico de faturamento para te informar, mas o investimento foi bastante significativo em todas as cidades onde opero.

Qual é a média de ganhos dos motoristas?

Nos meses do início do ano, claro, o faturamento caiu, ficando em torno de 14 a 15 mil reais, mas no final do ano chega a 20 mil reais. Temos motoristas que fazem até 1.200 corridas por mês. Teve um que bateu o recorde com 1.330 corridas em um mês.

Além disso, temos pessoas de outros países, como venezuelanos, que vêm trabalhar nas cidades do Rio Grande do Sul em busca de uma vida melhor, fugindo de situações de extrema pobreza. Eles trabalham bastante, chegando a rodar muitas horas, e conseguem alcançar números impressionantes de corridas.

Não são apenas estrangeiros, mas também pessoas locais que têm alcançado bons resultados. Por exemplo, tenho motoristas que, em quatro meses, conseguiram comprar um carro. Eles começam com um carro alugado e, com o tempo, juntam dinheiro suficiente para comprar um carro próprio, geralmente semi-novo.

Hoje em dia, o faturamento varia de R$15 a R$20 mil reais. Nos meses de recessão escolar, o faturamento pode cair para R$17 ou R$18 mil reais. No entanto, nossos melhores motoristas, os top 10, conseguem faturar até 20 mil reais.

Qual o número de corridas por mês?

Nós tivemos um recorde no início do ano, quando atingimos 960 mil corridas por mês. Nos meses que mencionei, em que há uma recessão escolar e outros fatores, estamos realizando cerca de 890 mil corridas por mês, considerando tanto a matriz quanto as filiais.

Eu acredito que, até o final do ano, alcançaremos 1 milhão e 300 mil corridas por mês, que é uma projeção que fiz junto com os meus gestores. Esses são números consolidados que espero atingir até o final do ano.

Quais foram as estratégias utilizadas para alcançar o crescimento do aplicativo? E em quais regiões o aplicativo teve maior aceitação e crescimento?

Olha, a minha maior estratégia para alcançar o crescimento hoje é fazer com que cada gestor em sua cidade se sinta o dono do aplicativo. Para fazer acontecer e manter a ferramenta funcionando, é essencial dar total liberdade aos gestores, com a gente no background, oferecendo todo o suporte necessário.

Hoje, temos grandes profissionais na área de RH, porque estamos lidando com muitas pessoas. A maior estratégia que implementei foi permitir que cada gestor local em cada cidade se sinta o dono do aplicativo. Ele vai dar entrevistas como se fosse o proprietário, sente orgulho de vestir a camiseta como sócio, gestor e administrador.

No Rio Grande do Sul, onde atuamos, os gestores, juntamente com os motoristas parceiros, têm orgulho de carregar a marca Rota 77, pois se veem como donos do aplicativo. Eu, Carlos Henrique, junto com José Santana, gerimos a ferramenta em si, apoiados pela tecnologia da Machine.

Minha ideia foi fazer com que cada micro região tivesse um gestor que se sentisse dono do Rota 77. Essa é a estratégia adotada para que cada sócio gestor tenha orgulho de levar o aplicativo para dentro de cada micro região e cidade.

Olha, como os aplicativos se adaptam às necessidades específicas de diferentes regiões? Vou citar como exemplo uma região fronteiriça com a Argentina e o Uruguai. Nessa área, a situação financeira é muito precária, então precisamos adaptar os preços de acordo com a realidade local. A precificação hoje é muito detalhada em cada região. Por exemplo, na Serra Gaúcha e na região noroeste, que são mais ricas, a situação é diferente. Já na região fronteiriça, onde as condições são mais precárias, temos que ser mais flexíveis.

Para entender como nos adaptar, eu, Carlos Henrique, vou até a região, me instalo por 3 a 6 meses, vivo a realidade local, faço corridas e analiso como funciona a precificação. Não fico apenas atrás de um computador determinando preços; vou até a cidade e observo a necessidade real dela, para definir um preço condizente.

O objetivo é garantir que o motorista consiga bons ganhos e que o passageiro se sinta motivado a escolher um carro de aplicativo em vez do transporte urbano tradicional, como ônibus.

Como o aplicativo tem impactado a economia local e a geração de empregos?

O impacto que quase 5 mil motoristas têm hoje ao utilizarem a plataforma Rota 77 é significativo. Eles são influentes na compra de imóveis e, especialmente, de carros. Gerir uma renda e fazer o dinheiro circular localmente é muito importante para o Rota 77. Isso tem um impacto grande no mercado de compra e venda de carros novos e seminovos.

Esse impacto também se reflete na geração de empregos. É motivo de orgulho para nós ouvir motoristas dizerem: “Obrigado, comprei meu primeiro carro graças ao Rota 77” ou “Troquei de carro graças ao Rota 77”. Isso cria uma economia local robusta, com o dinheiro circulando dentro da cidade em vez de sair dela. Por exemplo, motoristas não precisam ir até a capital para comprar um carro; eles compram na própria cidade onde atuam.

Além disso, dentro da plataforma Rota 77, surgiram outros empreendedores. Alguns motoristas, graças aos altos ganhos que conseguiram, compraram carros para alugar para outros motoristas. Há motoristas que possuem 3, 4 ou até 5 carros, que alugam dentro do Rota. Eles dirigem no aplicativo, compram carros e os alugam para outros motoristas, gerando mais empregos e um impacto ainda maior na economia local.

Isso é um grande motivo de orgulho para o Rota 77, pois ajudamos a fomentar não apenas o transporte, mas também o espírito empreendedor e a economia local.

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