A diretora de Políticas Públicas do iFood, Débora Gershon, defendeu uma abordagem equilibrada para a regulamentação dos trabalhadores de plataformas digitais, destacando os avanços do setor e as responsabilidades compartilhadas entre empresas e governo, em entrevista ao programa Boa Noite 247, da TV 247.
Durante a conversa, Gershon contextualizou o cenário do trabalho por aplicativos no Brasil, ressaltando que o crescimento de 18% na quantidade de entregadores nos últimos dois anos, apontado por uma pesquisa do Cebrap (Centro Brasileiro de Análise e Planejamento), confirma a consolidação desse modelo de ocupação. “Essa é uma atividade que veio para ficar no Brasil”, afirmou. Segundo ela, o setor continua crescendo apesar da redução nas taxas de desemprego e informalidade, o que revela um componente de escolha na adesão dos trabalhadores às plataformas.
Gershon destacou que, de acordo com a mesma pesquisa, 70% dos entregadores pretendem continuar trabalhando com aplicativos e muitos sequer procuram outras ocupações. “A atividade confere mais autonomia, confere mais flexibilidade”, disse ela, apontando que o delivery digital representa uma transformação no mundo do trabalho.
A diretora também comentou, durante a entrevista, o perfil social desses trabalhadores: a maioria pertence à classe C, é negra e tem baixa escolaridade formal. Ainda assim, segundo ela, a escolha pelo trabalho via aplicativo muitas vezes se dá por viabilidade econômica, autonomia e renda potencial. “70% já tinham uma ocupação prévia que foi abandonada ou somada ao trabalho com o aplicativo”, explicou.
Gershon ressaltou que o iFood oferece seguro de vida e cobertura por lesão temporária a todos os entregadores ativos na plataforma, independentemente da carga horária. No entanto, ela reconhece a necessidade de tratar de forma diferenciada aqueles mais engajados: “A gente lançou e está testando um pacote de vantagens específicos para esses trabalhadores mais dedicados à plataforma”.
Regulamentação e previdência
O ponto central da entrevista girou em torno da regulamentação. Gershon defendeu que a proteção social dos trabalhadores não exige necessariamente a criação de vínculos empregatícios formais, como feito na Espanha, onde, segundo ela, a tentativa regulatória resultou em “jornadas mais longas, ganhos menores, protestos e saída de empresas do país”. Ela refletiu: “A regulação não conseguiu cumprir o objetivo que se dava”.
Conforme a diretora informou, para o iFood, é fundamental construir uma política de Estado com foco em proteção previdenciária, sem colapsar o ecossistema formado por trabalhadores, empresas e restaurantes. “O trabalhador precisa ser ouvido nessa história e a gente precisa ter visão do que a gente chama de ecossistema”, afirmou.
O iFood, segundo ela, participa desde 2021 de debates sobre o tema e se engajou ativamente no grupo de trabalho tripartite instituído pelo governo em 2023. Apesar de reconhecer avanços importantes, Gershon apontou que ainda faltam definições sobre o modelo previdenciário ideal, como as bases de contribuição, o custo da atividade e os períodos de carência para benefícios.
Ela também sinalizou otimismo com os trabalhos de uma comissão especial da Câmara que deve avançar com o tema em agosto. “Garantir pagamento justo, proteção social e, fundamentalmente, a autonomia e a flexibilidade que os entregadores valorizam são premissas inegociáveis para nós”, determinou.