Nesta entrevista, conversamos com Luiz Fernando Muller, presidente da Associação dos Motoristas de Aplicativo do Espírito Santo (AMAPES), para entender o papel fundamental das associações e sindicatos na defesa dos direitos dos motoristas de aplicativo.
Luiz compartilha sua trajetória, que começou por necessidade, e como sua experiência pessoal o motivou a lutar por melhores condições de trabalho e uma representação mais justa para a categoria. Ele também aborda as principais conquistas da associação, os desafios enfrentados pelos motoristas e a importância de uma regulamentação adequada para garantir dignidade e proteção financeira.
Luiz, estamos entrevistando sindicatos e associações de diferentes estados para esclarecer a importância dessas entidades para os motoristas, independentemente do estado. Esse é o objetivo da nossa conversa. Para começar, gostaria de saber: o que te levou a se tornar motorista de aplicativo, a fazer parte da associação e a se tornar presidente? Como você chegou até aqui?
Luiz: Eu me tornei motorista de aplicativo por necessidade. Eu era proprietário de uma empresa, mas tive problemas financeiros e precisei fechar. Depois, comecei a trabalhar em uma empresa privada, mas o rendimento era muito inferior ao que eu tinha antes. Então, comecei a trabalhar como motorista de aplicativo.
Com o tempo, entrei em alguns grupos de WhatsApp e percebi que as reclamações eram sempre as mesmas: condições ruins, falta de representação, tarifas baixas. Então, decidimos criar uma associação, a AMAPES. Inicialmente, fui eleito vice-presidente, mas, um dia depois, o presidente desistiu, e desde 2018 estou à frente da associação.
Nosso objetivo é trazer benefícios aos motoristas de aplicativo, oferecer uma representação política forte e lutar por melhores condições de trabalho.
Entendi. E qual é a diferença entre uma associação e um sindicato? Por que optar por uma associação em vez de um sindicato?
Luiz: A associação foi o primeiro passo para ajudar os motoristas. Através dela, conseguimos oferecer benefícios e uma representação mais voltada para o estado e os municípios. Agora, estamos desenvolvendo um sindicato, que terá um alcance maior, a nível nacional. Com isso, poderemos representar oficialmente todos os motoristas do Estado do Espírito Santo e trabalhar por regulamentações mais amplas.
Você continua trabalhando como motorista de aplicativo?
Luiz: Sim, é minha única fonte de renda.
Quais foram as maiores conquistas da Associação do Espírito Santo até agora?
Luiz: Tivemos algumas conquistas importantes. No Espírito Santo, criamos a primeira frente parlamentar estadual em defesa dos motoristas de aplicativo do país. Também realizamos a primeira CPI dos crimes cibernéticos relacionados à Uber e à 99, as duas maiores operadoras do Brasil. Isso permitiu que convocássemos oficialmente diretores das duas empresas.
Com essa representatividade, conseguimos reativar mais de 500 motoristas nas plataformas sem precisar recorrer à justiça, apenas com acordos extrajudiciais entre nossos advogados e os das operadoras.
Outra conquista foi tornar Vitória a primeira cidade do Brasil onde o destino dos motoristas na Uber passou a ser exibido antes da aceitação da corrida. Isso foi resultado da nossa frente parlamentar. Além disso, participamos de regulamentações municipais e integramos a FEMBRAP, a Federação dos Motoristas de Aplicativos, onde atuamos diretamente em Brasília para buscar melhores condições para a categoria.
Quais são as maiores dificuldades enfrentadas pelos motoristas de aplicativo atualmente?
Luiz: A principal dificuldade é o baixo valor das tarifas. Isso tem um grande impacto social e financeiro. Hoje, os motoristas precisam trabalhar cada vez mais para ganhar cada vez menos. Com isso, passam menos tempo com suas famílias, sua qualidade de vida cai e seu poder de compra diminui. Esse problema é agravado pela inflação e pela falta de reajuste nas tarifas.
É uma situação que precisa ser discutida e enfrentada para garantir condições dignas para todos os motoristas de aplicativo.
Está sendo debatida a regulamentação para os motoristas de app. O processo está pausado, mas ouvi dizer que deve voltar em março. Qual o papel da associação nessa regulamentação?
Luiz: Estamos participando ativamente, junto com a Federação Nacional. Como diretor da Federação, já estivemos duas vezes em Brasília. Somos contra o PL-12 na forma em que ele está apresentado. Defendemos o PL-536, que é um projeto construído por motoristas de aplicativos. O ideal é encontrar algo urgente e em comum acordo para tirar os motoristas desse limbo jurídico em que se encontram atualmente, garantindo também uma proteção financeira adequada.
Hoje, é fundamental definir um valor justo para os motoristas de aplicativo, de acordo com os padrões econômicos do Brasil. Atualmente, as tarifas estão muito baixas. Por exemplo, na nossa cidade, a tarifa do ônibus é R$ 4,40, enquanto um motorista recebe apenas R$ 6,85 mesmo transportando quatro passageiros no mesmo trajeto. Isso é desproporcional.
Então, podemos afirmar que a associação e a federação não defendem o PLP 12/2024 na forma atual e apoiam o PLP 536 de Daniel Agrobom?
Luiz: Exatamente. Defendemos o PLP 536.
Que conselhos vocês dariam para quem está começando a trabalhar com aplicativos?
Luiz: O principal conselho é que o motorista faça uma avaliação financeira antes de começar. Muitos pensam que basta pegar o carro e sair dirigindo para ganhar dinheiro, mas é essencial manter as contas em dia e ter educação financeira.
O motorista precisa saber calcular seus custos por quilômetro, entender suas despesas reais e analisar se está, de fato, obtendo lucro. A atividade de motorista de aplicativo gera dinheiro diariamente, mas, sem um bom controle financeiro, pode acabar gerando prejuízo.
Você gostaria de deixar uma mensagem final para os motoristas de aplicativo?
Luiz: A principal mensagem é que os motoristas precisam se unir. Devemos deixar de lado as disputas de ego, seja entre influenciadores ou entre os próprios motoristas. Essa é uma das maiores categorias do país, mas, infelizmente, ainda não é unida.