Opinião do Ian: Cobrei R$ 250 por uma corrida particular de 52 km. Pela Uber, o passageiro pagaria R$ 150. Por que cobrar o mesmo valor se o meu serviço é diferenciado?

Em outra corrida, que no app eu receberia menos de R$70, eu cobrei R$150 ou R$160. Eu ganhei mais pois ofereço confiança, conforto e bom atendimento. 

Homem de camiseta preta gesticulando com a mão em frente a um carro preto estacionado na rua, com árvores e casas ao fundo.
Foto: Ian Rocha para 55content

Este texto não reflete, necessariamente, a opinião do 55content

Por que você faria um serviço a preço de aplicativo? Se for pra ganhar igual, então é melhor continuar rodando no app. Não faz sentido captar clientes, montar uma cartela, ter trabalho com atendimento e compromisso, pra no fim receber o mesmo que no aplicativo. Entende o ponto? Não tenha medo de perder um cliente, mesmo que você tenha acabado de captar. Você precisa passar o seu preço.

Clique aqui parar entrar no grupo de Whatsapp do 55content e receber notícias fresquinhas sobre aplicativos de transporte

Entre os dias 8 e 31 de janeiro, eu consegui captar oito clientes particulares oferecendo apenas um serviço, e quero contar como fiz isso e, principalmente, como tenho cobrado por esses atendimentos. O mais importante aqui é te mostrar como captar clientes pra não depender exclusivamente dos aplicativos.

Hoje, por exemplo, estou trajado com uma blusa preta, calça preta e um tênis verde. Cabelo penteado, aparência ok, mas nada demais. Será que isso é suficiente? Olha o meu carro. Por fora, está sujo — rodas encardidas, uma baita cagada de passarinho no capô. Por dentro, tudo limpo, como sempre mantenho. Mas será que um carro nessa condição externa chama a atenção de alguém a ponto de me contratar pra um serviço executivo ou particular? Será que só essa forma de me vestir é suficiente pra conquistar esse tipo de cliente?

O que eu tenho de diferente dos outros motoristas? O que faz um passageiro, enquanto está ali no banco de trás durante uma corrida comum, virar pra mim e dizer: “Me dá seu cartão, quero te chamar pra fazer um serviço”? Será que é o carro? E eu já te digo: sim, o carro faz diferença.

Rodei minha vida inteira sem ligar pra isso. Esse é meu primeiro carro da categoria Black. Antes, eu dizia que carro não importava. Achava que o que valia era o atendimento. Só que, quando peguei esse carro novo, percebi a diferença na prática. Os clientes passaram a perguntar: “Esse carro é elétrico? Que carro bacana! Como ele é diferente!” À noite, com a iluminação interna, então, chama ainda mais atenção.

Mas não estou dizendo que você precisa de um carro caríssimo ou de luxo. Não é sobre ter um Corolla, um Cruze… Esses carros já são bem comuns entre motoristas. O que fez diferença no meu caso foi o “diferente”. Meu carro é fora do padrão e, com isso, desperta curiosidade. Entre esses oito clientes, pelo menos três me chamaram diretamente por conta do carro. Dois deles já atendi. E, claro, nesse caso, o valor cobrado não foi baseado no preço do aplicativo.

Os outros passageiros não me chamaram só pelo carro, mas com certeza não o fariam se eu estivesse vestido como estou agora. No dia em que fui chamado, estava com roupa social completa: blusa, calça, sapato. Tocava música agradável — o que também é um ponto fundamental. Pra quem é de BH, por exemplo, colocar uma Antena 1, CDL ou Alvorada pode fazer diferença. Eu costumo usar playlists de MPB ou música internacional no Spotify. Já no serviço particular, jazz é sensacional. Quando o passageiro entra e ouve jazz, aquilo já soa diferente. O diferente chama atenção.

Nosso trabalho, hoje, infelizmente, está cada vez mais precarizado. Muitos motoristas estão de regata, bermuda, chinelo… Não os culpo. Mas se você quer se destacar, precisa investir na imagem: roupa social, carro limpo, atendimento educado, presença profissional.

Inclusive, uma coisa que me ajudou muito foi ter cartões de visita. Tive uma situação marcante em que perdi um passageiro por não ter um. Peguei um casal de mais de 60 anos e, durante a conversa, o senhor perguntou se eu fazia atendimento particular. Disse que sim e ofereci meu número, mas ele pediu um cartão. Eu não tinha. A esposa tentou anotar meu contato, mas já estávamos chegando e o passageiro falou: “Tô muito bêbado pra anotar qualquer coisa”, e desceu. E ali foi uma oportunidade perdida.

Hoje, tenho cartão com meu número, QR Code pro WhatsApp e tudo certinho. Não fico oferecendo serviços ativamente, mas só de estar bem preparado, as oportunidades surgem. Agora, sendo sincero: da forma que estou hoje, com o carro sujo por fora, qual é meu diferencial? Será que alguém vai me chamar? Agora, se eu estiver com carro limpo, bem vestido, música agradável, educação e postura… A chance aumenta muito.

E, sim, carros populares não se destacam. Isso é um fato, infelizmente. Por isso, quando você for pensar em precificação, lembre-se: é outro serviço. Já cobrei R$250 pra uma corrida de Vila da Serra até o aeroporto de Confins, enquanto muitos motoristas da categoria Black cobram R$150 ou R$180. No aplicativo, o passageiro pagaria entre R$150 e R$160. Mas quando ele chama diretamente, ele está pagando pelo diferencial: pontualidade, segurança, conforto, compromisso.

Se fosse pra cobrar valor de aplicativo, eu continuava no aplicativo, onde não preciso ter compromisso de horário, data, deslocamento antecipado, nem me preocupar com nada. Serviço particular é diferente. O cliente confia no seu atendimento, na qualidade do carro, na sua pontualidade. Ele paga mais caro porque quer ter certeza de que tudo vai sair como planejado.

Já aconteceu de eu não poder atender e indicar um amigo. E o contrário também. Em outro exemplo, cobrei R$180 da rodoviária até Confins, um trajeto de 42km. No aplicativo, o passageiro pagaria no máximo R$130. Por que ele pagou mais? Pela confiança, pelo conforto, pelo atendimento.

E não vem com esse papo de “não quero perder o cliente”. Se for pra ganhar igual ao aplicativo, melhor continuar no aplicativo. Não tenha medo de passar seu preço, mesmo que o cliente acabe de chegar.

Teve uma passageira que pediu um serviço pros pais dela. Quando falei o valor, ela achou caro e pediu desconto. Aproveitei a abertura e expliquei:
“Se fosse pra ser um serviço como o do aplicativo, você chamaria um. Mas você está me chamando porque sabe que vou chegar no horário, tratar seus pais com respeito, levar com segurança e você não vai ter que se preocupar com nada.”

Ela entendeu e fechou. O valor era mais alto, sim, porque era um domingo de madrugada — um dos piores horários pra gente. A corrida, que no app sairia R$60 ou R$70, eu cobrei R$150 ou R$160. E ganhei muito mais.

Quer captar passageiro particular? Fica a dica: o carro é importante, mas não é tudo. O atendimento vem em primeiro lugar. Tenha cartão de visita, esteja bem vestido, mostre diferencial. O diferente chama atenção.

E o básico, que às vezes a gente esquece: carro sempre limpo. Não só por dentro, mas também por fora. Por dentro é pra rodar no aplicativo. Por fora é pra captar cliente.

Carro chama atenção, sim. Faz diferença. Eu mudei de opinião. Antes dizia que não fazia. Mas agora, tendo passado por isso, vi com clareza o impacto que um carro diferenciado causa. E espero que esse conteúdo te ajude de alguma forma.

Foto de Ian Rocha
Ian Rocha

Ian Rocha começou a trabalhar como motorista de aplicativo em busca de uma nova oportunidade e logo percebeu a importância de entender melhor a dinâmica do setor. Estudou estratégias, analisou os melhores horários e locais para otimizar seus ganhos e passou a compartilhar suas descobertas com outros motoristas. Ao notar a falta de conteúdo informativo sobre a profissão, criou um canal no YouTube para dividir suas experiências. Com o tempo, tornou-se uma referência no segmento, ajudando motoristas a trabalharem de forma mais eficiente e informada.

Pesquisar