Para ganhar R$ 2 mil por semana o motorista tem que trabalhar o dobro do que trabalhava em 2016

Marcelo Ribeiro alerta que trabalhar com aplicativos é uma armadilha, com estratégias que prendem motoristas por meio de dinheiro rápido, gamificação e facilidade de acesso.

Homem de óculos escuros dirigindo um carro, vestindo uma camiseta cinza e com a mão direita no volante.
Foto: Marcelo Ribeiro para 55content

A armadilha que é trabalhar em aplicativos. E por que é uma armadilha? Você vai entender. Uma verdadeira armadilha que pode prender você em uma ratoeira, deixando-o preso, literalmente como um ratinho ali.

Pois é, pessoal. Meu nome é Marcelo Ribeiro, sou motorista de aplicativo aqui na cidade de Porto Alegre.

Trabalho com aplicativos há praticamente nove anos, embora hoje em dia bem menos, porque, graças a Deus, consegui sair dessa armadilha, me libertar dela. E vou dizer para você: a maioria dos motoristas não consegue se libertar dessa armadilha.

E veja só quais são as iscas, as estratégias, e como os aplicativos fazem para prender a gente nesse mundo de motoristas de aplicativo. Agora, a armadilha número um: qual é?

Dinheiro rápido, dinheiro na hora.

Você sai para trabalhar agora, e se for aprovado em um aplicativo na sua cidade, como Uber ou 99, o dinheiro entra na hora, logo após você completar uma corrida. Você já pode sacar o dinheiro, fazer um Pix para sua conta. Se tiver uma conta vinculada ao Uber ou 99, o dinheiro cai na hora.

Aí você pode dizer: “Ah, Marcelo, isso é justo, não sei o quê.” Claro que é justo, mas o fato de você sair, trabalhar e receber o dinheiro imediatamente é diferente de qualquer serviço com carteira assinada (CLT).

No regime CLT, por exemplo, você trabalha o mês inteiro e só recebe no fim do mês. Ou, no máximo, recebe um adiantamento. Aqui, não. Você trabalhou, você recebe na hora.Por que isso é uma armadilha? Pela facilidade: trabalhou, ganhou.

A segunda armadilha, que muitos motoristas nem percebem, é o sistema de gamificação.

Ou seja, os aplicativos criam vários mecanismos para manter o motorista preso. Você pega uma corrida atrás da outra: faça 10, 15, até 80 corridas no caso da Uber, para ganhar um determinado valor extra.

Quando comecei, eles investiam muito nos motoristas. Era até engraçado, porque, ao fazer uma quantidade específica de corridas, em uma semana, você podia ganhar R$ 2.000 ou R$ 2.500. Na época, isso era muito bom! Imagine que lá em 2015 ou 2016, era bastante dinheiro. Hoje, para ganhar esses mesmos R$ 2.000, o motorista precisa trabalhar o dobro.

A terceira armadilha é justamente essa estratégia de atrair motoristas novatos.

Como assim, Marcelo?

Sim, quem está começando não sabe como o sistema funciona. O novato entra, vê o dinheiro cair na hora, observa o sistema de gamificação… e pronto! O novato é mais fácil de ser fisgado porque não conhece como as coisas eram antes. 

Lá atrás, quando eu comecei, era diferente. Os custos eram outros, os ganhos também. Sabíamos que, se ficássemos determinadas horas na rua, ganharíamos aqueles R$ 2.000 e pouco, e isso valia a pena.

Hoje em dia, dá para ganhar mais? Sim, até dá, mas os custos são muito maiores. O motorista novato não sente a perda do que nós ganhávamos antigamente.

A quarta armadilha é a facilidade de acesso. Se você tem um carro, é muito simples: Basta se cadastrar, ter carteira de motorista, e pronto, qualquer um pode entrar.

As barreiras para ingressar são muito baixas, o que faz com que muita gente entre no aplicativo. Se você foi demitido, está desempregado… não importa o seu nível de instrução, basta saber ler, escrever e dirigir. E essa facilidade prende muita gente. Você entra, começa a ganhar dinheiro rápido, vê o dinheiro cair toda hora, percebe que não há cobrança direta, ninguém está fiscalizando seu trabalho.

E é justamente essa facilidade que faz com que os motoristas fiquem cada vez mais presos às plataformas. Com tanta facilidade de acesso, o motorista entra e dificilmente quer voltar ao mercado de trabalho tradicional.

“Pra que eu vou querer voltar ao mercado de trabalho, se aqui é fácil? Não há muitas barreiras, não tem chefe me incomodando.” Muita gente diz: “Eu sou meu próprio chefe.”

E, de certa forma, isso acontece mesmo. Você se acostuma tanto a trabalhar sem cobrança, com o dinheiro entrando na hora, que acaba caindo nessa armadilha dos aplicativos.

Agora você entendeu por que os motoristas ficam presos nessas armadilhas? Existe toda uma inteligência por trás, um estudo minucioso, feito exatamente para manter os motoristas de aplicativo presos às plataformas.

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Marcelo Ribeiro

Marcelo Ribeiro, conhecido como Marcelo Fora da Curva, é de Porto Alegre e iniciou sua carreira como vendedor. Em 2016, tornou-se motorista de aplicativo, usando sua experiência em vendas para oferecer um excelente atendimento ao cliente, o que lhe rendeu a nota mais alta entre motoristas da cidade e vários prêmios da Uber. Em 2017, criou um canal no YouTube para compartilhar suas experiências, que rapidamente se tornou popular, alcançando 300 mil inscritos e 92 mil seguidores no Instagram.

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