Lady Driver e BabyPass são os dois principais modelos de aplicativo tipo Uber exclusivo para mulheres no Brasil. Já a Uber e a 99 possuem a U-Elas e a 99Mulher.
Publicado em 03/09/2018 – Atualizado em 04/01/2023
Apesar dos serviços de mobilidade urbana normalmente trabalharem para atender o máximo de pessoas possível, estamos falando de um mercado muito diverso, em que cada passageiro e motorista possui uma necessidade diferente.
Não à toa, os aplicativos apresentam uma gama cada vez mais variada de categorias nas suas plataformas.
E entre os todos os públicos que utilizam o transporte por app, talvez nenhum tenha uma “dor” tão visível quanto o público feminino.
São frequentes os relatos de preocupações durante as viagens.
É por isso que algumas empresas, como a Lady Driver e a Baby Pass, surgiram especialmente para atender a demanda desse público.
Além disso, empresas conhecidas, como Uber e 99, iniciaram programas de incentivo à mulheres na direção.
No vídeo de hoje, vamos falar um pouco mais desses projetos, além dos aplicativos exclusivos para as mulheres.
Lady Driver

Começando pelos aplicativos próprios, nós temos o Lady Driver. O app surgiu de um caso de assédio sofrido pela então nutricionista Gabryella Corrêa.
Inconformada com a situação e percebendo que não estava sozinha nesse barco, Gabryella lançou em 2017, o Lady Driver.
A forma que ela encontrou para tornar o transporte mais seguro para as mulheres foi fazendo com que a estrutura de funcionamento do app fosse movido apenas por elas.
Ou seja, o aplicativo permite apenas mulheres como motoristas e passageiras.
Homens podem participar de corridas no app apenas como acompanhantes das passageiras.
O aplicativo, disponível para Android e iOS, já conta com mais de 60 mil motoristas cadastradas, 1.500.000 downloads do app de passageiro e mais de 5 milhões de corridas solicitadas, segundo o site da empresa.
Os impressionantes números chamaram atenção internacional para o negócio de Gabryella, que foi citado em grandes meios como a revista financeira Forbes e o jornal britânico Financial Times, que apontou o Lady Driver como o maior aplicativo de transporte feminino do mundo.
O app está disponível em 49 cidades de 13 estados do Brasil e até mesmo em uma cidade nos Estados Unidos: Maryland.
- Ceará: Fortaleza
- São Paulo: Jundiaí, Campinas, Mogi Guaçu, Taubaté, Tremembé, Guarulhos, Franco da Rocha, Francisco Morato, Caieiras, Santo André, São Caetano, São Bernardo, Mauá, Diadema, Osasco, Barueri, Carapicuíba, São José dos Campos, Jacareí, Caçapava, Pindamonhangaba e Sorocaba;
- Rio Grande do Sul: Santa Maria;
- Minas Gerais: Uberaba, Uberlândia e Montes Claros;
- Amazonas: Manaus;
- Rio de Janeiro: Volta Redonda, Pinheiral, Petrópolis, Miguel Pereira, Paty do Alferes;
- Bahia: Salvador, Lauro de Freitas, Simões Filho, Camaçari e Mata de São João;
- Santa Catarina Joinville, Chapecó, Maringá, Cordilheira Alta, Xaxim e Xanxerê;
- Goiás: Goiânia;
- Distrito Federal: Brasília;
- Mato Grosso: Sorriso;
- Sergipe: Aracaju;
- Paraná: Curitiba.
A empresa está em constante processo de expansão por meio de um modelo de franquias que são comercializadas para cidades de no mínimo 30 mil habitantes.
As franqueadas ficam com a responsabilidade de:
- Captar motoristas parceiras em sua cidade;
- Treinamento e suporte local as motoristas;
- Gerenciamento financeiro;
- Investimento em Marketing;
- Pós-venda (relacionamento);
- Construção de um bom relacionamento com os estabelecimentos.
BabyPass

Outra opção de um serviço prestado com foco em mulheres é o BabyPass.
Na verdade, o serviço prestado pelo aplicativo, que também só cadastra motoristas mulheres, tem como principal diferencial o transporte seguro de crianças.
A demanda, que partia muito de mães e mulheres com crianças, aos poucos foi crescendo, justamente pela segurança transmitida pelas mulheres no volante.
Agora, o aplicativo tem também como uma de suas principais características o transporte voltado para mulheres, mesmo que não acompanhadas de crianças.
Segundo a própria empresa “as motoristas parceiras ganham entre R$2.5 mil a R$5 mil por mês”.
Além disso, elas ainda recebem bônus pelas publicidades exibidas no aplicativo.
O BabyPass está presente em 18 cidades brasileiras:
- Rio de Janeiro;
- São Paulo;
- Belo Horizonte;
- Distrito Federal;
- Salvador;
- Curitiba;
- Porto Alegre;
- Pelotas;
- Londrina,
- Barueri;
- Guarulhos;
- Campinas;
- Niterói;
- Juiz de Fora;
- Vitória;
- Porto Velho;
- Maceió;
- São Luís.
O cadastro das motoristas é feito exclusivamente pelo site da empresa.
O que fica claro no contexto é que aplicativos criados com a proposta de ser um “Uber para mulheres” têm seu espaço no mercado, já que existe uma demanda real por parte das mulheres, passageiras ou motoristas.
Mesmo que não seja um aplicativo exclusivo para mulheres, como mostramos, apps que permitem que a passageira opte por viagens em que se sinta segura e confortável, também se destacam.
U-elas
Ao contrário da Lady Driver e da Babypass, a Uber não oferece uma categoria exclusiva para mulheres.
No entanto, em outubro de 2019, a empresa anunciou o U-Elas, um recurso que permite que as motoristas recebam apenas corridas de outras mulheres.
O lançamento da funcionalidade foi anunciado junto ao programa Elas na Direção, uma parceria com a Rede Mulher Empreendedora.
Segundo a empresa, as mulheres correspondem a apenas 6% de toda a base de motoristas parceiros que utilizam a plataforma Uber.

“Entendemos que esse é um primeiro passo para que, no futuro, tenhamos um número suficiente de mulheres dirigindo para também oferecer essa opção para usuárias mulheres com a mesma eficiência”.
Claudia Woods, ex-diretora geral da Uber no Brasil, em comunicado.
O projeto piloto estreou nas cidades de Campinas, Curitiba e Fortaleza, mas em dezembro de 2020 a empresa expandiu para todas as operações no Brasil.
99Mulher
Assim como a Uber, a 99 também não possui uma categoria em que as passageiras podem escolher motoristas mulheres, mas a funcionalidade 99Mulher, que estreou em março de 2021, permite que as motoristas recebam apenas corridas de outras mulheres, assim como no U-Elas.
A 99Mulher faz parte do programa Mais Mulheres, um conjunto de iniciativas da 99 para atender o público feminino.
Segundo a empresa, nenhum incidente foi notificado durante a fase de testes do recurso e ainda foi capaz de diminuir em 5% os casos de assédio, por milhão de corridas, no segundo semestre de 2020.
Paralelamente às iniciativas do Mais mulheres, a 99 também estreou a medida Patrulha 99. Se trata de um serviço que envia equipes especializadas, em motocicletas ou carros, para prestar apoio presencial a motoristas parceiros e passageiros, em caso de emergência de segurança durante viagens pela plataforma.
O recurso não foi criado especificamente pensando no público feminino, mas com certeza pode ser de grande utilidade à elas. No momento a Patrulha 99 está disponível apenas na capital paulista, enquanto sua implementação é estudada para demais localidades.
Tanto, U-elas como 99Mulher, são projetos com propostas e desenvolvimentos semelhantes: são ferramentas disponíveis apenas para as motoristas mulheres que permitem que elas escolham aceitar somente corridas solicitadas por passageiras.
A ideia é que a sensação de segurança entre as motoristas parceiras seja maior. As condutoras poderão ativar ou desativar a categoria a qualquer momento, da mesma forma que corridas de outras categorias dos apps.
Indicadores da necessidade
Infelizmente, são vários os dados que explicam a necessidade de aplicativos voltados para mulheres.
97% das mulheres afirmam já ter sido vítimas de assédio em meios de transporte. O dado é de uma pesquisa realizada pelo Instituto Patrícia Galvão em parceria com o Instituto Locomotiva.
Ainda que mais recorrentes no transporte público, os casos também se estendem aos transportes por aplicativo.
Inclusive, segundo informações liberadas pela própria 99, o segundo maior app de transporte do Brasil, a empresa bania cerca de 730 usuários por semana, por denúncias de assédio.
Os casos correspondiam 23% de todas as reclamações feitas à plataforma até dezembro do ano passado.
Um fato que pode surpreender é que 51% das denúncias eram contra passageiros e 49% contra motoristas.
Além disso, no Brasil, até 2019, apenas 6% dos motoristas cadastrados na Uber eram mulheres. Esse baixo número de profissionais circulando na plataforma torna improvável que, na maioria dos casos, mulheres possam ser transportadas por mulheres.
Isso mostra que independente da função ou condição no transporte, a sensação de insegurança é constante para as mulheres.
Trazendo um pouco mais para a realidade dos maiores aplicativos presentes no Brasil, realizamos uma entrevista em 2019 com 120 mulheres usuárias dos grandes apps de transporte, questionando-as sobre medidas de segurança que adotam durante as viagens e se conhecem alguma outra opção que ofereça mais tranquilidade para elas.
- Quando perguntadas sobre o sentimento de insegurança em corridas com motoristas homens, 55% das entrevistadas responderam que às vezes se sentiam seguras.
- Quando a pergunta foi sobre a segurança com motoristas mulheres, 84,2% afirmaram que se sentem seguras nas corridas.
- Das entrevistadas, 65% afirmaram utilizar apps de transporte de uma a cinco vezes no mês.
Medidas de segurança
Pelo alto grau de insegurança, principalmente nas corridas com motoristas homens, era comum que as entrevistadas indicassem adotar duas a três medidas de segurança simultaneamente.
A maior parte das usuárias respondeu que compartilha a corrida em tempo real com amigos, cônjuges e familiares, uma medida que já é comum se tratando de viagens por aplicativo. Logo após, a atitude mais praticada é ligar, mandar áudio ou conversar com alguém por mensagem.
Muitas usuárias afirmaram que, às vezes, fingem que estão ligando para alguém ou que estão mandando áudio onde dizem seus destinos e a previsão de chegada.
Além disso, também costumam fingir que estão falando com algum homem, geralmente namorado ou pai.
A terceira medida de segurança mais adotada é se sentar atrás do motorista para não estabelecer contato visual.
Porém, quando a corrida é atendida por uma motorista mulher, as entrevistadas relataram que se sentem mais seguras e optam apenas por compartilhar a localização.
Além disso, 29% das usuárias afirmaram não tomar nenhuma medida de segurança.
Entretanto, um ponto que chama atenção é que 12% das usuárias afirmaram nunca ter feito corrida com uma motorista.
Por isso, aplicativos como Lady Driver e BabyPass, que entenderam a necessidade das mulheres, motoristas e passageiras, contribuem para mais segurança e qualidade no transporte, além de serem exemplos de boas oportunidades de negócio.