Após boom meteórico, patinetes elétricos já não são mais vistos com tanta frequência nas cidades do Brasil.
Publicado em 25/04/2019 – Atualizado em 26/10/2021
A visão da mobilidade urbana como um mercado se popularizou principalmente através do sucesso de aplicativos de transporte ou de entregas.
Apesar disso, eles não são os únicos modelos de negócio que surgem no setor.
Na verdade, são muitas as possibilidades de serviços na mobilidade, limitados apenas apenas pela criatividade de quem idealiza e pela capacidade do serviço de realmente ser útil à população.
Foi com esse pensamento que Eduardo Musa, Ariel Lambrecht e Renato Freitas, fundadores do aplicativo 99, decidiram criar a Yellow, em agosto de 2018.
A Yellow é uma startup focada na micromobilidade urbana (meios de transporte de pequeno porte que utilizam a força humana, sejam elétricos ou menos poluentes) através de bicicletas e principalmente patinetes elétricos.
A decisão de fundar a Yellow veio após a consolidação da venda da 99 para a multinacional chinesa Didi Chuxing.
Eduardo, Ariel e Renato viam o grande potencial de negócios na mobilidade e já possuíam o conhecimento técnico e a experiência prática em como oferecer um negócio no ramo.
Cinco meses depois do lançamento, no começo de 2019, a Yellow anunciava sua fusão com a Grin, empresa mexicana especializada em patinetes elétricos, dando origem à Grow.
Ao longo de 2019, os patinetes fizeram um enorme sucesso e rapidamente passaram a fazer parte da rotina de muitos brasileiros.
Inicialmente presentes apenas em algumas capitais, como Rio e São Paulo, os patinetes se popularizavam cada vez mais e uma expansão dos serviços não parecia distante de ocorrer.
A expectativa era que assim como a 99, sua ‘irmã mais velha’, a Yellow/Grin também se tornasse um unicórnio (nome dado às startups avaliadas em US$ 1 bilhão). A empresa foi cotada inclusive para receber investimentos de mais de US$ 150 milhões do grupo Softbank.
Apesar disso, em Janeiro de 2020, a empresa retirou seus veículos das ruas, e em meados do mesmo ano iniciou um processo de recuperação judicial.
Quais os motivos da interrupção dos serviços?
Existem alguns motivos principais que levaram ao declínio do uso dos patinetes elétricos e consequentemente das empresas por trás deles.
Problemas internos
O primeiro ponto que deve ser destacado é a crise interna que a Grow atravessou.
Segundo apuração do jornal Estado de São Paulo, republicado pela Gazeta do Povo, havia uma separação entre a parte brasileira e a parte mexicana do conselho da empresa.
A principal divergência era qual deveria ser o principal produto da empresa.
A Grin acreditava que os patinetes deveriam ser o foco principal da empresa, enquanto a Yellow acreditava que as bicicletas seriam mais acessíveis.
O impasse foi vencido pela ala da Grin, que tinha maior poder no conselho administrativo após a fusão.
Inviabilidade Econômica
O segundo ponto notável foram as dificuldades econômicas que a empresa enfrentou.
A inviabilidade econômica tinha um eixo principal: o alto preço de aquisição e manutenção dos patinetes, que normalmente contavam com peças importadas, fazia com que fosse necessário repassar um valor alto aos clientes – R$ 8 a cada dez minutos.
Esse é um valor considerado alto para um transporte de curtas distâncias.
A questão da viabilidade não foi uma exclusividade da Grow. A Uber, que havia ingressado no mercado de patinetes em fevereiro, abandonou a empreitada em apenas 5 meses, em julho de 2020.
Além disso, a empresa estadunidense Lime, também encerrou suas operações na América Latina.
Legislação local
Outro aspecto que contribuiu para o afastamento dos clientes, foi a criação de leis para regulamentar o uso dos patinetes.
No período de lançamento e durante um tempo em 2019, não havia nenhuma legislação que delimitasse o uso dos patinetes nas cidades.
À medida que o uso desse meio foi se tornando mais popular, foi necessário intervenção dos governos municipais, até mesmo por uma questão de segurança dos pedestres.
Surgiram então limitações de velocidade, definição de lugares específicos para estacionamento e criação de lugares por onde os patinetes poderiam circular.
Apesar de necessárias, as novas regras acabaram por reduzir a praticidade que os patinetes conferiam aos usuários.
A micromobilidade que funciona
Em Abril de 2019, a equipe de marketing da Machine foi às ruas e testou os patinetes. A constatação na época, onde os patinetes ainda estava no seu auge foi a seguinte:
“Tanto pelo preço quanto pela infraestrutura ainda não ideal, nos questionamos se a finalidade dos patinetes seria mais para o entretenimento ou de fato pela mobilidade”.
Apesar dessa empreitada da micromobilidade não ter tido sucesso, outros negócios se mostraram muito úteis ao público.
O principal exemplo talvez seja o da startup Tembici, que ficou muito conhecida por oferecer as bicicletas compartilhadas do Banco Itaú.
Atuando hoje em cinco cidades diferentes no Brasil, além de Buenos Aires, na Argentina, e Santiago, no Chile, as bicicletas se mostraram muito mais viáveis como negócio do que os patinetes.