Avanise Soares Assis Batista, conhecida como Nise, iniciou sua trajetória profissional como secretária executiva em uma prefeitura no interior da Bahia. A experiência no setor público deu lugar ao empreendedorismo quando, ao lado dos sócios, ela identificou a necessidade de um serviço de transporte mais acessível e eficiente em Barroso, Minas Gerais. Assim surgiu o Avancy, um aplicativo de mobilidade criado para suprir a falta de opções na cidade. Hoje, além de ser uma das fundadoras, Nise atua como gestora de comunicação do app, acompanhando de perto a operação e a expansão do negócio.
Com um modelo flexível de tarifas e estratégias de engajamento, o app se consolidou como a principal opção em Barroso e Dores de Campos. Além de oferecer um serviço acessível para passageiros, a plataforma garante boas condições para os motoristas, com taxas reduzidas e incentivos para aumentar os ganhos. Confira abaixo a entrevista completa:
Nise, para começar, qual era a sua profissão antes de se tornar gestora de aplicativos?
Nise: Antes de me tornar gestora de aplicativos, junto com meus sócios, eu trabalhava como secretária executiva em uma prefeitura no interior da Bahia. Esse foi meu último emprego antes de entrar nesse ramo.
Entendi. E como surgiu a ideia de criar o aplicativo? Você percebeu alguma necessidade no mercado de mobilidade urbana que queria atender?
Nise: Sim, a ideia de criar um aplicativo de mobilidade para a cidade de Barroso surgiu de uma necessidade real. Meu sócio, Renilson, é de São Paulo, e eu sou da Bahia, mas estamos em Minas Gerais. Quando chegamos a Barroso, em 2002, dependíamos do transporte coletivo, que não funcionava bem. Os ônibus passavam em intervalos de três horas em alguns bairros, como o B10, onde morávamos. Além disso, não cumpriam os horários regularmente e frequentemente apresentavam problemas mecânicos. Isso deixava os passageiros desamparados.
O transporte coletivo também tinha um funcionamento limitado, parando entre 18h e 19h, o que prejudicava trabalhadores e mães de família que voltavam para casa mais tarde. Quando o ônibus falhava, a alternativa eram os táxis, mas além de escassos, tinham tarifas muito altas. Vindo de uma cidade grande, onde aplicativos como o Uber já estavam consolidados, percebemos que era o momento ideal para trazer esse tipo de solução para Barroso. Fizemos pesquisas, testamos várias plataformas e, por fim, fechamos uma parceria com a Machine para lançar o Avancy.
A população realmente precisava de uma opção confiável, principalmente em uma região montanhosa como a de Minas Gerais, onde idosos, crianças e pessoas doentes tinham dificuldade de locomoção. Quando lançamos o aplicativo, tivemos uma recepção muito positiva, e até hoje as pessoas nos agradecem por essa iniciativa.
Desde quando o Avancy está operando?
Nise: O Avancy completou dois anos em dezembro de 2024. Estamos operando em Barroso há dois anos e dois meses. Também oferecemos suporte na cidade vizinha de Idôneo de Cão, que é muito próxima, mas nosso foco principal é Barroso.
E como foi o início da operação? Vocês entraram em contato com motoristas antes do lançamento?
Niese: Sim, adotamos várias estratégias. Conhecíamos alguns taxistas que eram nossos amigos, e apesar de alguma resistência inicial, eles abraçaram a ideia. Além deles, algumas pessoas que não eram motoristas profissionais, mas tinham interesse e carro próprio, também se juntaram a nós. No início, começamos com cinco ou seis motoristas, que estão conosco até hoje.
Para divulgar o aplicativo, utilizamos vários canais, como redes sociais, rádio, grupos de WhatsApp e divulgação por blogueiras locais. Os motoristas ajudaram muito, compartilhando o link para download do aplicativo com seus passageiros. Em cidade pequena, o boca a boca é muito eficaz: um passageiro compartilha com sua família, amigos e conhecidos, ampliando rapidamente nossa base de usuários.
No lançamento, conseguimos cerca de 80 a 100 usuários no primeiro dia, o que mostrou o quanto a população precisava desse serviço. Inicialmente, os mais jovens aderiram com facilidade, mas houve alguma resistência entre pessoas acima dos 40 anos. Com o tempo, conseguimos conquistar esse público também.
Até hoje, utilizamos a estratégia de divulgação por status do WhatsApp dos motoristas, pois muitos passageiros têm preferência por motoristas específicos. Assim, manter esse canal aberto facilita a comunicação e amplia o uso do aplicativo na cidade.
Nise, minha próxima pergunta é sobre o investimento inicial. Quanto foi investido, considerando a plataforma, publicidade e outros custos? E como foi feita a captação desse investimento?
Nise: No início, investimos entre R$4.500,00 e R$5.000,00 na plataforma, pois optamos pelo plano intermediário com a Machine. Além desse valor, a divulgação foi feita principalmente por meio de parcerias com blogueiras locais. Em vez de gastar com publicidade tradicional, oferecemos corridas em troca de divulgação. Essa estratégia nos permitiu reduzir os custos iniciais, que ficaram em torno de R$1.000,00 nos primeiros meses.
E quando você percebeu que o negócio começou a gerar retorno?
Nise: O retorno foi rápido, pois havia uma grande demanda. O público jovem, entre 18 e 35 anos, adotou o aplicativo rapidamente e ajudou a divulgá-lo. Lançamos o Avancy em dezembro de 2022, um período de alta demanda, o que impulsionou as corridas. No primeiro ano, ainda havia resistência ao uso do app, então criamos uma central de atendimento via WhatsApp, onde recebíamos os pedidos e disparávamos as corridas pelo aplicativo. Isso ajudou a popularizar a plataforma.
Dentro de um a dois meses, já alcançávamos cerca de 150 corridas diárias. Aos poucos, fomos incentivando os passageiros a usarem o aplicativo, destacando benefícios como praticidade, autonomia e segurança.
Em quais cidades o Avancy opera atualmente?
Nise: Nossa operação principal é em Barroso, Minas Gerais, onde estamos ativos 24 horas por dia. Também atendemos a cidade vizinha de Dores de Campos, a 16 km de distância. Estamos avaliando expansões para outras cidades, como Guaxupé e Barbacena, que tem um porte maior.
Você mencionou que no início faziam cerca de 150 corridas diárias. Como está esse volume hoje?
Nise: No lançamento, atingimos rapidamente entre 150 e 200 corridas diárias, chegando a um total de 4 a 5 mil corridas por mês. Hoje, realizamos cerca de 10 mil corridas por mês. Durante as férias escolares, notamos uma queda, pois muitos professores e alunos viajam. No entanto, ainda conseguimos manter entre 150 e 200 corridas diárias. Caso não houvesse concorrência, esse número provavelmente estaria em torno de 300 por dia.
Com a volta das aulas, esperamos um crescimento nas solicitações e, consequentemente, no volume de corridas diárias.
Nise, atualmente, quantos passageiros e motoristas estão cadastrados na plataforma?
Nise: De acordo com os dados registrados no Play Console e na Play Store, temos mais de 5 mil passageiros cadastrados e mais de 500 motoristas ativos na plataforma.
Entendi. E agora, falando sobre os ganhos dos motoristas, qual o valor da corrida mínima e qual a taxa que vocês cobram?
Nise: Trabalhar com aplicativo de mobilidade é muito dinâmico, pois as tarifas variam conforme a demanda. Se chove, a tarifa dinâmica é ativada e a mínima sobe. Se tem pouca corrida, reduzimos o valor para atrair passageiros.
Por exemplo, neste mês de janeiro, devido à baixa demanda, reduzimos a tarifa mínima para R$10,00. Essa mudança aconteceu há cerca de quatro dias. Como também baixamos a mínima, ajustamos o percentual de repasse para os motoristas, que ficou entre 10% e 12%.
Nos meses anteriores, como outubro, novembro e dezembro, a tarifa mínima estava padronizada em R$11,00. Mas, como eu disse, tudo depende da demanda. Se um determinado horário tem mais chamadas, ajustamos a tarifa para cima.
Por exemplo, ontem de manhã a tarifa estava R$10,00. No entanto, entre meio-dia e duas da tarde, devido ao aumento das corridas, ajustamos a mínima para R$11,00.
Outro fator que influencia a tarifa são eventos locais. Atualmente, está acontecendo um campeonato de futsal na cidade, e nesses horários a mínima também pode oscilar. Pode estar em R$12,00, R$10,00 ou até R$14,00, dependendo do fluxo de corridas.
Entendi. Então o valor da corrida varia conforme a demanda do momento?
Nise: Exatamente. Se a demanda aumenta e há poucos motoristas disponíveis, ativamos a dinâmica para que os motoristas tenham um incentivo maior para atender as chamadas. Se começamos a perceber um acúmulo de chamadas pendentes, aumentamos os valores para evitar que os passageiros fiquem sem transporte.
E como funciona a taxa cobrada dos motoristas?
Nise: O percentual varia entre 10% e 12%, dependendo do momento para corridas que são chamadas. Além disso, temos a “maçaneta”, que é um valor fixo de R$0,50 cobrado independentemente da quilometragem. Isso foi uma estratégia para incentivar os motoristas a trazerem corridas externas para dentro do aplicativo, garantindo segurança tanto para eles quanto para os passageiros.
Por exemplo, temos corridas para Barbacena, que fica a 30 km de Barroso. Nesses casos, quando o passageiro solicita diretamente com o motorista, este registra a corrida no aplicativo para evitar qualquer problema com fiscalização da PRF, reduzindo riscos de viagens consideradas clandestinas.
Vocês têm um valor fixo por quilômetro rodado ou depende da tarifa?
Nise: Trabalhamos com faixas de valores. Para corridas curtas, até 3 km, a taxa de desconto fica entre 10% e 12%. Se a corrida ultrapassa esse valor, a taxa reduz proporcionalmente.
Por exemplo, uma corrida de até R$30,00 tem um desconto fixo de “X%”. Se o valor for maior, a taxa diminui ainda mais. Como os valores mudam de acordo com a demanda, é difícil estabelecer um percentual exato sem consultar a plataforma em tempo real.
Como funciona a tarifa dinâmica dentro do aplicativo?
Nise: A dinâmica é acionada quando temos muitas chamadas simultâneas e poucos motoristas. Para incentivar os motoristas a atenderem, aumentamos os valores da corrida, que podem variar entre 1.1x e 1.5x do valor normal.
A chuva também é um fator determinante. Aqui em Minas Gerais, quando chove forte, especialmente com granizo, a dinâmica é ativada automaticamente. Dependendo da intensidade, ajustamos para 1.2x, 1.3x ou até 1.4x.
Eventos e festas também influenciam. Se um bairro tem muitas chamadas em determinado período, ativamos a dinâmica para garantir que os motoristas compareçam.
Outro ponto interessante é que, em cidades pequenas, percebemos que alguns passageiros fazem várias chamadas seguidas e cancelam para escolher um motorista específico. Nesses casos, ativamos a dinâmica para esses passageiros, aumentando o valor da corrida conforme eles cancelam e refazem pedidos.
Nise, em média, quanto um motorista da plataforma fatura por mês?
Nise: Isso varia de acordo com o tempo de trabalho, mas aqui em Barroso os motoristas da Avancy estão faturando, em média, R$5.000,00 por mês. Esse valor considera um turno de trabalho de cerca de oito horas diárias e já está descontado das taxas cobradas pelo aplicativo.
Temos motoristas que trabalham mais horas, especialmente aqueles que alugam carros, e outros que possuem veículo próprio e rodam menos. Estamos, inclusive, estudando uma forma de reduzir a taxa para quem aluga carro. No geral, tanto quem tem carro alugado quanto quem tem carro próprio está conseguindo um faturamento líquido entre R$4.000,00 e R$5.000,00 por mês com essa carga horária.
Algum motorista conseguiu faturar mais do que essa média?
Nise: Sim, temos vários motoristas que se destacaram. Posso citar o meu próprio caso, já que, além de gestora do aplicativo, também trabalho como motorista à noite. Como administro a Avancy durante o dia, rodo apenas no período noturno, e consigo lucrar mais de R$5.000,00 por mês.
Os motoristas que trabalham no horário noturno costumam faturar mais porque as tarifas são um pouco mais altas. No entanto, quem trabalha pela manhã e tarde também consegue bons ganhos, especialmente aqueles que começam a rodar cedo. A maioria dos nossos motoristas supera os R$5.000,00 por mês, considerando a realidade econômica da cidade de Barroso.
Você sabe qual é o faturamento anual da empresa?
Nise: Essa parte financeira é mais administrada pelo Renilson, mas acredito que o faturamento anual da Avancy esteja acima de R$80.000,00.
E quais são os principais benefícios para os motoristas que trabalham na Avancy? Como a plataforma se diferencia de concorrentes como Uber, 99 e inDrive?
Nise: A Avancy oferece muitos diferenciais para os motoristas, e talvez eu até esqueça de alguns. Um dos principais incentivos é a possibilidade de isenção de taxa em determinados dias ou horários. Às vezes, deixamos as corridas sem taxa para os motoristas, o que aumenta a rentabilidade deles.
Outra estratégia que usamos é incentivar os motoristas a divulgarem a Avancy. Como estamos em uma cidade pequena, os passageiros têm muito contato direto com os motoristas. Para incentivar a divulgação, damos créditos na carteira dos motoristas que postam banners ou artes da Avancy no status do WhatsApp.
Alguns motoristas também colocam o link da Avancy na mensagem de saudação e na ausência do WhatsApp. Esses também recebem incentivos em crédito na plataforma.
Outro diferencial é a proximidade da gestão com os motoristas. Por estarmos em uma cidade menor, conseguimos manter um contato mais direto, ouvindo sugestões e buscando melhorias baseadas no feedback deles.
Além disso, já realizamos campanhas como o “PIX Premiado”, onde motoristas que atingem uma meta de corridas recebem um prêmio em dinheiro. Também criamos incentivos específicos para os motoristas que trabalham na madrugada, oferecendo um PIX para aqueles que realizam mais corridas nesse período.
Todos esses benefícios ajudam a manter os motoristas motivados e a garantir um bom volume de corridas na plataforma.
Nise, que tipo de conhecimento e habilidades você considera essenciais para um gestor de aplicativo?
Nise: Dedicação praticamente 24 horas para fazer o aplicativo acontecer. No início, dormíamos com o notebook e o celular na mão, porque precisávamos estar sempre disponíveis para os passageiros que chamavam a central de atendimento.
Para um gestor de aplicativo fazer o sistema funcionar, é essencial motivar a equipe. Além de mim e do meu sócio, contamos com mais quatro pessoas na administração do aplicativo. Essa equipe é fundamental, pois a gestão envolve muito mais do que apenas atender passageiros e motoristas. Precisamos monitorar a plataforma, ajustar tarifas e criar estratégias para melhorar a experiência de todos.
A automação tem sido essencial para agilizar os processos e reduzir a necessidade de ajustes manuais. No início, fazíamos muitas alterações manualmente, o que demandava um esforço enorme e nos impedia de descansar. Mesmo hoje, monitoramos o aplicativo 24 horas para identificar melhorias, fechar brechas e manter a liderança na cidade.
Outro ponto fundamental é a comunicação com os motoristas. Um gestor precisa incentivar sua equipe, ouvir as reivindicações e se comunicar de maneira eficiente, tanto com motoristas quanto com passageiros. Um ambiente de colaboração é essencial para evitar competição desnecessária e garantir um bom funcionamento da plataforma.
Para quem está começando e quer evitar gastos excessivos, o segredo é monitorar tudo de perto e se dedicar integralmente ao crescimento do aplicativo.
Nise, uma pergunta que esqueci de fazer: você mencionou que trabalha à noite e consegue faturar R$5.000,00. Descontando seus custos com gasolina, quanto sobra líquido?
Nise: Líquido, o valor fica em torno de R$5.000,00 mesmo. Esse também é o valor médio que os motoristas conseguem lucrar.
Essa é a média dos motoristas?
Nise: Sim, essa é a média. Mas quero explicar o motivo disso.
Aqui em Barroso, as tarifas são bem calculadas e, para alguns motoristas que questionam o valor, sempre sugerimos que experimentem rodar na Uber ou na 99 em cidades como Barbacena e São João Del Rey para compararem os ganhos. Como Barroso é uma cidade pequena, muitas corridas são de curta distância, mas também temos muitas viagens para cidades vizinhas.
Por exemplo, uma corrida para Barbacena, que fica a 30 km de distância, custa em média R$100,00 pelo aplicativo. Como o motorista só paga R$0,50 de taxa dentro da “maçaneta”, ele praticamente fatura R$99,50 líquidos.
Esse é um dos fatores que fazem com que o faturamento mensal fique acima dos R$5.000,00. Também temos muitas corridas para Dores de Campos, que fica a 16 km de Barroso, e custa em torno de R$50,00.
No fim das contas, os motoristas não ficam limitados às corridas dentro da cidade, o que contribui significativamente para o faturamento. O motorista que roda pouco ainda consegue faturar de R$3.000,00 a R$4.000,00 mensais sem muito esforço.
E para finalizar, vocês têm planos de expansão para os próximos meses?
Nise: Sim! Já adquirimos uma filial em Barbacena e estamos estudando a expansão para Dores de Campos. Nossa intenção era já estar atuando em Dores, mas tivemos algumas dificuldades devido à concorrência com a plataforma Maxime em Barroso.
A tecnologia da Maxime é muito bem aceita pelos passageiros, então tivemos que focar em estratégias para manter nossa liderança em Barroso antes de expandir. Acreditamos que, em dois ou três meses, já estaremos operando em Dores de Campos, até porque muitos motoristas de lá já estão cadastrados e trabalhando em Barroso.
A população de Dores também utiliza muito nosso serviço, pois precisa se deslocar para Barroso para resolver questões bancárias, compras e serviços de saúde. Então, temos uma demanda significativa esperando pelo aplicativo lá.
Quanto a Barbacena, estamos estudando melhor o mercado antes de expandir. Acreditamos que essa expansão possa ocorrer um pouco mais para frente.