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“Taxa da Uber chega a 40% e a tarifa mínima é R$ 5,76; solução é a criação de apps regionais”, diz motorista de Mossoró 

Vista panorâmica de Mossoró, Rio Grande do Norte, destacando construções históricas, ruas arborizadas e a Igreja Matriz de Santa Luzia ao centro, com a cidade ao fundo.
Mossoró, Rio Grande do Norte Foto: Reprodução/ Wikimedia Commons/Marcos Elias de Oliveira Júnior

Tacio, motorista de app da cidade de Mossoró costuma faturar entre R$150 a R$250 por dia e diz que a solução para a categoria é a criação de apps regionais: “valorizam os motoristas, oferecem taxas justas e atendem às necessidades locais”

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A busca por alternativas justas: a perspectiva de um motorista de Mossoró sobre o mercado de transporte por aplicativo

Com o crescimento dos aplicativos de transporte, a relação entre motoristas e plataformas tem se tornado tema de discussões. Em Mossoró, no Rio Grande do Norte, Tacio Duarte de Menezes, de 43 anos, traz uma visão crítica e inovadora sobre o setor. Motorista desde 2017, Tacio foi pioneiro na cidade e acumulou experiências que vão desde a participação em debates sobre regulamentação até a criação de uma plataforma regional, a XOFER Mobilidade Urbana, cujas atividades foram encerradas em 2022.

Ele compartilha, nesta entrevista, suas impressões sobre o mercado, destacando as dificuldades enfrentadas pela categoria, como altas taxas de comissão, e apresentando soluções para valorizar os motoristas, como a criação de aplicativos regionais. Além disso, Tacio reflete sobre o impacto econômico das tarifas mínimas e a necessidade de união entre os profissionais para conquistar melhores condições de trabalho.

Confira a seguir o depoimento de quem vive o dia a dia da mobilidade urbana em Mossoró e entende as demandas e expectativas da categoria:

1. Poderia se apresentar e nos contar há quanto tempo você trabalha como motorista de aplicativo?

Sou Tacio Duarte de Menezes, tenho 43 anos e sou natural de Mossoró. Comecei a trabalhar como motorista de aplicativo em 2017, logo quando a Uber chegou à minha cidade. Fui um dos primeiros motoristas a me cadastrar na plataforma e rodar por aqui, mesmo em um momento em que havia um projeto de lei que regulamentava o serviço de forma semelhante ao táxi, exigindo placa vermelha. Fui escolhido como o melhor motorista da cidade e, por conta disso, fui convidado pela Uber a participar de reuniões em Brasília, junto com outros motoristas de todo o Brasil, para conversar com deputados e senadores sobre a regulamentação.

Já em 2018, com outros dois sócios, criamos a nossa própria plataforma, a XOFER Mobilidade Urbana. Nosso objetivo era oferecer tarifas mais justas para os motoristas, cobrando apenas R$ 1,00 por corrida. Conseguimos cadastrar mais de 1.200 motoristas e 60 mil passageiros em Mossoró, mas encerramos nossas operações em 2022.

2. O que o motivou a começar a trabalhar como motorista de aplicativo?

Na época, a possibilidade de melhores ganhos e a autonomia nos horários foram fatores decisivos para eu entrar nesse mercado.

3. Quais são os melhores lugares para pegar corridas em Mossoró? E os piores? Por quê?

Os melhores lugares são o Partage Shopping e grandes eventos, como o Pingo da Mei Dia, que ocorre durante o Mossoró Cidade Junina. Esse evento reúne mais de 100 mil pessoas em um único dia, o que aumenta muito a demanda por corridas. Já os piores lugares são áreas com tarifas mínimas ou em dias de feira de supermercado, onde as corridas geralmente não compensam.

4. Quais aplicativos são mais utilizados na cidade? E qual é o preferido dos motoristas?

Os aplicativos mais usados por aqui são Uber, 99 e Máxim. Entre eles, não há um consenso claro de preferência, mas muitos motoristas reclamam das altas taxas da Uber.

5. Qual é a principal reclamação dos motoristas?

Sem dúvida, os valores baixos pagos aos motoristas e as taxas abusivas, que chegam a até 40% no caso da Uber.

6. Quanto ganha, em média, um motorista em Mossoró?

A média de faturamento diário varia entre R$ 150 e R$ 250.

7. Que tipo de corrida os motoristas mais gostam e quais eles odeiam?

Os motoristas detestam as corridas de tarifa mínima, que começam em R$ 5,76, e aquelas em que os passageiros estão com muitas compras de supermercado. Por outro lado, gostam de corridas longas ou eventos com alta demanda, pois costumam ser mais lucrativas.

8. Em geral, como é a relação com os passageiros na cidade?

A relação costuma ser amistosa, mas exige muita cautela, já que alguns passageiros abusam do serviço, especialmente quando estão em situações de vulnerabilidade, como sob efeito de álcool.

9. Já trabalhou como motorista em outras cidades? Qual foi a maior diferença que sentiu?

Sim, já trabalhei em capitais. A principal diferença é que os valores das corridas geralmente são melhores e a mobilidade nas capitais facilita os deslocamentos, mesmo em horários de pico.

10. Quais são as suas expectativas futuras para a categoria dos motoristas de aplicativo?

Infelizmente, não vejo um futuro promissor para a categoria. A falta de união entre os motoristas é um problema grave. Muitos pensam apenas em si e não se mobilizam para buscar benefícios ou melhorias coletivas.

11. Como você acha que a situação dos motoristas de aplicativo pode ser melhorada?

Uma alternativa seria a criação de aplicativos regionais, desenvolvidos e geridos nas próprias cidades. Esses aplicativos poderiam valorizar os motoristas, oferecer tarifas justas e atender às necessidades locais. Hoje, vemos o custo de vida aumentar a cada ano – com manutenção, combustível e alimentação –, enquanto as tarifas das grandes multinacionais permanecem as mesmas.

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Giulia Lang

Giulia Lang é líder de conteúdo do 55content e graduada em jornalismo pela Fundação Cásper Líbero.

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