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Taxa da Uber nunca passou de 25%. Fiz R$ 150 mil em 2024; tirando todos os custos lucrei cerca de de R$ 7.500 por mês

Perfil de um motorista de aplicativo chamado Renato, com avaliação 4,92 estrelas, alta aprovação, 9% de cancelamentos e 17% de aceitação, mostrando o Pão de Açúcar ao fundo.
Foto Renato para 55content

Renato Capristano começou sua trajetória como motorista de aplicativos em 2021, em meio às dificuldades econômicas impostas pela pandemia. Desde então, alcançou resultados notáveis na Uber, combinando planejamento financeiro, dedicação e uma rotina disciplinada. Em 2024, ele registrou um faturamento bruto de R$ 150 mil, conciliando altos rendimentos com uma estratégia focada no controle de custos.

Ao longo do ano, Renato destacou-se por estabelecer metas diárias e semanais claras, alcançando um lucro líquido médio de R$ 7.500 por mês após considerar despesas como combustível, manutenção e custos do veículo. Para ele, o segredo está em aliar matemática e experiência, priorizando corridas curtas e otimizando seus ganhos mesmo em cenários desafiadores. Confira abaixo a entrevista completa:

Então, Renato, fiquei sabendo que desde que você entrou na Uber seus ganhos só aumentaram. Gostaríamos de saber um pouco da sua história nos aplicativos. Quando você começou e por que decidiu ser motorista?

Eu comecei em 2021, durante a pandemia. Trabalhava com drinks, mas, com o fechamento de tudo no Rio de Janeiro, precisei buscar outra alternativa. Minha esposa comprou um Sandero por R$ 23 mil para mim. Com ele, fiz um bruto de R$ 240 mil e, no ano passado, vendi o carro por R$ 20 mil, trocando por outro veículo. Minha trajetória na Uber começou por necessidade, já que eu tinha uma boa renda antes da pandemia. Quando tudo parou, resolvi arriscar no mundo dos aplicativos e estou aqui até hoje. Acho essa profissão uma das melhores, pois os resultados dependem de você. Se em um mês quero fazer R$ 10 mil, consigo. Se quero R$ 15 mil, é só me esforçar mais. Não vejo muita diferença entre mim e outros profissionais. Quem realmente consegue um bom ganho hoje em dia? Quase ninguém. Para mim, a vida como motorista de aplicativo é muito boa.

Renato, gostaria de entender um pouco sobre a sua rotina. Você trabalha todos os dias da semana? Quais horários? E como organiza os lugares e horários de pico para se posicionar melhor?

Eu começo a trabalhar todos os dias às sete da manhã. Levo minha esposa ao trabalho e já inicio minhas atividades. Sempre tiro um tempo para descansar à tarde, dormindo cerca de duas horas. Geralmente, trabalho cerca de 12 horas por dia e foco bastante nos finais de semana, que são os dias mais produtivos. Costumo folgar nas segundas e terças. Sobre locais, antigamente, com meu carro anterior, ia para qualquer lugar no Rio de Janeiro, dependendo da corrida e da chance de retorno.

Entendo que, na Uber, você vai para um local ganhando bem, mas pode voltar com um retorno menor. É uma realidade parecida com a de outros profissionais liberais: você gasta para chegar ao trabalho. Se pego uma corrida para Campo Grande, sei que, na volta, o ganho será menor, já que é uma área com menos demanda e menor poder aquisitivo. Assim, foco no quilômetro rodado e na hora trabalhada, equilibrando ambos. Muitos colegas priorizam apenas um, mas acredito que os dois são igualmente importantes. Sei exatamente quanto custa meu quilômetro, e essa matemática é essencial para manter meus ganhos positivos.

Então, pelo que você falou, não parece ser um motorista que cancela muitas corridas. É isso mesmo?

Não é bem assim. Na verdade, recuso bastante. Minha taxa de aceitação está em 9% e a de cancelamento, em 21%. Porém, se uma corrida é viável, eu faço. Não fico escolhendo apenas zonas específicas para trabalhar, como a Zona Sul, onde a concorrência é muito alta. Perigo, no Rio de Janeiro, existe em qualquer lugar. Meu carro atual, um Logan 2020, também ajuda. Por ser mais discreto, não chama tanta atenção, o que aumenta minha segurança e maximiza meus ganhos. Se eu tivesse um carro mais caro, como um Corolla híbrido, isso me limitaria em certos locais. Então, com meu carro atual, se a corrida é boa e está pagando bem, eu aceito sem receio.

E, Renato, como você conseguiu aumentar seus ganhos todos os anos? Muitos motoristas reclamam que, com o passar do tempo, os custos aumentam e a Uber não melhora os repasses. Queria entender como você conseguiu.

Primeiro, cada ano que a Uber parece piorar para os outros, eu consigo melhorar. Não concordo com essa ideia de que a Uber não aumenta. Quando comecei, as tarifas eram diferentes, e acredito que muitos motoristas não falam a verdade sobre isso. Por exemplo, a taxa da Uber, nos meus quatro anos de trabalho, nunca passou de 25%. Claro, algumas corridas têm taxas maiores e outras menores, mas no final do mês a média não ultrapassa esse valor.

Eu fui aprendendo sozinho, sem participar de grupos. Na minha visão, esses grupos atrapalham mais do que ajudam, com exceção de alguns pagos que podem ser úteis. Quando comecei, em meu primeiro ano, ganhei R$ 60 mil. Depois, ao ver que outras pessoas conseguiam mais, decidi me dedicar ainda mais e aumentei meu ganho anual para R$ 150 mil. Isso foi um avanço muito significativo para mim, e acredito que poucas pessoas conseguiram algo assim no Brasil.

Quando a Uber acabou com o dinâmico, comecei a focar em corridas curtas. Se você olhar meus dados, verá que fiz cerca de 5 mil corridas em um ano. A corrida curta é mais rentável porque, por exemplo, em 2 km, ganho R$ 7, o que equivale a R$ 3,50 por quilômetro. Para mim, o segredo não está em estratégias ou posicionamento, mas sim na matemática. Não adianta estar bem posicionado ou ter uma boa estratégia se as corridas não aparecem.

Neste ano, tenho feito um esforço para não ultrapassar os R$ 150 mil anuais, ajustando minha meta para R$ 11 mil por mês, com os últimos dois meses alcançando R$ 15 mil. Mesmo assim, é fácil alcançar essa projeção. O problema é que muitas pessoas reclamam demais.

Até 2023, você era X. E em 2024, foi para o Comfort, certo?

Exatamente. Meu carro é de 2020 e ainda está na lista de veículos aceitos para o Comfort. Os resultados financeiros que alcancei até 2023 foram apenas no UberX. Trabalhar na capital, como no Rio de Janeiro, também contribui bastante para alcançar metas.

De 2021 para 2024, você acredita que o aumento nos seus ganhos se deve à sua experiência?

Com certeza. Minha experiência, aliada à estratégia matemática, foi fundamental. O resultado bruto é simples de alcançar, mas o líquido é o verdadeiro desafio. No ano passado, considerando todas as despesas, tive um salário líquido de quase R$ 8 mil por mês com o aplicativo.

Sobre a depreciação do carro, não acredito que ela exista da forma como muitos dizem. Quando termino de pagar o veículo, ainda tenho um valor considerável nele. Por exemplo, se ganhei R$ 200 mil com o carro e ele ainda vale R$ 50 mil, considero que não houve depreciação significativa, pois o veículo é apenas uma ferramenta para gerar dinheiro.

Outro ponto importante foi meu foco e disciplina. Minha rotina permite que eu trabalhe entre 12 e 14 horas por dia, pois meus filhos já são mais velhos, com menos necessidade de atenção constante. Entendo que quem tem filhos pequenos precisa estar mais presente, mas no meu caso, consigo me dedicar bastante ao trabalho. Também paro para descansar durante o dia, o que ajuda a manter minha produtividade alta. Essa é a minha rotina.

Você mencionou que, no ano passado, conseguiu ganhar cerca de R$ 8 mil por mês líquidos, já considerando os custos de gasolina, manutenção, entre outros. Pode explicar como chegou a esses números?

Sim, eu separo tudo por porcentagem, e esses dados estão bem organizados. No total, fiz R$ 150 mil no ano. Desses, R$ 33 mil foram gastos com combustível, R$ 7 mil com manutenção e R$ 22 mil com custos do carro. Para mim, o carro tem três despesas principais: manutenção, combustível e o custo do próprio veículo.

Dividindo os gastos, combustível representa 22%, manutenção, 5%, e os custos gerais do carro, o restante. Após pagar tudo, ainda sobraram R$ 7.700 por mês. Quem tem esse salário no mercado hoje? É muito difícil. Vejo que um problema para os motoristas da Uber é não perceberem que o trabalho oferece oportunidades acima da média. O salário médio no Brasil é inferior a R$ 1.600, então, como esperar ganhar muito mais sem esforço?

Sempre corri atrás. Se amanhã eu parar de trabalhar na Uber e voltar ao meu negócio de drinks, vou ganhar igual ou melhor. Tenho um perfil focado e desenrolado, o que me ajudou a dar uma boa educação para meus filhos. Apesar disso, meu exemplo acabou atrapalhando um pouco. Meu filho Thiago, por exemplo, estava na faculdade e me disse: “Você não tem faculdade e sempre ganhou bem.” Respondi que sou exceção, não a regra. Sempre consegui me adaptar e gerar bons resultados.

Você trabalha com alguma meta específica, diária ou semanal?

Minha meta é semanal, no mínimo R$ 2.500. Como levo minha esposa ao trabalho, acabo diluindo o tempo que dedico, mas mesmo assim consigo atingir a meta. Se eu trabalhasse de quinta a domingo, também seria possível alcançar esse valor, mas prefiro distribuir ao longo da semana.

Trabalhar no Rio de Janeiro é relativamente fácil. Não participo de grupos e nem uso ferramentas como TSW ou Stop Club. Minha principal ferramenta é a matemática. Já fiz até um vídeo comentando que não dá para mentir para a matemática. Analiso cada corrida, calculo quanto vou ganhar, e minha meta mínima é de R$ 40 por hora. Trabalhando 12 horas, consigo R$ 480 por dia. Não fico esperando corridas que paguem R$ 100 por hora. Prefiro ir acumulando corridas e atingir minha meta diária de forma consistente.

Quais erros você acredita que os motoristas mais cometem no trabalho?

O principal erro é não fazer contas. Muitos motoristas não calculam os custos e acabam não sabendo se uma corrida é realmente rentável. Isso está muito ligado à falta de educação financeira e matemática no Brasil. Para mim, é essencial entender se uma corrida vale a pena.

Por exemplo, hoje, saí de São Gonçalo e peguei uma corrida de 30 quilômetros por R$ 37. Não ganhei nem R$ 1,30 por quilômetro, mas precisei fazer essa corrida para chegar à minha área de atuação no Rio de Janeiro. Depois disso, consegui otimizar minhas corridas e recuperar o ganho. Porém, se eu passasse o dia inteiro fazendo corridas a R$ 1,70 ou R$ 1,50 por quilômetro, não teria lucro.

Por isso, reforço que matemática é o principal diferencial para um motorista de aplicativo. Saber calcular e planejar metas é essencial para transformar o trabalho em algo rentável.

Renato, quais foram os principais desafios que você enfrentou ao longo desses anos? E qual conselho você daria para quem está começando?

Sinceramente, acho que não tive grandes desafios. Comecei já com o carro quitado, pois minha esposa passou em um concurso público e conseguiu comprar o carro para mim. Isso fez toda a diferença, porque comecei sem o peso de pagar prestações. Então, não enfrentando dificuldades financeiras iniciais, acredito que minha trajetória foi mais tranquila.

O único grande desafio foi o medo de adoecer durante a pandemia, algo que me deixou bastante apreensivo. No geral, minha experiência foi muito positiva.

Para quem está começando, o principal conselho que dou é buscar aprendizado desde o início. Muitos motoristas iniciantes não sabem se portar em situações básicas, como trabalhar em aeroportos ou aproveitar momentos de alta demanda. Participar de grupos pagos ou mentorias pode ser uma boa ideia, pois ajudam a evitar erros comuns e trazem mais conhecimento sobre o mercado.

No entanto, sei que nem todos têm condições financeiras para investir em treinamentos logo de cara. Nesse caso, a solução pode ser ingressar em grupos gratuitos no WhatsApp com outros motoristas para trocar experiências e aprender sobre o dia a dia.

Outra coisa importante é estudar, principalmente matemática, para entender os custos e os ganhos. A Uber não oferece treinamento para novos motoristas, e isso é algo que considero uma falha. Se a empresa investisse em ensinar o básico, muitos poderiam evitar problemas logo no início.

Você prefere trabalhar com a Uber ou a 99?

Prefiro a Uber. A 99, para mim, é o pior aplicativo. Eles têm práticas como bloquear motoristas por taxas de finalização abaixo de 70%, o que considero desrespeitoso. Já vi amigos que fizeram corridas pela 99 no cartão ou pelo Vale e não receberam. Dos R$ 150 mil que fiz no ano passado, menos de 2% foi na 99. Acho que, se a Uber já tem seus problemas, a 99 é ainda pior.

Você gostaria de acrescentar mais alguma coisa?

Sim. Tive uma experiência marcante quando fui bloqueado na Uber por uma acusação de racismo, que considero o pior momento da minha trajetória. Isso aconteceu logo depois que comprei um carro novo, e eu ainda não havia pago nenhuma prestação. Foi uma situação muito difícil, mas fui à Uber pessoalmente e fui muito bem tratado. Minha conta foi desbloqueada em quatro dias.

Acredito que meu histórico de conduta no aplicativo foi fundamental para resolver a situação rapidamente. Sempre trabalhei de forma ética, sem recorrer a práticas desonestas. Hoje, utilizo o recurso de gravação de corridas no próprio aplicativo para evitar problemas semelhantes no futuro.

Outro ponto importante é que trabalhei no UberX durante a maior parte da minha trajetória. Só em 2024 migrei para a categoria Comfort, e continuo nela até hoje. Muitos acham que só é possível ter bons resultados no Black, mas acredito que começar pelo X traz uma experiência essencial para quem está entrando no mercado.

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Giulia Lang

Giulia Lang é líder de conteúdo do 55content e graduada em jornalismo pela Fundação Cásper Líbero.

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