Especialista em eletromobilidade comenta sobre o mercado no Brasil e o impacto na vida dos motoristas de app.
A EZVolt, uma das principais redes de recarga elétrica do Brasil, revelou detalhes sobre sua trajetória e contribuição para a eletromobilidade no país. A empresa oferece o aplicativo Easy Volt, que facilita a localização dos principais pontos de recarga para veículos elétricos, tornando a experiência de dirigir um carro elétrico mais prática e eficiente.
Hoje, a empresa conta com eletropostos próprios distribuídos por 21 estados do Brasil. Além disso, oferece o serviço Charge as a Service, que inclui toda a infraestrutura necessária para a recarga de veículos elétricos. Nesse modelo, a empresa pode cobrar um aluguel ou, em alguns casos, pela energia consumida.
Em 2023, após receber o segundo aporte da Vibra, a empresa se consolidou como a mais verticalizada do setor. “Temos eletropostos em São Paulo e estamos prestes a inaugurar dois no Rio de Janeiro: um na Avenida Brasil e outro na Avenida das Américas, na Barra da Tijuca. Estamos na fase final da conclusão das obras. Oferecemos serviços de recarga para condomínios residenciais, onde avaliamos a demanda, instalamos um ou mais carregadores e cuidamos de toda a infraestrutura”, afirma Rodrigo de Almeida, Chief Relationship Officer.
Rodrigo destaca que o principal desafio para os postos de recarga no Brasil é a disponibilidade de redes elétricas. “O problema não é a falta de carregadores ou locais para instalação, mas sim a limitação na disponibilidade de rede elétrica, que é o gargalo para uma expansão mais ágil da infraestrutura.”
Para enfrentar esse desafio, Rodrigo sugere um maior investimento nas redes das concessionárias: “Como as redes são controladas por elas, sem concorrência, deveriam investir mais.”
A EZVolt dispõe ainda de eletropostos públicos e instalações em redes privadas, como condomínios. Almeida revela: “Em junho, realizamos mais de 30 mil sessões de recarga. Temos 1.360 carregadores e mais de 30 mil usuários ativos no app, dos quais 60% são de nossa própria rede.”
Uma das preocupações que os motoristas têm em migrar para o veículo elétrico é se eles não vão ficar na mão. Como você enxerga esse cenário no Brasil hoje? Você acha que realmente é mais uma falta de comunicação, as pessoas não sabem, ou se realmente existe esse risco de ele ficar sem carga, de não encontrar um local para recarregar?
Eu acho que isso hoje é menos verdade do que já foi. Acontece o seguinte: quando olhamos para a situação com uma perspectiva histórica, conseguimos entender o momento que estamos vivendo com muita clareza. Para ilustrar, a combustão começou no Brasil em 1891, e o primeiro posto de gasolina, que na verdade era só uma bomba na rua em Santos, surgiu 29 anos depois. Agora, olha só: o primeiro carro elétrico vendido livremente para o consumidor final no Brasil foi o BMW i3, em 2015, e já estamos em 2024. As coisas estão acontecendo muito mais rápido.
O que temos que entender é que é impossível ter a mesma disponibilidade para carros elétricos que existe para carros a combustão, um mercado que tem mais de um século. A frota de carros elétricos cresce mais rápido que a infraestrutura de recarga. As montadoras estão despejando mais carros elétricos do que o tempo necessário para instalar as estações de recarga. Mas tem algo que esquecemos: motoristas de aplicativos rodam, em média, até 300 quilômetros por dia. E muitos deles não precisam recarregar durante a jornada, e, quando precisam, é só uma pequena recarga para terminar o dia.
Então, a infraestrutura está sendo desenvolvida e implementada, com muita coisa acontecendo. A própria EZVolt, por exemplo, está instalando novos pontos de recarga na Barra da Tijuca e na Avenida Brasil, no Rio. Tem demanda, e a oferta está vindo. No entanto, preparar um local com a rede elétrica disponível e adequada para um carregador rápido não é um processo rápido. É necessário pedir autorização ao concessionário, e isso demora. No caso da Light, no Rio, também é assim.
Eu acho que o risco de ficar sem carga existe porque ainda estamos em um processo de crescimento, mas não é um risco grande. Hoje, você consegue verificar se o carregador está funcionando bem nos aplicativos. O que pode acontecer é que você tenha que esperar para carregar, mas dificilmente vai ficar sem recarga.
Conte sobre a participação de vocês na Aliança pela Mobilidade. Como foi essa entrada? E como vocês atuam dentro desse grupo de empresas?
A EZVolt é uma das principais empresas de recarga do Brasil. Na minha opinião, somos até a maior, porque temos uma rede própria muito grande, que não é pública, mas sim voltada para empresas e condomínios, tanto públicos quanto privados, sem uso público direto. Entramos em contato com a Aliança alguns meses após ela surgir, e o pessoal da 99 percebeu que fazia todo sentido nossa participação. No mesmo ano em que entramos, fizemos um grande eletroposto em São Paulo em parceria com a 99, o que foi muito bacana.
Nossa presença na Aliança nos dá muita voz, e conseguimos contribuir de forma efetiva, desenhando boas soluções para os motoristas. A 99, como empresa que gerencia uma frota de motoristas de aplicativo, participa de algumas concessões e descontos. Claro que, quando há algum tipo de desconto ou tarifa diferenciada, é preciso haver uma compensação. Imagina, se temos demanda para vender energia, por que vender mais barato, certo? Mas não se preocupe, a gente não vende mais caro. A gente faz uma parceria equilibrada.
Apesar de não termos exclusividade com a 99, estamos conversando com a Uber, e talvez algo saia dessa negociação. Somos uma empresa voltada para o futuro e estamos sempre disponíveis para fazer bons negócios com as empresas que exploram o serviço de aplicativos. Temos vários locais e podemos abrir novos eletropostos conforme a demanda. Desde o início, como comentei, os motoristas de aplicativo são um dos nossos principais clientes, além das frotas e outras empresas.
Observamos que realmente os aplicativos de transporte, os motoristas de aplicativo, têm sido vistos geralmente como um canal importante para a popularização da eletromobilidade. A gente tem a Uber anunciando parceria com a BYD, com a JAC Motors, a própria 99 também tendo parceria com a BYD, lançando categoria específica para carros elétricos. Como você enxerga esse movimento, por que você acha que esse público é tão importante mesmo para o mercado de eletromobilidade?
O motorista de aplicativo, assim como o taxista, trabalha com o seu veículo, o carro é a ferramenta de trabalho. Não tem como comparar os custos de manutenção do carro elétrico com o carro a combustão, é muito mais barato o eletrificado. Claro, que se ele carregar em casa, terá menos custos ainda.
É extremamente natural que exista essa tendência de ampliar a frota dos motoristas de app com o carro elétrico, ainda mais agora que os preços estão diminuindo.