O paraense Oseias Santana era operador de máquina em plantação de eucalipto, virou motorista de app e hoje é um dos sócios-proprietários do Rota77.
Oseias Santana, ex-operador de máquinas na Suzano, decidiu buscar novos horizontes ao deixar o Pará e se aventurar no Mato Grosso. Após se tornar motorista de aplicativo, identificou a oportunidade de criar o Rota 77, uma plataforma de aplicativo que cobra uma taxa fixa mensal de seus motoristas e hoje oferece também serviços de proteção veicular.
Ao lado de seu sócio, Carlos Henrique de Araujo, e com uma abordagem única, Oseias compartilha sua trajetória de empreendedorismo, destacando a importância da flexibilidade fora do regime CLT e os diferenciais do Rota 77 no mercado de transporte por aplicativo.
Gostaria que compartilhasse um breve histórico antes do aplicativo. Você poderia fazer uma breve biografia sobre sua trajetória.
Ao longo da vida, tive outras profissões e aprendi a fazer muitas coisas, mas eu trabalhava em uma empresa de corte de eucalipto, lá no Pará, em Ananindeua, uma cidade próxima a Belém, a capital. A empresa era a Suzano, de papel e celulose. E eu era operador de máquina, especificamente no corte de eucalipto. Trabalhei nessa área por um bom período, mas percebi que, apesar de ser uma área boa e rotineira, poderia ficar estagnado. Por exemplo, mesmo com um salário de 10 mil reais por mês, é difícil triplicar esse valor, pois há limitações de horário e descanso, especialmente seguindo as normas da CLT. Hoje, graças a Deus, conquistei um patrimônio que não seria possível apenas com a CLT.
Então decidi sair de lá e mudar para o Mato Grosso em busca de uma nova história, uma espécie de reinício.
Cheguei aqui em Nova Mutum em abril, se não me engano. Trabalhei em algumas empresas por mais dois ou três meses, testando o mercado local. Depois disso, passei uns três ou quatro meses em outra empresa, que sou muito grato por ter aberto meus olhos para o empreendedorismo.
No entanto, ao chegarmos aqui, percebemos que é desafiador, especialmente quando somos novos no mercado e não conhecemos muita gente. Foi aí que descobri a oportunidade de trabalhar como motorista de aplicativo.
Atualmente, qualquer pessoa pode se adaptar a esse tipo de trabalho, desde que conheça a cidade. Se não conhecer, em pouco tempo, é possível se familiarizar, pois estamos constantemente nas ruas, observando os pontos. Como disse antes, eu trabalhei em uma empresa de administração por um tempo, mas não achei muito rentável. Foi quando, por curiosidade, decidi me tornar motorista de aplicativo, inicialmente na empresa que hoje é uma concorrente do Uber.
Ao perceber o potencial de crescimento no mercado, acabei sendo envolvido em uma proposta para administrar uma plataforma de aplicativo. Desconfiei um pouco, afinal, quando a oferta é grande demais, é preciso investigar. Consultei minha esposa, e ela achou uma ótima ideia. Convidei mais dois rapazes, um dos quais ainda é meu sócio hoje, e decidimos criar nossa própria plataforma: Rota 77.
Foi algo como uma experiência, começando no início de 2019, mas acabou sendo afetado pela pandemia. Inicialmente, tínhamos apenas uma matriz e uma filial do Rota 77. A pandemia dificultou a divulgação e o incentivo para que as pessoas usassem o aplicativo, pois a mensagem predominante era “fique em casa”. Lançamos o aplicativo em outubro de 2019.
Você mencionou ter construído um patrimônio fora da CLT. Como isso impactou sua vida financeira?
Como eu disse anteriormente, graças a essa escolha, hoje temos um patrimônio que nunca teríamos se eu estivesse trabalhando sob as normas da CLT. Nunca teria alcançado isso. Fui visitar parentes em dezembro e percebi que algumas pessoas ainda estão presas a empregos regulares. Eu sempre digo que, mesmo com um salário alto, você não consegue dobrá-lo, mesmo trabalhando 24 horas, devido aos limites e necessidade de descanso. Trabalhando fora da CLT, você tem mais flexibilidade.
O senhor lembra o investimento inicial que teve que fazer?
Na verdade, nós éramos três, eu e mais dois motoristas, todos trabalhando como motoristas de aplicativo. Então, não tínhamos uma renda estável, já que a área é instável devido à natureza do mercado. Um dos sócios, que não faz mais parte da empresa, tinha um cartão de crédito na época, então usamos o cartão dele para comprar a plataforma. Fizemos panfletagem pela cidade para divulgar o serviço. No início, muitas pessoas foram céticas, dizendo que já existiam aplicativos semelhantes. Mas dois motoristas realmente se comprometeram com a ideia. Mesmo para quem já estava na área, era difícil largar algo estável para apostar em algo novo. Mas acreditávamos no potencial do nosso projeto. Não havia plano B para nós. Tínhamos que fazer aquilo dar certo.
Inicialmente, éramos apenas 10 ou 12 motoristas na cidade, atendendo a uma população de cerca de 60 mil pessoas. No começo, fazíamos corridas até mesmo sem cobrar para incentivar o uso do serviço. Conforme fomos crescendo, nos tornamos mais reconhecidos no mercado. No entanto, percebemos que os apoios no início eram superficiais; as verdadeiras parcerias surgiram quando já estávamos estabelecidos e comprovamos o sucesso do nosso negócio.
Quando o Rota 77 decolou? Qual foi o grande ponto de virada?
Bom, um rapaz de São Borja, no Rio Grande do Sul, se interessou na época. A partir daí, percebemos que não precisávamos estar fisicamente presentes no mercado o tempo todo. Hoje em dia é necessário, mas na época percebemos que podíamos estar envolvidos mesmo estando distantes. Desenvolvemos um software que elimina a necessidade de uma filial física. Por exemplo, hoje eu estou em casa ajudando minha esposa com nosso bebê recém-nascido. Meu escritório na cidade está aberto, mas também tenho uma empresa de proteção veicular.
E as duas empresas trabalham em conjunto: se você for um motorista sem seguro, automaticamente providenciamos para você. Ganhamos de duas formas. Precisamos conversar com os motoristas para explicar como funciona, especialmente no início, quando o investimento é mais pesado.
Assim, atualmente, estou expandindo o Rota 77 para o Paraná, abrindo quatro filiais em cidades como Dois Vizinhos, Pato Branco, Toledo e outra no sul do Brasil. É um desafio lidar com proteção veicular, pois cuidamos do bem de outra pessoa, mas há um lado positivo. Para o Rota, precisamos de duas pernas (motorista e passageiro), enquanto para a proteção veicular só precisamos do aval do proprietário do veículo. A empresa precisa do primeiro contato via chatbot, mas depois a interação é mais humanizada, focando em resolver os problemas dos clientes. Em comparação com outras empresas, oferecemos taxas mais baixas para os motoristas. Eu, que já fui motorista, acabo me envolvendo emocionalmente, o que é uma falha minha. Minha esposa é o “policial ruim” que me lembra de manter a objetividade empresarial. Além disso, buscamos manter um suporte mais humano e taxas mais vantajosas para os motoristas.
Vocês trabalham com uma tarifa mínima por corrida?
Sim, trabalhamos com uma tarifa fixa que varia de cidade para cidade. Na Matriz, por exemplo, a mínima é R$12,00 para até 2 ou 3 km.
E qual porcentagem vocês cobram do motorista?
Não cobramos porcentagem, apenas uma mensalidade que varia de R$310,00 a R$400,00, dependendo da cidade.
Como funciona o sistema de pagamento?
Trabalhamos com pré-pago. Você paga a mensalidade, tem 30 dias para rodar e o que ganhar é seu. Se não pagar, desativamos o cadastro.
Em quantas cidades vocês atuam?
Atualmente, estamos em 37 cidades na região.
E quantas corridas vocês fazem por mês?
Várias, mas há cidades com até 12 mil corridas por dia.
E vocês são franqueados?
O Rota 77 opera de maneira única, não como franquia, mas com gestores associados. Em cada cidade, estabelecemos colaborações cruciais. Ao invés de vender franquias, buscamos parceiros locais que compreendam nosso trabalho e a rentabilidade da área. Estabelecemos acordos nos quais o gestor local recebe uma porcentagem por cada cadastro de motorista. Por exemplo, se oferecemos 20% sobre cada cadastro em Blumenau, o parceiro local recebe 20 reais por cada motorista cadastrado, garantindo uma fonte de renda fixa.
Essa abordagem nos permite expandir para novas cidades de forma flexível. Se conhecemos alguém na região interessado em participar, seja um parente ou alguém já utilizando nosso aplicativo, podem se tornar gestores sem investimento financeiro direto, apenas dedicando seu tempo.
Escolhemos esse modelo em resposta à pandemia, reconhecendo que muitas pessoas não tinham recursos para investir em franquias tradicionais. Embora as franquias sejam boas, acreditamos que nossa abordagem é altamente rentável, e estamos satisfeitos com os resultados. Agora, com nosso foco em impulsionar os negócios em 2024, após um período de preparação em 2023, enfrentando desafios na cidade e considerando a ocupação de minha esposa com nosso bebê.
Quais são os diferencias do Rota 77?
Bom, oferecemos uma alternativa aos aplicativos convencionais, como Uber e 99. Entendemos as preocupações dos motoristas, mas acreditamos que, ao apoiar o mercado local, podemos proporcionar melhores oportunidades, sem taxas mensais ou de adesão. Nosso sistema organizado e treinamento ajudam a convencer os motoristas a permanecerem no aplicativo, mostrando que todos podem prosperar juntos
Eu trabalho como motorista e percebo que oferecer um suporte mais humano aos motoristas é uma maneira de competir com a Uber. Evitamos trabalhar diretamente onde há Uber e 99 porque muitos motoristas têm receios. Por isso, criei uma proteção veicular que integra ambas as empresas, sendo que ambas são de minha propriedade. Isso nos permite oferecer seguro para os motoristas, incluindo seguro de vida, o que antes não tínhamos.
Há um medo infundado entre os motoristas sobre a assistência que podem receber em caso de acidentes. Por exemplo, um acidente pode acontecer tanto a um motorista da Uber quanto a um do Rota 77. No entanto, agora podemos fornecer apoio por meio de seguros, como seguro de vida e seguro contra acidentes, graças a uma parceria com outra empresa. Os motoristas podem se associar à nossa empresa de proteção veicular para garantir a cobertura de seus veículos. Isso requer algum procedimento burocrático, mas é essencial para garantir a segurança.
Estamos abertos a parcerias e sugestões. Se algum motorista de aplicativo quiser explorar o Rota 77, estamos dispostos a conversar. Temos uma parceria aberta e podem entrar em contato conosco através do suporte ou e-mail. Valorizamos a opinião dos motoristas e consideramos suas sugestões ao tomar decisões. Embora nem sempre possamos implementar todas as sugestões, estamos dispostos a ouvir e a considerar propostas que beneficiem ambas as partes.
Aos motoristas que valorizam o mercado local e buscam uma empresa séria e de apoio total, o Rota está aberto para sugestões.