Minha taxa da Uber é de 22%; faturei R$ 164 mil em 2024, mas meu lucro real por mês foi de R$ 10 mil

Motorista de app diz que fatura no mínimo R$ 500 por dia, mas aos finais de semana intensifica o trabalho e fatura R$ 600. 

Print de resumo fiscal da Uber.
Foto: Roberto Zanatto para 55content

Ser motorista de aplicativo pode ser um desafio, mas para Roberto Zanatto, conhecido como Beto, essa profissão se tornou uma verdadeira paixão. Atuando em Porto Alegre desde 2018, ele transformou a direção em um negócio altamente lucrativo, faturando entre R$ 12 mil e R$ 14 mil por mês. Com uma estratégia bem definida, que inclui a escolha criteriosa das corridas e um planejamento rigoroso de metas, Beto se destaca entre os motoristas por sua visão empreendedora e eficiência no volante. Nesta entrevista, ele compartilha sua trajetória, estratégias e dicas para quem quer prosperar na profissão.

Gostaria de entender como você se tornou motorista de aplicativo e há quanto tempo trabalha nessa área?

Beto: Beleza, então! Eu comecei em 2018 aqui em Porto Alegre. Na época, fiquei sem carro por questões pessoais e vi no aplicativo uma alternativa para resolver esse problema. Decidi locar um carro e começar a trabalhar à noite e nos finais de semana. Minha ideia inicial era apenas cobrir os custos do aluguel do carro e da gasolina, pois precisava levar minha filha à escola.

Porém, foi algo muito louco porque, na primeira corrida, já me apaixonei. Foi uma paixão muito forte, percebi que gostava muito do trabalho. Como gosto de dirigir e de lidar com pessoas, e vi que também dava um bom retorno financeiro, decidi me aprofundar. Comecei a pesquisar sobre qual carro era mais utilizado pelos motoristas de aplicativo e descobri que era o Toyota Etios. Nessa mesma época, resolvi comprar um Etios e me aprofundar ainda mais.

Passei a acompanhar motoristas que tinham bons resultados e percebi que pequenos detalhes faziam diferença. Desde o início, priorizei um carro automático para reduzir o cansaço e, no primeiro dia com o carro novo, já instalei GNV. Essa mudança fez uma grande diferença, pois o que eu gastava com a prestação do carro era compensado pela economia do GNV em relação à gasolina.

E qual é a sua estratégia para alcançar esses ganhos? De que horas a que horas você trabalha? Você é seletivo com as corridas?

Beto: Depois de um tempo, passei a trabalhar exclusivamente com o aplicativo. Hoje, minha rotina funciona assim: segundas e terças-feiras são os dias que menos trabalho, começando depois das 15h. Trabalho apenas com pagamentos no cartão, aceito apenas passageiros com nota acima de 4.80 e só realizo corridas dentro de Porto Alegre. Só aceito corridas para fora da cidade se precisar ir até Canoas, por exemplo, para buscar minha filha na escola.

Priorizo corridas curtas e não escolho as viagens apenas pelo valor. Sempre avalio para onde a corrida me leva e se há chances de pegar outra na sequência. Meu perfil de trabalho é diferente da maioria dos motoristas. Se o dia tem muita demanda e dinâmica, valorizo ainda mais as corridas curtas. Mas se está fraco, dá para aceitar algumas viagens longas, pois as curtas sem dinâmica acabam não compensando.

Você estabelece alguma meta diária? Trabalha com um valor específico em mente?

Beto: Sim, sempre trabalho com uma meta diária. Meu objetivo é fazer no mínimo R$ 500 por dia. No início da semana, penso na meta diária; conforme avança, começo a olhar para a meta semanal e, depois de algumas semanas, para a meta mensal. Dessa forma, sinto que se torna mais fácil manter o foco.

Nas sextas e sábados, intensifico o trabalho e busco faturar cerca de R$ 600 por dia. Aos domingos, começo a trabalhar às 19h e tento fechar com R$ 300 ou R$ 400 para completar a meta semanal.

E esses valores de R$ 500 a R$ 600 diários são antes ou depois dos custos com gasolina?

Beto: Esses valores são o faturamento bruto. Dos R$ 500, por exemplo, preciso descontar o custo com gasolina. Quando há muita dinâmica e promoções, o custo fica em torno de 22% a 23%. Mas, em períodos com menos corridas turbinadas, pode chegar a 30%.

Trabalhando dessa forma, quanto você consegue faturar por mês?

Beto: Meu faturamento bruto mensal gira em torno de R$ 17 mil a R$ 18 mil. Após a porcentagem da Uber, meu ganho líquido fica entre R$ 12 mil e R$ 14 mil.

Um detalhe que sempre destaco é que o mais importante não é quantas horas você trabalha, mas sim quanto você ganha por hora. Meu objetivo é garantir pelo menos R$ 50 por hora trabalhada. Isso é essencial, porque de nada adianta passar 14 ou 15 horas dirigindo sem uma boa rentabilidade por hora.

Beto, você é motorista desde 2018, certo? Gostaria de saber se, com o tempo, você acha que ficou mais difícil ser motorista de aplicativo. Você percebeu uma diminuição nas taxas e um aumento nos custos? Poderia fazer um panorama comparativo?

Beto: Na verdade, eu vejo que melhorou muito ser motorista de aplicativo. Trabalho praticamente só com a Uber, pois hoje tenho muito mais informação sobre a corrida antes de aceitá-la. Posso ver a nota do passageiro, o tempo de deslocamento até ele, a distância total, o valor da corrida e a forma de pagamento. Desde que a Uber permitiu que eu escolhesse apenas pagamentos no cartão, parei de aceitar dinheiro. Essa mudança ocorreu há cerca de três anos e trouxe mais segurança.

Em termos de logística e segurança, o trabalho ficou muito melhor. Claro que as taxas poderiam ser mais altas e o preço da gasolina aumentou, mas acredito que o motorista precisa estudar, acompanhar aqueles que têm bons resultados e evitar focar na negatividade. Sou um motorista muito positivo. Não fico parado em postos de gasolina; prefiro fazer meus intervalos em casa para sair do trânsito e relaxar. Faço vários intervalos ao longo do dia para manter minha energia. Com minha experiência de 62 mil corridas pela Uber e mais 13 mil por outras plataformas, totalizando 75 mil corridas, sinto que hoje tenho um faturamento bem melhor.

Entendi. Então, você acredita que a experiência conta bastante?

Beto: Com certeza. Um motorista não pode aceitar todas as corridas. Eu não sigo aquele padrão de aceitar qualquer corrida curta ou longa sem critérios. Eu me baseio no tempo da corrida. Para mim, uma corrida boa precisa pagar pelo menos R$1,00 por minuto. Esse critério acaba refletindo também na quilometragem.

Por exemplo, se uma corrida de R$50,00 me faz ficar mais de uma hora preso no trânsito, ela não compensa. Em contrapartida, uma corrida de R$10,00 para um trajeto de três quilômetros pode ser vantajosa se for concluída em 10 a 13 minutos. Esse tipo de análise faz toda a diferença.

Você utiliza aplicativos como StopClub ou DSW, que ajudam a calcular o ganho real da corrida?

Beto: Não, não utilizo. Acho que esses aplicativos deixam o motorista muito engessado. Algumas corridas podem não parecer vantajosas de imediato, mas podem me levar para uma área melhor, onde consigo pegar corridas mais lucrativas, como no Uber Comfort. Prefiro eu mesmo fazer a análise em poucos segundos antes de aceitar uma corrida. Com o tempo e a experiência, isso se torna automático. Cada motorista tem sua estratégia, mas, para mim, olhar as corridas como oportunidades ao invés de dificuldades faz toda a diferença.

Entendi. E sobre a quilometragem, quantos quilômetros você roda, em média, por dia?

Beto: Eu rodo cerca de 300 quilômetros por dia. Sexta e sábado são os dias em que mais dirijo, enquanto segunda e terça são os dias mais leves. No total, fecho o mês com aproximadamente 8 mil quilômetros rodados. Esse valor inclui algumas corridas particulares que faço. Se considero apenas as corridas do aplicativo, rodo em torno de 7 mil quilômetros por mês. Com um faturamento líquido de R$12 mil a R$14 mil, consigo manter minha meta de R$2,00 por quilômetro.

Quando você fala em faturamento de R$14 mil a R$13 mil, esse valor já exclui os custos com gasolina?

Beto: Não, esse é o valor que a Uber me repassa. Descontando os custos com gasolina, o valor líquido fica em torno de R$10 mil. Mas também tenho que considerar outros custos, como a prestação do carro, seguro e manutenção.

Você mencionou que trabalha com parcerias. Como isso funciona?

Beto: Defendo que todo motorista deve buscar patrocínios. Meu carro é um Yaris 2024, comprado em fevereiro do ano passado. Hoje, ele está com 80 mil quilômetros. As sete primeiras revisões foram gratuitas porque fiz uma parceria com a concessionária da Toyota. Com isso, economizei cerca de R$7 mil. Também coloquei adesivos e capas personalizadas no carro para fazer propaganda.

Motoristas de aplicativo têm um outdoor ambulante. Rodamos milhares de quilômetros dentro da cidade e transportamos dezenas de passageiros por dia, que vão ver as propagandas no carro. Isso ajuda a reduzir custos e aumentar a receita.

Você começou com carro alugado. O que é melhor: alugar ou ter um carro próprio?

Beto: Se você roda pouco, entre 4 mil e 5 mil quilômetros por mês, alugar um carro pode ser vantajoso. Não precisa se preocupar com seguro ou manutenção. O aluguel mensal gira em torno de R$2 mil a R$2,5 mil, o que pode ser um custo fixo mais fácil de administrar.

Por outro lado, se você roda muito, alugar pode ser desvantajoso, pois há um limite de quilometragem. Além disso, é difícil encontrar carros automáticos para alugar, e eu defendo fortemente o uso de carros automáticos para reduzir o cansaço.

Quando você compra um carro, é provável que faça um financiamento, mas, ao vendê-lo, recupera parte do investimento. Se você prioriza conforto e economia a longo prazo, comprar um carro é a melhor opção.

Beto, você acredita que hoje em dia vale a pena ser motorista de aplicativo?

Beto: Na minha opinião, vale muito a pena. Quando comecei a trabalhar com aplicativos, eu ainda tinha outros dois empregos. Trabalhei por muito tempo com internet e cheguei a ter dois sites muito conhecidos no Rio Grande do Sul: “Meu Nome na Lista” e “Teleingresso”. Porém, desde a minha primeira corrida como motorista, me apaixonei pelo trabalho.

Sempre tive a sorte de escolher aquilo que gosto de fazer, desde os 16 anos. Nunca trabalhei pensando apenas no dinheiro, mas percebi que, quando você faz o que gosta, acaba ganhando mais do que em um emprego tradicional, voltado para estabilidade ou para seguir padrões sociais. Hoje, acompanho meus ganhos e vejo que 2024 foi um ano muito bom.

Priorizo qualidade nas corridas: mantenho sempre o ar-condicionado ligado, pois considero isso um conforto não apenas para o passageiro, mas para mim, que fico 8, 10, até 12 horas dentro do carro. Também escolho os passageiros com base na nota. Durante o dia, aceito notas acima de 4.8, mas nas sextas e sábados, devido às festas, aumento para 4.9. Como meu carro permite fazer corridas no Uber Comfort, também priorizo esse tipo de serviço. Trabalho apenas dentro de Porto Alegre, com corridas curtas e bem centralizadas, o que me proporciona segurança e um bom faturamento. Assim, me vejo trabalhando como motorista de aplicativo por muito tempo.

Agora, sobre os desafios: ao longo desses anos, quais você considera os maiores desafios para um motorista de aplicativo?

Beto: Infelizmente, já fui assaltado duas vezes. Mas, até mesmo nesses momentos, aprendi a manter a calma e a não reagir. Hoje, vejo que a maior dificuldade é a espera pelo passageiro. Com base na minha experiência de 75 mil corridas, percebo que, em cerca de 80% das viagens, os passageiros fazem o motorista esperar.

Isso é um problema cultural, e perdemos muito com isso, não apenas financeiramente. A espera também representa um risco. Os momentos mais perigosos para um motorista são quando ele para para pegar ou deixar um passageiro. Por isso, sempre mando uma mensagem informando que estou a caminho, para garantir que o passageiro esteja preparado e para evitar cancelamentos desnecessários.

Especialmente de madrugada, às 3h da manhã, por exemplo, muitas vezes estamos longe do passageiro. Eu mando a mensagem “estou a caminho”. Depois, ao chegar, envio “cheguei”. O problema é que muitos passageiros só respondem nessa hora dizendo “ok, vou descer”. Isso é um grande desrespeito com o motorista. O passageiro pode muito bem esperar na portaria em segurança, enquanto o motorista parado na rua está vulnerável.

Acho que os aplicativos poderiam implementar um alerta para os passageiros, incentivando-os a não fazer o motorista esperar tanto tempo. Com um índice de 80%, essa mudança seria extremamente necessária.

Beto, quais dicas você daria para um motorista de aplicativo que está começando e quer alcançar um faturamento semelhante ao seu?

Beto: No início, é essencial manter o carro sempre limpo e tentar trabalhar somente no cartão. Para quem está começando, é importante seguir motoristas que têm bons resultados e que transmitem positividade.

Evitar ficar muito tempo em postos de gasolina também faz diferença. Apesar de ser um local seguro, é comum ver motoristas desmotivados reclamando, e isso pode influenciar negativamente. Além disso, estar em um posto de gasolina pode fazer com que você repense suas corridas com base no preço do combustível, o que não é produtivo.

Eu trabalho com um grupo pequeno de motoristas, mas prefiro tomar minhas próprias decisões sem me influenciar pela negatividade. Para mim, cada corrida é uma oportunidade, não uma dificuldade. É importante se basear em motoristas que transmitem energia boa e tentar operar no cartão desde o início.

Beto, você mencionou que trabalha com a Uber e que seu carro está no Comfort. Você roda por outros aplicativos, como 99 ou InDrive?

Beto: No início, trabalhei apenas com o Cabify, porque ele aceitava apenas pagamentos no cartão. Depois, passei a rodar um pouco na 99, também no cartão. No entanto, percebi que, para ganhar dinheiro de verdade, é necessário focar na Uber. Nunca baixei o InDrive, pois não me identifiquei com o sistema deles.

Hoje, rodo muito pouco na 99. Inclusive, recentemente, bloquearam alguns motoristas, incluindo eu, por não atingir uma meta estipulada por eles. Acredito que isso pode ser um tiro no pé para a plataforma. No ano passado, fiz R$208 mil pela Uber e apenas R$5 mil pela 99, então já não rodava muito nela. A Uber me oferece tudo o que preciso: informações sobre a corrida, pagamento no cartão, nota do passageiro, distância e tempo estimado. Por isso, hoje, aproximadamente 99% das minhas corridas são pela Uber.

Entendi. E qual foi seu faturamento anual?

Beto: Em 2024, meu faturamento total foi de R$208 mil. A Uber me repassou R$164 mil, ficando com 22% como taxa.

Então, além disso, você fez mais R$5 mil pela 99?

Beto: Isso mesmo.

Beto, estamos chegando ao fim da entrevista. Gostaria de acrescentar algo?

Beto: Sim, gostaria de destacar algumas coisas que eu não faço.

Não aceito corridas para jogos de futebol ou shows, pois esses eventos fazem com que eu perca muito tempo. Para mim, se estou 60 minutos na rua, preciso estar produtivo o tempo todo. Em eventos grandes, o tempo de espera é alto e a produtividade cai.

Também evito quadras de esportes, pois muitas vezes os passageiros entram sujos e suados no carro. Corridas em que o passageiro está fumando ou bebendo também cancelo, pois prezo por um ambiente limpo e organizado.

Outro ponto é o aeroporto. Não fico parado na fila virtual esperando corridas. Se for deixar um passageiro no aeroporto e a Uber me oferecer uma corrida de lá para fora, eu aceito. Mas não sou do tipo que fica parado esperando por viagens longas.

No geral, priorizo corridas curtas e produtivas, pois assim mantenho um fluxo constante e maximizando meus ganhos.

Para quem quiser me acompanhar nas redes sociais meu Instagram é @betozanattosucessonouber

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Giulia Lang

Giulia Lang é líder de conteúdo do 55content e graduada em jornalismo pela Fundação Cásper Líbero.

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