Ao cruzar fronteira, motoristas de aplicativo estão sujeitos às regulamentações de outros países.
O Brasil possui mais de 120 municípios em regiões de fronteira com outros países da América do Sul. Neles, aplicativos de transporte nacionais e internacionais rodam levando renda para motoristas e transportando brasileiros e estrangeiros.
Renan Rodrigo Leandro é motorista e franqueado da Moovecar, um aplicativo de transporte regional. Ele atua com o app entre as cidades brasileiras no Mato Grosso do Sul e Paraná até o Paraguai e elogia as corridas nas fronteiras, que acontecem entre Guaíra (PR) e Salto del Guairá (Paraguai).
Para o empreendedor, é mais rentável trabalhar na fronteira (Guaíra ou Mundo Novo) por causa da distância das corridas. “Geralmente, as corridas, por serem de um país para o outro, acabam compensando mais do que as corridas curtas dentro da cidade. As corridas na fronteira, ainda mais em um país como o Paraguai, onde as pessoas vão fazer compras, são mais longas, então são corridas mais caras e, do meu ponto de vista, bem mais rentáveis para o motorista.”
Experiências dos Motoristas nas Fronteiras
As experiências dos motoristas variam de acordo com cada vivência. É o caso de Carlos Roberto Magalhães, que trabalhou por 7 anos como motorista, mas evitava atravessar as fronteiras, e desistiu dos aplicativos de transporte: “Eu já estava desanimado com o aplicativo devido às baixas tarifas, falta de segurança e de suporte dos aplicativos ao motorista, e ainda hackearam a minha conta principalmente, onde eu fazia vídeos falando sobre aplicativos”.
Na época, Carlos trabalhava de 12 a 14 horas por dia no volante e conta sua experiência: “A travessia era bem tranquila, mas eu não fazia muita travessia para outros países por precaução, porque muitos queriam encher o carro de muamba sem pagar imposto. Por isso, eu não fazia muitas corridas para outro país. Aqueles que não são regulamentados sofriam multas e apreensão do veículo quando eram pegos em alguma blitz, e na fronteira, na travessia para o outro país, era raro os motoristas serem parados pela fiscalização, mas de vez em quando era feito um pente-fino.”
Desafios Operacionais na Fronteira
Evandro Luiz Cavassola, gestor da Moovecar, iniciou sua trajetória nas corridas por app quando trabalhava em uma plataforma de mobilidade urbana na cidade de Sorriso (MT), onde chegou a ser sócio de uma empresa com alguns de seus colegas. No entanto, enxergou uma oportunidade para empreender sem sociedade e decidiu adquirir a Moovecar, plataforma que, desde 2017, atua com transporte de passageiros nos estados de Rondônia, São Paulo, Paraná, Mato Grosso e Mato Grosso do Sul. O app conta com mais de 2 mil motoristas cadastrados e faz em média 50 mil corridas por mês.
Ele aponta que está passando por dificuldades em sua operação na fronteira. “Há alguns dias, nossos motoristas vêm sofrendo repressão e ameaças de taxistas do lado vizinho (Paraguai), aos quais não se incomodam quando levamos clientes ao Paraguai, mas atacam com ameaças e insultos verbais quando os motoristas chegam para buscar passageiros, seja nas faculdades de medicina e principalmente na rodoviária do Paraguai. A Moovecar está preparada para agir e adverte que qualquer tipo de repressão física ou psicológica que algum de nossos motoristas venha a sofrer, o órgão que regulamenta o transporte de táxi do Paraguai irá responder judicialmente.”
Critérios para Motoristas na Fronteira
Sandro Antunes trabalha com o Moovecar entre Ponta Porã e Pedro Juan Caballero. Ele conta que aceitam qualquer motorista, desde que o carro tenha menos de 8 anos de uso, esteja com a habilitação em dia e sem antecedentes criminais.
O franqueado explica que 70% dos passageiros são brasileiros, mas pode variar a demanda de acordo com cada dia e tipo de corrida. Já em relação à segurança nas fronteiras, Sandro conta: “Até hoje, com a Moovecar há 5 anos na cidade fronteiriça, não houve nenhum ocorrido grave em termos de fiscalização, tanto na parte brasileira como na paraguaia. Em Ponta Porã, quem faz a fiscalização é a guarda municipal ou a PM, e do lado paraguaio, é a polícia nacional. Geralmente, é bem pacífica a abordagem.”
Procurados para entendermos quais métodos de segurança e orientações são utilizados com os motoristas de aplicativo, a Polícia Rodoviária Federal do Paraná respondeu que é necessário pedir orientação para as plataformas: “É a mesma para todos os motoristas.”
A inDrive não permite viagens entre fronteiras. A empresa explicou que faz o acompanhamento recorrente dos mapas para garantir que essa prática não aconteça.