No final de janeiro conversamos com o motorista de aplicativo Renato Capristano sobre sua rotina e estratégia para maximizar os ganhos nas plataformas de transporte.
Na ocasião, ele revelou que a taxa da Uber nunca passou de 25% e que, ao longo de 2023, conseguiu manter uma média de lucro mensal de R$ 7.500. Agora, voltamos a entrevistá-lo para entender especificamente como foi o desempenho dele em 2024, um ano em que alcançou um faturamento de R$ 184.288.
Nesta nova conversa, Renato detalha sua rotina de trabalho, estratégias de abastecimento, metas de faturamento e como se organiza para maximizar os lucros. Ele também compartilha sua visão sobre a precificação das corridas, os desafios do setor e os planos para o futuro. Além disso, reforça um ponto polêmico entre os motoristas: a relação entre quilometragem e manutenção, mostrando que rodar mais nem sempre significa gastar mais com o carro.
Se você quer entender como um motorista pode atingir um faturamento alto e manter um bom lucro, continue lendo para conhecer as estratégias de Renato Capristano em 2024.
Nosso objetivo hoje é falar especificamente sobre o que você fez em 2024 para alcançar esse faturamento de R$ 184.288. Vamos focar exclusivamente nesse ano. Gostaria de entender como você organizou sua rotina, qual carro usa, quantas vezes abastece e o valor gasto em combustível.
Renato: Ok. Para começar, em 2024, minha receita total foi de R$ 184.288. A taxa da Uber ficou em R$ 34.917, o que representa 19% do faturamento – como eu já comentei antes, nunca chegou a 25%. No final, meu lucro líquido foi de R$ 149 mil.
Comparando com o ano anterior, tive um crescimento superior a 40%.
Eu não trabalho exatamente da forma que gostaria, porque minha esposa é professora e eu a levo para o Rio de Janeiro todas as manhãs. Com isso, começo minha jornada entre 5h30 e 7h, que é um dos melhores horários para quem trabalha com aplicativos.
Depois disso, sigo trabalhando até a hora do almoço. Costumo tirar um descanso de 2 a 3 horas no início da tarde, período em que há menos demanda. Normalmente, aproveito para descansar dentro do carro. Depois, retomo as corridas a partir das 15h até 21h.
No geral, passo cerca de 14 horas por dia na rua, considerando o tempo de pausa. Além disso, trabalho todos os finais de semana e feriados.
Você trabalha com metas mensais, semanais, diárias?
Renato: Se dividir o faturamento anual por 12, dá uma média de R$ 12 mil por mês. No entanto, minha meta era R$ 11 mil mensais.
Este ano, minha estratégia será diferente. Quero reduzir o faturamento total para R$ 140 mil, focando em uma meta de R$ 11 mil mensais durante 10 meses e R$ 15 mil em dois meses.
Você trabalha exclusivamente com a Uber?
Renato: Não. Além da Uber, sou barman, então há dias em que não faço corridas. Então, assim, é muito difícil até de eu entender como que as pessoas reclamam do aplicativo. Porque pra mim é muito fácil, cara.Se eu me dedicasse 100% à Uber, com certeza teria faturado pelo menos 15% a mais.
Quais são seus planos futuros?
Renato: Este ano, minha meta é faturar um pouco mais porque quero investir em um curso de turismo. Meu objetivo é trabalhar nesse setor. Como tenho menos dívidas agora, não vejo necessidade de trabalhar tanto quanto antes.
No meu caso, o que me motiva a rodar são as contas a pagar. A Uber é excelente para quem tem contas mensais fixas – se preciso de R$ 2 mil, eu faço; se precisar de R$ 5 mil, também consigo. Diferente de um emprego com salário fixo, onde não dá para aumentar a renda em 40% ou 50% de um mês para o outro.
Qual a sua opinião sobre as tarifas cobradas pela Uber?
Renato: Muitos motoristas reclamam das tarifas da Uber, mas eu enxergo de outra forma. Meus resultados vêm da minha dedicação fora da curva. Se a tarifa fosse 15% maior, meu faturamento teria sido ainda mais alto. Mas não fico focado nisso.
Eu sou extremamente organizado com meus números. Em 2024, rodei 61.812 km e fiz 5.823 corridas. Meu valor médio por quilômetro foi de R$ 2,41 e minha média por viagem ficou em R$ 25,65.
Outro fator que impulsionou meus ganhos foram as promoções da Uber. No ano passado, recebi R$ 7.360 só com esses incentivos, o que praticamente cobriu dois meses de abastecimento. Sempre aproveito essas oportunidades para melhorar meus rendimentos.
Sobre o abastecimento do seu carro, você abastece todos os dias?
Renato: Sim, eu abasteço duas vezes ao dia.
E qual o valor médio por abastecimento?
Renato: Em média, gasto R$ 130 por dia. Pela manhã, completo o tanque, e depois do almoço, completo novamente.
Qual é o seu carro?
Renato: Meu carro é um Logan, um modelo simples, que custou R$ 52.000. É um carro acessível e atende bem às minhas necessidades.
Quantos quilômetros você roda por dia, em média?
Renato: Normalmente, entre 250 a 350 km por dia. Não costumo passar muito disso.
E quanto você fatura por dia, em média?
Renato: Meu faturamento bruto diário varia entre R$ 400 e R$ 480. Mas a maioria dos motoristas gosta de bater os R$ 500 por dia, e eu também acabo seguindo essa meta.
Nos finais de semana, esse valor aumenta?
Sim, no fim de semana o faturamento sobe. No sábado e no domingo, geralmente faço R$ 700. Em alguns domingos, consigo chegar a R$ 1.000 em um único dia.
Imagino que dezembro tenha sido ainda melhor para você.
Renato: Sim, em dezembro, tive três dias com faturamento de R$ 1.000. Mas, diferente de outros anos, não trabalhei 24 horas na véspera de Natal, que costuma ser um dos melhores dias para rodar. Esse ano, preferi passar mais tempo com a família. Já comecei a reduzir um pouco o ritmo.
No total, quantas horas por dia você passa na rua?
Renato: Como já disse no começo da nossa conversa, em torno de 14 horas. Isso não significa que fico dirigindo o tempo todo, mas sim disponível na rua, aguardando chamadas e rodando.
Você comentou que faz dois turnos. Como divide seu tempo?
Renato: Costumo fazer uma pausa de duas a três horas no meio do dia. Sempre almoço com calma e tiro um cochilo, porque isso me ajuda a voltar renovado para o segundo turno. Acho que descansar nesse período faz toda a diferença.
Se você pudesse dar um conselho para um motorista que quer atingir o faturamento que você teve no ano passado, o que diria?
Renato: Eu diria que o mais importante é focar no trabalho e evitar grupos de WhatsApp e redes sociais onde as pessoas só reclamam. Acho que isso gera uma energia negativa desnecessária.
Outra dica essencial é ficar na rua o máximo de tempo possível. O meu carro está sempre pronto para rodar, e muitas vezes uma única corrida para o aeroporto ou um destino mais distante pode mudar o dia.
Se o motorista voltar para casa cedo ou desistir muito rápido, ele acaba perdendo oportunidades importantes. O segredo é manter o foco e continuar na rua até atingir a meta do dia.
Você gostaria de acrescentar mais alguma coisa?
Renato: Sim, só gostaria de falar sobre as despesas, que eu também tenho todas anotadas. Isso é muito importante porque, quando você tem um alto faturamento, existe um mito que muita gente espalha sobre os custos de manutenção.
Descobri algo interessante: quanto mais você roda, menor é o impacto da manutenção no faturamento. Muita gente acredita que rodar mais significa gastar mais com o carro, mas isso não é verdade.
Vou dar um exemplo:
Se eu faturar R$ 70 mil, separar 10% para manutenção significa reservar R$ 7 mil.
Agora, como eu fiz R$ 150 mil, a porcentagem que preciso separar para manutenção cai para 5%, ou seja, R$ 7.500.
Entendeu? Não faz sentido separar R$ 15 mil para manutenção só porque o faturamento foi maior. Esse é um dos grandes equívocos que muitos motoristas acreditam e que aplicativos divulgam sem questionamento.
Quando comecei a faturar alto, percebi essa lógica: quanto mais eu rodo, menos gasto com manutenção em relação ao faturamento. Esse é o principal recado que eu queria deixar.
Custos e Lucro
No ano passado, minhas despesas foram R$ 64 mil no total, enquanto meu lucro líquido foi de R$ 87 mil. Ou seja, meu salário mensal foi de aproximadamente R$ 7.267.
Os principais custos do ano foram:
- Combustível: R$ 33 mil
- Parcela do carro: R$ 23 mil
- Manutenção: R$ 7 mil
Então, seu lucro mensal ficou em torno de R$ 7 mil?
Renato: Exatamente. Para ser mais preciso, R$ 7.267 por mês de lucro.
Muitos motoristas dizem que quanto mais você roda, mais gasta com manutenção. Você acha que isso é um mito?
Renato: Sim, completamente. A matemática prova que isso não é verdade. Vou repetir o raciocínio:
Se eu faturar R$ 70 mil, separar 10% para manutenção significa gastar R$ 7 mil no ano – ou seja, cerca de R$ 600 por mês.
Agora, se eu fizer R$ 150 mil, não preciso separar 10% para manutenção. Isso daria R$ 15 mil, mas eu não gasto tudo isso no mecânico.
A matemática não mente. Se você tem um alto faturamento, a proporção dos gastos com manutenção diminui. O percentual de custo não tem como fugir dessa lógica.