“Você vê o seu veículo, sua ferramenta de trabalho, sendo sobrecarregado por R$6,00 ou R$7,00. Isso não é justo”: motorista de aplicativo enfrenta dificuldades em Florianópolis

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Entrevista
Conversas com especialistas, gestores e profissionais do setor, com perguntas conduzidas pela equipe do 55content.
Tavane Cunha, motorista de aplicativo. Foto: Reprodução/ Arquivo pessoal.

Entre trânsito intenso e corridas de baixo valor, motorista de aplicativo enfrenta desafios para se manter em uma cidade de catarinense.

Tavane Cunha, motorista profissional há 26 anos, viu-se sem saída após ser demitido do serviço CLT e decidiu investir seu tempo nas corridas de aplicativo para complementar a renda.

Aos 54 anos, o gaúcho que se mudou para Florianópolis destaca os desafios enfrentados na cidade. Segundo ele, o cenário não é favorável para motoristas de aplicativo, especialmente em horários de pico. “Florianópolis está complicada. Não vale a pena pegar corridas em horários de pico. O preço da gasolina é R$ 6,50, enquanto viagens de demanda média pagam apenas R$10,00 ou R$12,00”, diz.

Mesmo em momentos de maior demanda, ele observa que os desafios permanecem. Ele explica que, ao dirigir em áreas com trânsito travado, é praticamente impossível rodar. Além disso, ele ressalta a grande variação de valores entre os destinos, atentando-se às chamadas mais bem pagas. “Tem que estar no local certo e na chamada certa para não correr atrás de moedas”, afirma, utilizando uma metáfora que reflete a dificuldade em obter lucro.

Sobre sua média de faturamento, Cunha detalha que, considerando uma carga horária de motorista profissional, seu objetivo diário seria entre R$150,00 e R$200,00.

“Minha média salarial, considerando uma carga horária de motorista profissional, seria de R$150,00 a R$200,00 por dia. Para atingir essa meta, tenho que trabalhar mais de oito horas diárias por conta das demandas e valores baixos. Se for depender das chamadas de R$7,00 ou R$10,00, não consigo atingir essa média.”

Ele também relata que chamadas de R$6,00 ou R$7,00 não cobrem o custo de um litro de combustível. Tentando adaptar sua rotina, Tavane experimentou trabalhar em diferentes horários.

Ele explica que, durante a manhã, entre 6h e 8h, os valores não compensam, e a demanda entre 9h e 11h caiu, resultando em corridas de baixo valor. “Passo muito tempo parado, tentando encontrar opções viáveis, o que acaba sendo perda de tempo”, conclui.

Além disso, o motorista observa que, mesmo quando há demanda, o trânsito em determinadas áreas de Florianópolis inviabiliza o trabalho. A variação de valores entre locais reforça a necessidade de tomar decisões estratégicas para evitar prejuízos.

E completa: “A variação de valores entre localidades é grande, exigindo que o motorista esteja no lugar certo e na chamada certa para evitar o que chamo de ‘correr atrás de moedas’.”

Você acredita que a sua experiência como motorista há 26 anos, só que não com aplicativo, te auxilia no dia a dia ao trabalhar com as plataformas?

Muito. Para a plataforma, eu diria que sou um cara especial para eles, porque eu conheço, sei como tratar o passageiro. Sou motorista de transporte coletivo, sei como tratar o passageiro da melhor forma: uma boa viagem, com segurança e tudo o que a plataforma precisa. Não estou desmerecendo os outros colegas, todo mundo tem o mesmo direito.

Estou falando por mim, respondendo à tua pergunta. Acho que sou um cara perfeito para a plataforma pela experiência de trânsito, conhecimento de normas de segurança, pela forma de transportar o passageiro corretamente. Isso, com certeza, influencia. Eu penso nisso quando me destaco e decido trabalhar na plataforma. Sou motorista há 26 anos, tenho o básico na minha profissão. Vou conseguir manter isso? E a que custo?

Você acredita que os valores pagos pelas plataformas são justos?

Não, eu acho que não é justo. Poderiam melhorar as tarifas. Ter uma tarifa inicial fixa, independente da distância, seria interessante. Isso ajudaria no deslocamento, porque atualmente, em determinados horários, os valores são muito baixos. Chega a ser inviável.

É muito chato quando quatro pessoas entram no carro com bagagens e dizem: “Vamos de Uber porque é mais barato que o ônibus”. Aí você vê o seu veículo, que é a sua ferramenta de trabalho, sendo sobrecarregado por R$6,00 ou R$7,00. Isso não é justo.

Já vi corridas de R$5,50. Como se deslocar para buscar uma corrida desse valor com o litro da gasolina a R$6,50? Não tem como.

O que significa, para você, ser motorista de aplicativo em Florianópolis?

É correr contra o tempo sempre. É bom trabalhar para si mesmo, mas as plataformas precisam olhar mais para o motorista. Respeito a Uber como uma plataforma séria, mas sinto que estamos sendo deixados de lado em muitos aspectos.
Acho que as plataformas poderiam analisar mais as necessidades dos motoristas, ajustar valores e considerar o esforço que colocamos no trabalho. Isso ajudaria muito.

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