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Rafael já vendeu 10 mil planilhas que ajudam motoristas a ganharem mais

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Rafael ja vendeu 10 mil planilhas que ajudam motoristas a ganharem mais
Rafael ja vendeu 10 mil planilhas que ajudam motoristas a ganharem mais

Com raízes firmes no ensino de informática desde os 16 anos, o atual motorista de app e influenciador Rafael de Paula, mais conhecido como Monster Driver, viveu a maior parte de sua vida em Curitiba, tornando-se especialista em Excel e gestão financeira. Mas sua história não se limita ao ambiente acadêmico. Ele embarcou em uma jornada que o levou de salas de aula tradicionais a explorar o dinâmico mundo do ensino online e, posteriormente, ao desafiador setor de aplicativos de transporte.

Durante a pandemia, Rafael percebeu as limitações e oportunidades do ensino à distância, levando-o a iniciar seus próprios cursos online. Não muito tempo depois, sua carreira tomou um rumo inesperado quando ele começou a trabalhar com aplicativos de transporte, uma experiência que o fez repensar completamente sua visão sobre o setor e suas possibilidades.

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Nesta entrevista, Rafael compartilha conosco não apenas os desafios e aprendizados dessa transição, mas também como ele utilizou suas habilidades em números e planejamento estratégico para se destacar em um mercado competitivo. Ele nos fala sobre a importância da adaptação, a arte de maximizar a renda, e como se tornou um influenciador digital, ajudando outros motoristas a melhorar suas vidas através de seu conhecimento em gestão financeira.

Qual é a sua história, Rafael?

Eu sou professor desde meus 16 anos, atuando sempre na área de ensino, especificamente em informática. Morei a maior parte da minha vida em Curitiba, onde me especializei em Excel, uma ferramenta que sempre gostei muito. Minha carreira também me levou a São Paulo, onde trabalhei por dois anos e até fiz faculdade em gestão financeira. Sempre tive afinidade por números.

Quando retornei a Curitiba, consegui uma posição na escola que melhor pagava na região. Lá, eu ganhava 60 reais por hora, enquanto outras escolas pagavam cerca de 25. No entanto, mesmo atingindo o topo da minha área, senti que havia um limite no que eu podia alcançar. A pandemia foi um ponto de virada. A escola em que trabalhava não quis investir no ensino online, uma modalidade que eu via grande potencial. Comecei a dar cursos online por conta própria e percebi o quão eficaz isso era, pois os alunos podiam revisar as aulas gravadas e aprender no seu próprio ritmo.

Em dezembro de 2020, decidi me desligar da escola e, em 2021, comecei a trabalhar com aplicativos de transporte. Nessa nova jornada, tive uma coincidência surpreendente: encontrei um ex-chefe, Igor, que agora trabalhava como motorista. Isso me fez repensar minhas percepções sobre o trabalho com aplicativos. Ele me mostrou que, com dedicação e planejamento, era possível ter bons ganhos. Igor também me mostrou suas estratégias e ganhos: ele trabalhaba 12 horas por dia, sem folgas, exceto em janeiro, quando tirava férias. Igor tinha um planejamento rigoroso para cada dia, semana e mês, algo que eu comecei a adotar também. Foi um aprendizado e tanto, me adaptando a novos horários e estratégias para maximizar minha renda. 

Mas, ao começar a trabalhar com os aplicativos de transporte, encarei alguns desafios. Inicialmente, fui aceito apenas pela 99, enquanto a Uber rejeitou meu cadastro. Comecei com um carro alugado, um Grand Siena, bem na época da pandemia. Os primeiros dias foram difíceis, às vezes ficava horas na rua para fazer uma única corrida. Mas eu estava determinado a fazer isso funcionar.

Quais foram as suas estratégias nesse começo?

Morando em Campo Largo, uma região metropolitana de Curitiba, eu tinha que acordar cedo para pegar corridas para Curitiba. As corridas da minha área pagavam menos, então eu tinha que pensar sobre onde e quando trabalhar. Analisando minhas planilhas, mostrei para minha esposa que precisávamos mudar. Em Campo Largo, eu rodava entre 600 a 750 quilômetros vazios por mês, tentando, muitas vezes em vão, encontrar corridas de volta para casa. Comparava constantemente meus ganhos com os de Igor, o que às vezes era frustrante, mas também me motivava a melhorar.

Com o tempo, fui ajustando minha abordagem. Comecei a entender os melhores horários e locais para dirigir, como maximizar meus ganhos e minimizar o tempo ocioso. Apesar das dificuldades iniciais, persisti. Anotei cada detalhe das minhas corridas, horas trabalhadas e ganhos, usando minha afinidade com números e planilhas para otimizar meu desempenho.

Foi então que decidi mudar para Curitiba. Aluguei minha casa em Campo Largo e aluguei outra em Curitiba. Essa mudança, embora custosa, se pagava como um investimento. A qualidade de vida melhorou, trabalhava menos horas, e ganhava mais.

E como foi seu ingresso no mundo dos influenciadores?

Comecei a ganhar notoriedade no Instagram como um motorista de aplicativo organizado. Eu me diferenciava porque conseguia mostrar aos outros, com detalhes, quanto ganhava por hora e por quilômetro rodado, especialmente nos finais de semana, que eram os mais lucrativos para mim. Ninguém mais fazia isso.

Minha presença na internet começou a impactar minha vida. Meu foco, que antes era 100% nos aplicativos, mudou. Criei um canal no YouTube para compartilhar meu conhecimento e experiência. Não era sobre ganhar dinheiro com o canal, mas sobre ajudar as pessoas. Mesmo que o canal não rendesse muito, eu sabia que estava fazendo a diferença.

Percebi que muitos motoristas não tinham noção de gestão financeira e eram explorados pelos aplicativos. Comecei a ensinar, a compartilhar planilhas e a explicar como escolher corridas lucrativas. Essa mudança não só aumentou minha renda, mas também me trouxe satisfação pessoal ao ver que estava ajudando meus colegas a melhorar suas vidas. Acredito que, ao compartilhar meu conhecimento e experiência, posso fazer uma diferença real na vida dos outros motoristas.

E como eram seus ganhos em Curitiba? Você se destacou?

Bom, eu não moro mais em Curitiba. Atualmente, estou em João Pessoa. A mudança aconteceu porque meu filho é autista e estava com dificuldades de fala. Depois de uma temporada em Fortaleza, onde ele melhorou muito, decidimos nos mudar para um lugar com clima mais ameno. Essa decisão veio após vender nossa casa em Campo Largo, o que foi um período desafiador.

Mas, antes de chegar aqui, muita coisa aconteceu. Em Curitiba mantinha sempre um faturamento mínimo de 2 reais por quilômetro. Durante esse tempo, acompanhei motoristas de lá através de grupos e percebi que muitos conseguem bons resultados, mesmo não sendo fácil. A maioria dos motoristas quer fazer rápido seus 400 reais, sem se preocupar com o valor por quilômetro.

Nesse período, minha performance melhorou, e muita gente começou a me procurar para cursos e mentorias. Meu primeiro aluno foi Gabriel, de Bauru, São Paulo. Ele estava desesperado, e eu o ajudei a planejar melhor seus custos e rotinas. Isso foi um sucesso, e depois disso, mais pessoas vieram me conhecer em Curitiba, o que foi incrível.

E você começou a expandir o seu negócio nessa área?

Comecei a oferecer cursos e mentorias mais estruturadas, analisando as necessidades individuais de cada um e como poderiam melhorar suas vidas. Percebi que muitos motoristas, por estarem com problemas pessoais, não conseguiam se concentrar no trabalho, impactando na qualidade do serviço.

Com o tempo, passei a me dedicar cada vez mais à internet, e isso reduziu meu tempo nas ruas. Comecei a vender planilhas por 19,90 reais, um preço acessível que ajuda os motoristas a verem resultados reais. Essas planilhas foram um sucesso, me permitindo substituir parcialmente a renda que eu obtinha dirigindo.

Além das planilhas, comecei a trabalhar com proteção veicular, uma área que considero essencial para todos. Escolhi uma empresa sólida, com mais de 15 anos de mercado e mais de 250 mil associados. Também ofereci um curso online, compartilhando como transformei minha vida. Para isso, tive que melhorar minha imagem, comprando um carro melhor, um Cruze 1.4 Turbo 2009, para ganhar credibilidade.

Qual o seu foco, hoje?

Agora, foco no conteúdo online e viajo pelo Brasil, conversando com motoristas de diversos estados. Isso aumentou minha visibilidade e seguidores. No Rio de Janeiro, por exemplo, tive uma experiência incrível com seguidores e gravei um podcast com o Uber do Chefe.

Além disso, como já falei antes, com o tempo, percebi que muitas pessoas precisam de planilhas. Por isso, comecei a vendê-las. Para vender, é preciso demonstrar resultados. Como não trabalho uma semana inteira com isso, não consigo fazer 2 ou 3 mil reais extras por semana. Tenho muitas outras tarefas. Então, mostro que em uma semana fiz mil reais com a planilha. Tenho vários afiliados que obtêm excelentes resultados e vendem a planilha por mim. Eu dou 50% de comissão para eles. Quanto mais eles ganham, mais felizes ficam. Eu prefiro ter 50% de algo do que 100% de nada. Estou ganhando em escala. Eu não estou mais trabalhando diretamente, são eles que vendem.

Então, eu continuo vendendo planilhas, agora com afiliados em diferentes estados. A ideia é continuar ajudando os motoristas a se organizarem financeiramente e crescerem no mercado.

E essa venda das planilhas, agora com o apoio de afiliados em diferentes estados, se tornou uma parte importante do meu negócio. Isso não só expandiu meu alcance, mas também me permitiu impactar positivamente a vida de mais motoristas. Por exemplo, um afiliado em Brasília, o Vini, teve ótimos resultados com a planilha e, ao compartilhar seu sucesso, ajudou a impulsionar ainda mais as vendas.

Viajei também durante sete dias, passando por várias cidades como São Paulo, Rio, Salvador, Aracaju, Maceió, Recife, João Pessoa e Fortaleza. E o local foi em que em cada lugar, encontrei seguidores e conversei com muitas pessoas. Em Aracaju, por exemplo, enquanto gravava stories, dois motoristas me encontraram para agradecer e dizer como as planilhas os ajudaram. Em Recife, um outro rapaz chamado Thiago e outros motoristas também expressaram sua gratidão.

Além das planilhas, estou trabalhando em novos produtos. Estou desenvolvendo uma planilha de planejamento anual para ajudar os motoristas a organizarem melhor o ano financeiro, além de uma planilha de custo mensal. Essa última permitirá que eles controlem melhor suas despesas pessoais e domésticas, como aluguel, contas de luz e despesas de mercado. Acredito que entender a proporção dos gastos em relação à renda é crucial para o crescimento financeiro e pessoal dos motoristas.

Interessados nas planilhas podem encontrá-las facilmente através de um link no meu perfil do Instagram. Além de mim, meus afiliados também as promovem ativamente, demonstrando seus próprios sucessos e resultados, o que ajuda a estabelecer uma conexão direta de confiança com os potenciais compradores.

E como está sendo a sua experiência morando no Nordeste?

No Nordeste, o carinho das pessoas é incrível. Porém, em Fortaleza, tive uma experiência ruim e acabei decidindo me mudar para João Pessoa. Lá, me senti no lugar certo: o custo de vida é acessível, embora haja dificuldades em utilizar um aplicativo devido à falta de conhecimento financeiro dos motoristas. Ainda assim, com paciência e estratégia, é possível obter lucros.

Isso porque em João Pessoa, percebi que muitos motoristas, apesar do potencial de ganhar dinheiro, careciam de educação financeira, impactando seus rendimentos. Conversei com um motorista que ganhava R$ 400 diariamente, mas a maioria não explorava as estratégias para maximizar seus lucros.

Você gostaria de acrescentar alguma coisa?

Trabalhar como motorista de aplicativo pode ser lucrativo, mas exige planejamento e estratégia. É essencial selecionar as corridas de maneira inteligente, ter paciência e desenvolver uma estratégia eficaz para escolher as rotas e destinos mais vantajosos. O sucesso neste trabalho depende do estudo e preparação. No entanto, muitos motoristas não dedicam tempo suficiente para se preparar ou estudar as melhores práticas, o que é uma desvantagem no longo prazo.

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Giulia Lang

Giulia Lang é líder de conteúdo do 55content e graduada em jornalismo pela Fundação Cásper Líbero.

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