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Ele ganhou mais de R$ 300 mil trabalhando como motorista de app em 2022

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Entrevista
Conversas com especialistas, gestores e profissionais do setor, com perguntas conduzidas pela equipe do 55content.
Homem de óculos de sol sentado no banco do motorista, em um carro, vestindo um casaco preto e olhando para a frente.
Munir Saad Orra, motorista de appFoto: Munir Orra para 55content

Munir Saad Orra trabalha em São Paulo com uma meta diária de R$700, mas há dias em que faz R$ 1.000. Ultimamente ele trabalha das 3h às 21h.

Munir Saad Orra, um motorista de app que alcançou o impressionante faturamento de R$ 300 mil em um ano, revela o que está por trás dos números: uma rotina desgastante de trabalho, passando até 16 horas de seus dias nas ruas e trabalhando 12 horas no volante.

Ultimamente ele vem começando suas jornadas às 3h da manhã, e aproveitando os horários de pico e planejando cada corrida de forma estratégica para garantir um faturamento diário de R$ 700. Há dias, inclusive, em que ele consegue alcançar a marca de R$ 1000 por dia.

Em meses bons, como dezembro, seu rendimento mensal chega a ultrapassar R$ 22 mil, resultado de um planejamento que inclui paradas estratégicas e ajustes na rotina para aproveitar ao máximo cada oportunidade.

Vimos, em algumas notícias, que você chegou a faturar R$ 300 mil em um ano. Então, o que te levou a começar a trabalhar como motorista de app? Você já imaginou que poderia chegar a um faturamento tão alto?

Eu morava no Líbano e voltei ao Brasil no Carnaval de 2019, após ter passado praticamente toda a vida lá, pois fui para o Líbano em 1990. Meu objetivo ao retornar era concluir minha faculdade de arquitetura, então entrei na São Judas, na Mooca, e comecei a trabalhar com um primo, também libanês, que tem uma loja a cerca de 10 minutos a pé da faculdade. Eu ganhava em torno de um salário mínimo, aproximadamente R$ 1.500 mensais, mas o horário comercial limitava meu tempo para me dedicar aos estudos. Já desde o Líbano, eu ouvia falar sobre a possibilidade de trabalhar como motorista de Uber sem precisar de carro próprio, apenas com a CNH válida e a observação “EAR” para exercer atividade remunerada. Essa flexibilidade me chamou a atenção, pois a ideia de poder alugar um carro e começar a faturar me parecia prática.

Foi essa flexibilidade de tempo que mais me atraiu, pois eu sempre preferi estudar de manhã. Quando trabalhava com meu primo, precisava estudar à noite e chegava a dormir nas aulas, o que comprometia meu rendimento. Com o Uber, passei a trabalhar à noite e estudar de manhã, o que melhorou muito meu desempenho. Além disso, o Uber oferece flexibilidade para adaptar os horários ao calendário acadêmico, como em períodos de provas ou entrega de trabalhos, o que me permitia pausar o trabalho por algumas semanas e depois compensar nas férias.

Mesmo trabalhando apenas meio período, meu faturamento já era de três a seis vezes o que eu ganhava com meu primo, ou seja, entre R$ 4.500 e R$ 6.000, muito superior ao salário de R$ 1.500 que eu recebia antes. E tudo isso com um carro alugado, o que ainda me permitia focar mais nos estudos do que seria possível com um trabalho CLT em horário comercial. Minha meta inicial era faturar pelo menos R$ 3.000 líquidos por mês, o suficiente para cobrir a faculdade (cerca de R$ 1.100 a R$ 1.200) e despesas como telefone, internet e transporte, além de um extra para eventuais saídas.

Quando comecei a trabalhar como motorista, logo veio a pandemia. Foi um período desafiador, pois tive que aprender tudo na prática, já que não conhecia ninguém no setor para me orientar. Com o tempo e a experiência, fui aprimorando minha atuação. Hoje, sem contar com o aluguel de carro, que já é meu, e descontando apenas o combustível, meu faturamento líquido mensal varia entre R$ 15.000 e R$ 18.000, dependendo do mês. Em períodos como dezembro, esse valor pode chegar a R$ 20.000 ou até R$ 22.000. É muito superior à minha meta inicial de R$ 3.000, o que superou minhas expectativas.

Quais foram os primeiros passos que você deu para estruturar sua rotina e começar a ganhar dinheiro de forma consistente?

Acabei trancando a faculdade para me dedicar exclusivamente ao Uber, pois percebi que quanto mais tempo passava na rua, mais conseguia faturar. No início, minha meta era modesta: no primeiro dia, por exemplo, fiz R$ 120, trabalhando das 9 da manhã até as 19h noite, pois o carro não era meu; dividia o uso com o cunhado e o sogro da minha irmã, o que limitava meus horários. Naquela época, eu só usava a 99. Nos dias seguintes, meu faturamento foi aumentando: fiz R$ 140, depois R$ 160, e após 10 dias consegui ultrapassar os R$ 200, chegando a R$ 240. Aquilo me surpreendeu!

Comecei em São José dos Campos, mas logo vim para São Paulo. Na semana do pré-carnaval, no ano da pandemia, passei dos R$ 400 pela primeira vez, o que me deixou espantado. Claro, era carnaval, então pensei que talvez fosse algo pontual, mas vi que era possível. Com o início da pandemia, meu faturamento oscilou: havia dias em que fazia R$ 160, outros R$ 200. Mesmo assim, mapeei São Paulo e identifiquei regiões onde havia demanda, como Brasilândia, Paraisópolis, Heliópolis e outras áreas. Minha meta diária era de R$ 300, e mesmo na pandemia eu conseguia atingi-la na maioria dos dias.

À medida que a situação foi melhorando, passei a fazer R$ 400 por dia com facilidade, e então aumentei minha meta. Logo, percebi que R$ 500 por dia era possível, e assim fui subindo o objetivo conforme as atividades voltavam ao normal. Quando cheguei a uma rotina estável no X, minha meta diária era de R$ 600, embora fosse desafiador.

Depois, quando entrei para o Black, ajustei minha meta para R$ 700 diários. Há dias em que consigo fazer até R$ 1.000 ou R$ 800, mas R$ 700 se tornou o padrão. Nos meses bons, consigo atingir; nos meses ruins, mesmo no Black, fica mais complicado, mas sigo tentando alcançar minhas metas.

Quais são as principais estratégias que você utiliza hoje para manter esse faturamento? Existe alguma meta diária, semanal ou mensal?

Minha meta diária de faturamento é R$ 700, com algumas exceções nos finais de semana, já que trabalho basicamente meio período devido à política de tempo de volante da Uber. A Uber limita o tempo de trabalho, exigindo que, a cada 12 horas, fiquemos 6 horas offline. Como costumo trabalhar da noite de sexta até a manhã de domingo, encerro o turno por volta das 6h, 7h ou 8h no domingo, o que me obriga a ficar offline até a tarde. Isso impacta o domingo, pois só consigo trabalhar meio período; se virasse a noite, prejudicaria o faturamento na manhã de segunda, que é um horário movimentado.

Esse tempo de volante imposto pela Uber acaba atrapalhando bastante. Muitas vezes, mesmo sem sono, preciso parar de trabalhar, e quando volto ao app, aí sim o sono aparece. A Uber tenta garantir que os motoristas descansem, mas o horário que eles consideram de descanso nem sempre é o momento em que realmente preciso dormir. Eu conheço meus limites e paro para descansar sempre que sinto que é necessário, finalizo a corrida em um lugar seguro e tiro um cochilo breve para recarregar as energias e continuar mais algumas horas.

Minha estratégia principal é permanecer na rua o máximo possível durante a semana. Costumo iniciar o dia às 4h da manhã e termino por volta das 22h, para garantir as 6 horas offline e recomeçar no dia seguinte. Se termino mais cedo, consigo dormir antes e recomeçar ainda mais cedo. Aproveito os horários de pico, das 6h30 às 9h30 da manhã e das 16h às 20h, pois esses são os momentos com mais movimento na região central.

Nos intervalos, como ao meio-dia, complemento a renda me posicionando em locais estratégicos, como hotéis ou perto de aeroportos, onde pode haver passageiros. Nas madrugadas, entre 3h e 6h30, o movimento é bem baixo, então as corridas principais são para aeroportos como Guarulhos ou Congonhas, para hospitais ou saídas de estabelecimentos noturnos. Durante a semana, após as 20h o movimento diminui, voltando a ter algum fluxo entre 22h e 1h da manhã. Esse horário poderia ser aproveitado, mas devido à necessidade de ficar offline, preciso escolher entre trabalhar de manhã ou à noite. 

Se não houvesse essa restrição, eu trabalharia até as 20h, tiraria uma pausa para cochilar entre 20h e 22h, e voltaria das 22h até 1h. Assim, conseguiria descansar e retomar às 4h. Mas, como a Uber não permite, preciso escolher os horários estrategicamente. A intenção é otimizar o tempo de volante, evitando deslocamentos vazios, pois isso consome tanto o tempo disponível quanto combustível. 

Atualmente, foco mais nas corridas pelo Uber Black, já que meu carro tem um custo de manutenção alto e não vale a pena fazer corridas no UberX ou Comfort. Em horários ociosos, habilito o UberX para corridas curtas que me ajudem a me deslocar, mas escolho as viagens cuidadosamente. Se uma corrida longa me levar para fora da minha área de atuação, ligo o UberX para retornar, pois em algumas regiões não há demanda para o Uber Black. Essa é a estratégia que aplico para otimizar o tempo e o faturamento.

Para manter a consistência, precisei estabelecer uma rotina disciplinada: acordar e sair para trabalhar todos os dias no mesmo horário e definir um horário para voltar. Tornei-me meu próprio patrão e me cobrei para cumprir esses horários, porque, ao trabalhar na Uber, você não tem um chefe que o pressione ou faça controle de faltas. É uma liberdade que, por um lado, é positiva, mas também exige muita disciplina. Tenho amigos e até familiares que, ao compararem seus ganhos com os meus, ficavam surpresos, porque, muitas vezes, eu já tinha atingido minha meta diária enquanto eles ainda estavam começando o dia.

Disciplina é tudo. Quando me proponho a alcançar uma meta diária, faço o possível para atingi-la, mesmo que precise estender meu horário ou compensar em um dia seguinte. Se, por outro lado, o dia está bom e consigo bater minha meta antes do tempo, aproveito para ‘fazer uma gordurinha’, acumulando um valor extra para os dias mais fracos. Essa mentalidade, de aproveitar ao máximo os dias bons e criar uma reserva, me ajuda a manter uma estabilidade financeira. Ter esse foco e disciplina é o que me permite enfrentar a inconsistência que pode surgir no dia a dia.

Quantas horas por dia você trabalha atualmente, e como essa carga horária mudou ao longo da sua trajetória?

Minha carga horária hoje é basicamente estourar o limite de tempo de volante da Uber, que são 12 horas. Essas 12 horas são de volante mesmo, contando o tempo em que estou com o passageiro ou online, rodando. Mas, por exemplo, se estou parado esperando uma corrida, esse tempo não conta. Em dezembro, quando a demanda é alta, essas 12 horas rendem umas 16 horas, às vezes até 15. Já em janeiro, que o movimento é mais fraco, cheguei a ficar 48 horas online sem completar as 12 horas de volante. Teve uma vez que sobraram 1 hora e 20 minutos porque não tinha corrida; fiquei muito tempo parado esperando. Em 48 horas online, trabalhei só 10 horas e 40 minutos no total, sobrando tempo sem corrida.

Durante a semana, minha carga horária oficial vai das 4 da manhã até às 22h da noite. Às vezes começo um pouco mais cedo, às 3, e termino às 21 ou até às 22h da noite. Ultimamente, tenho iniciado às 3 e encerrado às 21h da noite, mas esse é o tempo total que passo na rua, não o tempo de volante da Uber. Muitas vezes, consigo atingir as 12 horas de volante e, se faço corridas bem escolhidas, especialmente no Black, posso faturar até R$ 700, R$ 800 ou até R$ 900, dependendo de fatores como dinâmico, turbo e corridas para o aeroporto, que pagam melhor.

No começo, quando ainda trabalhava com locadoras antes de comprar o carro e migrar para o Black, cheguei a ficar dois ou três dias seguidos sem dormir para maximizar os ganhos. No entanto, por questões de segurança, decidi respeitar mais o meu limite. Já tive momentos em que quase cochilei dirigindo, mas nunca cheguei a bater o carro. Hoje, quando percebo que estou no limite, encosto e tiro um cochilo. Às vezes, só 20 minutos de sono profundo, com tudo desligado, já são suficientes para aguentar mais duas ou três horas de trabalho.

Aprendi a importância de conhecer e respeitar o meu limite. Antes, eu o ultrapassava; hoje, eu trabalho no meu máximo, mas com mais responsabilidade. Saber a hora de parar e descansar é fundamental. Esse tempo de descanso pode ser a diferença entre chegar ao fim do dia de forma segura ou acabar ultrapassando os limites do corpo de forma perigosa.

Existe algum tipo de corrida ou perfil de cliente que você prioriza para aumentar seu rendimento?

Não acredito que exista um perfil específico de cliente. Eu nunca considero a nota do passageiro, pois já tive ótimas experiências com pessoas de notas baixas, algumas até deixaram gorjetas, e já tive experiências ruins com pessoas com nota 5.0. Para mim, a nota é irrelevante. A única coisa que não aceito é quando o passageiro sugere outra forma de pagamento. No mais, foco na rentabilidade da corrida, considerando o tempo e os custos por quilômetro, que calculei para entender exatamente meus gastos por minuto e quilômetro rodado.

Não aceito corridas que paguem menos de R$ 1 por minuto e, para corridas curtas, o Uber Black geralmente paga cerca de R$ 3,50 por quilômetro, podendo chegar a R$ 10 por quilômetro em trechos curtos com turbo dinâmico. Em corridas longas, como para o aeroporto de Viracopos em Campinas, a tarifa pode chegar a R$ 2,50 por quilômetro, o que é rentável, especialmente se eu conseguir uma corrida de volta. Geralmente, corridas para os aeroportos ou para Alphaville compensam, mas há o risco de não conseguir um passageiro no retorno. Por isso, só aceito corridas para aeroportos no Uber Black, pois, se precisar voltar sem passageiros, ainda vale mais a pena do que no UberX. O ideal é ir e voltar no Black, mas, dependendo do horário, às vezes volto no X ou até vazio.

Além do preço e do tempo, considero o destino. Uma corrida longa para uma área sem demanda não compensa, pois posso acabar retornando sem passageiro, o que gera gasto com combustível. Por isso, minha área de atuação no Black é bem específica: Marginais Tietê e Pinheiros, Vicente Rao, Santo Amaro, Congonhas, Saúde, Vila Mariana, Bela Vista, Chácara Klabin, República e Barra Funda. Corridas para lugares como São Bernardo, por exemplo, geralmente evito, pois a volta quase sempre seria vazia. Da mesma forma, também evito regiões com ruas ruins que possam danificar o carro, como algumas áreas da Brasilândia, mesmo que sejam corridas no Black.

Faço corridas curtas e longas, mas, para as curtas, o passageiro precisa estar próximo e o destino deve ser em um local onde eu possa estacionar facilmente, como Campo Belo, onde posso parar logo após finalizar a corrida. Em áreas movimentadas, como Faria Lima ou Juscelino Kubitschek, onde é difícil parar, não compensa, pois às vezes rodo o triplo da distância da corrida para achar um local para estacionar, o que anula o lucro da viagem curta.

Então, basicamente, meus critérios para selecionar corridas são o preço, o tempo, o destino final, e a possibilidade de conseguir corridas no local de desembarque.

Você utiliza ferramentas ou aplicativos específicos para gerenciar as corridas e otimizar seus ganhos?

Para organizar minhas finanças, utilizo dois aplicativos principais. O primeiro é específico para controle de consumo do carro, especialmente combustível, pois uso gasolina e GNV. Esse aplicativo é ótimo para monitorar os gastos com combustível e me ajuda a manter tudo em ordem. O segundo é o Mobills, embora agora tenha se tornado pago. Nele, faço o controle básico das despesas e receitas, registrando lucros e faturamento. Ele calcula a margem de lucro e o lucro líquido mensal e semanal, o que facilita muito a visualização.

Conheço pessoas que usam planilhas mais completas e eficientes. Por exemplo, o influenciador Monster Driver, que atualmente trabalha em Curitiba, criou uma planilha no Excel bem detalhada e completa, que está disponível por um valor acessível — vale muito a pena, pois cobre praticamente tudo necessário para o controle financeiro. Outra planilha bastante popular é a do Felipe Calculista e do pessoal do Resenha na Pista, que também é muito bem estruturada e tem sido amplamente utilizada. Por enquanto, estou satisfeito com os aplicativos que uso, mas essas planilhas são ótimas alternativas. Vou mandar os prints dos aplicativos que utilizo.”

Como você lida com a manutenção e troca do veículo para manter um bom desempenho e evitar imprevistos?

Em relação à manutenção e troca de veículo, minha abordagem é aproveitar o máximo do carro que tenho. Como comprei meu carro, não vejo necessidade de trocá-lo com frequência e pretendo usá-lo até ele não estar mais apto para o Uber Black, o que deve ocorrer neste ano. Minha ideia é extrair o máximo possível dele antes de pensar em uma troca. Se eu adquirir um novo carro, por exemplo, modelo 2023, planejo usá-lo até que ele deixe de ser aceito no Black. 

Além disso, pretendo sair da Uber em breve e planejo fazer uma rifa desse carro para recuperar os gastos com ele, incluindo desvalorização, multas, transferências de ponto e eventuais batidas ou ralados – despesas que surgem no dia a dia e que a Uber não cobre. Meu projeto é tunar o carro, concluir a estética e até mexer no motor antes de organizar a rifa, o que pode acontecer no próximo ano quando eu adquirir um novo veículo.

Quanto à manutenção, procuro não perder nenhum dia de trabalho. Para isso, aproveito o meu dia de rodízio, que é sexta-feira. Minha estratégia de trabalho de sexta a domingo é um pouco diferente: viro a noite de sexta para sábado e de sábado para domingo. Assim, para garantir meu tempo de volante para a madrugada de sexta para sábado, começo a trabalhar na sexta-feira às 4h e desligo o aplicativo voluntariamente por volta das 7h, 8h ou 9h da manhã, dependendo do movimento. Então, fico offline por 6 horas voluntárias, retornando às 15h, o que me permite trabalhar até sábado de manhã.

Nesse intervalo de 6 horas – de 9h às 15h –, levo o carro ao mecânico. Já no início da semana, combino com ele e reservo o horário para sexta-feira. Quando chego na oficina, já informo o que precisa ser feito, como troca de amortecedores ou pastilhas. Tenho um bom conhecimento de mecânica, então consigo identificar o que o carro precisa, mas, claro, o mecânico também faz o diagnóstico e aproveita para resolver outras questões que encontra.

Para otimizar ainda mais o tempo, deixo o carro com o mecânico e durmo na própria oficina, seja dentro do meu carro ou em um dos carros dos clientes que ele disponibiliza para mim. Dessa forma, enquanto estou descansando, ele cuida da manutenção, e consigo pegar o carro de volta às 15h, pronto para o trabalho noturno, sem perder um dia.

Sempre priorizo manutenções preventivas para evitar problemas inesperados na rua. Apesar de, eventualmente, surgir algo imprevisto que exija uma parada extra, minha estratégia é realizar todas as manutenções durante o rodízio. Assim, consigo manter o carro em bom estado e ainda maximizar meu tempo de trabalho.

Qual dica daria para quem está começando e deseja alcançar um faturamento mais alto?

Uma dica essencial é acompanhar influenciadores do setor, pois muitos oferecem conteúdos úteis. Embora alguns estejam focados apenas em engajamento, outros, como Eder e Ronaldo do Resenha na Pista ou Monster Driver em Curitiba, realmente compartilham conhecimento. Em praticamente todos os estados, há influenciadores dispostos a ajudar, e mesmo eu, que já estou na estrada há bastante tempo, continuo aprendendo com eles. Esses influenciadores, especialmente Eder e Ronaldo, têm experiência desde os primeiros anos da Uber e possuem uma visão mais ampla do mercado, pois interagem com vários motoristas e conhecem a plataforma profundamente. Por isso, recomendo investir em uma mentoria confiável, que permite começar já com uma bagagem e evitar erros comuns. Vale a pena o custo, que geralmente é acessível.

Outra dica é começar alugando um carro. Sim, o aluguel tem seu custo, mas um carro próprio também tem despesas, além do compromisso que ele implica, especialmente se for parcelado. Com um carro alugado, é possível testar o trabalho e, se não gostar, basta devolvê-lo, evitando prejuízos maiores. Agora, se você compra um carro, acaba preso às parcelas e terá que arcar com os custos ou vender o veículo se decidir que o trabalho não é para você. Alugar o carro primeiro permite entender o faturamento, calcular as despesas com IPVA, licenciamento, seguro, manutenção, e só depois avaliar se comprar um carro faz sentido para sua realidade financeira. Eu acredito que vale a pena comprar, mas recomendo sentir a rotina primeiro.

Para quem pensa em migrar do UberX para o Black, também sugiro alugar um carro de categoria Black antes, pois a estratégia de trabalho é bem diferente. Nos últimos dois anos, a quantidade de motoristas Black aumentou muito, e hoje há menos corridas, o que dificulta bater metas. Muitos investiram em carros caros, com manutenção elevada e alto consumo de combustível, e acabam enfrentando dificuldades em manter o faturamento. O lucro do Black pode ser similar ao do X, dependendo da eficiência no uso de combustível e manutenção. Se bem gerenciado, o Black pode dar uma margem de lucro maior, mas também conheço motoristas do X que conseguem faturar bem. Em termos de lucro líquido, a diferença entre o X e o Black pode ser menor do que parece.

Tenho planos de sair do Black e, possivelmente, mudar para o X ou Comfort até o meio ou fim do próximo ano. Como meu carro atual está quase saindo do Black, penso em investir em um Polo 1.0 TSI com GNV, pois é um modelo econômico em combustível e manutenção, e pode rodar no Comfort. Vejo que atualmente há mais demanda no X e Comfort, enquanto as corridas no Black estão escassas. Prefiro um carro econômico para operar no X e Comfort, onde as corridas são mais frequentes, do que continuar no Black e enfrentar dificuldades para receber chamadas.

Finalmente, tenho planos de abrir meu próprio negócio, e a ideia é fazer uma transição gradual, diminuindo minha dependência da Uber ao longo do tempo. Minha intenção é primeiro estabilizar meu negócio e, assim que estiver funcionando bem, deixar a Uber definitivamente. Esse é um conselho que deixo para outros motoristas: ter um plano para ir se desvinculando aos poucos e buscar outras fontes de renda para não depender exclusivamente da Uber.

“A mensagem que quero passar para todos os motoristas, especialmente para aqueles que estão começando ou já estão na Uber, é a seguinte: usem o aplicativo com um propósito, não deixem que ele controle vocês. Trabalhar na Uber não deve ser visto como um plano de carreira, pois não agrega muito ao nosso desenvolvimento profissional. Em outras empresas, ao longo dos anos, você desenvolve novas habilidades e cresce. Mas na Uber, mesmo após 20 anos, você sai praticamente como entrou – apenas mais familiarizado com rotas e locais, mas sem um avanço profissional significativo.

O ponto forte da Uber é a flexibilidade de tempo, e isso deve ser aproveitado. Por exemplo, use essa flexibilidade para financiar uma faculdade, um curso técnico ou algum projeto pessoal. Outra opção é usar o app como um meio para economizar e abrir seu próprio negócio. Planeje quanto precisa economizar, separe um valor fixo semanalmente e, quando atingir sua meta, realize seu sonho e saia da Uber. 

Há outras possibilidades também. A Uber pode servir como renda extra para quem já tem um emprego fixo e quer um dinheiro a mais, ou como algo temporário para quem está entre empregos. Pode ajudar a quitar um apartamento, permitindo que você use o valor economizado nas parcelas para melhorar sua condição financeira. Ou até para quem precisa juntar dinheiro para um casamento ou algum evento importante. O fundamental é entrar com um objetivo claro, alcançar esse objetivo e sair. A Uber deve ser uma ferramenta temporária, uma ponte, e não um plano de carreira.”

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Giulia Lang

Giulia Lang é líder de conteúdo do 55content e graduada em jornalismo pela Fundação Cásper Líbero.

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