Daniel defende que a redução das tarifas dinâmicas prejudicou motoristas das categorias UberX e 99Pop, que ficaram com poucas opções de ganho.
Nesta entrevista, conversamos com Daniel Piccinato, motorista de aplicativo e influenciador da categoria, sobre os altos e baixos enfrentados pelos motoristas em 2024. Ele compartilha suas percepções sobre o ano que passou, que foi marcado por instabilidade e desafios, como mudanças nas tarifas e a concorrência crescente.
Daniel também reflete sobre as mudanças positivas, como a introdução de novas categorias de veículos, e aponta a importância do controle financeiro e da adaptação às novas condições do mercado. Além disso, ele compartilha suas expectativas para 2025 e oferece conselhos para os motoristas que buscam melhorar seus ganhos e sua qualidade de vida no próximo ano.
1. 2024 foi melhor ou pior para quem é motorista de aplicativo em relação a 2023? Por que?
Na minha opinião, 2024 foi um ano muito instável, com altos e baixos. O motorista imaginou que teria uma boa expectativa de trabalho, mas se frustrou em alguns momentos. Ele teve uma melhora agora no mês de dezembro, mas houve muitas mudanças. As empresas de aplicativos também criaram novas categorias e, em vários momentos, devido a diversos fatores, como o medo da regulamentação, tivemos um ano de especulação e momentos críticos de apreensão, com mudanças que poderiam afetar a vida do motorista. Em algumas cidades, houve redução de tarifas, o que o motorista percebeu, talvez, por conta da concorrência entre as empresas de aplicativos e o novo cenário com carros elétricos, que diminuem o custo de operação. Não sei se as empresas diminuíram as tarifas diretamente, mas houve essa percepção. Também foi um ano onde a população viveu altos e baixos, devido à eleição, e talvez essa demanda flutuante tenha sido afetada pela situação financeira da população. Com o custo de vida das pessoas, as empresas de aplicativos precisaram criar ofertas para que os passageiros continuassem a chamar o serviço. Surgiram novas categorias, inclusive o táxi ganhou força. Então, o motorista de aplicativo, de certa forma, passou a sofrer concorrência direta, tanto dos taxistas quanto das pessoas comprando carros elétricos e voltando a utilizar seus carros para transporte.
2. Qual foi o principal desafio para os motoristas de aplicativo em 2024?
O principal desafio para o motorista em 2024 foi lidar com a expectativa de uma boa demanda, que acabou não se concretizando. Foi criado um cenário de expectativa para feriados e momentos em que a demanda deveria ser maior, mas não aconteceu. Isso se deve muito ao medo da regulamentação, como mencionei, e à apreensão em relação a isso, o que causou muita insegurança ao longo do ano. O motorista viveu um ano tumultuado, de medo e apreensão. Ele não trabalhou de forma tranquila, o que gerou frustração em muitos momentos. Embora no final do ano tenha melhorado um pouco, o restante do ano foi marcado por pouca tarifa dinâmica e poucos ganhos, o que fez com que o motorista ficasse frustrado. No balanço geral, o ano foi dentro da média — nem bom nem ruim, mas frustrante.
3. Qual foi a principal mudança positiva para os motoristas de aplicativo em 2024? E a negativa?
Sem sombra de dúvida, o pior ponto negativo em 2024 foi a redução das tarifas dinâmicas pela Uber, o que prejudicou muito os motoristas da categoria UberX. Esses motoristas, que atendem apenas as categorias UberX e 99 Pop, ficaram com poucas opções de ganho. Eles sofreram especialmente em 2024, já que, quando a demanda não era boa, o ganho diminuía consideravelmente. A única parte do ano em que valeu a pena trabalhar nessas categorias foi em novembro e dezembro. Durante o resto do ano, o motorista sofreu com essas tarifas baixas.
A principal mudança positiva para os motoristas de aplicativo em 2024 foi a criação de novas categorias, como a 99 Eletric e a expansão da categoria 99 Plus, que trouxe mais oportunidades para quem tem determinados modelos de veículos. Os motoristas que adquiriram carros elétricos puderam aproveitar essas novas categorias, como a 99 Electric Pro e o Uber Green, que proporcionaram menores custos operacionais e maiores lucros. Para um número pequeno de motoristas, aqueles que tinham ou investiram em veículos elétricos ou híbridos, isso foi uma mudança positiva, pois permitiu ganhos maiores nas categorias 99 Electric Pro e Uber Black. A 99 Plus também se estabilizou nas grandes capitais, oferecendo um pequeno aumento de ganho para motoristas com veículos que atendem à categoria.
4. Valeu a pena ser motorista de aplicativo em 2024?
Ser motorista de aplicativo exige que você tenha um controle financeiro apurado e um custo de vida baixo, para lidar com os altos e baixos da sazonalidade do trabalho. Será que valeu a pena ser motorista de aplicativo em 2024? Para quem está desempregado e precisa de uma renda, ou para quem sabe gerenciar sua situação financeira, vale a pena. No entanto, você precisa ter muito controle financeiro, porque, senão, pode acabar trabalhando muito e ganhando pouco. Essa questão de “valer a pena” é muito individual. Por exemplo, para uma pessoa solteira, que busca sustentar-se, a realidade é diferente de uma pessoa que aluga um carro para se sustentar ou que carrega uma grande responsabilidade financeira. Se você tem um veículo que atenda a categorias como Comfort ou 99 Plus, especialmente se for híbrido ou elétrico, a situação melhora, pois há mais opções de ganhos. Já motoristas que trabalham apenas com UberX ou 99 Pop terão mais dificuldades, por conta dos altos custos com combustível, manutenção e locação de veículos. Para quem tem um custo de vida mais baixo, a realidade é um pouco mais favorável, mas a resposta é sempre muito individual. O trabalho de motorista de aplicativo é democrático, pois cada pessoa decide quanto e quando trabalhar, então a experiência varia de acordo com a necessidade de cada um.
5. Quais as expectativas para 2025?
2025 é uma incógnita para os motoristas de aplicativo, pois ainda não sabemos qual será a postura das empresas e as mudanças nas regulamentações. Acredito que o ano será muito parecido com 2024, sem grandes melhorias. Vejo uma possível estagnação no setor e um cenário de dificuldades contínuas. O motorista continuará lidando com os desafios financeiros e a falta de aumentos nas tarifas. Vale lembrar que 2024 foi um ano de eleições, e o medo em relação à regulamentação foi grande. Em 2025, embora não tenhamos eleições, ainda existe a possibilidade de novas regulamentações, o que mantém um cenário de apreensão.
6. O que todo motorista precisa começar a fazer no próximo ano?
Todo motorista precisa começar a diminuir seu custo de vida. Isso inclui procurar um controle financeiro mais eficiente, ter uma reserva de emergência e, se possível, buscar uma renda extra além dos aplicativos. É importante também ter um plano B, caso o cenário nos aplicativos fique mais difícil. Não acredito que os aplicativos vão se tornar impraticáveis, mas as empresas precisam que o motorista tenha um lucro mínimo para que o serviço continue funcionando. O motorista precisa se cuidar mais e buscar diminuir seus custos, aceitando que o cenário de melhorias pode ser escasso.
7. O que você mais deseja para esta profissão para o próximo ano?
O que mais desejo para os motoristas de aplicativo no próximo ano é que eles sejam mais valorizados pelas empresas e que o governo passe a enxergá-los com mais dignidade, e não apenas como números que geram lucro para as empresas. Atualmente, as empresas veem o motorista como um número, e o governo também o enxerga dessa forma, buscando arrecadação. O motorista quer respeito, dignidade, bom tratamento e liberdade, especialmente no trabalho. Ele deve ter a liberdade de decidir o quanto e quando trabalhar, sem imposições ou limitações, e ser tratado com dignidade.
8. O que o motorista precisa fazer para ganhar mais em 2025?
Para ganhar mais em 2025, o motorista precisa reduzir seu custo operacional e, se possível, migrar para categorias que ofereçam mais possibilidades de ganho, como veículos elétricos ou híbridos, que abrem oportunidades em categorias como 99 Elétrica e Uber Green. No entanto, essa não é a única solução. O motorista precisa se profissionalizar, entender a demanda da cidade, ter uma rotina de trabalho e ser mais eficiente. Ele precisa ter frequência de trabalho, trabalhar nas horas certas e utilizar aplicativos que ajudem a calcular os ganhos, como o Guigo, que mostra o valor das corridas. Isso ajuda a otimizar o tempo, reduzir a quilometragem e, consequentemente, aumentar os ganhos. O motorista precisa assumir a responsabilidade pela sua organização financeira e pelo seu trabalho, aprendendo a ser mais eficiente e a tomar decisões financeiras mais assertivas.