A equipe do 55content rodou simulações em cinco grandes capitais brasileiras para saber quanto custa uma corrida de 100 km.
Os dados foram coletados entre 16h e 17h do dia 22 de maio de 2025, horário de pico com alta demanda nas plataformas.
Comparamos valores no Uber (nas categorias X, Comfort e Black), 99 (nas versões Pop e Plus).
Os preços das corridas de 100 km nas principais cidades
São Paulo
- UberX: R$ 219,97
- Uber Comfort: R$ 294,52
- Uber Black: R$ 434,82
- 99Pop: R$ 190,00
- 99Plus: R$ 272,60
Corrida comum: São Paulo (zona sul) até Campinas.
Rio de Janeiro
- UberX: R$ 245,95
- Uber Comfort: R$ 287,98
- Uber Black: R$ 344,31
- 99Pop: R$ 264,00
- 99Plus: não disponível no momento da simulação
Corrida comum: Zona Sul do Rio até Volta Redonda.
Belo Horizonte
- UberX: R$ 246,98
- Uber Comfort: R$ 343,90
- Uber Black: R$ 404,81
- 99Pop: R$ 199,10
- 99Plus: R$ 230,90
Corrida comum: Centro até Divinópolis.
Brasília
- UberX: R$ 173,96
- Uber Comfort: R$ 203,80
- Uber Black: não disponível
- 99Pop: R$ 202,40
- 99Plus: R$ 277,00
Corrida comum: Plano Piloto até Alexânia.
Salvador
- UberX: R$ 241,95
- Uber Comfort: R$ 306,87
- Uber Black: não disponível
- 99Pop: R$ 196,90
- 99Plus: não disponível
Corrida comum: Salvador até Feira de Santana.
Fortaleza
- UberX: R$ 170,90
- Uber Comfort: R$ 216,46
- 99Pop: R$ 181,90
- 99Plus: R$ 254,10
Corrida comum: Fortaleza até Ocara
“Corrida longa só vale a pena se pagar a ida e a volta”: o que pensa Eduardo, motorista de BH

Motorista de aplicativo desde 2020 e atuando exclusivamente na Uber desde setembro de 2023, Eduardo Martins, de Belo Horizonte, é categórico sobre corridas de 100 km: “Eu não faço. Nem aeroporto já está compensando mais”.
“Aqui em BH, a corrida mais longa que costumo fazer é até o Aeroporto de Confins, que dá de 36 a 40 km. Mas mesmo essas não têm mais retorno. A Uber paga R$ 48 numa corrida dessas. Se pagar muito bem, chega a R$ 60 ou R$ 80, o que é raro. Não compensa.”
Segundo ele, nas vezes em que aparecem corridas de 100 km, o valor médio é de R$ 140 a R$ 200, ou cerca de R$ 1,50 por km. “Só que eu vou lucrar indo, e perder voltando. Não dá. Pra tentar alguma chance de volta, só pelo BlaBlaCar. Ou então, voltar vazio.”
Corrida boa não é longa nem curta: é rentável
Na visão de Eduardo, corrida ideal é aquela que paga bem por km rodado e pelo tempo de execução.
“Se eu levar 40 minutos numa corrida de 5 km, não vale a pena. Já fiz R$ 400 em 12 corridas. Tem gente que faz R$ 400 em 40. Quem trabalhou melhor?”
Ele evita corridas abaixo de R$ 10 e diz que, para valer a pena, uma corrida precisa pagar pelo menos R$ 1,80 o km rodado. “Abaixo disso é pagar pra trabalhar”.
Cristiano Franco: “Corrida longa tem que ter propósito ou vira prejuízo”

Motorista de aplicativo em Porto Alegre, Cristiano Franco tem experiência de sobra com corridas longas — incluindo trajetos diários entre a capital gaúcha e cidades turísticas como Gramado, a mais de 120 km de distância. Mas, hoje, ele é criterioso: só aceita esse tipo de viagem quando há uma lógica por trás.
“Corridas longas precisam de um propósito, pois geralmente pagam menos por quilômetro do que as curtas dentro da cidade. Quando o movimento está fraco, pode ser uma boa — mas só se houver chance de retorno.”
Economia na estrada x risco de voltar vazio
Cristiano explica que carros a combustão rendem mais em rodovias do que no trânsito urbano. Isso ajuda a compensar o ganho menor por km. No entanto, o principal desafio é garantir que o motorista não volte de mãos vazias.
“Se você não tiver retorno, tem que arcar com todos os custos: combustível, pedágio, desgaste. Tem colega que vai até rodoviária para tentar achar passageiro de volta.”
Para ele, a análise do momento e do destino é essencial: horários, condições de tráfego e movimentação no local de chegada precisam ser considerados.
Alerta físico e mental: o perigo silencioso da estrada
Corridas longas também exigem atenção extra com a segurança física do motorista. Cristiano alerta para o risco da sonolência na estrada:
“Na cidade, você está sempre atento com semáforo, carro entrando. Na estrada, o percurso é contínuo. O corpo relaxa, o reflexo diminui.”
Entre as estratégias que recomenda, estão manter comunicação com o passageiro, beber água durante a viagem e, se necessário, fazer pausas para abastecer com o conhecimento e consentimento do cliente.
“Sempre reforço: tanque cheio e manutenção em dia. E se não estiver, avise o passageiro. Segurança vem primeiro.”
Fim do bônus de quilometragem: “Antes pagavam pelo retorno”
Cristiano relembra um tempo — que para muitos motoristas já parece distante — em que os apps ofereciam um adicional para corridas acima de 40 km.
“Era só R$ 0,20 por km extra, mas fazia diferença. Dava segurança para voltar. Hoje, com R$ 1,10 por km, a conta não fecha.”
Segundo ele, as plataformas deixaram de incentivar corridas longas porque o lucro das empresas é maior em viagens curtas e frequentes.
“A margem nas curtas é maior. E a gente fica sem saber se vai ter bônus ou não. É tudo instável.”
Corridas longas destroem o carro: “Fazia 10 mil km em menos de um mês”
No início da sua trajetória, Cristiano fez por semanas a rota Porto Alegre–Gramado. O dinheiro parecia bom, mas o desgaste foi brutal.
“O dinheiro entra rápido, mas também sai. Fiz troca de óleo de 10 mil km em menos de um mês. Não compensava. A manutenção explodiu.”
Hoje, ele evita esse tipo de ritmo. Recusa a maioria das corridas longas, exceto em condições muito favoráveis.
O que o desmotiva?
Cristiano lista os fatores que o levam a dizer “não” a viagens longas na maioria dos dias:
- Baixa remuneração por km
- Falta de perspectiva de retorno
- Longo tempo com um único passageiro
- Desgaste físico e emocional
- Falta de movimento na cidade de destino
- Desigualdade entre esforço e lucro
“Tem motorista que aceita corrida longa só pra bater meta, quitar boleto… e acaba dormindo no carro. Essa é uma realidade. E as empresas sabem”, finaliza o motorista.
Junior Correia: “Corridas longas não são nem opção. Meu método elimina esse risco”

Motorista profissional, Junior Correia — conhecido nas redes como Juninho Driver — atua com base em uma lógica clara: otimização total da rotina de trabalho, com foco em ganho por quilômetro, baixo desgaste do carro e previsibilidade total.
“Na prática, eu nem chego a recusar corrida longa. Meus filtros estratégicos bloqueiam esse tipo de chamada antes mesmo de aparecer. Opero com planejamento, não com sorte.”
Segundo Júnior, a operação diária é baseada em um perímetro inteligente, definido por zonas de alta produtividade. Ele usa as ferramentas oferecidas pelos próprios aplicativos — como limite de regiões, direcionamento de destino e manuseio tático das categorias (UberX, Comfort etc.) — para permanecer sempre em regiões com demanda, evitando desvios que prejudiquem sua eficiência.
Rendimento por km: acima de R$ 2,40 e sem correria
Enquanto muitos motoristas relatam ganhos baixos em corridas longas (na média de R$ 1,10 a R$ 1,50 por km), Junior mantém uma média de R$ 2,40 por km rodado — e com menor desgaste do veículo:
“Minha troca de óleo chega a durar até 60 dias. Com as corridas certas, dentro de regiões quentes, eu ganho mais do que qualquer corrida longa pode me oferecer.”
Mais do que uma questão de valor imediato, ele reforça que sua estratégia proporciona segurança, constância e zero improviso. Nada é por acaso.
A armadilha silenciosa das corridas longas
Junior acredita que os aplicativos “preparam o cenário” para empurrar corridas longas ao motorista que está há muito tempo parado. Para ele, é um jogo de manipulação de percepção e algoritmo:
“Quando o motorista recusa várias chamadas e fica 1h ou 2h sem corrida, o sistema envia uma corrida longa. A plataforma se livra de um passageiro, paga pouco ao motorista e ainda dá a falsa sensação de ganho.”
Segundo ele, essa sensação engana muitos motoristas: a corrida parece boa no valor total, mas, na prática, antecipa manutenções, exige rodagem excessiva e gera fadiga.
“O cara troca óleo a cada 30 dias, vive antecipando revisão e acha que está ganhando. No fim, é prejuízo com cara de oportunidade.”
O “pulo do gato”, segundo Júnior, está na gestão do próprio trabalho como um microempreendimento de dados:
“Eu construo meus ganhos dia após dia, com foco, disciplina e análise. Nada é por sorte, impulso ou improviso. E o principal: não deixo meu lucro nas mãos de uma única corrida.”
Para ele, o verdadeiro risco não está em recusar uma corrida longa — mas em aceitar uma que desorganize sua estratégia, desvie do planejamento e gere custos ocultos.
Sérgio Britto, CEO da Te Levo: “Corridas longas são boas para todos: passageiro, motorista e plataforma”

Enquanto motoristas independentes relatam desafios operacionais e financeiros nas corridas longas, Sérgio Britto, CEO da Te Levo, defende que esse tipo de corrida pode ser benéfico para todas as partes envolvidas, desde que bem estruturado e tarifado de forma justa.
Como a Te Levo calcula o valor de corridas longas?
Segundo Sérgio, a plataforma diferencia viagens dentro da área urbana das que são “fora da área urbana” — e cobra um valor fixo por quilômetro para essas corridas maiores:
“Aqui na Te Levo, as corridas longas custam R$ 3,50 por km rodado. Se a corrida tem 100 km, ela sai por R$ 350,00. É simples e direto.”
A precificação transparente evita distorções e garante previsibilidade tanto para passageiro quanto para o motorista.
Uma relação ganha-ganha-ganha
Para Sérgio, o modelo aplicado na Te Levo transforma as corridas longas em um cenário vantajoso para todos os três envolvidos:
- Passageiro: consegue um preço mais acessível do que em táxis ou serviços executivos.
- Motorista: fatura um valor elevado rapidamente, com menor tempo online.
- Plataforma: obtém uma comissão proporcionalmente mais interessante.
“Todo mundo sai satisfeito. O passageiro paga menos, o motorista ganha mais rápido, e a gente como empresa também ganha com uma comissão justa.”
Alta aceitação entre os motoristas
Ao contrário do cenário relatado por motoristas da Uber e 99, a Te Levo afirma ter ótima aceitação nas viagens longas:
“Nossos motoristas gostam muito. Quando aparece uma corrida acima de 100 km, é fácil encontrar quem aceite. Eles enxergam como uma chance de bater a meta do dia rapidamente.”
Segundo Sérgio, não há resistência interna às viagens mais extensas, justamente porque a remuneração por km é valorizada e não diluída como nos modelos de outras plataformas.
Estratégia clara: pagar bem por km rodado
Para incentivar esse tipo de viagem, a Te Levo aposta em valorização explícita do km:
“A melhor estratégia é fazer com que o motorista ganhe mais no km rodado. Quando ele olha a corrida e vê que vai faturar mais rápido, ele topa.”