Rodando no UberX e no Comfort, eu faturo de R$3.000 a R$3.200 por semana

Motorista de app comenta: “Se o motorista de app pega uma corrida de R$1,20 por km, mas que entrega um ganho de R$70 a R$80 por hora, vale a pena”. 

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Entrevista
Conversas com especialistas, gestores e profissionais do setor, com perguntas conduzidas pela equipe do 55content.
Vista aérea do centro de Belo Horizonte, destacando a Praça Raul Soares cercada por prédios altos e vias movimentadas.
Foto: Reprodução/Wikimmedia Commons

Com pouco mais de um ano de experiência como motorista de aplicativo em Belo Horizonte, Daniel Garcia compartilha sua trajetória de adaptação ao setor e revela a estratégia por trás de faturamentos que chegaram a ultrapassar R$15 mil por mês. Nesta entrevista ao 55content, ele fala sobre rotina intensa, gestão de custos, dificuldades enfrentadas na cidade e os desafios das tarifas em horários de pico. Daniel também reflete sobre a profissão em 2025, defende o foco no ganho por hora como métrica principal e traz uma perspectiva prática para quem está começando.

Eu gostaria de saber o que você faz, sobre a experiência de desenvolver esse aplicativo. E a minha primeira pergunta é para você, motorista: o que te ajudou a começar a realizar esse tipo de atividade?

Daniel: Eu rodo há um ano, um ano e três meses agora. Comecei em janeiro do ano passado. Entrei na Uber por indicação de um amigo. Eu estava morando fora do país e, quando voltei para o Brasil, fiquei sem profissão, porque tinha deixado minha carreira para ir embora. Mas não deu certo. Quando retornei, estava procurando o que fazer, e esse amigo, que já rodava no app, falou: “Vai rodar! Você dirige bem, vai pegar fácil.”

Aí comecei com um carro alugado, um Gol. Eu não sabia absolutamente nada sobre rodar aqui em Belo Horizonte. Aos poucos fui melhorando. Depois passei para um Cronos da Localiza, pelas Zarp, e continuei evoluindo. Comecei a me conectar com algumas pessoas daqui de BH, que foram me dando dicas sobre como rodar melhor e faturar mais.

Depois disso, peguei um Corolla particular, pela Black. Hoje, estou novamente com carro do Confort, rodando de HB20. Mas o ponto de virada foi a partir de maio do ano passado. Foi quando realmente aprendi a rodar e comecei a estudar muito sobre isso.

Inclusive, fiz o maior resultado de BH em um único dia, em novembro. Se não me engano, fiz R$1.760 em um único dia.

Caramba!

Daniel: E é isso. Hoje estou em outra pegada, mais tranquilo. No ano passado eu estava com foco total em faturamento, querendo bater metas altas. Fiquei cerca de cinco meses seguidos faturando mais de R$15 mil por mês. Mas agora, em 2025, estou mais leve, buscando outras fontes de renda também, não só com o aplicativo.

Agora eu gostaria de saber um pouco mais sobre a sua experiência de apresentação. Você comentou que começou com relação no passado, mas hoje em dia, seu trabalho é de que horas a que horas? Você folga algum dia da semana? Ou você é guiado por alguma meta? Como é que é essa relação para você?

Daniel: Hoje eu trabalho de segunda a sábado e folgo no domingo. Acho interessante comentar aqui também sobre o fórum, o portal que eu já acompanho há algum tempo, e levantar uma questão legal pra você: o grupo que temos aqui em Belo Horizonte.

O grupo se chama Choferando. Ele reúne algumas pessoas, principalmente influenciadores daqui de BH. A gente cobra uma mensalidade e oferece alguns benefícios que geralmente só os seguros oferecem: reboque, pane seca, chaveiro, esse tipo de serviço. Também temos rastreamento, se o motorista quiser, ou apenas o monitoramento em tempo real (live).

Mas o mais importante mesmo é o zelo, o cuidado. Fora essa parte de administração do grupo, minha rotina de trabalho normalmente começa ao meio-dia. Eu entro no zelo e trabalho cerca de 12 horas, indo até meia-noite, de segunda a sábado.

Nas sextas e sábados eu costumo esticar mais. Começo por volta de duas ou três da tarde e vou até cinco ou seis da manhã. E o grupo ajuda a manter essa rotina. Hoje temos cerca de 90 membros ativos. À noite, especialmente de madrugada, temos 40 a 50 pessoas online nos zelos, então é bem bacana.

E trabalhando como você trabalha, você tem uma média de faturamento? Como é que é?

Daniel: Hoje, rodando no X e no Comfort, eu tenho uma média de R$3.000 a R$3.200 por semana, trabalhando dessa forma. Sem me arriscar muito, com folga e sem estender demais. Esse é o faturamento médio: de R$2.800 a R$3.200 semanais, com jornada de 12 horas por dia e folgando aos domingos.

E minha próxima pergunta é: quanto disso representa o lucro mesmo? A gente sabe que ser motorista de aplicativo envolve muitos custos. Você tem uma ideia?

Daniel: Vamos lá. Quando eu tiro R$3.000 em uma semana, por exemplo, eu pago R$700 de aluguel — é um aluguel particular. E o carro consome entre R$900 e R$1.000 de combustível para gerar esses R$3.000. Ou seja, meu custo total fica em torno de R$1.700 a R$1.800 por semana.

Então, o lucro líquido semanal gira entre R$1.000 e R$1.300.

Com alimentação, né?

Daniel: Isso sem contar a alimentação. Se for incluir, dá para considerar uma média de R$40 por dia.

E minha próxima pergunta é saber meio que a sua estratégia como motorista seletivo das corridas que você aceita. Você só aceita corridas que pagam R$1,50 por km, por exemplo, ou é um motorista que aceita mais as corridas?

Daniel: Isso aí é muito polêmico. Lá no grupo, a gente fala que hoje o foco tem que ser no ganho por hora. A gente trabalha muito em cima da hora. Esquece um pouco o quilômetro e se concentra mais no rendimento por hora.

É difícil dar uma resposta única, porque isso varia para cada motorista. Por exemplo, tem pessoas lá no grupo que têm carro com quilometragem livre, então o cara não precisa se preocupar com km rodado. Se ele pega uma corrida de R$1,20 por km, mas que entrega um ganho de R$70 a R$80 por hora, pra ele vale a pena.

Eu, com o plano que uso hoje, tenho uma franquia de 7.000 km por mês. Então, tento manter uma estratégia equilibrada. Das 12h às 17h, que é o horário em que fico mais fixo aqui em BH, eu rodo sem olhar o km. Trabalho focado no tempo: preciso manter um ganho de, no mínimo, R$50 por hora, independente da quilometragem.

Agora, a partir das 17h até a meia-noite, começo a balancear um pouco mais o km. Vou para a região central, onde o trânsito é maior, e as corridas costumam pagar melhor por km. Então, nesse período das 17h até umas 22h, consigo melhorar meu rendimento por quilômetro.

E minha próxima pergunta é: como você abastece? Você costuma abastecer pela manhã ou à noite? E qual o valor médio que você abastece por dia?

Daniel: Hoje eu abasteço sempre no final do expediente, todos os dias. Isso me ajuda a contabilizar corretamente na planilha quanto eu gastei de combustível. Preciso saber exatamente esse número.

Além disso, eu uso um aplicativo que oferece parcerias com alguns postos. Abasteço sempre nesses postos para conseguir o máximo de desconto possível.

Minha próxima pergunta, Daniel: você é uma pessoa especial aí, né? Eu gostaria de saber se pode fazer um breve comparativo entre como era ser motorista antes e como é ser motorista agora. Na sua opinião, melhorou ou piorou?

Daniel: Então, igual te falei, eu tenho pouco tempo de experiência, né? Rodo há relativamente pouco tempo. Então, minha base de comparação não é tão grande.

Mas, pelo que converso com quem está no ramo há mais tempo, é que hoje dá para fazer um faturamento que antes não existia. Tem gente fazendo R$7.000, R$8.000 na semana. Isso não era comum.

É fato que os custos subiram bastante. Mas, na minha visão, hoje é o momento em que mais dá para faturar. Em termos de faturamento bruto, nunca teve um período melhor na história da Uber do que agora.

Claro que isso não se reflete totalmente no lucro líquido, porque tudo está mais caro. Mas olhando os números, os dados que aparecem na tela dos apps, é o melhor momento para faturar.

Então, só para confirmar: você disse que hoje em dia é possível faturar mais, mas também é possível lucrar mais?

Daniel: Eu vejo que os lucros se mantêm muito parecidos. O faturamento aumentou bastante, mas os custos também subiram muito. Então, no fim das contas, o lucro acaba sendo praticamente o mesmo.

E, Daniel, minha próxima pergunta: qual foi a maior dificuldade que você enfrentou como motorista de Uber? Se pudesse citar uma só, qual seria?

Daniel: Aqui em Belo Horizonte, eu acho que os maiores problemas são o trânsito e a falta de estrutura para motoristas de aplicativo.

A cidade tem muito pouco acesso facilitado. Um exemplo: a polícia proíbe parar e estacionar em portas de shoppings, o que dificulta muito o trabalho. Você vai buscar ou deixar passageiro e acaba sendo multado.

Além disso, o preço dos combustíveis está muito alto. Aqui em BH a gente não sofre tanto com a criminalidade, como em outros estados, mas as tarifas, especialmente em certos horários, são bem ruins. Tanto da Uber quanto da 99.

Então, o trânsito, as tarifas baixas em horários críticos e a falta de atenção das prefeituras aos motoristas de aplicativo são, para mim, os maiores obstáculos. Precisaria de mais apoio, principalmente em locais como portas de shopping, estádios, saídas de eventos… esses pontos que são mais sensíveis no nosso dia a dia.

E, Daniel, quantos quilômetros você roda por dia, em média?

Daniel: Isso varia muito. Como eu comentei, não fico tão preso ao km do dia, mas sim ao da semana. Prefiro focar na quilometragem semanal.

Costumo rodar de 1.600 a 1.700 km por semana. Vai ter dia que faço 400 km, e vai ter dia que rodo só 200. Depende da estratégia e do movimento do dia.

E a próxima pergunta: para você, qual é o pior tipo de corrida?

Daniel: Aqui em BH, a melhor corrida é para o aeroporto. Ele fica a 40 km da capital, então é uma corrida longa e muito vantajosa. E tem bastante bate e volta: você leva alguém e consegue pegar outro passageiro voltando. Isso faz dela uma corrida muito nutritiva.

Agora, o pior tipo de corrida aqui em BH é para o Vila da Serra no horário de pico. A Uber não recalcula o tempo quando há trânsito pesado, então você se enrola. Vai pegar uma corrida que inicialmente dizia durar 15 minutos, mas que vai te prender por 30, 40 minutos. E a Uber não reajusta o valor pelo tempo extra. Isso quebra o rendimento.

Entendi. E, Daniel, você trabalha com a Uber, 99 ou inDrive?

Daniel: Eu rodo com a Uber e com a 99. A inDrive não, porque lá a demanda é fraco.

E minha próxima pergunta: qual é o tipo de corrida que você indicaria para quem está começando a trabalhar como motorista? E já emendo outra: você acha que vale a pena ser motorista de aplicativo em 2025? Você considera essa uma boa profissão para alguém que esteja precisando de renda?

Daniel: Eu acho que vale a pena sim. Apesar de tudo, ainda vale a pena. Existe uma mística muito grande sobre “R$2,00 o KM”, e tem muita gente que fica tanto tempo parada escolhendo corrida que deixa de faturar.

Às vezes, em uma hora, a pessoa poderia ter feito duas corridas que, no quilômetro, não estavam tão boas, mas teriam gerado um valor ok. Em vez disso, ela prefere ficar parada 40 minutos esperando uma corrida que paga bem por KM, mas ruim em tempo — então desperdiça boa parte do tempo.

A dica que eu dou é: saia para a rua e otimize o seu tempo. Evite ficar parado. Eu ainda acredito que vale a pena. Quem está desempregado ou buscando novos caminhos, insatisfeito com o atual emprego, eu acho que vale sim fazer o teste.

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Giulia Lang

Giulia Lang é líder de conteúdo do 55content e graduada em jornalismo pela Fundação Cásper Líbero.

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