O motorista de aplicativo Deivys Vieira se mudou de Ribeirão Preto para São Paulo buscando recuperar sua renda, mas encontrou um cenário mais difícil do que esperava. O valor por quilômetro caiu de R$1,80 para R$1,20, e as tarifas dinâmicas, que antes chegavam a R$20, hoje ficam entre R$4 e R$5. Além disso, ele denuncia a “dinâmica falsa” da Uber, que exibe um aumento de preços em determinadas áreas, mas, ao chegar lá, os motoristas não encontram demanda real.
A queda no faturamento também preocupa. Em dezembro, Deivys fez R$11.500, mas em janeiro o valor caiu para R$5.500. Para piorar, a Uber reteve 27% dos seus ganhos, enquanto a 99 ficou com 13%. Com isso, ele precisa trabalhar mais horas e selecionar melhor as corridas para manter a rentabilidade, mas alerta: “Hoje, para quem quer começar, eu não recomendo”.
Há quanto tempo você trabalha como motorista de aplicativo e o que te levou a entrar nesse serviço?
Deyvis: Eu sou motorista de aplicativo há três anos. Quando comecei, estava recebendo seguro-desemprego e, na verdade, nunca planejei trabalhar com isso. Mas um amigo meu, que sempre gostou de experimentar novas formas de trabalho, começou a dirigir para a Uber e me contou que era interessante. Ele disse que dava para ganhar uma boa renda em Ribeirão Preto na época. Então, acabei entrando nesse ramo mais por influência dele do que por planejamento.
Como é a sua rotina de trabalho? Como você se organiza e quantas horas você trabalha por dia?
Deivys: A principal razão para eu ter escolhido esse trabalho foi a flexibilidade e a possibilidade de ter mais tempo para mim. Mas, no fim das contas, essa liberdade acaba sendo meio ilusória.
Eu costumo acordar por volta das 3 ou 4 horas da tarde. A primeira coisa que faço é tomar um banho, tomar café, alimentar meus gatos e o periquito, e dar uma arrumada na casa. Depois disso, ligo o aplicativo e começo a trabalhar, selecionando as corridas que faço.
Por volta das 6 ou 7 da noite, faço uma pausa em um posto de gasolina, tomo um café e como um pão de queijo. Durante a semana, costumo encerrar o trabalho entre meia-noite e uma hora da manhã, dependendo do movimento e se há eventos na cidade. Já nos finais de semana, às vezes viro a noite e só vou dormir às 7 da manhã.
Você trabalha atualmente em Ribeirão Preto?
Deivys: Não, eu trabalhava lá, mas me mudei para São Paulo. Ribeirão Preto já tinha um custo de vida baixo, mas ainda era possível ganhar um bom dinheiro. No entanto, com a chegada do UberMoto e do 99Moto, os preços das corridas despencaram, tornando inviável continuar trabalhando lá. Como o combustível também é mais caro, o lucro ficou muito baixo.
Então, decidi vir para São Paulo para tentar recuperar a margem de lucro que eu tinha há dois anos em Ribeirão. Foi uma mudança necessária para manter uma boa renda.
Você mora em São Paulo atualmente?
Deyvis: Sim, moro na Zona Leste. Quando conversamos da última vez, eu ainda morava em Ribeirão Preto, mas me mudei no começo do ano passado.
Sobre metas, como você organiza seu trabalho? Você define metas diárias ou segue uma carga horária fixa?
Deivys: Eu nunca estabeleci metas específicas, porque me sinto muito pressionado quando faço isso. Algumas pessoas se dão muito bem trabalhando com metas, mas eu não sou uma delas. Se eu estabeleço um objetivo de ganho diário, acabo ficando mais ansioso e desgastado.
Uma das razões pelas quais escolhi esse trabalho foi justamente para não ter metas rígidas. Então, prefiro apenas seguir um ritmo que me deixe confortável.
No final do mês, considerando seu ritmo de trabalho, qual é a média do seu faturamento?
Deivys: Isso varia bastante de acordo com o mês. Por exemplo, em dezembro, fiz os cálculos e meu faturamento bruto foi de R$11.500,00. Já em janeiro, caiu para R$5.500,00.
Dezembro tem muita demanda e as ruas ficam lotadas, o que gera mais corridas e tarifas dinâmicas. Em janeiro, muita gente viaja e o movimento cai. Agora, em fevereiro, acredito que o fluxo volte ao normal, porque as pessoas retornam à rotina.
Esse será seu primeiro ano fixo trabalhando em São Paulo, certo?
Deivys: Sim. No ano passado, eu ainda morava em Ribeirão e apenas passava alguns dias aqui, dormindo em uma pensão quando precisava. Agora, estou morando fixo e ainda estou conhecendo melhor a demanda da cidade. Mas, sem dúvida, o volume de trabalho aqui é muito melhor do que em Ribeirão.
Muitos motoristas comentam que a remuneração diminuiu. Qual é a sua visão sobre isso?
Deivys: Diminuiu, sim. Principalmente para quem tem o aplicativo como única fonte de renda. As plataformas reduziram os valores, e isso é inegável.
Em Ribeirão Preto, minha média por quilômetro era de R$1,80 a R$1,70. Eu sempre fui um motorista criterioso e estabelecia um valor mínimo por quilômetro. Na época, esse mínimo era de R$1,50, pois o custo da locomoção era mais barato e as corridas eram rápidas, o que permitia ganhar bem pelo tempo. Em alguns dias, conseguia atingir R$2,00 por quilômetro ou, pelo menos, R$1,90.
Agora, as plataformas reduziram para R$1,20 por quilômetro — e isso no horário de pico! Fora desses horários, cai para cerca de R$1,00 por quilômetro, tornando-se inviável.
Aqui em São Paulo, no passado, eu conseguia facilmente fazer R$400 a R$450 por dia, exceto nos dias de rodízio, que no meu caso é quinta-feira. Hoje em dia, para atingir esse valor, preciso trabalhar muito mais horas. Sinto que a remuneração caiu bastante, e tenho trabalhado até mais tarde para cobrir algumas despesas que preciso regularizar rapidamente.
Antes, nas madrugadas, eu conseguia manter uma média de R$1,90 a R$1,80 por quilômetro. Agora, caiu para R$1,34 ou R$1,40. Isso prova que tanto a Uber quanto a 99 reduziram as tarifas.
Por conta disso, tenho trabalhado bastante com a inDrive, que cobra uma taxa bem menor. Na inDrive, temos um poder de negociação maior sobre os valores das corridas. Já na Uber, as taxas são extremamente altas, o que dificulta ainda mais a lucratividade.
Você costuma selecionar muito as corridas que aceita?
Deivyis: Sim, eu seleciono bastante. Minha taxa de aceitação está em torno de 1%. Isso porque, se você não escolher bem as corridas, não consegue lucrar de verdade.
Aceitar qualquer corrida pode fazer com que os ganhos não cubram os custos operacionais. Manter um carro é caro, e muitas pessoas não enxergam isso. Meu carro é um Onix 2017, que só entra nas categorias UberX e Pop. A manutenção dele ainda é acessível comparada a outros modelos, mas, mesmo assim, quanto mais o carro roda, maior o desgaste.
Agora, imagine um motorista de Uber Black. Ele ganha mais, mas os gastos também são muito maiores, seja com manutenção, combustível ou outros custos.
Você trabalha apenas com UberX e Pop?
Deivys: Sim, infelizmente, meu Onix só é aceito no UberX e no Pop.
Você acredita que vale a pena começar a trabalhar como motorista de aplicativo hoje em dia?
Deivys: Para quem está pensando em entrar agora, eu não recomendo. O mercado está muito competitivo, com novos motoristas entrando todos os dias, e muitos deles não sabem trabalhar corretamente.
Isso impacta o setor porque esses motoristas aceitam qualquer corrida, o que impede a Uber de aumentar os valores das tarifas. Às vezes, aparece uma corrida de R$120,00, e parece ótimo, mas, quando se olha os detalhes, são 90 ou 100 km de percurso.
Antes de começar, é importante estudar a dinâmica da cidade e avaliar se realmente vale a pena. Se a pessoa pretende trabalhar como motorista fixo, provavelmente vai precisar de um carro próprio ou financiar um. Para quem já tem um carro, é mais fácil testar o mercado. Mas, se a ideia for financiar um veículo, eu sempre recomendo que a pessoa alugue um carro por dois ou três meses para testar se realmente gosta e se consegue manter uma boa rentabilidade.
Ser motorista de aplicativo não é só dirigir. Você precisa ser psicólogo às vezes, saber lidar com pessoas e entender que cada passageiro é diferente. Um pode estar triste, outro pode estar explosivo ou animado. Ter paciência e educação faz toda a diferença.
Vejo muitos relatos de passageiros sobre motoristas sem educação, sem empatia, e isso só prejudica ainda mais a imagem da categoria. Na madrugada passada, peguei uma passageira boliviana que contou que muitos motoristas da Uber simplesmente olham para ela e vão embora, recusando a corrida. Quando aceitam, são grossos e mal-educados.
Se a pessoa não gosta de lidar com gente, esse definitivamente não é o setor para ela. Trabalhar com aplicativos exige paciência e um mínimo de bom senso no trato com os passageiros.
Você mencionou que trabalha como motorista de aplicativo há três anos e se mudou de Ribeirão Preto para São Paulo. Você acha que era mais fácil ser motorista antes? Nunca foi fácil, mas era possível ganhar mais dinheiro de forma menos desgastante?
Deivys: Era bem mais fácil, com certeza.
Lembro que, há dois anos, no horário de pico aqui em São Paulo, os valores dinâmicos ficavam entre R$10 e R$20 no centro da cidade. Hoje, no horário de pico, esse valor caiu para R$4 ou R$5. Quando chove, pode chegar a R$10, mas nada comparado ao que era antes.
O sistema dinâmico da Uber despencou bastante. Já na 99, o mapa é muito poluído, dificultando a visualização da demanda. Mesmo assim, a 99 ainda manteve um pouco os valores dinâmicos, embora também tenha havido uma queda — só que não tão brusca quanto na Uber.
Na sua opinião, quais são os maiores desafios de ser motorista de aplicativo?
Deivys: O principal desafio é a insegurança.
A gente vive sempre atento, principalmente ao parar em locais como a Avenida do Estado. Tenho o hábito de manter distância do carro da frente e ficar de olho nos retrovisores para evitar surpresas desagradáveis. Infelizmente, assaltos acontecem com frequência. Além do prejuízo com o conserto do vidro quebrado, tem a perda do celular, que é essencial para o trabalho.
Outro grande desafio é a instabilidade financeira. Nunca há certeza de quanto iremos ganhar no mês.
Muitas pessoas dizem: “Ah, mas você é autônomo”. Só que, na prática, não somos autônomos. Um autônomo de verdade define o preço do seu serviço ou produto. Um motorista particular, por exemplo, pode cobrar R$500 para levar alguém até a praia e encontrar clientes dispostos a pagar. Já na Uber, não temos essa liberdade.
Muita gente entra na plataforma achando que terá autonomia, mas isso não é real. A única coisa que podemos escolher é o horário de início e de término do trabalho. Mas, se começarmos na hora errada, não ganhamos dinheiro.
A Uber ainda exibe um mapa indicando os melhores horários para trabalhar, o que acaba induzindo os motoristas a seguir essa recomendação. No fim, isso não é autonomia.
Qual o seu aplicativo favorito para trabalhar? Uber, 99 ou inDrive?
Deivys: Não tenho um preferido.
Tem dias que a Uber está melhor, outros que a 99 compensa mais. Em alguns momentos, fico só na inDrive, e em outros, alterno entre os três. É muito imprevisível, então vou testando o que funciona melhor no dia.
Você mencionou que trabalha como motorista de aplicativo há três anos e se mudou de Ribeirão Preto para São Paulo. Você acha que era mais fácil ser motorista antes? Nunca foi fácil, mas era possível ganhar mais dinheiro de forma menos desgastante?
Deyvis: Era bem mais fácil, com certeza.
Lembro que, há dois anos, no horário de pico aqui em São Paulo, os valores dinâmicos ficavam entre R$10 e R$20 no centro da cidade. Hoje, no horário de pico, esse valor caiu para R$4 ou R$5. Quando chove, pode chegar a R$10, mas nada comparado ao que era antes.
O sistema dinâmico da Uber despencou bastante. Já na 99, o mapa é muito poluído, dificultando a visualização da demanda. Mesmo assim, a 99 ainda manteve um pouco os valores dinâmicos, embora também tenha havido uma queda — só que não tão brusca quanto na Uber.
Na sua opinião, quais são os maiores desafios de ser motorista de aplicativo?
Deivys: O principal desafio é a insegurança.
A gente vive sempre atento, principalmente ao parar em locais como a Avenida do Estado. Tenho o hábito de manter distância do carro da frente e ficar de olho nos retrovisores para evitar surpresas desagradáveis. Infelizmente, assaltos acontecem com frequência. Além do prejuízo com o conserto do vidro quebrado, tem a perda do celular, que é essencial para o trabalho.
Outro grande desafio é a instabilidade financeira. Nunca há certeza de quanto iremos ganhar no mês.
Muitas pessoas dizem: “Ah, mas você é autônomo”. Só que, na prática, não somos autônomos. Um autônomo de verdade define o preço do seu serviço ou produto. Um motorista particular, por exemplo, pode cobrar R$500 para levar alguém até a praia e encontrar clientes dispostos a pagar. Já na Uber, não temos essa liberdade.
Muita gente entra na plataforma achando que terá autonomia, mas isso não é real. A única coisa que podemos escolher é o horário de início e de término do trabalho. Mas, se começarmos na hora errada, não ganhamos dinheiro.
A Uber ainda exibe um mapa indicando os melhores horários para trabalhar, o que acaba induzindo os motoristas a seguir essa recomendação. No fim, isso não é autonomia.
Qual o seu aplicativo favorito para trabalhar? Uber, 99 ou inDrive?
Deivys: Não tenho um preferido.
Tem dias que a Uber está melhor, outros que a 99 compensa mais. Em alguns momentos, fico só na inDrive, e em outros, alterno entre os três. É muito imprevisível, então vou testando o que funciona melhor no dia.
Do dia 2 ao dia 9 de fevereiro, faturei R$ 1.281, mas fiquei com R$ 889, ou seja, a Uber ficou com 27% dos meus ganhos. Já na 99 faturei R$ 1.219,40 mas paguei para o app R$ 158,62, ou seja a empresa ficou com 13%.
Quais são as maiores lições que você aprendeu sendo motorista de aplicativo?
Deivys: A principal lição foi aprender a ter mais cuidado no trânsito.
Passando tanto tempo na rua, minha habilidade ao volante melhorou muito. Também aprendi a ter mais paciência no trânsito, porque brigar com outros motoristas não vale a pena. Já vi casos de motoristas furando o sinal vermelho, quase batendo no meu carro, e ainda me xingando. Antes, eu reagiria, mas hoje percebo que não compensa.
Além disso, aprendi a ouvir melhor as pessoas. Sempre fui alguém de mente aberta, mas esse trabalho me ensinou a prestar mais atenção nas histórias dos passageiros. Cada um tem sua realidade, e escutar faz parte do trabalho.
Gostaria de acrescentar alguma experiência ou observação sobre o trabalho nos aplicativos?
Deivys: Ultimamente, a Uber tem nos forçado a sair de casa sem necessidade.
Por exemplo, às vezes estou em casa e vejo no aplicativo que há uma dinâmica alta em um bairro próximo. Vou até lá, mas, chegando no local, percebo que não há demanda de corridas. É uma dinâmica falsa.
Isso acontece com frequência. A Uber exibe um mapa mostrando supostos picos de demanda, mas, quando os motoristas chegam ao local, não há chamadas.
Esse tipo de estratégia tem me estressado bastante, porque ficamos sem saber onde realmente há demanda. Comecei a testar esse método há poucos dias e, às vezes, até funciona, mas a incerteza é grande. Fica difícil confiar no sistema.
Quais são as maiores lições que você aprendeu sendo motorista de aplicativo?
Deivys: A principal lição foi aprender a ter mais cuidado no trânsito.
Passando tanto tempo na rua, minha habilidade ao volante melhorou muito. Também aprendi a ter mais paciência no trânsito, porque brigar com outros motoristas não vale a pena. Já vi casos de motoristas furando o sinal vermelho, quase batendo no meu carro, e ainda me xingando. Antes, eu reagiria, mas hoje percebo que não compensa.
Além disso, aprendi a ouvir melhor as pessoas. Sempre fui alguém de mente aberta, mas esse trabalho me ensinou a prestar mais atenção nas histórias dos passageiros. Cada um tem sua realidade, e escutar faz parte do trabalho.
Gostaria de acrescentar alguma experiência ou observação sobre o trabalho nos aplicativos?
Deivys: Ultimamente, a Uber tem nos forçado a sair de casa sem necessidade.
Por exemplo, às vezes estou em casa e vejo no aplicativo que há uma dinâmica alta em um bairro próximo. Vou até lá, mas, chegando no local, percebo que não há demanda de corridas. É uma dinâmica falsa.
Isso acontece com frequência. A Uber exibe um mapa mostrando supostos picos de demanda, mas, quando os motoristas chegam ao local, não há chamadas.
Esse tipo de estratégia tem me estressado bastante, porque ficamos sem saber onde realmente há demanda. Comecei a testar esse método há poucos dias e, às vezes, até funciona, mas a incerteza é grande. Fica difícil confiar no sistema.