A Uber não mostra mais para o motorista onde tem tarifa dinâmica. Isso é para o motorista trabalhar por necessidade e não pelo estímulo do multiplicador

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Opinião
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Cláudio Sena (1)
Cláudio SenaFoto: Cláudio Sena para 55content

Motoristas estão desmotivados com a falta de informações sobre locais com tarifa dinâmica, dificultando a estratégia de trabalho. A Uber mostra quando acontece e não onde. 

A Uber descobriu que não era um bom negócio para ela manter para os motoristas as informações sobre a tarifa dinâmica, porque, de posse dessas informações, os motoristas escolhiam melhor as áreas onde trabalhar, por conta própria e não por indicação dela. Isso é muito claro. Por exemplo, ao ligar o aplicativo, eu olhava no mapa e percebia: “Poxa, daqui a 10 quilômetros está tendo tarifa dinâmica”. Então, ou eu pegava uma viagem utilizando o recurso de destino, ou me deslocava mesmo vazio para chegar até lá. E eu não era o único a fazer isso.

Agora, você liga o aplicativo e o mapa está todo cinza, como forro de caixão. Não dá para se sentir estimulado a trabalhar, porque a tarifa dinâmica é um fator que incentiva o motorista a trabalhar mais e a fazer mais viagens. A empresa quer que você continue fazendo mais viagens, mas sem essa informação. No lugar da tarifa dinâmica, com o mapa vermelho, agora ela diz: “Seus ganhos são mais altos. É um bom momento para ficar online”.

A tarifa dinâmica, meu querido, não acabou. Ela existe, inclusive, com multiplicador para o passageiro. Só que, com as mudanças que a empresa fez ao longo dos anos, foi criada uma barreira que impede o motorista de acessar esse fator multiplicador. Isso virou o que chamamos de “dinâmico picolé”. Ainda assim, os motoristas aprimoraram suas estratégias, e a empresa descobriu que esse aprimoramento não era bom para ela.

Os motoristas estavam concorrendo diretamente com o interesse da empresa no atendimento e na realização de viagens. E, por isso, ela apagou a informação da tarifa dinâmica da tela do motorista. Quando o motorista liga o aplicativo, percebe que não tem mais aquele estímulo da dinâmica. Ele tem que se basear na necessidade de fazer viagens. É isso que a empresa quer: que você esqueça a tarifa dinâmica.

Agora, a dinâmica vai acontecer quando, onde, por que e para quem a empresa quiser. Você já deve ter feito viagens em áreas que, aparentemente, não tinham tarifa dinâmica. E, de repente, algo que normalmente custaria 25 ou 30 reais foi pago a você por 60 reais. Claro, você ficou satisfeito. Mas de onde veio aquele valor a mais? Veio da dinâmica, que está oculta para o motorista, mas em vigor para o passageiro.

Com essa mudança, a empresa amplia ainda mais o seu poder de manipular e tentar manter o motorista sob total controle. Não, você não vai para determinada área porque lá tem dinâmica. Você vai para a área que a empresa quer. Se ela quer que você fique ali, vai exibir para você a informação: “Agora seus ganhos são mais altos. É um bom momento para ficar online”.

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Cláudio Sena

Cláudio Sena iniciou sua trajetória como motorista de aplicativo em 2016, quando começou a trabalhar com a Uber.

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