A realidade dos motoristas de aplicativo nas grandes cidades brasileiras evidencia um problema estrutural que persiste há anos: a ausência de infraestrutura adequada para embarque e desembarque de passageiros. O cenário é ainda mais caótico em regiões de grande movimentação, como o centro de São Paulo, onde a proibição de parar e estacionar contrasta com a alta demanda de usuários que solicitam corridas nessas áreas.
Ao percorrer trechos como a Rua Cantareira, Senador Queiroz e a movimentada 25 de Março, fica evidente a contradição entre a regulamentação viária e a necessidade prática dos trabalhadores. A sinalização proíbe qualquer parada, mas o volume de solicitações de transporte nessas localidades é massivo. A pergunta que fica é: onde os motoristas devem parar para atender seus passageiros sem infringir a lei?
Na prática, motoristas se veem obrigados a improvisar, seja encostando rapidamente em locais proibidos ou circulando incessantemente até que um espaço minimamente viável apareça. No entanto, essa “solução” os expõe a multas, como as aplicadas pela Companhia de Engenharia de Tráfego (CET), e até mesmo a situações de risco ao trânsito e aos próprios passageiros, que muitas vezes precisam embarcar e desembarcar apressadamente no meio da via.
O problema não está apenas na aplicação das multas – afinal, regras de trânsito existem para organizar a circulação e garantir a segurança. A questão central é a ausência de alternativas. Se há um fluxo contínuo de pessoas utilizando aplicativos para se deslocar nessas regiões, por que não há espaços designados exclusivamente para embarque e desembarque? Algumas áreas contam com vagas de táxi, mas os motoristas de aplicativo seguem sem uma infraestrutura própria.
A contradição se aprofunda quando observamos que há espaços disponíveis que poderiam ser adaptados para esse fim. Muitas vias possuem áreas onde carros podem estacionar gratuitamente, enquanto em outras há cobrança de zona azul. Uma redistribuição inteligente desses espaços poderia criar bolsões específicos para os motoristas de aplicativo, garantindo fluidez ao trânsito e mais segurança para motoristas e passageiros.
O crescimento do transporte por aplicativo é inegável e segue como uma solução de mobilidade para milhões de pessoas. Ignorar essa realidade e penalizar motoristas que apenas tentam exercer seu trabalho sem condições mínimas adequadas é, no mínimo, falta de interesse das autoridades em encontrar soluções viáveis.
Se o objetivo da legislação é organizar o trânsito, a resposta não pode ser apenas punição. É preciso criar alternativas que equilibrem as necessidades dos motoristas, passageiros e do tráfego urbano. Sem isso, a situação caótica em regiões como o centro de São Paulo continuará prejudicando aqueles que dependem do transporte por aplicativo para viver.
A questão é: ão há espaço adequado para embarque e desembarque de passageiros. Isso resulta em um problema constante de multas, congestionamentos e dificuldades operacionais que poderiam ser resolvidas com uma solução simples e lógica: a criação de áreas específicas para esse serviço.
A questão que se coloca é: por que não existe uma estrutura organizada para esse fluxo de veículos, dado que o local é altamente frequentado por turistas e consumidores? As calçadas largas e o espaço disponível nessas regiões permitiriam a implementação dessas áreas sem grandes intervenções estruturais. O que falta, então? Vontade e interesse das autoridades competentes.
Os agentes da Companhia de Engenharia de Tráfego (CET) estão presentes na região aplicando multas. A fiscalização em si não é o problema, mas sim a incoerência na aplicação das regras. Motoristas que param apenas para desembarcar passageiros são penalizados como se estivessem estacionando irregularmente, mesmo quando o trânsito parado os impede de seguir imediatamente. A lógica por trás disso é questionável. Se não há onde parar, como realizar o serviço sem infringir a legislação?
Outro ponto crítico é a cultura de passageiros que fazem os motoristas esperarem. No modelo ideal, o embarque deveria ser rápido e eficiente, semelhante ao funcionamento de um ônibus: o veículo para, o passageiro entra e segue viagem. No entanto, a falta de uma estrutura adequada aliada à atitude de alguns passageiros gera multas e transtornos desnecessários.
O Mercado Municipal é um exemplo claro de um espaço onde a situação poderia ser facilmente resolvida. A rua ao redor é ampla, permitindo a criação de vagas de embarque e desembarque, tanto para táxis quanto para motoristas de aplicativo. Ainda assim, a realidade é que muitos precisam parar em fila dupla ou enfrentar a falta de bom senso da fiscalização.
Além disso, a existência de flanelinhas no local mostra que as vagas não são realmente “gratuitas”. Na prática, motoristas são forçados a pagar para estacionar de qualquer forma. Se a intenção é manter a ordem e a fluidez do trânsito, não faz sentido manter essas vagas livres para estacionamento quando poderiam ser destinadas à parada rápida de embarque e desembarque.
A solução é simples: basta a instalação de placas e sinalização adequada, delimitando esses espaços. Não é necessária nenhuma grande obra ou investimento vultoso, apenas a decisão de tornar o centro mais funcional para aqueles que garantem o transporte da população diariamente.
A pergunta que fica é: por que isso ainda não foi feito? Qual o real motivo por trás da falta de ação? Quem trabalha todos os dias no centro sabe que a resposta está ali, visível para quem quiser enxergar. Até quando motoristas e passageiros precisarão lidar com essa falta de estrutura básica?