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“É uma luta de interesses próprios”, diz motoboy sobre as plataformas

Motociclista com capacete e jaqueta azul conduzindo uma moto com baú da Vale Express em uma rua urbana.
Entregador circula pelas ruas de São Paulo, com baú identificado com informações de contato da empresa.

Adão da Silva relata sua trajetória como entregador, os desafios da profissão e sua transição para empreendedor.

Adão da Silva, de 34 anos, é casado há 14 anos, pai de uma filha e empreendedor no ramo de entregas.

Em entrevista à equipe do 55content, ele compartilhou sua trajetória desde o início, quando morava na comunidade Dois Irmãos, até os dias atuais, em que lidera uma microempresa de motoboys. 

Após uma série de empregos em diferentes áreas, como encarregado de manobristas e gerente de lotérica, Adão viu sua vida profissional mudar em 2017. Com cortes na empresa em que trabalhava e a falta de direitos trabalhistas, ele encontrou nos aplicativos de entrega a única opção disponível: “Eu já tinha uma moto na época, e a Uber Eats tinha acabado de chegar ao Brasil. Vi ali uma oportunidade e comecei a pegar gosto pela profissão”, conta.

Nos anos seguintes, Adão diversificou sua atuação: “Consegui um contrato com uma corretora de seguros, entregando e retirando documentos. Isso me deu mais segurança do que depender apenas dos aplicativos”, explica. 

Atualmente, ele é dono de uma microempresa de motoboys e destaca as vantagens de ser autônomo: “Hoje, trabalho menos e consigo ganhar mais. Minha carga horária varia entre 6 e 8 horas, enquanto antes eu precisava de 10 a 12 horas para atingir a mesma renda”.

Desafios e mudanças no trabalho

Adão aponta o trânsito como um dos principais desafios na profissão de entregador: “O desrespeito no trânsito é algo que sempre enfrentamos, seja entre motos ou carros. Meu maior medo é sofrer um acidente, por isso procuro ser prudente e cauteloso”, ressalta.

Sobre as diferenças entre trabalhar com aplicativos e atuar de forma independente, ele destaca a valorização: “Os aplicativos pagam pouco, o que obriga o entregador a trabalhar muitas horas. Hoje, com minha própria empresa, consigo cobrar um preço justo e valorizo mais minha profissão”, afirma.

Adão tem uma visão crítica sobre a relação dos aplicativos com a categoria de motoboys: “Na minha opinião, as plataformas desvalorizam a profissão. É uma luta por interesses próprios, e dificilmente veremos mudanças significativas em termos de valorização e preços justos”, avalia.

Ele também compartilha sua expectativa de futuro, que não inclui a permanência na profissão: “Não quero estar com 40 ou 50 anos em cima de uma moto. Meu plano é continuar trabalhando com transporte, mas em outras modalidades, como Fiorino ou caminhão”, revela.

Adão é enfático ao afirmar que não recomenda a profissão de motoboy devido aos riscos envolvidos: “Perdemos tantas pessoas já trabalhando como motoboy, sofrendo acidentes, ficando inválidos para o trabalho, ou até mesmo perdendo a vida”, relata. Ele explica que optou pela profissão por falta de alternativas no momento em que precisou, mas reconhece que os perigos são constantes e impactam profundamente os profissionais da área.

Apesar disso, Adão não deixa de orientar aqueles que desejam ingressar na profissão. Ele aconselha a não depender exclusivamente de aplicativos de entrega e a buscar alternativas para se estruturar de forma independente: “Faz o seu cartãozinho, abre o seu CNPJ, cria o seu logo, coloca o baú e vai divulgando a sua empresa. Entregue o cartãozinho, contrate o Google Ads para ter os seus clientes e valorizar a sua profissão”, recomenda.

Adão também destaca a importância de se proteger contra eventuais adversidades: “Não deixe de ter um seguro de vida e pagar o MEI. Isso é essencial para garantir que, caso algo aconteça, você esteja mais seguro”, afirma.

Ele reforça que, embora veja vantagens na autonomia da profissão, os riscos frequentes fazem com que sua recomendação seja cautelosa e condicionada à busca por estrutura e segurança.

Apesar das adversidades, Adão conta que vê um forte senso de comunidade entre os entregadores: “A categoria é uma das mais unidas que existe. Sempre que algo acontece, muitos param para ajudar. Há um senso de comunicação e solidariedade muito forte”, destaca.

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Anna Julia Paixão

Anna Julia Paixão é estagiária em jornalismo do 55content e graduanda na Escola Superior de Propaganda e Marketing.

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